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segunda-feira, 7 de março de 2011

O podre "latifúndio" blogosférico (em apoio ao André Lux)

Desde a histórica entrevista do presidente Lula a um grupo de blogueiros autodenominados "progressistas", em 24.11.2010, vimos alertando a blogosfera sobre as atitudes autoritárias,  preconceituosas e antidemocráticas de alguns destes blogueiros em relação aos demais editores/redatores de blogs independentes.

Começamos a manifestar preocupação com o comportamento destes "colegas de ciberespaço" no post Fogueira de vaidades e demos continuidade nos posts O "grito dos excluídos", Sabujice blogosférica, Em nome da verdade, Alerta geral: risco à blogosfera e Rebelião blogosférica, todos publicados aqui no final de novembro do ano passado.

O Abra a Boca, Cidadão! é um blog novo, completará 5 meses na próxima semana. Estes posts alertando sobre os riscos de um "pig blogosférico" tiveram pequena repercussão. A questão não foi amplamente debatida, esta reles blogueira foi desautorizada por gracejos e insinuações de alguns blogueiros "medalhões" e o problema continua.

Felizmente, há "vida inteligente" na blogosfera. Gente que pensa com a própria cabeça, que não precisa de "mentores", que rechaça e denuncia intolerância, autoritarismo, vaidade doentia, arrogância, prepotência e outras atitudes típicas da velha mídia reproduzidas em alguns setores da blogosfera.

É o caso do jornalista e blogueiro André Lux, que lucidamente vem postando em seu blog Tudo Em Cima artigos sobre esse grupelho de blogueiros "tubarões", que se dizem "progressistas", mas se comportam ridiculamente como proprietários do ciberespaço, transformando-o numa espécie de feudo, onde eles são os senhores e os demais (nós todos), reles vassalos, relegados ao papel de elogiá-los, aplaudi-los, incensá-los.

Adeptos do pensamento único, não admitindo opiniões divergentes nem vozes dissonantes, costumam falar em nome da blogosfera, sem que tenhamos dado qualquer procuração a eles. E é aí que está o problema.

E quando criticados, denunciados, se colocam como vítimas, ridicularizam, menosprezam, diminuem, fazem pouco. Mas nunca descem do pedestal onde se colocaram. 

Se não nos posicionarmos e denunciarmos tais atitudes, se permitirmos, podem vir a criar oligarquicamente alguma regulamentação, "carteira/registro de blogueiro", crachá, anuidades e outras espertezas mais...

Blogosfera não tem dono. Pioneirismo, número de seguidores, organização de atos públicos, entrevista com Lula... não são credenciais pra ninguém se colocar em torre de marfim, em altar, como semideus. E exigir dos demais coluna vergada, incensamento.

O ABC! não aceita e não faz idolatria de quem quer que seja. Muito menos de reles, imperfeitos e falíveis mortais.

Abaixo o post do André Lux, que apoiamos.

Desabafo: Há algo de podre no reino da blogolândia...


Grupo de blogueiros ataca em bloco a fim
de formar opinião única na blogolândia
Hoje vou tocar num assunto
muito delicado e que certamente vai causar polêmica na blogolândia, mas que vem me incomodando já há algum tempo. Não falei sobre isso antes para não ser acusado de disparar “fogo amigo”, principalmente durante as sofridas eleições do ano passado.

Mas sinto que agora é a hora de colocar o dedo na ferida. O assunto diz respeito ao comportamento de alguns blogueiros ditos progressistas ou de esquerda que, de uns tempos para cá, vem atuando em bloco para construir uma espécie de “pensamento único” dentro da blogolândia e também para barrar qualquer um que pense diferente deles. Ou seja, começam a atuar justamente como o PiG que tanto criticam! Não vou citar nomes aqui porque minha intenção não é acusar ninguém, mas sim desabafar e, quem sabe, chamar a atenção das pessoas para esse fato que certamente vem incomodando outros blogueiros como eu.

O episódio da participação da Dilma na festa da Folha de S.Paulo foi o divisor de águas que finalmente, na minha opinião, escancarou a prática dessa turminha que, infelizmente, está agindo assim por vaidade, soberba, sectarismo, necessidade de autoafirmação ou algum outro motivo obscuro que só seus membros podem conhecer.

O fato de esse grupo ter se ofendido com a participação da presidenta na citada festa não é o problema em si, mas sim a maneira como seus membros agem em bloco para vender a idéia de que a blogolândia em peso possui a mesma visão deles e, pior, a forma grosseira e intolerante como tentam enquadrar os que pensam diferente.

A impressão que dá é que agem da seguinte forma. O blogueiro A liga para o blogueiro B e diz:
- Você viu que absurdo a Dilma na Festa da Folha?
- Vi sim, fiquei revoltado!
- Pois é, depois de tudo que a gente fez para eleger ela, é inadmissível que vá até a Folha!
- Concordo, eu mesmo me sacrifico todos os dias na minha luta contra a imprensa golpista e agora a Dilma vai lá na festa deles, na maior tranqüilidade?
- Faz o seguinte: publica um texto criticando essa atitude dela no seu blog que eu publico depois no meu, com grande destaque. Você sabe que o meu blog é super bem visitado, né?
- Sei sim, o meu também. Inclusive vou ligar para aquela blogueira C amiga nossa e falar para ela também criticar a Dilma e publicar no blog dela outros textos do mesmo naipe dos amigos dela.
- Legal! Aí tenho certeza que toda a blogosfera vem na nossa onda.
- Com certeza, afinal eles devem muito a nós por tudo que fizemos esses anos todos para eles.
- Mas e se alguém reclamar, ficar contra a gente?
- Aí a gente usa aquela velha tática. Eu me faço de vítima no meu blog, jogo na cara de todo mundo o quanto sofro e o quanto já fiz pela blogosfera e você repercute tudo no seu blog.
- Isso, boa!

Esse diálogo acima é totalmente fictício, porém não ficaria surpreso se ele tivesse realmente ocorrido. O que interessa é que esse grupo de blogueiros que se julgam os “reis da cocada preta” começa então a atuar em bloco para vender uma opinião deles como se fosse a voz da blogosfera. E aí, caso alguém ouse discordar deles, passam a atacar essas pessoas da pior forma possível: se fazendo de vítimas (alguns chegam ao cúmulo de dizer que foram ameaçados de censura!) ou simplesmente denegrindo quem ousou discordar deles.

Talvez o fato de terem alcançado seus 15 minutos de fama por causa da blogagem tenha cegado os componentes desse grupelho para um fato importante: a blogolândia não tem dono, nem voz única, muito menos xerife. E quem tenta ser dono, porta voz ou xerife da blogolândia apenas se expõe ao ridículo.

Eu sei bem do que estou falando porque justamente nesse episódio “Dilma na festa da Folha” fui vítima de ataques e retaliações por parte de gente que jura de pé junto que é democrata e defensor da diversidade de opiniões e da liberdade de expressão. Um desses blogueiros, que realmente passou a se julgar o “guru da blogolândia”, chegou a enviar um email pedindo que eu tivesse “grandeza” nesse assunto. No começo não entendi nada, mas depois percebi que na verdade ele tentava me fazer parar de criticar uma blogueira descontrolada que estava agredindo e ofendendo a todos que discordaram dela, inclusive pelo twitter. Quando, depois de argumentar que eu estava apenas defendendo meu ponto de vista e reagindo aos citados ataques, eu perguntei ao sujeito se ele estava querendo que eu oferecesse a outra face, pronto, fez-se de ofendido e cortou relações comigo. Chegou ao ponto de tirar meu blog da lista de indicados do dele - vejam só que coisa terrível, por pouco não me suicidei!

O mais engraçado da história é que esse tal blogueiro não teve nenhuma “grandeza” quando foi ele o alvo de ataques semelhantes ao que eu sofri, os quais ele revidou de forma bastante veemente e, inclusive, contou com o meu apoio, pois as críticas eram infundadas e injustas. Mas, no meu caso ele fez o contrário: escreveu um texto elogiando justamente a tal blogueira histérica que ofendia a todos que discordavam da opinião dela! Isso que é companheirismo, não?

Muita gente deve ficar triste e preocupada com esses fatos que estou narrando e não entende como isso pode acontecer. A verdade é que blogosfera é um micro cosmo do que é a esquerda na vida real. E, assim como na vida real muitos projetos e sonhos esquerdistas são destruídos por causa da vaidade, do sectarismo, da soberba e da necessidade de autoafirmação de algumas pessoas (mesmo das mais bem intencionadas), a blogosfera também sofre desse mesmo mal. É uma infelicidade, porém algo bem palpável.

Eu depois de ser atacado novamente pelos que
se julgam os "reis da cocada preta" da blogolândia
Da minha parte, espero que esse meu texto sirva para que esses blogueiros parem e reflitam um pouco sobre o que andam fazendo e sobre a forma como agem quando alguém discorda de seus pontos de vista - até porque tenho certeza que são pessoas bem intencionadas.

Mas, como conheço bem a natureza humana, duvido muito que isso vai acontecer. O mais provável é que amanhã pipoquem textos me detonando (direta ou indiretamente), o que no final das contas será apenas uma prova de que vestiram a carapuça mais uma vez. Eu nem ligo. Para quem já foi difamado publicamente pelo editor do jornal mais lido de Jundiaí e por poderosos profissionais da opinião, ser xingado por um blogueiro com delírios de grandeza é fichinha.

Finalizo afirmando que a verdadeira militância não condiz com cobranças, rabos presos ou ataques de estrelismo. Quem se dedica a uma causa de maneira sincera e abnegada não sente jamais necessidade de ficar jogando na cara dos outros o quanto se sacrifica por aquilo ou de ficar enumerando tudo que fez pelo bem daquela causa. O verdadeiro militante é, acima de tudo, um anônimo – e tem orgulho disso! Desconfie sempre, portanto, de quem faz o contrário.

Presidenta Dilma: unanimidade nacional

Até o momento, parece ser esta a posição da presidenta Dilma Rousseff na mídia tradicional e na sociedade como um todo.

O estilo Dilma de governo, muito trabalho e pouco palavrório, tem dado certo. Ao mesmo tempo que neutraliza ou pelo menos dificulta a futricaria midiática, seduz pela dedicação com que gerencia a grande empresa chamada Brasil.

Vozes dissonantes? Existem, claro. Centrais sindicais que pretendiam um reajuste maior no salário mínimo. Parlamentares ligados a estas centrais e da oposição em geral, que precisam exercitar o discurso, obviamente.

Vozes dissonantes também em setores da blogosfera. Não críticas propriamente ao governo da presidenta, mas contrárias ao seu comparecimento na festa de 90 anos do arquiinimigo jornal Folha de S. Paulo. A velha e boa pluralidade de pensamento, diversidade de opinião. Extremamente saudáveis, benvindas e necessárias numa democracia.

Voltando à presidenta... É positivo que Dilma use toda a sua competência também para serenar os ânimos exaltados pela baixaria da campanha eleitoral, promover a civilidade, o respeito às posições contrárias, o convívio pacífico com os adversários. Não se trata de capitular, de abrir mão de posições. Mas como ela mesma deixou claro em seus discursos: é a presidenta de TODOS os brasileiros. O que inclui, gostemos ou não, a velha mídia, seus anunciantes, colaboradores e leitores. O que inclui também artistas populares como Hebe e Ana Maria Braga e seus milhões de fãs e telespectadores.

Reparem que raramente a presidenta vestiu vermelho após a posse. E quando o fez, foi em ocasiões mais "apropriadas". Por exemplo, quando compareceu à festa dos 30 anos do PT. Ela é "antenada". Sabe das coisas...

Abaixo mais um artigo favorável publicado no Estadão a propósito dos posicionamentos e manifestações da presidenta Dilma sobre liberdade de imprensa e outros temas, nestes pouco mais de dois meses de governo. 



Dilma e a liberdade de imprensa


Carlos Alberto Di Franco*

Na celebração dos 90 anos da Folha de S. Paulo, a presidente Dilma Rousseff, armada de um texto sem ambiguidades, resgatou o clima de respeito e de compreensão que, sem prejuízo da necessária independência, deve caracterizar a convivência entre o poder público e a imprensa numa sociedade democrática.

"Uma imprensa livre, pluralista e investigativa é imprescindível para um país como o nosso. (?) Devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", disse a presidente da República no evento comemorativo de um importante jornal. Essas mesmas palavras ela já havia dito quando, recém-eleita, pronunciou seu primeiro discurso.

O pronunciamento feito na Sala São Paulo diante de uma plateia de 1.200 convidados teve forte carga simbólica. Dilma, de fato, assumiu um inequívoco compromisso com a liberdade de imprensa e de expressão. E sinalizou uma positiva ruptura com o passado recente de permanente ataque à liberdade de imprensa, ao jornalismo independente e aos formadores de opinião.

Esta coluna, com frequência, criticou a então candidata Dilma Rousseff, sobretudo por sua suposta atuação na primeira edição do 3.º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Mas a honestidade intelectual e o dever de isenção, pré-requisitos de quem pretende fazer jornalismo ético, me obrigam a reconhecer o saldo francamente favorável do início do governo de Dilma Rousseff.

Sua posição em relação ao Irã e às ditaduras que pisoteiam os direitos humanos está bem distante da ambiguidade do governo anterior. Sua firmeza na questão do novo salário mínimo também foi emblemática. Dilma, não obstante as dificuldades de navegação nas águas da política fisiológica, demonstra autoridade e rapidez de decisão. Agora, a presidente da República manifesta clara percepção da importância do pluralismo informativo e da investigação jornalística como cimento da democracia. "A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem. E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas." Há muitos anos não se ouviam do chefe da Nação declarações tão claras e diretas sobre os fundamentos da democracia e o papel da imprensa.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), reconhecida liderança do Estado de São Paulo e figura de projeção nacional, foi na mesma toada. Ressaltou a importância de o País manter uma imprensa livre para que a democracia se aprofunde. "A expressão "imprensa livre" deveria ser um pleonasmo. A imprensa só é se for livre", sublinhou. A festa da Folha de S. Paulo foi a moldura de um quadro auspicioso: o reencontro do Brasil com suas raízes de liberdade, pluralismo e tolerância. Foi, também, o reconhecimento da importância do jornalismo.

Perguntam-me alguns, a propósito, se o jornalismo de denúncia não estaria extrapolando as suas funções e assumindo tarefas reservadas à polícia e ao Poder Judiciário. Outros, ao contrário, preocupados com reiterados precedentes de impunidade, gostariam de ver repórteres transformados em juízes ou travestidos de policiais.

Um exame sereno, no entanto, indica um saldo favorável ao esforço investigativo dos meios de comunicação. A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem ética. E só um jornalismo de denúncia, comprometido com a verdade, é capaz de evitar a frustração da cidadania. Os meios de comunicação existem para incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é socialmente irrelevante. A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, desempenha importante papel na recuperação da ética na vida pública.

Políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com rotineiro descumprimento da palavra empenhada. Afinal, para muitos deles, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso, contam com a amnésia coletiva. Ao jornalismo cabe assumir o papel de memória da cidadania. Precisamos falar do futuro, dos projetos e dos planos de governo. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambiguidades. Para certos políticos, imprensa boa é a que fala bem. Jornalismo que apura e opina com isenção incomoda e deve ser amordaçado.

Não é a visão da presidente da República. Felizmente. Dilma Rousseff demonstrou clara percepção da importância da imprensa ao reiterar seu "compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião". E foi assertiva: "Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige, sobretudo, este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações".

A consciência da necessidade do contraditório, de pesos e contrapesos que garantam o equilíbrio da convivência democrática, ficou muito clara no discurso presidencial. Igualmente, a noção do papel insubstituível da imprensa livre e independente como garantia de transparência nos assuntos de interesse público.

O Brasil depende, e muito, da qualidade ética e técnica da sua imprensa. Os jornais, comprometidos com o interesse público, necessitam de ampla liberdade para investigar, apurar, informar e opinar. A liberdade é o oxigênio da democracia. O discurso de Dilma foi um bom começo.


* DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO E-MAIL: FRANCO@IICS.ORG.BR