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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Desafios de Dilma

Consolidar herança de Lula é primeira tarefa de Dilma


Marcelo Semer
De São Paulo/Portal Terra


Noite de vinte e cinco de dezembro, na avenida Paulista.

A decoração de Natal do centro empresarial pára o trânsito da capital. Quem quer visitar nossa Quinta Avenida faz filas homéricas. Quem quer apenas passar pela artéria viária se desespera, desliga o motor e desce do carro.

Quem vê trânsito, não vê coração.

Muito mais do que as centenas de automóveis andando lentamente na avenida, o que surpreende são as milhares de famílias que as estações do Metrô desovam a cada cinco minutos. Repletas de crianças e de máquinas fotográficas, elas registram incessantemente os papais-noéis e as árvores estilizadas nas pequenas luzes dos imóveis comerciais.

A invasão incomoda, principalmente, a quem não está de passeio. Mas não deixa de ser inusitado, e por isso emocionante, perceber a forma curiosa e ao mesmo tempo carinhosa, como o paulistano mais simples apreende as belezas de sua cidade, sendo cada vez menos estrangeiro nela.

Esta ocupação de espaço por novos personagens vem se repetindo em outros tantos lugares, que até então funcionavam como ambientes privativos.



Decoração natalina da Avenida Paulista (foto: Eduardo Andreassi/vc repórter)

Meio milhão de passaportes são solicitados a cada ano, na Polícia Federal.

Filas de táxi de mais de uma hora nos aeroportos comprovam que o "caos aéreo" não se limita à desorganização das companhias ou a leniência das agências reguladoras.

As cidades não estão preparadas para serem usufruídas por um percentual tão elevado de seus habitantes. Parece que foram feitas para poucos.

Com a ascensão da classe C a um paraíso antes restrito à classe média mais endinheirada, os serviços se mostram precários e os atrasos nos perturbam.

O fruto da ascensão social é, disparado, a melhor herança bendita dos oito anos do governo Lula. Vitaminou o forte crescimento do país depois da crise mundial, inflou balanços das indústrias e aumentou o nível de emprego.

Exibiu, para todos, o enorme mercado interno consumidor de que os economistas sempre nos falavam, quando expunham a tese do "país do futuro".

Mas as reações a essa aproximação das classes mais baixas também se tornam vigorosas, como o preconceito contra os nordestinos que tomou conta de São Paulo nos dias que sucederam a eleição.

A classe média reage como se estivessem invadindo sua praia.

Em Santa Catarina, o jornalista Luiz Carlos Prates, da RBS, atribui a violência no trânsito aos "miseráveis" que estão comprando carros, "mesmo sem nunca terem lido um livro".

O filósofo Luiz Felipe Pondé reproduz, na Folha de S. Paulo, o pensamento de quem se indigna com o fim dos pequenos privilégios: "Detesto aeroportos e classes sociais recém-chegadas a aeroportos, com sua alegria de praça de alimentação".

Manter a capacidade de reduzir a pobreza, lidar com as enormes expectativas decorrentes da ascensão social e combater o preconceito que se instala em razão dela, são algumas das difíceis tarefas do governo Dilma.

Torçamos para que ela não perca, como Lula perdeu, tanto tempo para afirmar sua política.

Nunca é demais lembrar que, nos primeiros anos, o petista se comportou como um legítimo convertido ao mercado, fazendo jura aos contratos e se pautando pelas reformas da globalização.

Vestia-se bem e troçava das palavras de ordem de sua época na militância sindical, enquanto continuava a política econômica de FHC.

Mas a crise do mensalão, paradoxalmente, salvou Lula e com ele o país. Rompido com a imprensa e, por tabela, com a classe média, Lula deu uma guinada à esquerda em seu governo. Abriu mão da ortodoxia e desistiu do arrocho. Concedeu seguidos aumentos reais ao salário mínimo e aposentadorias e fortaleceu os programas de transferência de renda e auxílio ao crédito.

Por ousadia ou cálculo, convicção ou apuro, Lula 2.0 assumiu seu lugar na história e, verdade seja dita, ninguém ficou tão confortável lá quanto ele.

Os críticos têm razão quando refutam a megalomania de Lula. Ele não inventou o país. Mas ao mostrar que o tamanho do possível era bem maior do que os políticos costumavam nos dizer, certamente o reinventou.

Mas ainda há muito para Dilma.

O governo Lula não se livrou do fisiologismo. Foi omisso nas questões de direitos humanos mundo afora, privilegiando duvidosos interesses geopolíticos. E em relação aos crimes da ditadura, optou pelo conforto da posição do ministro dos militares.

Dilma chega ao poder com legitimidade suficiente para tocar em questões delicadas como essas e outras que fizeram parte de seu programa.

Lula perdeu quase três anos tentando ser o que não era, até achar o papel que a política lhe reservava na vida do país.

Que Dilma não desperdice tanto tempo.

 
Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.
 
 

Lula, emocionadíssimo, se despede do seu povo

 

Os críticos riem, fazem chacota, ridicularizam o Presidente. "Não entendem" as razões de tantas despedidas, homenagens, reconhecimento. Avestruzes ignorantes, não querem ver que Lula encerra um ciclo, um período glorioso na política brasileira, e os beneficiários desse governo popular, milhões, querem agradecer a quem lhes estendeu a mão. Muito justo. Abaixo reproduzo post do blog Meu Pernambuco [aqui], contando pra todos nós, que também cultivamos o sentimento nobre da gratidão, mais um encontro de Lula com o seu povo.


A despedida do Presidente Lula em Pernambuco

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou nesta terça-feira (28) ao relembrar de sua trajetória política durante discurso em seu estado natal, Pernambuco. Com um discurso de improviso, Lula lembrou das derrotas nas eleições para a Presidência em 1989, 1994 e 1998. Foi o último discurso dele no estado na condição de presidente.

 

"Eu não quero chorar mais do que já chorei. Vocês sabem que uma coisa que eu admiro no povo é que o povo chora para fora, o povo ‘cafunga’, lacrimeja, e político chora para dentro, fica com vergonha, e fica engolindo lágrimas, quando deveria colocar lágrimas para fora", disse o presidente.

Segundo ele, só o "dedo de Deus" explica o fato de um retirante do interior de Pernambuco ter se tornado presidente da República. "Eu sou agradecido a Deus em primeiro lugar, porque se não fosse o dedo de Deus não era normal que um retirante de Caetés, que saiu do sertão para fugir da fome, se transformasse em presidente da República do Brasil. Isso só pode ter o dedo de Deus".

Lula ainda lembrou que, no decorrer de suas campanhas políticas, ficou preocupado com a desconfiança do povo. "Nós não conseguimos tudo, mas nós conseguimos gostar de nós, conseguimos nos respeitar, aprendemos acreditar em nós, e quem acredita em si próprio nunca será derrotado."

"Eu lembro que um dia aqui, uma mulher falou que não ia votar em mim porque eu ia tirar tudo dela. O que eu ia tirar dessa mulher? Eu falei: 'Marisa, eu estou assustado, que eu fui num barraco de uma pessoa que não tinha nada, e ela tinha medo de mim'. E a Marisa me dizia: 'Não desiste que um dia você vai convencer', e isso aconteceu em 2002", disse.

"Tomei como decisão na falhar. Eu duvido que tenha tido um presidente da República que tenha trabalhado o tanto que eu trabalhei, que tenha viajado o tanto que eu viajei, que tenha cumprimentado as pessoas o tanto que eu cumprimentei. E não faço isso à toa porque eu quero sentir o pulsar do coração, da alma e da mente de cada mulher e de cada criança desse país. E foi com essa convicção que eu consegui governar o primeiro mandato depois de tantas coisas ruins que aconteceram e conseguimos chegar ao segundo mandato", disse.

Lula participou da cerimônia de inauguração do Memorial Luiz Gongaza, e recebeu das mãos do governador Eduardo Campos uma faixa em homenagem aos serviços prestados ao estado.

Em tom de brincadeira, Lula perguntou ao público se não poderia ser "pastor" ao terminar o mandato, no final desta semana. "Vocês não acham que eu poderia ser pastor depois de deixar a Presidência da República? Fazer sermão lá em Garanhuns?", indagou o presidente.

Em seu discurso, Lula lembrou de algumas obras realizadas no estado, como a construção da BR101. "Nem a Angela Merkel [primeira-ministra alemã] anda numa estrada tão bem tratada quanto a nossa 101", afirmou.

Também falou da obra de transposição do Rio São Francisco. "Eu nunca prometi obra. Eu sei que dom Pedro 2º queria fazer, ou 1º, uma coisa assim, mas não deixaram fazer. Pois bem, em 2012 a nossa companheira Dilma [Rousseff] vai inaugurar a transposição das águas do Rio São Francisco", afirmou.


 

Ao lado do governador Eduardo Campos, Lula também "homenageou" o ex-governador Miguel Arraes. "Lembro da campanha de 1989, que só tinha um governador que começou me apoiando, que foi o governador Miguel Arraes, e quem estava ao lado dele era um menino, um neto, que estava predestinado a seguir o avô", disse. Campos é neto do ex-governador, morto em 2005.

"Eu lembro no avião, eu e o doutor Arraes, que ninguém é santo, tomando uma dosezinha, e ele me disse 'faça a rodovia ligando Pernambuco ao Ceará', e depois eu perdi, e depois eu ganhei. É uma pena que o doutor Arraes não esteja aqui para ver, mas ele está lá de cima olhando', declarou.




Nós pernambucanos sentimos um orgulho danado de sermos conterrâneos do melhor presidente da historia do Brasil – Luis Inacio Lula da Silva

Nós pernambucanos somos gratos ao presidente Lula por tudo que fez nesses oito anos, não só por nosso estado, mas pelo que fez em prol de todo o país.

Nós pernambucanos estamos e sempre estaremos ao lado dessa figura iluminada que se transformou no grande estadista que é, sem perder a sua essência e principalmente sem se afastar dos seus ideais.

Nós pernambucanos apoiamos e apoiaremos a presidenta eleita Dilma Rousseff, se ela for pelo menos metade do que o presidente Lula foi no comando da nação brasileira.

Nós pernambucanos demonstramos nas urnas a nossa gratidão e a nossa confiança no presidente Lula e hoje além desse orgulho danado trazemos no peito a tristeza dessa despedida, mas confiantes no futuro, porque sabemos que existe um político que sempre estará ao lado do povo e pensando no bem do país.


      MAIS UMA VEZ, OBRIGADA PRESIDENTE LULA!