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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"Não mexa com Dilma Dinamite!"



Do blog da talentosa jornalista e escritora carioca Ana Helena Tavares, o Quem Tem Medo da Democracia?, reproduzo abaixo a tradução da matéria completa sobre a presidenta Dilma Rousseff publicada pela revista americana Newsweek.



“Dilma Dinamite” na capa da Newsweek – Tradução da reportagem completa


Presidente do Brasil. Dilma Dinamite. Onde as mulheres estão vencendo.
Por Mac Margolis | NEWSWEEK
Não mexa com Dilma
Uma mulher é presidente num Brasil em crescimento e machista. E é ela que está dando as cartas.
De todas as muitas histórias de lutas que Dilma Vana Rousseff conta da sua guinada de revolucionária à carreira burocrática para presidente do Brasil, uma em particular chama atenção. Foi no início de sua corrida para suceder Luís Inácio Lula da Silva, e a maioria dos brasileiros estava acordando para a idéia de uma vida sem seu líder super-popular, “o pai dos pobres”. Um dia, num aeroporto lotado, apareceram uma mulher e sua jovem filha, na tentativa de se aproximarem de Rousseff, para ver mais de perto a líder da corrida presidencial. “Uma mulher pode ser presidente?”, quis saber a menina, cujo nome, apropriadamente, era Vitória. “Ela pode”, Rousseff respondeu. Com isso, Vitória agradeceu a Rousseff, levantou seu queixo e saiu andando, se sentindo um pouco mais alta.
Rousseff sorriu enquanto recordava o episódio em entrevista a Newsweek, no palácio presidencial em Brasília. Eram quase 6 horas da noite e o sol forte sobre o Planalto Central já estava se pondo, mas o dia de Rousseff estava longe de terminar. As enchentes no sul haviam deixado centenas de desabrigados. O trabalho de construção para a Copa do Mundo, que o Brasil sediará em 2014, estava atrasado. A imprensa ainda comemorava sobre a carcaça dos escândalos de corrupção que lhe custaram a saída de 5 ministros em menos de 9 meses. E, ainda assim, Rousseff numa jaqueta de fúcsia, calças pretas e grandes brincos pendentes de pérola, parecia relaxada enquanto falava sobre o Brasil, economia mundial, pobreza e corrupção. Seu cabelo estava grosso e brilhoso, sua face corada, sem nenhum traço das penosas sessões de quimioterapia a que teve que se submeter para tratar um linfoma que descobriu em 2009. Por quase uma hora, ela despachou, marcando compromissos e passando facilmente de criação de empregos (“Nós geramos 1.593.527 nos primeiros 6 meses) a T. S. Eliot (“Ash Wednesday” - “Quarta-feira de Cinzas” - é um dos favoritos) a como mulheres podem reescrever as regras de uma agenda política: “Quando eu era pequena, eu queria ser bailarina ou bombeira, ponto final”, ela disse. “Eu não sei se é um mundo novo, mas o mundo está mudando. Pois uma menina perguntar sobre ser presidente é um sinal de progresso.”
Para aqueles em dúvida, a Assembleia Geral das Nações Unidas que se reúne em Nova York essa semana é um retrato de uma nova ordem mundial. Hillary Clinton estará lá, e também Angela Merkel, a chanceler alemã, cuja palavra pode, por fim, determinar o destino da atemorizada União Europeia. Mais marcante talvez seja o fato de que 4 das 20 mulheres que são chefes de Estado hoje no mundo (doze das quais são esperadas na Assembleia) são originárias das Américas. Além de Dilma, temos Cristina Kirchner da Argentina, Laura Chincilla da Costa Rica e Kanla Persad-Bissessar de Trinidad Tobago. E, em 21 de setembro, quando Rousseff subir ao palanque, ela será a 1ª mulher a fazer o discurso de abertura para um mar global de pessoas em trajes formais, desde que a ONU foi fundada.
Rousseff foi motivo de zombaria dos brasileiros. Outrora um crônico país subdesenvolvido, o Brasil está no páreo. Ano passado, a economia cresceu perto de 7,5 por cento, duas vezes a média mundial, e alcançará a posição de um respeitável nível de 3 a 3,5 por cento na bolsa de 2011. Enquanto as nações mais ricas estão lutando para evitar uma dupla queda na recessão, o Brasil está tentando esfriar sua economia aquecida. Sua moeda está estável, seu sistema judiciário – mesmo imperfeito e se arrastando – funciona, e sua mídia está dentre as mais combativas do hemisfério.
Com as nações mais ricas sem progresso e o mundo árabe em revolta, este crescimento de uma nação democrática está quebrando os limites do hemisfério. Semana passada, o Brasil até propôs a ideia de baldear uma zona do Euro. “Nós precisamos estudar um meio de as nações emergentes com maior potência de fogo  ajudarem a Europa”, disse o ministro da economia de Rousseff, Guido Mantega, que se encontrou com outros ministros de países membros dos BRICs (Brasil, Russia, Índia e China) no encontro anual do FMI em Washington essa semana. “Em 2008, nós ajudamos a aumentar a capacidade de fundos do FMI de 250 bilhões de dólares para 1 trilhão. Nós podemos fazer algo igual hoje”. Ninguém esperou o Brasil salvar a Grécia (a Reuters chamou a oferta de “falso fogo de poder” e um modo de baixo risco de “enaltecer o status internacional do Brasil”). Mas quem teria imaginado isso de uma terra que 15 anos atrás era um elo quebradiço na economia mundial? “Por muito tempo, vocês foram chamados de o país do futuro”, Barack Obama disse em um teatro lotado no Rio de Janeiro, em março, mencionando o antigo ditado de que o Brasil era o país do futuro e sempre seria. “O povo do Brasil deveria saber que o futuro chegou. Está aqui, agora”, completou.
Tem sido uma longa jornada. Quando Rousseff tomou posse, aos 63 anos, ninguém sabia o que esperar. Ela era uma neófita política, mais conhecida pelo seu passado confuso como uma guerrilheira marxista durante a ditadura brasileira e depois como uma burocrata carregando um laptop. Ela nunca havia concorrido para um posto eletivo até que Lula a cutucou para sucedê-lo como presidente. Como ela poderia seguir os passos do “político mais popular na Terra” – como Obama, num famoso elogio, uma vez saudou Lula – um homem cuja ascensão de torneiro mecânico a presidente é ainda uma lenda?
Barrado pela Constituição para concorrer ao 3º mandato consecutivo – ele teria ganho fácil – Lula não somente lançou a campanha de Rousseff, mas essencialmente criou-a como presidente – o que o tornou uma espécie de Pigmaleão dos trópicos. Mas enquanto ele era só carisma e populismo casca-grossa, ela era uma devoradora de números, mais em casa usando o seu Power Point do que envolvida em assuntos de Estado. Conseguiria a iniciante fazer mágica e completar o trabalho de pastorear o gigante da América Latina até chegar ao há muito tempo acalentado papel de uma potência mundial? Ou Rousseff seria para Lula o que Dimitry Medvedev está sendo para Vladimir Putin, aquecendo o lugar para que o seu criador retorne em 4 anos?
Nós temos um veredito. Em quase 9 meses no poder, Rousseff registrou seu estilo moderado num país que Lula tinha nas mãos. “Ela é uma administradora experiente que gosta de eficiência. Trabalho é seu hobby.”, diz Eike Batista, um bilionário de minas e energia. Um outro magnata brasileiro, Nizan Guanaes, concorda: “Ela não está brincando de política nem faz marketing dela mesma. Penso que o país tem o sentimento de que tem alguém no comando”, diz Guanaes, CEO do grupo ABC, maior empresa de marketing do país.  “O Brasil já foi dirigido por um prestigiado professor, por um líder sindical e agora por uma mulher, um extraordinário sinal de maturidade. Isso é como dizer que nosso ‘homem do ano’ é uma mulher”.
Nem todos são tão simpáticos. O especialista em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, critica Rousseff como centralizadora. Quando o seu poderoso chefe da Casa Civil foi cobrado por ter feito fortuna através dos clientes do governo durante a campanha para sua eleição, os inimigos de Rousseff criticaram-na por ter prejudicado sua credibilidade ao demorar muito tempo para afastá-lo do cargo. Desde então, ela tem sido mais rápida no gatilho, demitindo 3 outros ministros pegos em escândalos de corrupção.
Duas vezes divorciada e hoje avó, Rousseff mantém sua vida privada protegida. Mora com sua mãe, também chamada Dilma (“a Dilma original”, a mãe brinca), uma tia e seu labrador preto, no Palácio da Alvorada, sua residência oficial. Levanta cedo para dar uma caminhada pelos jardins, devora uma coletânea de clipping de notícias no seu Ipad, e está à sua mesa de trabalho por volta das 09h15min, onde ela permanecerá até as 21h. Mantém contato com seu ex-marido, Carlos Araújo, que voou para Brasília quando soube que Rousseff havia recebido diagnóstico de câncer. Embora proteja sua família do olhar público, embalou seu netinho no colo enquanto acompanhava o desfile cívico em comemoração do dia da independência do Brasil, em 7 de Setembro. No trabalho, ela não é sentimental, é até taciturna, e com conhecido pavio curto. “Ela não sofre por tolos ou incompetentes”, diz um ex-assistente, e há várias histórias de burocratas reduzidos ao silêncio e às lágrimas, depois de uma repreensão presidencial. Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, que conhece Rousseff desde que eram guerrilheiros em fuga, explica o modo de pensar da “dama de ferro”. “Dilma sempre diz que é uma mulher dura cercada por homens doces e cordiais”, ele diz. “Algumas vezes, você tem que ser incisivo para prevalecer”. João Santana, o marqueteiro que comandou sua campanha, vai além. “Dilma é a nova cara do Brasil, certa de si mesma, menos ansiosa para agradar, generosa, mas não aduladora. Ela sabe o seu valor”.
Sua capacidade de recuperação tem ajudado em Brasília. A instável coligação de dez partidos, liderada pelo potente Partido dos Trabalhadores, que a colocou no poder (e que poderia ter derrubado um político menor) está amplamente sob controle, com suas demandas por benesses tratadas com firme resistência. A presidente transformou os escândalos de corrupção em vitória política, usando-os como uma oportunidade para expurgar os políticos corruptos que têm se achegado a ela. No lugar deles, nomeou antigos confidentes e colegas na maioria mulheres, incluindo a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
As mulheres somam um trio no gabinete de Rousseff, um matriarcado no centro de uma Brasília machista, cujo fio condutor é a lealdade a Rousseff, não aos políticos importantes do partido. Até Lula, alguém que nunca sai de cena, parece estar mais reservado. “Quatro anos não são suficientes para quem vai governar por oito”, disse ele recentemente. Dilma, a presidente que seria tapa-buraco, tornou-se a política alfa do Brasil. “É Pigmaleão ao contrário”, disse o analista político Amaury de Souza. “A criatura está devorando o criador”.
Pode ser apenas um mero exagero. Embora Rousseff perca raramente a chance de elogiar seu padrinho político, ela nunca foi politicamente inocente, como rivais tentaram lhe passar a imagem. Pergunte a José Serra.
Um ano atrás, o antigo governador de São Paulo e assistente-top do presidente Fernando Henrique Cardoso – o social-democrata, que levou a fama de tirar o Brasil da hiperinflação na década de 90 – era uma aposta certa para suceder Lula. Serra acenava de longe para uma Rousseff tonta como se ela fosse um “envelope vazio”. Ela deu uma surra eleitoral nele, com 12% de pontos de vantagem, tendo ficado com 56% sobre os 44% de Serra.
A carreira política da presidente começou no auge de protestos radicais. Rousseff era uma estudante de 2º grau na emergente Belo Horizonte, quando os militares implantaram a ditadura em 1964, que duraria 21 anos. Como muitos jovens brilhantes e privilegiados de seu tempo, ela se rebelou. Juntou-se ao movimento estudantil e, quando este foi posto na ilegalidade, alistou-se na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (Var-Palmares), um grupo radical engajado na derrubada do regime.
Rousseff diz que nunca usou armas (embora tenha habilidade para limpá-las), já que ela era míope para atirar. Mas ela ajudou a montar a estratégia para o grupo que realizou uma série de despudorados roubos a banco. A polícia do Exército a prendeu durante o momento mais duro do período militar em 1970. Em São Paulo, os carcereiros de Rousseff lhe bateram, aplicaram eletro-choque e usaram a prática brasileira favorita – penduraram-na de cabeça para baixo numa barra alta chamada pau-de-arara. Ela foi espancada, mas nunca se rendeu a entregar seus companheiros, sempre dando falsos nomes e lideranças. Dos cárceres da tortura, ela foi transferida para a prisão Tiradentes, em São Paulo, que, ironicamente, recebeu este nome em homenagem a um herói da Independência. Quando ela foi liberta, três anos mais tarde, ela havia perdido 22 quilos e sua glândula tireóide havia sido destruída. Ela tinha então 25 anos.
Militantes como a jovem Rousseff se tornariam uma nova geração política para as nascentes democracias da América Latina. Eles também queriam poder. E, enquanto muitos se prenderam à sua ideologia de esquerda, o realismo prevaleceu. Lula concorreu três vezes para a presidência como um político agitador e sempre perdia. Finalmente, ele aparou sua barba, colocou um terno e comungou com investidores e com a classe média. Então, ele venceu.
Com graduação universitária em economia, Rousseff aperfeiçoou suas habilidades de liderança na prisão, debatendo com outros presos e devorando alguns livros que a censura permitia. “Você acredita que eles liberaram ‘A Questão Agrária’, de Karl Kautsky?”, ela disse sobre um clássico marxista. Sua disciplina lhe foi útil quando ela se mudou para Porto Alegre como articuladora política. Lá, sua competência para números e o seu jeito para persuadir “companheiros” chamou atenção do prefeito. Ela prosperou na administração pública, passando de secretária de finanças da cidade para secretária estadual de energia e comunicação, ganhando reputação de chefe exigente, usando seu laptop para buscar estatísticas e, com isso, silenciar os boateiros.
Lula ficou tão impressionado que a escolheu a dedo – uma recém-chegada ao partido – para se tornar ministra das Minas e Energia, ao mesmo tempo em que o Brasil anunciava uma gigantesca descoberta de petróleo costeiro. Apesar de sua fama de economista nacionalista, investidores estrangeiros fizeram fila à sua porta. “Ela é pragmática, muito direta, embora nem sempre fácil”, diz a vice-presidente da PepsiCo, Donna Hrinak, ex-embaixadora dos EUA no Brasil. “Companhias dos EUA gostaram de trabalhar com ela, porque ela fez um esforço real para entender suas questões. Você sempre sentia que ela estava tomando decisões com critérios técnicos e econômicos. Quando o escândalo político do mensalão atingiu o governo em 2005, derrubando o assistente braço-direito de Lula, o presidente nomeou Rousseff como chefe da Casa Civil – numa posição da qual ela praticamente dirigiu Brasília enquanto Lula assumia sua diplomacia hiperativa com a missão de qualificar o Brasil como uma força no cenário mundial. Rousseff já era sua herdeira aparente.
A aprovação oficial de Lula pode ter ajudado Rousseff a vencer a eleição, mas governar a democracia mais indisciplinada da América Latina requer mais do que um patrocinador poderoso. Lula havia tido sucesso combinando economia conservadora com gasto social agressivo. Ele também conseguiu incentivo através do crescimento de commodities mundiais e uma boa maré de liquidez no mercado internacional, procurando bons negócios e um porto seguro. Esse amortecedor ajudou quando, em 2008, a crise econômica mundial chegou. Rousseff tem se mantido fiel a essas políticas, mas como a economia global está mais lenta, ela sabe que terá que esperar, que sua margem de manobra ficará de molho.
“Nós sabemos que não estamos numa ilha”, ela diz. “Eu abro o jornal e leio sobre isso todo o dia. A Grécia não tem como pagar sua dívida. A Espanha está com problema. Assim como a Itália. Os Estados Unidos não estão crescendo. Isto tem um impacto negativo no resto do mundo”. Rousseff dá uma pausa para ser mais enfática. “Vocês sabem qual a diferença que existe entre o Brasil e o resto do mundo?”, ela pergunta. “Nós temos todos os instrumentos de controle de política intactos para lutar contra a desaceleração do crescimento e até a estagnação da economia.” Graças a empréstimos cautelosos e rígida supervisão do Banco Central, “nós ainda podemos cortar as taxas de juros enquanto outros países não podem porque suas taxas estão quase próximas do zero”.
Ela está no páreo agora, tentando eliminar os pontos críticos que fizeram o Brasil parecer um homem anestesiado e doentio indo para o corredor da morte. “Nós somos uma grande economia, rica em recursos e com um enorme mercado interno. Graças às nossas políticas sociais, tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza para a classe média, desde 2003. É o equivalente à população da Argentina. A demanda doméstica tem sido reprimida por muito tempo, nós temos um imenso potencial de crescimento. Temos uma explosão imobiliária, sem bolha. Este mercado interno nos permitirá acelerar o crescimento.
Ninguém espera uma revolução política de Rousseff. São necessários três quintos dos votos das duas casas do Congresso brasileiro para reformar o deficitário sistema previdenciário ou instituir uma nova configuração tributária. “Mas ela pode trabalhar muito comendo pelas beiradas”, disse o cientista político da Universidade de São Paulo, Matthew Taylor. Trazer a hipertrofiada máquina pública para o século 21 poderia ser um começo. Há anos, ela vem dizendo que “o Estado está muito inchado em algumas e muito abandonado em outras”. “Nós devemos atender às demandas de um país em crescimento pela profissionalização do serviço público, defendendo a meritocracia. Nenhum país que tenha alcançado um elevado nível de desenvolvimento tem conseguido isso sem a reforma da administração pública”.
Rousseff oferece pouca satisfação para o lobby de políticos interessados em imposto e gasto. “A Constituição de 1988 prometeu qualidade universal de saúde gratuita”, ela diz, “em nenhum lugar do mundo você consegue fazer isto sem dinheiro.” E aos políticos acostumados a abocanhar recursos públicos e passar a conta para os contribuintes, ela recentemente deixou um breve recado: “Eu não quero presentes de grego”. Delfim Neto, ex-czar da economia no governo militar, está impressionado. “Dilma tem uma visão para o Brasil, mas também sabe como não violar os princípios da contabilidade internacional”.
Equilibrar as finanças pode não dar credibilidade ao Brasil, mas Rousseff diz que isso ainda levará tempo. Essa é uma lição que ela aprendeu no passado, quando seu endereço não era os palácios de mármore do Planalto, mas a cela em São Paulo. “Na prisão você aprende a sobreviver, mas também você não pode resolver seus problemas do dia para a noite. Na prisão você tem que esperar muito. Esperar necessariamente significa ter esperança, e se você perde a esperança, o medo vence. Eu aprendi a esperar.”
Tradução exclusiva para o QTMD?: Maria do Céu Ribeiro – professora de inglês há 35 anos (mãe da editora do blog). 

Texto original: clique aqui.

Ativista Nobel da Paz morre aos 71 anos



Morre queniana Wangari Maathai, Prêmio Nobel da Paz em 2004

Segundo o Movimento Cinturão Verde, ela vinha lutando contra o câncer. Primeira mulher africana a receber o Nobel, ela tinha 71 anos.


Wangari Maathai, foto de arquivo, 2010, Reuters.

A ambientalista queniana Wangari Maathai, Prêmio Nobel da Paz em 2004, morreu neste domingo (25), anunciou nesta segunda-feira (26) o Movimento Cinturão Verde, organização que ela fundou há mais de 30 anos.

“Com imensa tristeza, a família de Wangari Maathai anuncia seu falecimento, ocorrido em 25 de setembro de 2011, depois de uma grande e valente luta contra o câncer”, diz a organização em sua página na internet.

Segundo as agências internacionais de notícias, Wangari Maathai, de 71 anos, morreu no Hospital em Nairobi, no Quênia.

Maathai fez campanha pelos direitos humanos e capacitação das pessoas mais pobres da África. Em 2004, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para promover o desenvolvimento sustentável, democracia e paz. Foi a primeira mulher africana a levar o prêmio.

Bióloga, mãe de três filhos, Wangari Maathai foi presa e ameaçada de morte por lutar pela democracia no Quênia. Nas primeiras eleições livres de seu país, foi eleita para o Parlamento e tornou-se ministra assistente do Meio Ambiente.

(*) Com informações das agências de notícias France Presse e Reuters.

Mais uma vez: Abaixo a Ditadura do Judiciário !



"Confiança abalada", alerta o grande jurista Wálter Maierovitch, nas páginas da CartaCapital. Para os indignados, mentes lúcidas, por vezes vítimas de um Judiciário corrupto, mais que confiança abalada. Um Poder Judiciário desacreditado, desmoralizado.


Semideuses ridículos e anacrônicos, fora da realidade do resto do País, colocando em risco o Estado Democrático de Direito, que deveriam ser os primeiros a defender, a preservar.


Um acinte!


E esta semana tentarão calar o CNJ, Conselho Nacional de Justiça !


Cadê a Marcha contra a Corrupção no Judiciário ? Cadê o pessoal do "Cansei da Banda Podre do Judiciário" ? 


Acorda, cidadania! Às ruas e praças e redes sociais, contra a corrupção e a impunidade no Mais Poderoso dos Poderes da República !



O Judiciário de confiança abalada

Na sua história, o Judiciário passou por momentos difíceis. Lembro da cassação, pela ditadura, dos íntegros ministros Victor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos tiveram recentemente a memória desrespeitada pelo ministro Eros Grau, que deu pela constitucionalidade da lei de autoanistia, esta elaborada pelo regime militar para encobrir arbitrariedades e garantir impunidade a autores e partícipes de assassinatos, torturas e terrorismo de Estado.
Na presente quadra, o Judiciário passa por outro tipo de dificuldade e decorre de um processo de perda de credibilidade pela população. Isso pela ausência de imparcialidade e pela falta de trato igualitário dos cidadãos perante a lei. De permeio, episódios desmoralizantes vieram a furo, como, por exemplo, a falsa comunicação de crime feita pelo ministro Gilmar Mendes: afirmava ser vítima de grampo e, com particular teatralidade, levantou suspeitas contra a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O sentimento de descrédito teve início quando, em decisão monocrática a contrariar súmula do STF impeditiva de se pular o exame por instâncias inferiores, o ministro Mendes concedeu, sem consultar o Plenário e num diligenciar inusual, habeas corpus liberatório a Daniel Dantas. Pouco depois, tornava-se público o conteúdo de uma interceptação telefônica realizada com ordem judicial e a dar conta da preocupação de Dantas com os juízes de primeira instância, uma vez que, perante tribunais superiores, teria a impunidade garantida. Convém lembrar que a prisão cautelar de Dantas foi imposta por juiz federal de primeiro grau em face da Operação Satiagraha.
Por outro lado, não tardou para, em sede de habeas corpus, a 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por 3 votos contra 2, anular a Operação Satiagraha e a sentença condenatória de Daniel Dantas por consumada corrupção ativa. Para os ministros julgadores, exceção a Gilson Dipp e Laurita Vaz, a participação de agentes da Abin, órgão oficial e subordinado à Presidência da República, foi ilegal e contaminou toda a apuração. Em outras palavras, o acessório a caracterizar, no máximo, uma mera irregularidade, valeu mais do que a prova-provada da corrupção: Daniel Dantas, conforme uma enxurrada de provas e gravações feitas com o acompanhamento da equipe da Rede Globo, procurou, por interpostos agentes, corromper policiais em apurações na Satiagraha. Na casa de um dos enviados de Dantas, a Polícia Federal apreendeu 1,1 milhão de reais.
Outra decisão que abalou os pilares da credibilidade e da confiança popular no Judiciário consistiu na anulação da Castelo de Areia, a envolver dirigentes da construtora Camargo Corrêa. Por 3 votos a favor dos acusados e 1 contrário, o STJ anulou todas as provas da operação. A tese é que as provas tinham origem em denúncia anônima. O voto vencido explicitou que investigações, e não a denúncia anônima, tinham motivado as interceptações. No mesmo sentido e anteriormente manifestara-se de forma unânime o Tribunal Regional Federal de São Paulo.
Quando ainda mal absorvidos pela sociedade civil os episódios acima mencionados, veio a furo outro caso de estupor. Esse a envolver como figura principal Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. A 6ª Turma do STJ, sem que ministros convocados pedissem vista dos autos após o voto do relator, anularam a chamada Operação Boi Barrica.
Para a Turma, a decisão judicial que havia autorizado a quebra de sigilos não tinha sido suficientemente motivada. Isso tudo com desprezo ao relatório do Conselho de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda: o relatório indicava suspeita de lavagem de dinheiro por membros do clã Sarney e durante campanha eleitoral de Roseane ao governo do Maranhão.
Nesse caso, a verdade real foi desprezada por um garantismo baseado no subjetivismo da suficiência, e o inquérito acabou reduzido a pó. Como num passe de mágica, não existe mais nenhuma prova dos crimes de lavagem de dinheiro, desvio de dinheiro público e tráfico de influência.
De lembrar, logo no início das apurações da Boi Barrica, a concessão de liminar que proibiu o jornal O Estado de S. Paulo de noticiar fatos em apuração e relacionados a Fernando Sarney. O desembargador censor foi posteriormente reconhecido como suspeito de parcialidade por vínculos com o senador Sarney.
Num pano rápido, em nome de um falso garantismo poderemos ter anulações a beneficiar o ex-governador José Roberto Arruda (Operação Caixa de Pandora), os envolvidos em desvios de recursos do Ministério do Turismo (Operação Voucher) e em superfaturamentos de obras do Ministério de Minas e Energia (Operação Navalha). No imaginário popular, ao que parece, a deusa grega da Justiça, Têmis, cedeu lugar ao deus romano Janus bifronte. Das suas duas caras, uma garantiria a saída pela porta da impunidade a poderosos e potentes.