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quinta-feira, 13 de março de 2014

Jandira Feghali e PCdoB explicam pedido de inquérito contra Sheherazade e SBT


LIBERDADE DE EXPRESSÃO, SIM. APOLOGIA A CRIMES, NÃO!



No Facebook da combativa deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ):


As opiniões reacionárias e conservadoras, que pregam o obscurantismo na sociedade e selvageria, tentam desvirtuar o debate com mentiras: uma pena! Todos que lutam a favor dos direitos humanos e de uma cultura de paz enfrentam isto nessa estrada. Não é uma batalha fácil, obviamente. Mas estamos nela! Somos contra a censura e historicamente a favor da liberdade de expressão. Nossa história, aberta e clara, mostra isso.

A ação no Ministério Público Federal determina exatamente o que pensamos: não se pode usar recurso público e espaço público para promover a incitação ao crime. Apontar o dedo para a sociedade através da televisão e incitar a vingança, o olho por olho, dente por dente é participar do pior e mais terrível processo que pode existir. Não é “opinião jornalística” e nunca foi. É se aproveitar de um incomodo social e não proporcionar soluções ou caminhos. É apenas focar uma audiência televisiva, incendiando mentes, de forma cruel e aproveitadora, atropelando a ética profissional e os limites de sua atuação.

Agora, veja o artigo 287 do Código Penal: “Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime. Pena – detenção de 3 (três) a 6 (seis) meses, ou multa”. Prender gente no poste e matar por aí, sem recorrer à polícia, é solução? Não, é barbárie.

Agora, eis os pontos do Código de Ética do Jornalismo referentes aos Direitos Humanos:

Art. 6º É dever do jornalista:

I – opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
XI – defender os direitos do cidadão, contribuindo para a promoção das garantias individuais e coletivas, em especial as das crianças, adolescentes, mulheres, idosos, negros e minorias;
XIV – combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza.

Art. 7º O jornalista não pode:


V – usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime;

Pois é.

Promover a intolerância, o ódio e a ‘justiça pelas próprias mãos’ não é caminho para resolver problemas no seu bairro, cidade ou estado. A própria segurança pública precisa ser enfrentada com perspicácia e rigor pelos chefes de Estado, dando retorno ao povo da forma mais eficaz possível. Isso se reflete numa sociedade em que o cidadão não seja acuado pela criminalidade. Criminalidade essa que precisa ser combatida com a justiça e os órgãos responsáveis.

Os problemas se resolvem pelo caminho democrático e pelas instituições democráticas, reivindicando e exigindo melhorias de forma legítima. Nem sempre os retornos são ágeis por parte dos governantes, mas a luta precisa ser mantida sempre. É o que todos fazemos diariamente.

Seguimos por um caminho a favor daqueles que querem e desejam uma sociedade mais justa e menos desigual. Pelo caminho onde haja menos ódio e mais amor nas relações sociais, na família e em nosso país.

Somos a favor do debate em alto nível.

Boa noite!




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A integridade de Gushiken e a canalhice da Veja


JORNALISMO DE ESGOTO







No Diário do Centro do Mundo:


Gushiken foi vítima da degeneração moral da Veja


Paulo Nogueira


Era conhecido como Samurai

A Veja não desceu, subitamente, ao abismo jornalístico a que chegou.

Foi um processo, foi uma caminhada em que houve marcos.

Isso me ocorre ao ler, agora, que a Justiça enfim condenou a revista a pagar uma indenização à família de Gushiken.

É uma cifra irrisória perto do tamanho da infâmia, 100 000 reais, mas é melhor isso que os 10 000 reais anteriormente determinados pela Justiça.

Gushiken foi vítima de um dos marcos da transformação da Veja num panfleto canalha: uma reportagem que falava de alegadas contas no exterior de líderes petistas.

Entre os caluniados, estava Gushiken. No texto, a revista admitia que publicara acusações de tamanha gravidade mesmo sem ter conseguido comprová-las.


Mais que uma frase, é uma confissão de má fé assassina.

Que publicação digna mata a reputação de alguém sem comprovar a veracidade de dossiês que vão dar na redação por mãos altamente suspeitas?

No caso, por trás das acusações da revista – sabe-se agora – estava uma das personagens menos confiáveis do Brasil contemporâneo, Daniel Dantas.

Fora transposta uma barreira ali, na marcha da Veja rumo ao horror jornalístico.

Mais ou menos naqueles dias, outro marco no declínio moral da revista fora estabelecido quando foi feita uma enorme resenha para louvar um romance do então redator-chefe Mario Sabino.

Publicações decentes, em casos assim, dão, quando muito, uma nota seca para registrar o lançamento de um livro de um funcionário.

Quanto mais graduado este funcionário, menor o espaço, esta é a lógica, para evitar a desmoralização da publicação perante o público e perante seus próprios jornalistas.

Mas o romance de Sabino – um notório bajulador de patrões segundo o qual o granjeiro Frias foi um gênio do jornalismo — apareceu como algo digno de Proust, ou coisa parecida.

Também ali um marco foi vencido. Uma revista que faz aquele tipo de coisa faz tudo. À luz disso você entende como colunistas como Mainardi e Reinaldo Azevedo foram ganhando espaço numa revista em cuja época de ouro — os anos 1980 — eles seriam vistos como uma abominação.

Minha interpretação para o processo de degeneração ética da Veja junta um patrão que não aceitava a decadência da revista com o advento da internet e editores fracos que não souberam mostrar a ele os limites da abjeção.

Roberto Civita jamais de livrou dos efeitos da queda de Collor. Mesmo com técnicas jornalísticas altamente discutíveis – tanto que Collor foi absolvido de todas as acusações pelo STF – o impeachment deu uma aura de poder superior à Veja e a Civita.

Os anos passaram, e a magia ficou para trás. Caso Lula fosse derrubado pela Veja, o prestígio perdido seria recuperado. Provavelmente foi isso que levou Roberto Civita a fazer da Veja o que ela é hoje.

Para tanto, ele contou com editores fracos, sobretudo Eurípides Alcântara. Um bom editor teria mostrado a Roberto Civita que a imagem da revista seria destruída com aquele tipo de jornalismo.

“Estou protegendo você de você mesmo”, em algum momento o editor diria. Mas quem conhece Eurípides sabe que um comportamento altivo diante do patrão está acima de suas possibilidades.

Fomos colegas de redação na Veja no começo da década de 1980. Uma jornalista que era chefiada por ele me contou um pequeno episódio que não é grande senão por revelar a personalidade de Eurípides.

Elio Gaspari, diretor adjunto, chamara a repórter e Eurípides para reclamar de um texto que chegara às mãos dele.

Elio falou de uma coisa que Eurípides tinha feito. Imediatamente, como me contou na época a jornalista, ele pisou no pé dela para que ela ficasse calada e não dissesse que o erro era de Eurípides.

Gushiken acabou sendo vítima do afrouxamento moral da revista. Mais importante que a cifra em si é uma frase usada na sentença: “falácia de doer na retina”.

Não foi o único triunfo póstumo de Gushiken. Também o editor da seção Radar, Lauro Jardim, foi condenado a 10 000 reais de indenização por uma nota na qual afirmava que Gushiken pagara com dinheiro público uma conta de cerca de 3 000 reais num restaurante.

Lauro é um caso clássico do que a Veja faz com as pessoas que trabalham lá. Contratei-o, em meados dos anos 1990, para ser editor da Exame no Rio de Janeiro.

Nunca imaginei que Lauro acabaria fazendo parte de um jornalismo tão sujo quanto este da Veja. Era um bom rapaz, e foi absolutamente corrompido por um ambiente tóxico e amoral.

Carregará para sempre o anátema de ser um dos principais homens desta Veja que está aí.

Quanto a Gushiken, não viveu para ver as reparações judiciais.

A imagem com que passará para a história é a de um homem íntegro que lutou por um Brasil melhor, e foi por isso perseguido.

Quanto à Veja, a posteridade conferirá a ela o título de publicação mais canalha da história da mídia brasileira.



* O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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