Entrevista a correspondentes estrangeiros: “Imprensa internacional é fiel aos fatos”
Após oito anos, o presidente Lula voltou a conceder uma entrevista a correspondentes estrangeiros que atuam no Brasil, para falar sobre política, economia, esportes, combate à violência e o futuro pós-Presidência. O encontrou foi realizado na manhã desta sexta-feira (3/12) num hotel da zona sul do Rio de Janeiro e o presidente aproveitou para elogiar a cobertura do Brasil feita pelos jornalistas estrangeiros, afirmando que as reportagens publicadas pelos veículos internacionais são bastante fiéis ao que está acontecendo no País atualmente – com bom acompanhamento da evolução política, econômica e social.
Certamente nós não resolvemos todos os problemas brasileiros, mas nós demos passos extraordinários para resolver problemas que pareciam insolúveis, pareciam crônicos e que ninguém iria consertar, nós começamos a consertar. E eu acho que hoje o grau de otimismo, eu acredito que é o mais extraordinário de qualquer país do mundo hoje. Acho que não tem mais ninguém, no mundo, mais otimista que os brasileiros.Coube à presidente da Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira (ACIE), Mery Galanternyck, a primeira questão. Ela perguntou sobre os planos do presidente Lula a partir de 2011, quando deixará a Presidência da República. Lula recordou que durante entrevista concedida a blogueiros, no Palácio do Planalto, utilizou o termo “desencarnar” para explicar que iria se afastar das atividades políticas por uns meses para só depois retomar o trabalho e, deste modo, ajudar a presidente Dilma Rousseff naquilo que for necessário.
Eu já estou sendo convidado para inaugurar obra. Eu não sou mais presidente. Teve um companheiro que falou: “Presidente, embora o senhor não seja presidente, em fevereiro vai inaugurar tal obra, o senhor não quer vir?”. Eu não posso ir. Querer, eu quero, mas eu não posso. Então, por isso que eu utilizei a palavra “desencarnar”. Eu quero me livrar do mandato presidencial para poder voltar a ser o Lula que eu era antes de ser presidente da República. É isso.Depois, Lula foi indagado por Thomas Mills (ARD), da Alemanha, sobre pontos altos e decepções nos dois mandatos. Lula explicou, então, que não gostaria de ficar respondendo sobre os pontos positivos e os negativos de sua administração. Segundo Lula, após deixar o comando do Brasil “é como se você estivesse colocando água num recipiente para decantar”. E continuou:
Você vai passar por um processo de decantação e você vai se dar conta de coisas importantes que você fez e de coisas importantes que você deixou de fazer. Então, eu acho que nós não conseguimos fazer tudo o que nós queríamos fazer, mas eu acho que nós fizemos mais do que em qualquer outro momento da história deste país. Acho que nós fizemos muito em todas as áreas, muito, muito, muito. Eu, se for comparar com outros governantes, não existe comparação, e eu quero que a Dilma, quando tomar posse, ela comece a comparar o governo dela com o meu e ela faça muito mais, porque aí nós vamos acreditar que é possível cada vez fazer mais e cada vez fazer melhor.O jornalista Igor Varlamov (agência Itar-Tass), da Rússia, aproveitou o tema do dia e o gosto de Lula pelo futebol. Ele indagou sobre a escolha da Fifa por Rússia e Catar para sedes, respectivamente, das Copas do Mundo de 2018 e 2022. “Vai ser muito interessante, quando terminar a Copa do Mundo aqui, a final aqui no Rio de Janeiro, saber que o Brasil estará se preparando para ir jogar em Moscou numa época do ano em que a Rússia está muito bonita, muito verde, nada de neve, nada de frio, e eu achei extraordinário e achei sabedoria da Fifa – e possivelmente tenha a ver com todo o debate que nós fizemos para a Copa do Mundo no Brasil e para as Olimpíadas – é que é preciso descentralizar a Copa do Mundo”, disse.
Então, acho que a Rússia é um país grande, nunca tinha feito uma Copa do Mundo, é justo que a Rússia faça a Copa do Mundo. Portanto, eu dou os parabéns à Fifa por ter escolhido a Rússia, e também o Catar. Fazer uma Copa do Mundo naquela região do mundo, que muitas vezes aparece na imprensa apenas a violência no Oriente Médio ou a quantidade de petróleo. Quem conhece o Catar como eu conheço e alguns de vocês conhecem, sabe que embora seja um país pequeno, eles têm poderio econômico para realizar uma Copa do Mundo excepcional.Ainda na entrevista, Lula falou sobre a operação das tropas federais e do estado do Rio no morro do Alemão, o apoio dos Estados Unidos à indicação da Índia para o Conselho de Segurança da ONU, bem como os vazamentos recentes de telegramas de representações diplomáticas dos Estados Unidos por ONG estrangeira. Segundo ele, a relação entre Brasil e Estados Unidos foi boa com todos os últimos presidentes das duas nações e será mantida com a presidente Dilma Rousseff. Porém, Lula pediu que o governo norte-americano deve dar mais atenção aos países da América Latina e América do Sul.
Na última parte da entrevista, Lula falou dos investimentos que acontecem no Brasil bem como as obras de infraestrutura. O presidente brasileiro detalhou, por exemplo, empreendimentos nos setores de refino de petróleo, de ferrovias e de petróleo e energia. Na avaliação do presidente, os números mostram “o volume e a envergadura da solidez do desenvolvimento da economia brasileira. Ou seja, as coisas estão prontas, e vocês podem ter certeza, eu espero que vocês fiquem muito tempo sendo correspondentes aqui no Brasil, de preferência no Rio de Janeiro. Agora, com o Rio de Janeiro mais pacificado, vocês vão poder andar mais na praia, sem ter nenhuma preocupação”.
E dizer para vocês que esse é o cartão de garantia que a companheira Dilma Rousseff terá para o período do seu governo. Ela vai pegar o Brasil andando a 120 por hora, ela não está com o carro parado no estacionamento, com a bateria estragada, não. Ela está com o carro andando a 120 por hora. Se ela quiser, ela pode apertar um pouquinho o acelerador, chegar a 140, 150, se ela quiser ela vai a 120, e só não pode sair da pista, porque as coisas estão andando bem. Então é esse o Brasil, companheiros, que nós entregaremos à companheira Dilma Rousseff, ao povo brasileiro, no dia 31 de dezembro: um Brasil sólido, um Brasil com perspectiva de se transformar nos próximos seis anos na quinta economia mundial.