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domingo, 23 de dezembro de 2012

"Rola-Bosta" é eleita a palavra do ano


Empregado pelo teólogo, filósofo e ambientalista Leonardo Boff em artigo para defender Oscar Niemeyer, atacado pelo blogueiro da Veja Reinaldo Azevedo, o termo pegou e agora designa colunistas da mídia golpista como Merval Pereira, Augusto Nunes, Ricardo Noblat e outros tantos. 



Por que rola bosta é a palavra do ano no dicionário político brasileiro

PAULO NOGUEIRA 


O inseto alcançou notoriedade súbita em 2012 graças à defesa que Boff fez de Niemeyer

 
O subitamente popular inseto em ação


Não gosto de palavreado ofensivo em debate. Empobrece-o, na minha opinião.

Já escrevi no Diário minha baixa opinião sobre as expressões “petralha” e “PIG”. Remetem a discussões de arquibancadas, nas quais há excesso de calor e falta de lógica racional.

Dito isso, faço aqui o elogio de uma palavra que, no debate político que se trava no Brasil, simplesmente pegou, porque é leve, divertida e, não obstante, incisiva. É uma bofetada, e não um tiro. Daí o poder, daí o encanto.

É, para mim, a palavra do ano no Dicionário Político Brasileiro: rola-bosta.

Quem a trouxe foi Leonardo Boff para rebater um artigo de Reinaldo Azevedo que chamava Niemeyer de metade idiota por ser de esquerda.

Escreveu Boff:

A figura que me ocorre deste articulista (…) é a do escaravelho, popularmente chamado de rola-bosta. O escaravelho é um besouro que vive dos excrementos de animais herbívoros, fazendo rolinhos deles com os quais, em sua toca, se alimenta. Pois algo semelhante fez o blog de Azevedo na VEJA online: foi buscar excrementos de 60 e 70 anos atrás, deslocou-os de seu contexto (…) e lançou-os contra Oscar Niemeyer. Ele o faz com naturalidade e prazer, pois é o meio no qual vive e se realimenta continuamente.

Na internet, rola-bosta virou mania, para designar colunistas de direita.

Agora mesmo, se você vai ao twitter, vai vê-la aplicada a Ferreita Gullar e a Augusto Nunes. A Gullar porque defendeu a candidatura de Joaquim Barbosa à presidência. A Nunes porque arrolou – numa lista de caráter ético duvidoso, pois num regime como o que o Brasil teve por tantos anos a partir de 1964 poderia levar à perseguição – Luís Fernando Veríssimo como “apoiador de Lula” na categoria do jornalismo “esgotosférico”.

Não sou quem vai defender Veríssimo. Sua obra e sua biografia defendem-no melhor que ninguém.

Mas é curioso comparar “rola-bosta” e “esgotosférico”. Esgotosférico não vai pegar: é grosseiro, de mau gosto, vulgar. É falsamente engraçado, é falsamente espirituoso, é falsamente criativo.

Rola-bosta pegou porque é o oposto disso.

No futuro, é possível que jovens descendentes de jornalistas como Merval Pereira e Ricardo Noblat perguntem a seus pais: “Por que estão dizendo na escola que sou bisneto de rola-bosta?”


Paulo Nogueira é jornalista e está vivendo em Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor editorial da Editora Globo.


Destaques do ABC!

mmmm

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