Antes de conceder entrevista a qualquer jornal brasileiro após sua vitória em outubro, a presidente eleita Dilma Rousseff resolveu falar ao jornal americano The Washington Post.
Dilma, que já havia surpreendido ao deixar a Rede Globo e o Jornal Nacional de lado e conceder sua primeira entrevista exclusiva após a eleição à Rede Record/Jornal da Record, mostrou na entrevista ao WP que tem personalidade e fará diferente de Lula, na relação com a mídia e em outros aspectos.
Dilma falou da crise econômica mundial, criticou a política americana de desvalorização do dólar e colocou o Brasil no mesmo patamar dos Estados Unidos, ao sugerir que ambos os países têm um importante trabalho conjunto a desempenhar no mundo.
A presidente eleita fez questão de enfatizar que a posição do Brasil no cenário econômico mundial é muitíssimo diferente da dos Estados Unidos e Europa. "O Brasil não está em depressão", disse ela, afirmando que o governo Lula criou 15 milhões de empregos, tirou 28 milhões de pessoas da pobreza e colocou outras 36 milhões na classe média por meio de políticas de transferência de renda como o Bolsa Família.
"Meus desafios são outros desafios"
Dilma acredita que seu governo será diferente do de Lula, pois avançará a partir de uma base sólida criada por seu antecessor. Porque o Brasil hoje se encontra numa situação muito melhor, ela poderá se dedicar a outros desafios: melhorar a qualidade da saúde e segurança e expandir a infraestrutura no setor de estradas, ferrovias, portos e aeroportos.
Indagada sobre se preparará o Brasil para a Copa do Mundo e Olimpíadas, a presidente eleita lembrou que tem um compromisso muito mais importante: acabar com a pobreza absoluta, tirando 14 milhões de brasileiros da miséria.
"Eu não sou a Presidente do Brasil"
Dilma disse que é surpreendente, mesmo para ela, ser a primeira presidente mulher do Brasil, e acha que chegou a esta posição não por seus méritos, mas porque o País estava preparado para eleger uma mulher, após a administração bem-sucedida, diferente e inovadora do Presidente Lula. "Nós ouvimos as pessoas", afirmou.
E ao ser cobrada sobre a abstenção do Brasil em votação de resolução da ONU que pede o fim das sentenças de apedrejamento no Irã, Dilma lembrou que ainda não é presidente, que o governo Lula sempre defendeu os direitos humanos e a construção da paz, e deixou muito claro que ela considera "medieval" a prática do apedrejamento, que não concorda com a posição do Brasil e não mudará de opinião quando tomar posse.