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sexta-feira, 3 de junho de 2011

De Lady Gaga a Nietzsche, sobre o medo e a homofobia

O ABC! reproduz abaixo interessante artigo do blog Afinsophia, que traz um outro olhar sobre as manifestações que tiveram lugar em Brasília, no último dia primeiro, contra a aprovação de projeto de lei que criminaliza a homofobia.


Parlamentares evangélicos e católicos unidos contra a Razão praticam Homofobia, mas Lady Gaga, Spinoza e Nietzsche...



Lady Gaga, em um de seus shows, cantando e dançando sob as pernas de um de seus bailarinos, diz que ele ama garotos e garotas. É como Cristo, ama todos. Parlamentares da chamada bancada evangélica e católica, sem qualquer conhecimento sobre o tema que Lady Gaga tem conhecimento, se reuniram ontem, dia 1º, com seus fiéis, no Congresso Nacional para protestarem contra a aprovação do projeto de lei que criminaliza a homofobia, e aprovação de um projeto de decreto legislativo para suspender a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu a união estável do mesmo sexo.

O filósofo Spinoza, que viveu no século XVII, e logicamente não conheceu Lady Gaga, mas que teve um entendimento símile ao da cantora/dançante, e que por isso foi excomungado pela mesma crença que os malafaias imaginam defender, disse que o mais baixo grau de inteligência é o responsável pela criação no homem de um mundo cheio de medo e ódio, com profunda distância do mais alto grau de inteligência que é produzido pela razão.

O que Spinoza queria dizer é que aprisionados pela imaginação fabulosa saída do mais baixo grau da inteligência, certos homens tornam-se prisioneiros de suas próprias superstições, que os colocam na condição suprema de escravos, auxiliares diretos dos tiranos, que também se encontram fabulados nesses mais baixos graus de inteligência.

É aí que se encontram os disangélicos. Os que carregam consigo a má mensagem, a mensagem da dor, do ressentimento, da amargura, rancor, julgamento, cobrança, dívida, todos os afetos que mostram a condição triste de quem vive no medo produzido pela imaginação fabulosa, como diz o filósofo Nietzsche. Nisso a disposição anêmica de querer julgar os homoafetivos como se fossem os mais próximos da inteligência e vontade de Deus. Na verdade, seus atos discriminadores mostram o quanto se rivalizam com Ele, visto, que como bem disse Lady Gaga, Ele ama todos. E por incrível que pareça, até os disangelistas. Certo que possivelmente com ressalvas. Ressalvas do tipo: “Se queres entrar no Reino do Senhor, muda tua consciência. Entra primeiro no Reino da Razão. Posto que se te dei a Razão é para usá-la. Ou será que não sabes que também és racional?”

No mais, o filósofo Spinoza, que afirmou que a grande importância da Bíblia está em ela ser um tratado político do Estado Hebreu, portanto, preenchido de enunciações racionais e não fabulosas, apesar das fantasias milagrosas, sintetizando a escolha que os disangelistas fizeram em se tornar escravos, alimentos dos tiranos, disse: “O medo é a origem, o alimento e permanência da superstição”. É essa a arma dos que perseguem os homoafetivos: o medo. E um dos piores medos: o medo da existência do outro. Daí essa perseguição paranóica exacerbada como se os homoafetivos fossem destruir o mundo. Daí, essa moral irracional que pretende anular o Estar-Ontológico do outro. E tudo em nome de Deus.

Que blasfêmia! Ah, se Deus fosse vingativo! Mas não é. Se assim fosse não seria Deus, seria um tirano. Deus não trama vingança, mesmo vendo que esses disangelistas querem usurpar seu trono, pretendendo diante dos incautos serem mais semelhantes a Ele, quando pela própria recusa do outro, o próximo, confirmam que são o simulacro. O que finge ser o que não é.
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