A quem interessava o assassinato da destemida e combativa juíza Patrícia Acioli, executada com 21 tiros na porta de sua casa, em Niterói, Rio de Janeiro, há um mês?
Quem são os beneficiários deste crime brutal contra Patrícia e contra o Estado Democrático de Direito?
Por que uma juíza corajosa, que condenava marginais perigosíssimos, inclusive policiais militares, transitava sem carro blindado, sem escolta, sem qualquer proteção?
Ontem, domingo, 11, foi decretada a prisão temporária de três policiais militares do 7o. BPM de São Gonçalo, Rio de Janeiro, suspeitos de serem os assassinos de Patrícia: o tenente Daniel dos Santos Benitez Lopes e os cabos Sérgio Costa Júnior e Jefferson de Araújo Miranda, que já estavam presos na Unidade Prisional da Polícia Militar pelo assassinato de um adolescente, prisão decretada por Patrícia horas antes de sua morte.
O crime do adolescente tinha sido registrado na 72ª DP (São Gonçalo) como auto de resistência (morte em confronto com a polícia). No entanto, segundo testemunhas, tratou-se de um assassinato.
No dia da execução de Patrícia, a advogada dos PMs os avisou que sua prisão seria decretada. E eles imaginaram que a morte da juíza os livraria. Agora investiga-se também se a advogada dos PMs teve alguma participação no crime.
Abaixo uma entrevista da mãe da juíza ao jornal O Dia, versão online, falando das "facilidades" que foram concedidas aos assassinos de sua filha.
"Facilitaram tudo para os assassinos da Patrícia", diz mãe de magistrada assassinada
Reprodução do jornal O Dia online
Rio - Aos 75 anos, Marly Lourival Acioli, mãe da juíza Patrícia Acioli, executada com 21 tiros há um mês em Niterói, diz que a única coisa que espera agora da vida é não morrer antes de ver a prisão dos matadores da juíza. Mesmo com um problema de saúde agravado pela perda repentina da filha, Marly quebrou o silêncio e falou sobre o caso pela primeira vez. Ela criticou a falta de escolta à magistrada e, assim como as mães que pediam justiça à Patrícia por seus filhos, ela clamou: “Não se esqueçam dela”.
ODIA: Patrícia era muito ligada à família. Hoje faz um mês que ela foi morta. Como está sendo lidar com essa ausência?
MARLY: Minha vida acabou. Está sendo desesperador. É um fundo que eu não consigo achar. Já estou com 75 anos e não tenho mais nada a esperar da vida. Só espero não morrer antes de ver a prisão desses bandidos safados que fizeram essa atrocidade.
O que faz mais a senhora lembrar da sua filha?
Ela vinha aqui (casa da mãe) toda a sexta-feira. Chegava com aquele sorriso lindo, brincando. Fiquei sem ver a alegria e o amor que me confortavam.
Patrícia falava sobre o trabalho e as ameaças?
Fazia apenas comentários. Falava da gratidão por ela de mães que tiveram filhos mortos. Era visível o orgulho quando aplicava a pena que réus mereciam. Ela temia pelas ameaças, mas dizia que não interfeririam no trabalho.
A senhora pediu a ela para deixar a 4ª Vara Criminal?
Perdi a conta. Fiz até promessa, mas ela falava que as pessoas precisavam dela e essa era sua razão de viver.
Como a senhora recebeu a notícia da morte?
Quem me falou foi meu médico, que primeiro me deu calmantes. Eu berrava e dizia que era mentira, que não era justo me torturarem assim. Quando passou a fase da negação, mergulhei no vazio.
O que a senhora acha do Tribunal de Justiça retirar escolta de Patrícia?
Foi covardia. Facilitaram tudo para os assassinos da Patrícia. Queriam forçá-la a sair de lá, intimidá-la ou sei lá o que tem mais nessa história podre. Não conheciam nem sua coragem nem sua obstinação.
Como está a investigação?
Todo dia eu pergunto se já acharam os matadores da minha filha. Só escuto o silêncio.
Os pais não estão, claro, preparados para perder um filho. Apesar disso, para a senhora, a morte de Patrícia deixa alguma lição?
Acho que sim. Juízes ameaçados estão de carro blindado, reforçaram a segurança de fóruns. E agora deu para aparecer escolta que não tinha.
A senhora acha que será feita Justiça no caso?
Acho que não. A gente vê tanta podridão que perde a esperança. Vão ter que prender alguém porque o caso teve repercussão. Mas será que a verdade vai aparecer?
Muitas mães procuraram Patrícia para pedir que os culpados pela morte de seus filhos fossem punidos. Agora, na mesma condição, qual o pedido que a senhora faz à Justiça?
Que não se esqueça dela. Que julgue com o mesmo rigor que ela julgava. Que faça todos os participantes desse crime pagarem.
Blog do Ricardo Gama
Portal iG
Rio - Aos 75 anos, Marly Lourival Acioli, mãe da juíza Patrícia Acioli, executada com 21 tiros há um mês em Niterói, diz que a única coisa que espera agora da vida é não morrer antes de ver a prisão dos matadores da juíza. Mesmo com um problema de saúde agravado pela perda repentina da filha, Marly quebrou o silêncio e falou sobre o caso pela primeira vez. Ela criticou a falta de escolta à magistrada e, assim como as mães que pediam justiça à Patrícia por seus filhos, ela clamou: “Não se esqueçam dela”.
ODIA: Patrícia era muito ligada à família. Hoje faz um mês que ela foi morta. Como está sendo lidar com essa ausência?
MARLY: Minha vida acabou. Está sendo desesperador. É um fundo que eu não consigo achar. Já estou com 75 anos e não tenho mais nada a esperar da vida. Só espero não morrer antes de ver a prisão desses bandidos safados que fizeram essa atrocidade.
O que faz mais a senhora lembrar da sua filha?
Ela vinha aqui (casa da mãe) toda a sexta-feira. Chegava com aquele sorriso lindo, brincando. Fiquei sem ver a alegria e o amor que me confortavam.
Patrícia falava sobre o trabalho e as ameaças?
Fazia apenas comentários. Falava da gratidão por ela de mães que tiveram filhos mortos. Era visível o orgulho quando aplicava a pena que réus mereciam. Ela temia pelas ameaças, mas dizia que não interfeririam no trabalho.
A senhora pediu a ela para deixar a 4ª Vara Criminal?
Perdi a conta. Fiz até promessa, mas ela falava que as pessoas precisavam dela e essa era sua razão de viver.
Como a senhora recebeu a notícia da morte?
Quem me falou foi meu médico, que primeiro me deu calmantes. Eu berrava e dizia que era mentira, que não era justo me torturarem assim. Quando passou a fase da negação, mergulhei no vazio.
O que a senhora acha do Tribunal de Justiça retirar escolta de Patrícia?
Foi covardia. Facilitaram tudo para os assassinos da Patrícia. Queriam forçá-la a sair de lá, intimidá-la ou sei lá o que tem mais nessa história podre. Não conheciam nem sua coragem nem sua obstinação.
Como está a investigação?
Todo dia eu pergunto se já acharam os matadores da minha filha. Só escuto o silêncio.
Os pais não estão, claro, preparados para perder um filho. Apesar disso, para a senhora, a morte de Patrícia deixa alguma lição?
Acho que sim. Juízes ameaçados estão de carro blindado, reforçaram a segurança de fóruns. E agora deu para aparecer escolta que não tinha.
A senhora acha que será feita Justiça no caso?
Acho que não. A gente vê tanta podridão que perde a esperança. Vão ter que prender alguém porque o caso teve repercussão. Mas será que a verdade vai aparecer?
Muitas mães procuraram Patrícia para pedir que os culpados pela morte de seus filhos fossem punidos. Agora, na mesma condição, qual o pedido que a senhora faz à Justiça?
Que não se esqueça dela. Que julgue com o mesmo rigor que ela julgava. Que faça todos os participantes desse crime pagarem.
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