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domingo, 12 de agosto de 2012

Brasileiros em Paris: um olhar maravilhado sobre o mundo


Deixando um pouco de lado, nesta tarde ensolarada de domingo em São Paulo, as mazelas brasileiras (corrupção generalizada, mensalão, crime organizado infiltrado nas instituições e outros escândalos igualmente escabrosos), vamos falar um pouco de um outro Brasil, que poucos conhecem, e que brilha na França: os artistas primitivos, gente do povo, que produz Arte Maior e revolucionária.

Exposição: "Histórias de Ver, Mostrar e Contar", Fundação Cartier.


Histórias de Ver - Brasileiros brilham em exposição 

em Paris


NUMA DAS MAIS IMPORTANTES MOSTRAS DE ARTE NAIF DE TODOS OS TEMPOS, A FUNDAÇÃO CARTIER DE ARTE CONTEMPORÂNEA, EM PARIS, REÚNE CERCA DE 50 ARTISTAS DE QUALIDADE EXCEPCIONAL ESCOLHIDOS EM TODO O MUNDO. MAIS DA METADE SÃO BRASILEIROS


Luis Pellegrini, de Paris

Imagens: Fototeca Fundação Cartier

Às vezes, para se perceber o que existe de bom em nossa própria casa, é preciso visitar a casa do vizinho. Assim é que, às vezes, para se saber de certas coisas boas que acontecem no Brasil, é preciso ir ao estrangeiro. A Paris, por exemplo, e visitar a exposição “Histoires de voir, show and tell” (Histórias de ver, mostrar e contar), atualmente em cartaz na Fundação Cartier, no bairro de Montparnasse. A mostra, de proporções decididamente mega, toma todo o espaço expositivo dessa Fundação – considerada hoje um dos principais endereços da arte contemporânea em todo o mundo.

 "Paisagem Urbana", Mamadou Cissé
O curador Hervé Chandés explica que “Histoires de voir” nasceu da curiosidade de ver e compreender em que consiste a assim chamada arte “naif”, “autodidata” ou “primitiva”. “Ir ao encontro de artistas que tomam outros caminhos distintos daqueles impostos pelos códigos visuais dominantes, de revisitar as relações entre arte contemporânea e arte popular, entre arte e artesanato”, diz Chandés.
Baseada, a princípio, em tais propósitos, a Fundação Cartier organizou uma verdadeira festa audiovisual. Nela se descobrem as obras e conta-se as histórias de mais de 50 artistas do mundo inteiro, escultores, pintores, desenhistas, cineastas e adeptos de técnicas mistas. São brasileiros, indianos, congoleses, paraguaios, e também mexicanos, haitianos, europeus, japoneses, norte-americanos. Vivem em Paris, em Port-au-Prince, em várias localidades do Nordeste brasileiro, em bairros da Cidade do México, nos cantos mais remotos da Amazônia, na periferia de Mumbai. Praticamente todos se descobriram artistas e aprenderam a “ver” em circunstâncias e contextos singulares; considerados como “naifs” e de consequência vítimas do preconceito que entende essa visão como “arte menor”, eles raramente são convidados a apresentar suas obras nas instituições dedicadas à arte contemporânea. Esta iniciativa da Fundação Cartier é, nesse sentido, bem revolucionária, e seu poder de fogo logo se fez sentir: o público responde com entusiasmo e lota o espaço da mostra todos os dias.
Nesse grande e brilhante conjunto de formas e cores produzido por artistas “fora dos códigos visuais dominantes”, o Brasil canta de galo. Dos cerca de 50 artistas convidados, quase a metade é de brasileiros. São eles: o paulista José Antônio da Silva, falecido em 1996; Antônio de Dedé, alagoano de Lagoa da Canoa; o baiano Nilson Pimenta, de Caravelas, que agora mora em Cuiabá; o pernambucano Cícero José da Silva, morador de Caruaru; o baiano Aurelino dos Santos, morador da favela de Ondina, em Salvador, paupérrimo, esquizofrênico, de história comovente, que trocava seus quadros por maços de cigarro – e agora é considerado tão valioso a ponto de a Fundação Cartier usar, para defini-lo como um mito vivo, uma frase do poeta Fernando Pessoa: “O mito é o nada que é tudo”. A lista dos brasileiros continua: o índio guarani Valdir Benites, que vive na reserva indígena Itaóca, em São Paulo; Ronaldo Costa, também índio, morador em Tiarajú, Santa Catarina; o incrível escultor sergipano Véio, morador em Nossa Senhora da Glória, Sergipe; o pernambucano José Bezerra, da cidade de Catimbau; o baiano Alcides Pereira dos Santos, que morreu em São Paulo em 2007; mestre Francisco da Silva, cujos sapos, borboletas, mariposas e pássaros fantásticos no passado decoravam até as paredes de botequins brasileiros, e agora ocupam um mural inteiro da Fundação Cartier; a fotógrafa Claudia Andujar; o mineiro Neves Torres, que hoje vive em Serra, no Espírito Santo; Ciça, escultora de Juazeiro do Norte; o índio ianomami Joseca, da Comunidade Watoriki, no Amazonas; mestre Nino, cearense de Juazeiro do Norte, morto em 2002. Destaque para Isabel Mendes da Cunha, a maior ceramista do Vale do Jequitinhonha, moradora em Santa, Minas Gerais – suas noivas com flores e grinaldas de barro fazem suspirar as francesas. E a maior de todas as surpresas dessa mostra: o trabalho e as obras do pajé Ibã, da tribo Huni Kui, que vive na aldeia de Xiku Curumin, às margens do rio Jordão, no Acre. Os “desenhos musicais” produzidos pelo pajé Ibã e o grupo de jovens índios que trabalham com ele já correm mundo, despertando estupor de críticos de arte e estudiosos de vários ramos da ciência.
Ibã mereceu destaque tanto no âmbito da exposição quanto no catálogo da mesma. Esse pajé amazônico herdou do pai parte substancial da herança cultural, linguística e espiritual do seu povo. No filme-documentário a seu respeito, também apresentado na mostra, ele afirma que “já é tempo, para nós, de reorganizar nosso saber e nossa cultura. Não se trata apenas de reunir o saber que recebemos, mas também de fazê-lo viver e se desenvolver”.
"Desenho de Música", Grupo do Pajé Ibã, Tribo Huni Kui
Na verdade, o pensamento e a postura de guerreiro cultural do pajé Ibã é o verdadeiro denominador comum entre todos os artistas escolhidos para compor “Histórias de ver, mostrar e contar”. A luta que ele representa começa a ser reconhecida em nível internacional. A presença importante de seu trabalho e de seu grupo nessa mostra em Paris é prova disso. Com seu filho Cleiber, e mais uma dezena de jovens índios Huni Kui, Ibã partiu para uma empreitada que é, essencialmente, o sonho de muitos artistas plásticos: traduzir em desenhos no papel os ensinamentos, a poesia, a magia e o encantamento da música tradicional de sua tribo. O resultado desse esforço são desenhos muito ricos de elementos simbólicos e padrões estéticos inovadores que, curiosamente, lembram as mais inventivas criações dos cartoons e dos mangás contemporâneos.

“A exposição responde ao desejo de liberar o olhar de se ver as coisas de um outro modo, de dar a palavra a artistas e a comunidades de artistas que lançam sobre o mundo um olhar maravilhado. Ela faz conhecer mulheres e homens para os quais a arte está em ligação estreita com a hipersensibilidade do coração”, diz o designer e arquiteto italiano Alessandro Mendini, cenógrafo da exposição.
"Bichos", Francisco da Silva
Ele está certo. Mas há também um outro aspecto dessa mostra que é preciso destacar. Só quem a visita e vê o brilho no olhar dos visitantes europeus, parados diante dessas obras “primitivas”, pode entender. Essas obras os nutrem, de alguma forma preenchem o buraco provocado pela sua fome de renovação de valores culturais e de padrões estéticos. Do saco sem fundo da imaginação e da alma “ingênua”desses artistas estão saindo coisas que não existem nem sequer nas sacolas de Papai Noel. A Fundação Cartier, que tem bom faro, já descobriu isso. Resta aos nossos museólogos, críticos, galeristas e colecionadores não dormirem no ponto do bonde.
"Desenho de Música", Grupo do Pajé Ibã, Tribo Huni Jui
"Desenho de Música", Grupo do Pajé Ibã, Tribo Huni Kui

Serviço: Exposição “Histoires de voir, show and tell”
Até 21 de outubro 2012
Fundação Cartier de Arte Contemporânea
261, boulevard Raspail, 75014 Paris
www.fondation.cartier.com
Vídeo 1

Vídeo 2
Video 3: O Espírito da Floresta
                                                    

"O Judiciário deixou Patrícia sozinha", diz mãe da juíza assassinada





"Ela lutava por Justiça, quero que façam isto por ela também", pede filha de Patrícia Acioli


PALOMA SAVEDRA

Rio - Passou-se um ano desde que a juíza Patrícia Acioli foi assassinada com 21 tiros na porta de sua casa, em Piratininga, Niterói. Neste sábado, uma missa foi celebrada na Catedral Metropolitana, na Avenida Chile, no Centro da cidade, em memória à magistrada. O responsável pela cerimônia foi o bispo auxiliar do Rio, Dom Edson de Castro Homem.

Cerca de 50 pessoas compareceram à solenidade entre familiares e amigos. A filha mais velha de Patrícia, Ana Clara Acioli Chagas, de 13 anos, foi uma das pessoas que falaram durante a cerimônia. A menina disse que pensa em ser juíza para seguir o exemplo da mãe.



                    Ana Clara se emocionou ao falar sobre a mãe durante missa
                    Foto: Severino Silva / Agência O Dia

"Às vezes choro, mas é de saudade. Porque ela era uma mãe maravilhosa, me educava, brigava comigo, mas sempre muito carinhosa. Sinto muita falta dela, ela sempre me dava conselhos. Quero que ela seja lembrada como uma pessoa muito corajosa. Como ela lutava por Justiça, eu quero que façam isso por ela também", disse.

O bispo se referiu à magistrada como "uma brasileira extraordinária". "Um país como o nosso carece de figuras exemplares como Patrícia, que como profissional da Justiça teve muita coragem. Ela trabalhou pela Justiça, mas não obteve Justiça. O que nos parece uma fina ironia. Temos de nos perguntar, como brasileiros e cristãos, estamos construindo uma sociedade justa? Ela vai permanecer na nossa história, não é verdade que este país não tem memória", afirmou.

As irmãs da magistrada, Márcia e Simone Acioli, afirmaram que a família está confiante na condenação dos 11 suspeitos do crime. "Foi um ano muito difícil. Minha mãe acorda todos os dias sem vontade de viver, mas estamos lutando muito. A condenação será um exemplo de justiça para o país", contou Márcia.

Ato em Copacabana


O movimento Rio de Paz realizou um ato público, na manhã desta sexta-feira, na Praia de Copacabana, em memória da juíza assassinada no dia 11 de agosto de 2011. Foram colocadas na areia 21 fotografias de bala de revólver, relembrando os 21 tiros disparados contra a juíza. Um outro cartaz foi afixado em frente às fotos, com a frase: “21 tiros na justiça: um ano do assassinato da juíza Patrícia Acioli”.


                                                                                                                Foto: Divulgação

No sábado, às 18 horas, uma placa foi colocada na “Árvore da Patrícia”, na Praia de Icaraí, em Niterói. A manifestação exaltou a coragem da juíza. Ao fim da solenidade, uma caixa de som simulou o disparo dos 21 tiros que a mataram.

Mãe da juíza Patrícia Acioli pede condenação de PMs

"Saber que eles estão presos, é a única coisa que me faz levantar de manhã e pensar que estão piores do que ela", diz Marly Acioli, com a voz embargada. Mãe da juíza Patrícia Acioli, Marly, de 74 anos, pediu a condenação dos envolvidos no crime em depoimento ao SBT Rio.

Onze PMs foram responsabilizados pelo crime. Cinco vão a júri popular na 3ª Vara Criminal de Niterói, entre eles, Sérgio Costa Júnior, um dos executores, que colaborou com as investigações. Seis entraram com recursos para reverter a decisão da 3ª Câmara Criminal no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.

"Levantar todo dia e saber que ela não vai voltar, é um fardo. Tem um ano que eu não saio de casa", afirmou Marly, que não pretende acompanhar o julgamento. Veja o vídeo do depoimento:


A contagem regressiva para o primeiro julgamento dos réus, da única juíza assassinada no Rio, coincide com o alerta vermelho acionado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) de que há 400 juízes ameaçados no País.

“O julgamento está perto, mas temos que pensar novos caminhos. O júri tem que atuar em crimes comuns e não contra autoridades e grupos de extermínio. Há pressões”, avaliou o presidente da AMB, Nélson Calandra, sobre a possibilidade de absolvições. Sete jurados vão dar o veredicto sobre os cinco que serão julgados por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha. As penas variam de dois a 30 anos de prisão.

O processo tem 7.500 páginas, e o julgamento deve durar dois dias, mas Marly não vai assistir. “Nada preenche o vazio da ausência dela. O judiciário deixou Patrícia sozinha”, lamentou. Sábado, a pedido do Tribunal de Justiça, foi celebrada missa em homenagem à juíza, às 11h, na Catedral Metropolitana. O Fórum de Alcântara, em São Gonçalo, vai ter o nome da magistrada. Seu primo, o jornalista Humberto Nascimento, está escrevendo livro sobre ela.

11 PMs acusados da morte em frente à casa de Patrícia

Patrícia foi morta na porta de casa em Niterói por dois PMs. Para chegar aos 11 acusados, entre eles, o tenente-coronel Cláudio Oliveira, e o tenente Daniel Benitez, a Divisão de Homicídios analisou sinais de celulares captados por antenas e imagens de câmeras do trajeto feito pela juíza do Fórum de São Gonçalo até em casa. Ela foi morta porque estava revendo ações de PMs do 7º BPM (São Gonçalo) registradas como autos de resistência — morte em confronto — forjados e o envolvimento deles com o tráfico.

Seis mulheres dos acusados contestam e farão manifestação sexta-feira, às 15h, na Alerj. “Há inocentes. O PM que colaborou com a polícia disse que ele não sabia”, defendeu Elaine, mulher de Júnior César de Medeiros. Em 20 anos de carreira, Patrícia recebeu três placas de homenagem da PM.


O Dia

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Judiciário e Política: o que pensam os brasileiros?


Sou advogado há 22 anos e a única coisa é que tenho muitas coisas a dizer sobre o Judiciário. Mas não perderei tempo detalhando fatos escabrosos que tem sido expostos quase todos os dias nos jornais, fatos que levaram a Corregedora do CNJ referir-se aos “bandidos de toga”. A única coisa que tenho a dizer sobre este assunto é a seguinte: BEM FIZERAM OS FRANCESES E RUSSOS QUE LIQUIDARAM SEUS JUÍZES BESTAS-FERAS DE UMA SÓ VEZ EM 1789 e 1917. Não fizemos o mesmo, por isto continuaremos sujeitos às quadrilhas de bestas-feras togadas. Quem disser que confia neste Judiciário ou é ignorante, ou faz parte de uma das quadrilhas de Juízes ou quer virar quadrilheiro.

                                                               Fábio de Oliveira Ribeiro, advogado





O Judiciário não redimirá a política da corrupção

Fernando Filgueiras

A ciência política brasileira tem se debatido muito com relação ao problema da autonomia do Poder Judiciário frente aos demais poderes republicanos e de que modo se constitui a sua autonomia para decidir questões de interesse público e privado e mediar conflitos. O interesse sobre o Judiciário nas novas democracias tem marcado suficientemente o debate a respeito de suas características institucionais e o seu papel na sociedade.
José Cruz/ABr
No caso brasileiro, a atenção prestada ao Judiciário, tanto no mundo acadêmico, quanto nos órgãos de imprensa, tem sido descrita sob o condão do conceito de judicialização. A judicialização da política e das relações sociais significa o deslocamento do lócus de decisão e debate público das instituições representativas tradicionais para o Poder Judiciário, empoderando este de uma legitimidade ditada pela capacidade técnica dos operadores do direito de se afirmarem como intérpretes da vida social e política. Com isso, o Judiciário passa a intervir no curso das políticas públicas definidas pelo Estado e assume o status de instituição central nas democracias, uma vez que tem poder de decisão e escolha dos rumos da política.

Uma das explicações para este fenômeno típico de novas democracias, e mais assentado em democracias consolidadas, se dá no fato de que as instituições representativas tradicionais, como os parlamentos e os partidos, esgotaram sua capacidade de construir o interesse público e estabelecer o rumo e o prumo da sociedade. O fato é que vivemos em uma sociedade marcada por forte desconfiança em relação às instituições democráticas, configurando uma crise de apoio ao trabalho e aos resultados alcançados por tais instituições. Some-se a isso um forte processo de vigilância ditado por regras de transparência, colocando no centro da ação política a atuação de instituições de vigilância e controle.

A judicialização decorreria, sobretudo, dessa desconfiança dos cidadãos em relação às instituições de representação política. Instituições em que a sua legitimidade dependa da regra majoritária das democracias estão imbuídas dessa desconfiança dos cidadãos, que passam a depositar as suas esperanças na atuação de instituições de controle e que tenham uma natureza contramajoritária. O empoderamento do Judiciário guarda uma relação direta com essa crítica às instituições majoritárias.


Foto: José Cruz/Agência Brasil
Nesse sentido, afirmações como “todo político é ladrão”, ou “não tem jeito de fazer política sem corrupção”, englobam um senso comum de que as instituições representativas definham a sua legitimidade para resolver conflitos e decidir. Por outro lado, empodera as instituições contramajoritárias, as quais passam a ser depositárias da confiança dos cidadãos. O empoderamento das instituições contramajoritárias, por um lado, e a fraqueza das instituições representativas, por outro lado, favoreceriam o processo de judicialização da política.

No caso brasileiro, esse processo está em curso, mas guarda especificidades marcantes quanto à questão da confiança nas instituições. A democratização não veio seguida de um desenvolvimento institucional das entidades representativas, especialmente a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, as Assembleias Legislativas e as Câmaras de Vereadores. Paira sobre estas instituições uma forte percepção de sua corrupção. E some-se a isso uma condição refratária a qualquer mudança institucional mais sólida. Depois de seguidos escândalos, o Senado Federal abortou qualquer tipo de mudança em sua gestão. As Assembleias Legislativas não avançam sua agenda e nem têm capacidade de se impor. As Câmaras de Vereadores dispensam qualquer comentário dessa natureza.

Por esse ponto de vista, as instituições de vigilância e contramajoritárias foram as que mais se desenvolveram institucionalmente. Vide o exemplo da Polícia Federal, a criação das controladorias, tanto da União como as recentes experiências nos estados, o Tribunal de Contas da União e, em alguma medida, o Ministério Público. Por meio de pesquisa de opinião realizada pelo Centro de Referência do Interesse Público em janeiro de 2012 nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Goiânia, Recife e Porto Alegre, fica claro esse processo.


Confiança nas instituições: Fonte: Centro de Referência do Interesse Público, 2012.
Destaca-se no gráfico que a Polícia Federal é a maior depositária da confiança do cidadão comum. O Congresso, por outro lado, é o campeão da desconfiança. O Poder Judiciário aparece muito bem nesse indicador de confiança nas instituições. Porém, o que precisa ser observado, para além do problema da confiança ou desconfiança, é o fato de que todas estas instituições são atravessadas por relações de poder. Imbuídas dessas relações de poder, as instituições de natureza contramajoritária exercem uma função representativa. A desconfiança as empodera para que elas corrijam os rumos das instituições majoritárias e impeçam o domínio absoluto da maioria.

No caso brasileiro, entretanto, apesar de se depositar forte esperança na atuação do Judiciário, o cidadão comum acredita que o Judiciário é atravessado por estas relações de poder, muitas vezes beirando ao caráter espúrio. Mesmo que confie mais no Judiciário, o cidadão brasileiro revela forte crítica à sua atuação, afirmando que ele não é independente dos interesses. No gráfico abaixo isso fica claro, à medida que para 45,2% da amostra o Judiciário brasileiro não toma suas decisões sem ser influenciado por políticos, empresários ou outros interesses.


O Judiciário toma as suas decisões sem ser influenciado por políticos, empresários ou outros interesses?
O fato é que mesmo que depositemos as esperanças na atuação do Poder Judiciário, como agora no caso do “mensalão”, em que o STF poderia redimir a política moralmente, é um erro esquecer que a interpretação do Direito se faz com interesses, intenções e fins. Ou seja, as relações de poder atravessam a atividade jurídica e podem promover efeitos benéficos ou nefastos como qualquer outra instituição. Do mesmo modo, pode se corromper como qualquer outra instituição representativa. O pano de fundo do caso do “mensalão” é pensar em que medida as relações de poder no Judiciário produzem igualdade ou não. Esta questão deveria estar mais em jogo do que a própria corrupção, porque há corrupção maior em uma democracia do que ferir o imperativo da igualdade perante a lei. Aí a opinião pública pode ser indicador importante, à medida que compreende que as leis, no Brasil, não consideram igualmente os indivíduos, como exposto no gráfico abaixo:
As leis consideram igualmente os cidadãos?

O enfrentamento da corrupção no Brasil e, em particular, o julgamento do mensalão, deve considerar que existe no Brasil uma forte demanda histórica por igualdade, sem a qual não é possível construir uma democracia. A pergunta fundamental se mantém oculta no julgamento do ”mensalão”. Como o Judiciário brasileiro pode contribuir para a construção da igualdade perante a lei? Para atender a isso, não basta empoderar-se, mas compreender que o seu empoderamento demanda maior responsabilização e não o teatro de horrores que se assiste nas sessões televisivas do julgamento. A resposta, portanto, precisa ser institucional. E com capacidade de contribuir para a mudança da cultura política no Brasil.

O Judiciário brasileiro, e o STF em particular, não redimirá a política da corrupção porque ele está inserido na própria política e pode corromper-se com ela. Resta saber se terá responsabilidade o suficiente para lidar com isso.

Comentários
  1. Gilson disse:

    Na minha opinião aí tem um dedo sujo da grande mídia suja. O PiG faz campanha difamatória ou sequer coloca em evidência a PF? Não. Não é uma instituição politizada. Manipula as opiniões quanto às Polícias Militar e Civil? Sim. A Polícia Civil não é politizada, a Militar tem sim influência. A Justiça é uma instituição com evidente militância a favor de obscuros interesses oligárquicos. Agora, o Congresso, é desacreditado diária e semanalmente no palanque eletrônico e na panfletagem da mídia. E merece toda essa “atenção” por ser justamente o poder eleito pelo povo. Mas essa mídia elege seus “mosqueteiros”. Ridículo.

    Elisa disse:

    O Congresso Nacional está repleto de políticos profissionais, acostumados a toda sorte de mal feitos, venais ao extremo. Nem sequer a reeleição de fhc foi possível sem derramamento de dinheiro… é a linguagem que eles conhecem. Eu sugiro voto em branco para deputados federais e senadores, já!


    Aquiles Gabriel Rodrigues disse:

    Mas o Brasil vai ficar rico.Vamos faturar um milhão.
    Quando vendermos todas as almas dos nossos índios num leilão.

    Okamoto disse:

    Resta saber em que classe foram feitas essas pesquisas, a grande maioria tem o judiciário na mesma conta que os políticos, muitas vezes, até pior.

    Antonio disse:

    Eu não confio nas instituições e nem no judiciário. Vejo o brasileiro comum abandonado pela própria sorte. As instituições existem para o povo, como dizem, para inglês ver. Na verdade elas existem para prover a sobrevivência de alguns e enriquecer outros. O brasileiro comum é consumido pela malha burocrática das instituições, paga a conta e sua opinião não tem poder de decisão ou de influenciar mudanças. As eleições no Brasil viraram um show midiático. Vivemos a ditadura das instituições democráticas.

    Gutierrez Lhamas Coelho disse:

    Ou seja, não temos judiciário e sim um bando de acólitos togados. Basta ver a “carreira” de cada um, as nomeações puramente políticas, o rabo preso generalizado. Futuro sombrio nos aguarda, na medida que temos um presente questionável. Possível mudar? por quem ou por qual dos poderes, se no nosso Pais se legisla somente em causa própria?

    Elisa disse:

    Não sei de onde tiraram as estatísticas dessa confiança no judiciário… Deve ter sido feita dentro do STF.

    Okamoto disse:

    Resta saber qual a classe das pessoas em que foram feitas essas pesquisas. Se depender da maioria o judiciário está no mesmo nível dos políticos, não raro, abaixo deles.

    Nelson de Azevedo Neto
    disse:

    Quem é que confia no sistema judiciário brasileiro?… Como confiar num sistema que eleva “homens” acima do bem e do mal?!?!?… Como confiar num sistema que cultua a vaidade e a soberba?!?!?… Como confiar num sistema em que seus “operadores” interpretam e aplicam leis às quais não se submetem?!?!?… Pois eu não confio!… E em muitos casos repudio!… E quem confia no Congresso?… Ora, neste acho que qualquer um em sã consciência já não mais confia… Pois há tempos que virou fábrica de “piadas” de mau gosto… E na Polícia, quem confia?… Bom, a Polícia é apenas o “fruto do meio”… E ultimamente se vê cada vez mais perdida e dividida…
    Enfim: É o próprio sistema que nos rege que não favorece a promoção da justiça e ainda penaliza os que buscam se fazer justos…
    E QUEM PODERÁ NOS SALVAR SENÃO NÓS MESMOS?!?

    Silva disse:

    Confiar na “justiça” brasileira é a mesma coisa que acreditar que o dinheiro dá em árvores. Esses que dizem que confiam, certamente têm uma polpuda conta bancária e advogados de alta estirpe!

    Fábio de Oliveira Ribeiro disse:

    Sou advogado há 22 anos e a única coisa que tenho muitas coisas a dizer sobre o Judiciário. Mas não perderei tempo detalhando fatos escabrosos que tem sido expostos quase todos os dias nos jornais, fatos que levaram a Corregedora do CNJ referir-se aos “bandidos de toga”. A única coisa que tenho a dizer sobre este assunto é a seguinte: BEM FIZERAM OS FRANCESES E RUSSOS QUE LIQUIDARAM SEUS JUÍZES BESTAS-FERAS DE UMA SÓ VEZ EM 1789 e 1917. Não fizemos o mesmo, por isto continuaremos sujeitos às quadrilhas de bestas-feras togadas. Quem disser que confia neste Judiciário ou é ignorante, ou faz parte de uma das quadrilhas de Juízes ou quer virar quadrilheiro.