PAPA FRANCISCO NO BRASIL
"No velório de Niemeyer, uma foto registrou o momento preciso em que JB sorri para Dilma e é fuzilado, em retribuição, com um olhar em que havia uma mistura de desprezo, raiva e reprovação."
"De lá para cá, a aprovação a Dilma caiu, por causa dos protestos, e é possível que isso tenha dado coragem a JB para fazer o que fez perante Francisco."
Joaquim cumprimenta Sua Santidade e ignora a presidenta Dilma.
"É um paradoxo: uma espécie estranha de coragem que deriva do medo, da covardia e do rancor."
"É um paradoxo: uma espécie estranha de coragem que deriva do medo, da covardia e do rancor."
O segundo round entre Dilma e JB
O primeiro round
Ainda repercutiam, então, as sentenças implacáveis – e de frágil sustentação jurídica – com que JB virou heroi da mídia no julgamento do Mensalão.
Dilma não digerira a atitude dele.
Era outro já o homem humilde e solícito que, no começo dos anos 2000, abordara Frei Beto no aeroporto de Brasília em busca de indicação para o STF depois de saber que Lula desejava um negro para o Supremo.
Virara já Batman, e estava evidentemente feliz com a cobertura laudatória dada a ele pela mídia, notadamente Globo e Veja.
Aquele, no velório, foi o primeiro encontro digno de nota entre Dilma e JB.
O segundo veio ontem, alguns meses depois. Os protagonistas são os mesmos, mas ao mesmo tempo são outros.
De lá para cá, a aprovação a Dilma caiu, por causa dos protestos, e é possível que isso tenha dado coragem a JB para fazer o que fez perante Francisco.
É um paradoxo: uma espécie estranha de coragem que deriva do medo, da covardia e do rancor.
Imagine na escola um garoto que se sente em desvantagem diante de outro, mais forte e mais popular. O dia em que o garoto rancoroso vê o outro no chão, sem defesa, aproveita e dá um chute.
JB também é outro.
Do velório para cá, os brasileiros souberam que ele cultiva relações com a Globo e gasta dinheiro público sem cerimônia em coisas como o patrocínio de jornalistas em viagens para que deem cobertura a palestras suas.
Souberam, mais recentemente, que ele é capaz de criar uma empresa de fachada em Miami apenas para evitar imposto.
No segundo encontro entre Dilma e JB, os dois estavam consideravelmente mudados.
Dilma luta para recuperar a popularidade que os protestos levaram. Se vai conseguir, é o que se verá mais adiante. Talvez sim, talvez não.
Quanto a JB, ele tem um problema dramático de imagem, com as revelações desabonadoras sobre ele.
A diferença fundamental nas duas situações é que Dilma é um caso em aberto. E JB é um caso perdido.
Paulo Nogueira, Londres
O primeiro foi no velório de Niemeyer.
O primeiro foi no velório de Niemeyer.
A revanche
A visita do papa ao Brasil foi parcialmente obscurecida, no primeiro dia, pela conduta de Joaquim Barbosa no cumprimento protocolar a Francisco.
As câmeras captaram, e o tema virou um dos assuntos mais vistos, comentados e compartilhados entre os brasileiros.
Dilma, sorridente, estava ao lado de Francisco. JB se aproxima e cumprimenta o papa.
O que vem a seguir se presta a interpretações de protocolo e de bons modos.
Certo é que Dilma, sorriso mantido, parece esperar que JB a cumprimente também. As imagens não reforçam o boato de que ela teria esticado o braço direito em vão.
Mas houve, evidentemente, uma grosseria bem pouco cristã, para evocar Francisco.
A assessoria de JB deu uma explicação que não convenceu quase ninguém. Dilma e ele teriam se cumprimentado e conversado antes, num reservado para convidados à cerimônia de recepção a Francisco, e ele teria julgado desnecessário repetir o que já fora feito.
É uma justificativa fraca, tanto mais que todos os demais presentes ao reservado cumprimentaram, uma vez mais, Dilma.
Parece ser menos uma questão de engano do que uma vingança.
Virou um clássico um outro encontro entre ambos, numa situação menos festiva. No velório de Niemeyer, uma foto registrou o momento preciso em que JB sorri para Dilma e é fuzilado, em retribuição, com um olhar em que havia uma mistura de desprezo, raiva e reprovação.
(Aqui, o texto do Diário na ocasião.)
A visita do papa ao Brasil foi parcialmente obscurecida, no primeiro dia, pela conduta de Joaquim Barbosa no cumprimento protocolar a Francisco.
As câmeras captaram, e o tema virou um dos assuntos mais vistos, comentados e compartilhados entre os brasileiros.
Dilma, sorridente, estava ao lado de Francisco. JB se aproxima e cumprimenta o papa.
O que vem a seguir se presta a interpretações de protocolo e de bons modos.
Certo é que Dilma, sorriso mantido, parece esperar que JB a cumprimente também. As imagens não reforçam o boato de que ela teria esticado o braço direito em vão.
Mas houve, evidentemente, uma grosseria bem pouco cristã, para evocar Francisco.
A assessoria de JB deu uma explicação que não convenceu quase ninguém. Dilma e ele teriam se cumprimentado e conversado antes, num reservado para convidados à cerimônia de recepção a Francisco, e ele teria julgado desnecessário repetir o que já fora feito.
É uma justificativa fraca, tanto mais que todos os demais presentes ao reservado cumprimentaram, uma vez mais, Dilma.
Parece ser menos uma questão de engano do que uma vingança.
Virou um clássico um outro encontro entre ambos, numa situação menos festiva. No velório de Niemeyer, uma foto registrou o momento preciso em que JB sorri para Dilma e é fuzilado, em retribuição, com um olhar em que havia uma mistura de desprezo, raiva e reprovação.
(Aqui, o texto do Diário na ocasião.)
O primeiro round
Ainda repercutiam, então, as sentenças implacáveis – e de frágil sustentação jurídica – com que JB virou heroi da mídia no julgamento do Mensalão.
Dilma não digerira a atitude dele.
Era outro já o homem humilde e solícito que, no começo dos anos 2000, abordara Frei Beto no aeroporto de Brasília em busca de indicação para o STF depois de saber que Lula desejava um negro para o Supremo.
Virara já Batman, e estava evidentemente feliz com a cobertura laudatória dada a ele pela mídia, notadamente Globo e Veja.
Aquele, no velório, foi o primeiro encontro digno de nota entre Dilma e JB.
O segundo veio ontem, alguns meses depois. Os protagonistas são os mesmos, mas ao mesmo tempo são outros.
De lá para cá, a aprovação a Dilma caiu, por causa dos protestos, e é possível que isso tenha dado coragem a JB para fazer o que fez perante Francisco.
É um paradoxo: uma espécie estranha de coragem que deriva do medo, da covardia e do rancor.
Imagine na escola um garoto que se sente em desvantagem diante de outro, mais forte e mais popular. O dia em que o garoto rancoroso vê o outro no chão, sem defesa, aproveita e dá um chute.
JB também é outro.
Do velório para cá, os brasileiros souberam que ele cultiva relações com a Globo e gasta dinheiro público sem cerimônia em coisas como o patrocínio de jornalistas em viagens para que deem cobertura a palestras suas.
Souberam, mais recentemente, que ele é capaz de criar uma empresa de fachada em Miami apenas para evitar imposto.
No segundo encontro entre Dilma e JB, os dois estavam consideravelmente mudados.
Dilma luta para recuperar a popularidade que os protestos levaram. Se vai conseguir, é o que se verá mais adiante. Talvez sim, talvez não.
Quanto a JB, ele tem um problema dramático de imagem, com as revelações desabonadoras sobre ele.
A diferença fundamental nas duas situações é que Dilma é um caso em aberto. E JB é um caso perdido.
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