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quinta-feira, 30 de junho de 2011

São Paulo: Opus Dei ataca!


O projeto do deputado estadual do PSDB Orlando Morando de obrigar estabelecimentos de ensino a terem crucifixos, representará um enorme ataque aos direitos democráticos dos cidadãos


Está em tramitação na Assembléia Legislativa de São Paulo uma lei que pode representar um retrocesso ainda maior para as escolas e a população de São Paulo no que diz respeito a garantias dos direitos democráticos dos cidadãos. O Projeto de Lei (PL 256-2011) do deputado do PSDB, Orlando Morando, propõe que todos os estabelecimentos de ensino do estado, seja ele público ou privado, de nível superior ou que tenha apenas a educação infantil, sejam obrigados a ter crucifixos colocados em suas instalações.
O crucifixo deverá “ser mantido em local e em tamanho de fácil visualização, em área de circulação”, segundo o texto do projeto. O projeto também estabelece que o símbolo religioso deve ser custeado pelo Estado, ou seja, com dinheiro público, de um Estado que, pelo menos pela Lei, é laico
Atualmente o ensino religioso é obrigatório na rede pública de ensino do estado de São Paulo. Neste sentido, o projeto do PSDB é mais um passo atrás para a luta pela separação de fato entre o Estado e a igreja. A obrigatoriedade do uso de crucifixos representa a adoço por parte da escola de uma determinada religião, no caso a religião católica. Mais do que isso, a medida representa a adoção de uma religião pelo Estado que, de acordo com a Constituição Federal, deveria ser laico.
A adoção de uma religião oficial pelos estabelecimentos de ensino, principalmente pelo seu papel de educar os jovens e transmitirem a esses diversos conhecimentos científicos, é um ataque a liberdade de consciência. Trata-se da tentativa de obrigar todos os cidadãos a seguirem uma determinada religião. Neste sentido, o projeto do PSDB não é apenas um ataque aos direitos democráticos e uma política retrógrada, ela também vai contra a própria liberdade religiosa, uma vez que iria impor a seguidores de outras crenças a fé católica. 
Um dos princípios da separação da Igreja do Estado é que nenhum dos conceitos admitidos em confissões espirituais pode fazer parte das regras que estruturarão os poderes estatais.  O que nos leva a conclusão que um dos principais objetivos do projeto é justamente atacar ainda mais a laicidade do Estado brasileiro. Na Constituição Federal, no seu artigo 19, fica proibido que o Estado, seja ele representado pelo governo federal, estadual ou municipal estabelecer alianças ou até mesmo promover cultos desta natureza. O texto diz o seguinte:
“Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;”
No texto do projeto o deputado busca justificar seu projeto exaltando o fato de que o crucifixo representaria valores morais que deveriam adotados pela sociedade paulista. A adoção de critérios morais para a criação de leis e normas para a sociedade significa um retrocesso de séculos e a liquidação de um Estado de Direito e do regime jurídico, ou seja, uma volta a Idade Média e aos tempos da Santa Inquisição.
Do estabelecimento de crucifixos até a punição de alunos por não seguirem a moral católica é um passo. O que não poderá acontecer com um aluno que defenda o ateísmo em uma escola dominada pela igreja católica? Quais seriam os próximos passos da igreja nas instituições escolares, proibir as terias de Darwin? Tudo isto está colocado em debate diante desta ofensiva do qual o porta-voz é o deputado tucano.
Este projeto de Lei não pode ser entendido como algo isolado, uma mera ação de um deputado ligado a Igreja. É preciso lembrar que o Estado de São Paulo é governado por Geraldo Alckmin, um dos principais homens da Opus Dei no país e que o governador e o deputado Orlando Morando pertencem ao mesmo partido. Também estamos assistindo uma série de ataques contra as mulheres e seus direitos democráticos e que estes sempre apresentam como justificativa causas “morais” e religiosas. O maior exemplo é a luta da Igreja contra a legalização do aborto.
Neste sentido, a medida é parte da ofensiva da direita que tem como objetivo cassar os direitos democráticos da população, pois o domínio da Igreja católica sob as escolas públicas representa um ataque às liberdades cultural, de consciência, política etc.           

Ciberativismo e rebeldes digitais

Hackers, crackers, ciberativismo, guerrilha eletrônica, revolução virtual... Pululam na mídia expressões para descrever a atuação de ativistas na sociedade tecnológica e planetária em que vivemos.

Ontem publiquei artigo sobre o Anonymous, levantando questionamentos sobre o fenômeno. O texto que reproduzo hoje vai na mesma direção, estimulando reflexões sobre as rebeliões virtuais.


 

REBELIÃO CIBERNÉTICA

A ponta de um iceberg

Carlos Castilho

O que se percebe é uma generalização do sentimento de frustração, desencanto e exclusão em relação ao governo, à política, políticos, empresários, enfim, tudo aquilo que diz respeito à chamada ordem vigente. O que se nota mergulhando no mundo dos comentários online é que os seus frequentadores (que não são poucos) não dão a mínima para a forma como informações foram obtidas, mas o que elas revelam sobre possíveis privilégios e corrupção. Os recentes ataques contra páginas web do governo e de empresas brasileiras podem ser vistos como o fruto da insegurança na rede, mas também levam a uma reflexão sobre o que está por trás de tudo isto. O que podemos detectar por meio da leitura dos comentários postados no Twitter, blogs, redes sociais e fóruns é ainda mais preocupante.

O universo dos jovens que se comunicam pela internet descobriu agora a estratégia do ataque cibernético como forma de ganhar visibilidade e reconhecimento. Trata-se de um recurso muito eficiente e que surpreende o establishment numa área onde ele ainda se move com alguma dificuldade, fruto da pesada herança da cultura industrial/analógica.

Área de confrontação

Os ciberativistas dos grupos Anonymous e LulzSec já conquistaram seguidores no Brasil e a sucessão de ataques registrados no feriadão de Corpus Christi mostra que eles são extremamente ágeis. Seu objetivo não foi tanto roubar informações, mas, principalmente, mostrar presença e revelar debilidades nas redes digitais do governo e de empresas.

A leitura dos comentários como os postados numa notícia sobre os ataques mostra que o apoio aos rebeldes digitais é muito maior do que as críticas ao que a mídia está chamando de terrorismo virtual. É este apoio que deve nos levar a pensar sobre suas causas e não a um debate inócuo sobre segurança na internet – uma rede que é estruturalmente vulnerável por conta de sua arquitetura eletrônica aberta.

Em vez de procurar encontrar ferrolhos e cadeados para os bancos de dados que guardam negociatas e falcatruas, por que não discutir o teor das informações? Verificar quais as que merecem mais crédito e as que devem ser descartadas, em lugar de culpar o mensageiro.

Outra coisa importante: esta rebelião cibernética veio para ficar porque ela se alimenta de uma inconformidade represada, igual à que levou os jovens árabes aos protestos iniciados em abril. O governo chileno sentiu o peso da internet como ferramenta de articulação política durante os recentes protestos estudantis em Santiago e resolveu adotar uma medida de eficácia altamente polêmica: criar um sistema estatal de vigilância das redes sociais.

Tudo isto mostra que a internet e a web deixaram de ser um nirvana tecnológico e que agora entram, para valer, na nossa ecologia política como mais uma área de confrontação entre o status quo e o desejo de mudança. As grandes potências já oficializaram uma guerra cibernética por meio da mobilização de recursos militares para combater um inimigo cujo perfil ainda é pouco claro.

Repressão inútil

Pelas últimas notícias filtradas de dentro do Pentágono por jornais como o The New York Times, a estratégia norte-americana está mais orientada para combater empresas e grupos terroristas conhecidos.

Já a rebelião virtual na base social é bem diferente. Os responsáveis pelos ataques, erroneamente chamados de hackers [na verdade são crackers, os invasores de computadores; hacker é a denominação original recebida pelos pioneiros da internet nos anos 1960 e 70 quando eles criaram as bases dos softwares existentes hoje em dia], são quase todos desorganizados, autônomos, sem base territorial fixa, que se mobilizam mais por idéias do que por metas.Geralmente se identificam pelo grupo a que pertencem até mesmo pelo nome, como é o caso do controvertido Julian Assange, do site Wikileaks.

Grupos como o Anonymous e o LulzSec acabam virando mais marcas de um sentimento vago do que siglas identificadas com propostas políticas concretas. Por isso não adianta reprimi-los porque será inútil, já que usam a tecnologia com muito mais habilidade do que imaginamos. Só nos resta identificar suas idéias e refletir sobre elas.



Do Observatório da Imprensa


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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Anonymous: rebeldia ou criminalidade?

O que é o Anonymous?

Por que são "Anônimos"? Por que usam máscaras e não podem ser identificados? Os meios de que se valem podem ser considerados lícitos?

O discurso deles é irretocável. Tudo o que cada um de nós, cidadãos inconformados com as mazelas plantadas pelo sistema, defende.

Mas nestes tempos sombrios em que vivemos, no mínimo é aconselhável certo cuidado, alguma reserva diante de "fenômenos" que se arvoram em "salvadores do mundo".

Como sabem, a postura do ABC! é de abertura e acolhimento frente a tudo o que combata injustiças, violação de direitos, cerceamento de liberdades, arrogância e truculência. Mas aqui não fazemos apologia à delinquência, ao ciberterrorismo ou coisa que o valha.

Vamos procurar entender e acompanhar o desdobramento desse fenômeno, começando com um artigo da jornalista e blogueira Érika Bento Gonçalves e o vídeo do Anonymous com a "Mensagem ao Povo Brasileiro", que conclama todos nós a deixarmos o conformismo, num tom justiceiro, megalomaníaco e ameaçador.



                         

"Olá povo brasileiro, permitam-me introduzir-me a vocês como anonymous e apenas como anonymous, pois não sou mais do que uma ideia. Uma ideia de um mundo livre, sem opressão e pobreza e que não é comandada pela voz tirânica de um pequeno grupo de pessoas no poder."... Assim começa o vídeo divulgado pelo grupo Anonymous ao povo brasileiro. Um grupo de anarquistas que resolveu usar a internet para movimentar mentes - principalmente jovens - contra governos considerados corruptos e manipuladores. Ou seja, são contra praticamente todos os governos no mundo todo. Esta semana, os Anonymous (associados a outros hacktivistas, como o LulzSec) marcaram presença em sites brasileiros e italianos.

O que antes era apenas uma rebeldia cibernética, hoje, possui mais uma conotação política social com braços espalhados por praticamente todo o mundo. O grupo “Anonymous” (e seus braços) pode ser encontrado nos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Espanha, Turquia, Portugal, Hungria, Angola e por aí vai. Recentemente, vimos que a “idéia” chegou também ao Brasil, nos recentes ataques aos sites governamentais.

Se a invasão em sites já é um crime, a coisa começa a complicar quando informações confidenciais são furtadas. Não são apenas as licitações fraudulentas que estão vazando por aí, mas os dados pessoais e bancários também. É uma visão mais anárquica (e mais criminosa) do WikiLeaks, organização que recebeu total apoio dos Anonymous quando o mesmo sofreu um grande boicote das instituiçoes financeiras, no ano passado. Os Anonymous orquestraram um ataque em massa aos que levantavam a voz contra Julian Assange, como o MasterCard Inc., Visa Inc. e PayPal, filial do eBay Inc. Sem contar a briga com a Cientologia, em 2008, que fez o Anonymous ganhar fama mundial.

Basta procurar por “Anonymous”, no Facebook ou no Youtube, para ter uma idéia da dimensão do movimento. Nos vídeos e nos sites da organização, os Anonymous se apresentam mascarados como Guy Fawkes (foto), em alusão maior ao filme V de Vingança – creio eu - do que ao personagem real, o soldado inglês morto na forca por traição! Em um dos milhares de posts no Facebook, a organização chama atenção para a máscara do personagem em grafite , convidando os participantes a baixarem a foto e espalharem a marca pelo mundo. Um gráfico que vem acompanhado do lema “A Revolução está chegando”.

Aqui, neste exato momento, senti uma ponta de tristeza. Tenho uma veia rebelde, todos sabem. Gosto de atear fogo, gosto da idéia de uma grande movimentação popular, gosto da idéia de governos corruptos caindo sob os pés de uma multidão que, sem se cansar, fez greve de fome (mascarada de Fawkes, por que não?) ... Ah, tudo isso é tão romântico, tão envolvente! Mas, isso aqui é vida real e, na vida real, as coisas não acontecem bem assim. Principalmente nas mentes mais jovens.

O grafismo, a idéia de superioridade dos hacktivistas e o apelo popular me fez lembrar do filme “A Onda”, um claro exemplo (real) de como um grupo que inicialmente é contra os governos ditatoriais, pouco a pouco, perde o controle sobre os seus integrantes e torna-se tirano, racista e ditador. Tudo aquilo pelo qual lutava contra. E, na vida real, aquilo era apenas uma atividade escolar! E que terminou muito, muito mal.

Anonymous, LulzSec e todos os que surgem todos os dias no cyber espaço correm o risco, não só de terminarem seus dias atrás das grades, mas também de se tornarem tão ruins (ou piores) que seus algozes porque, afinal, estão cometendo atos terroristas igualmente. Rebeldes, revolucionários, anarquistas... adjetivos que – num primeiro momento – nos atraem, nos seduzem, mas que, no final, perdem o controle, como reconheceu um dos membros do Anonymous, de 19 anos, quando foi preso, na Holanda.

Apesar das várias prisões que vêm acontecendo (como a recente prisão de outro jovem de 19 anos, acusado de “mau uso do computador”, além de fraude, na Inglaterra), a atuação cada vez mais frequente destes hacktivistas é algo que não se pode ignorar. Isso representa mais do que o descontentamento com os governos. Representa a fragilidade do sistema em que estamos conectados, hoje. A sua vida, a minha, a dos governos, tudo está armazenado em uma gigantesca rede, um mundo que só é invisível e abstrato aos olhos de leigos da informática. Os experts o vêem (e muito bem). Fazem das brechas e falhas dos sistemas as portas de entrada para a nossa vida privada.

Toda arma é letal quando bem usada e isso serve, também, para o teclado do computador. E, como eles mesmo dizem, “Somos o anonymous, somos uma legião, não perdoamos, não esquecemos”. Quisera usassem todo este “poder” realmente em pról da sociedade, como já fizeram, no passado, quando os “vigilantes” rastrearam a rede virtual e fecharam o cerco contra um pedófilo ajudando a polícia a encontrá-lo e finalmente a prendê-lo.

Sou a favor da livre imprensa, sou a favor da livre expressão, sou a favor de um movimento social contra os governos corruptos, sou a favor de uma sociedade justa, mas, sinceramente, não acho que grupos como Anonymous ou LuzSec possam abrir estes caminhos. É preciso saber impor limites. O que vale também para o WikiLeaks, organização cuja idéia me agrada: publicar o não publicável, mas desde que seja para o bem comum e desde que não seja fruto de um furto. Todo jornalista sabe que as informações estão disponíveis, basta ter contato com a pessoa certa, no lugar certo. Não é preciso invadir nem furtar.

O que estes hacktivistas estão nos mostrando – e que nós devemos aprender com eles - é que é possível se movimentar. E fim.


Que Tal um Cafezinho?
 
Mensagem ao Povo Brasileiro 





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terça-feira, 28 de junho de 2011

O começo do fim

Manifestações na Europa, Oriente Médio e até na África. Ditaduras centenárias sendo sacudidas e até derrubadas pelo alarido das ruas. Guerrilhas eletrônicas, revolução digital, agitações também no mundo virtual.

É. O mundo anda meio conturbado. E tem que andar mesmo. Não podemos mais conviver com a pobreza de bilhões, a opressão, as injustiças de toda a ordem. 

Basta! Chega!

Um outro mundo é possível, nós, os Indignados, o queremos e vamos construí-lo.

Isto é apenas o começo.

Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir! 


Começa uma revolução anticapitalista?

"Os protestos e mobilizações na Europa, talvez possam ser a ante-sala de uma revolução anticapitalista", afirma o sociólogo Atilio A. Boron em artigo no Página/12, 21-06-2011. A tradução é do Cepat.

Esta blogueira leu o artigo na Rede Castor Photo


Em uma memorável passagem do Manifesto Comunista, Marx e Engels afirmam que com o seu ascenso a burguesia rasgou impiedosamente o véu ideológico que impedia que os homens e mulheres percebessem a verdadeira natureza de suas relações sociais afogando “o sagrado êxtase do fervor religioso, o entusiasmo cavalheiresco e o sentimentalismo pequeno-burguês nas gélidas águas do cálculo egoísta”.

A atual crise do capitalismo e os crescentes protestos e mobilizações populares contra as políticas de ajuste promovido pelo FMI, o Banco Mundial e o Banco Central Europeu corroboram as palavras proféticas do Manifesto.

A nova crise geral do capitalismo mergulhou as ilusões fomentadas pelos mentores e beneficiários da democracia liberal “nas águas geladas do cálculo egoísta”.

Como dizia um dos cartazes pendurados em Puerta del Sol de Madrid: “Isto não é uma crise, é uma farsa”. E ao lado dessa dolorosa descoberta, segue outra: a farsa não apenas se executava no terreno econômico.

A fraude também foi montada no âmbito político ao ter induzido a maior parte da população a que acreditasse que a sórdida e inescrupulosa plutocracia a que estavam submetidos era uma democracia.

Por isso, a reivindicação exigindo uma “democracia real já” e uma “democracia verdadeira” para substituir a pseudo democracia cujo interesse excludente é a preservação da riqueza dos ricos e o poderio dos poderosos.

A crise teve o efeito de tornar as pessoas conscientes do mundo desenvolvido, de que tanto eles, como nós no Sul global, somos vítimas de um sistema que tendo sido despojado das roupas que escondiam a sua verdadeira natureza de ontem, submetendo a todos a uma “exploração aberta, descarada, direta e brutal”. E o que chamam de democracia é, na verdade, a ditadura da oligarquia financeira, que, como lembrava Che na Conferência de Punta del Este, é incompatível com a democracia.

Dias atrás, o Financial Times de Londres publicou um relatório sobre os salários recebidos pelos altos executivos das maiores empresas. A nota diz que “em relação aos banqueiros, a era da contenção (salarial) terminou”.

Em 2010, enquanto o mundo continuava em sua queda livre na direção do desemprego em massa, as execuções hipotecárias e o empobrecimento generalizado da população, “a remuneração média dos chefes de 15 grandes bancos europeus e dos EUA aumentaram 36% até (atingirem uma média de) 9,7 milhões de dólares”.

Na Espanha, abalada até em seus fundamentos por uma onda de manifestações de “indignação”, o presidente do BBVA, Francisco González, ganha cerca de 8 milhões de dólares por ano, enquanto seu colega do Banco Santander, o mais importante da Espanha, foi mais ambicioso e os seus esforços em prol dos seus investidores, recompensados com 13 milhões de dólares.

Nesta situação cabe perguntar pelo destino dessas orgulhosas e arrogantes pseudo democracias, desmistificadas ao calor de uma crise que demonstrou que são regimes políticos fraudulentos a serviço de oligarquias e da opressão dos povos. Serão estes protestos e mobilizações o precipitar de revolução anticapitalista? Difícil saber, mas parece certo que “os de baixo não podem e não querem continuar vivendo como antes”, para usar a formulação clássica de Lênin.

Os protestos, que agora comovem a Europa, talvez possam ser a ante-sala de uma revolução anticapitalista, mas isso é um processo e não um ato. A luta de classes e a resistência ao imperialismo e seus “cães-de-guarda” no sistema financeiro global (o FMI, o Banco Mundial, o BCE) podem fazer com que o princípio iniciado como um protesto contra o desemprego, a redução salarial e os cortes nas verbas sociais terminem sendo o motor que impulsiona até agora a improvável e imprevisível revolução no coração do capitalismo desenvolvido.

É muito cedo para dizer, mas nós sabemos que a partir de agora as coisas serão diferentes: a de que os condenados da terra não querem continuar vivendo como antes e os ricos estão começando a perceber que eles não podem continuar dominando como antes.

São condições necessárias - embora insuficientes – para uma revolução, o que não é pouca coisa.


Enviado ao blog original por Vanderley Caixe.

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segunda-feira, 27 de junho de 2011

A ditadura blogosférica

Entra ano sai ano, começa encontro termina encontro, e eles continuam os mesmos. Nada muda. A cara dura de sempre, o mesmíssimo deslumbramento. E truculência com as vozes dissonantes. Os Mubaracks blogosféricos.

O resto? Massa de manobra.

Até quando?

Abaixo, um ponto de vista de quem esteve lá. 


Blogueiros Progressistas: democráticos e horizontais, pero no mucho!



Lula fala aos jornalistas durante o 2º BlogProg


#Eblog- [Niara de Oliveira (@NiDeOliveira71)]

Quando decidimos no Eblog participar do 2º BlogProg em BSB, fomos com a disposição de, além da contribuição óbvia na realização da mesa Mulheres na Blogosfera – que estava sem nomes até quinze dias antes do encontro e fatalmente seria cancelada –, participar de forma assertiva e colaborativa.

Embora tenha “brincado” muito nas minhas redes nos dias que antecederam o encontro de que incendiaria/implodiria o BlogProg, fui com o espírito desarmado, disposta a conhecer e, quem sabe até, ser convencida de que o BlogProg não era tão ruim quanto nós da "extrema-esquerda-incendiária" pensávamos ser.

Avalio a presença do #Eblog no #BlogProg como extremamente positiva. Agora, quando criticarmos esse grupo de blogueiros governistas e "chapas brancas", não poderão mais nos acusar de falar sem conhecimento de causa ou de não termos tentado participar e/ou contribuir.

Minha atuação no 2º BlogProg foi crítica como é minha atuação no mundo, mas contribuí na discussão, mediei uma mesa, apresentei propostas e mesmo sendo um tanto quanto ogra, não fui ríspida e nem grosseira com ninguém.

Já não posso dizer o mesmo do ministro Paulo Bernardo, que é muito elogiado pelos blogprog por sua paciência, mas, ao se referir aos meus questionamentos foi grosseiro, porque responder mesmo não respondeu. Mas deve fazer parte, né? Num evento promovido por blogueiros que apóiam o governo, com palestrantes do governo e financiado por estatais, certamente ele esperava um clima crítico calculado.

Abro um parênteses para a matéria da Folha de São Paulo sobre o 2º BlogProg:

Uma carta redigida ao final do "II Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas" pede novo marco regulatório dos meios de comunicação (conjunto de leis e diretrizes que regulam o funcionamento do setor) e faz ataques à mídia.

O evento, que acaba neste domingo (19), em Brasília, contou com a presença de cerca de 400 pessoas que apoiaram o governo Lula e a eleição de Dilma Rousseff.

"A blogosfera consolidou-se como um espaço fundamental no cenário político brasileiro. É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas. Tem sido o contraponto às manipulações dos grupos tradicionais de comunicação, cujos interesses são contrários a liberdade de expressão no país", diz trecho da carta aprovada hoje.

Os blogueiros pedem ainda a divulgação imediata do projeto redigido pelo então ministro Franklin Martins (Secretaria de Comunicação Social na gestão Lula). "Para que ele possa ser apreciado e debatido pela sociedade. Defendemos, por exemplo, que esse marco regulatório contemple o fim da propriedade cruzada dos meios de comunicação no Brasil."

A abertura do evento, na última sexta-feira (17), contou com a participação de Lula e do ministro Paulo Bernardo (Comunicações), que adotaram o mesmo tom. (19/06/2011, Maria Clara Cabral, Folha de S. Paulo)
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Foi isso. A Folha de São Paulo, embora grande imprensa e distorcedora de fatos como todos nós sabemos e criticamos, dessa vez – e justamente sobre os blogueiros progressistas, sempre tão atingidos e injustiçados – fez um retrato fiel do tal encontro. Fato, e não palavras, é que basta olhar os blogs organizadores, estruturadores, proponentes do encontro, os palestrantes e os patrocinadores para sabermos, politicamente, em que terreno estamos pisando.

Sobre a presença do ex-presidente Lula no encontro, resumo da seguinte forma: O primeiro (?) presidente a conceder uma coletiva a blogueiros amigos foi ao encontro dos amigos blogueiros massagear o ego dos presentes para que estes amenizassem as críticas à coordenação nacional (isto é, seus amigos). Não há outra explicação.

O presidente Lula não disse nada de novo, não fez nenhuma revelação secreta e apenas cutucou o seu ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, agora ministro das Comunicações, que falaria logo depois.

Paulo Henrique Amorim, no sábado pela manhã, se referindo à presença de Lula entre os blogueiros, disse que "foi uma festa muito bonita, mas foi uma festa incompleta", criticando o presidente Lula que tinha muito mais autoridade que o atual governo, e poderia ter deixado toda essa pauta de reivindicações da blogosfera sobre democratização da comunicação e lei dos meios de comunicação se não resolvida, pelo menos encaminhada.

Detalhe: Quando Lula se aproximava do encerramento de sua fala, discretamente, Renato Rovai encaminhava pela mão jornalistas “amigos” para a sala atrás da mesa, para onde o ex-presidente iria após terminar sua intervenção. Enquanto Lula falava para “poucos e bons”, os demais jornalistas da grande imprensa corriam para a saída para tentar registrar sua saída ou entrevista.

De todas as discussões do 2º BlogProg, a mais importante – sem dúvidas – foi “a luta por um novo marco regulatório da comunicação”, no sábado pela manhã com o professor Venício Lima, o jurista Fábio Konder Comparato e a deputada federal Luiza Erundina.

Discussão nevrálgica para democratizar a comunicação e que precede todas as demais questões da pauta da blogosfera.

Nessa mesa propus que o BlogProg chamasse uma blogagem coletiva ampla, de fôlego, sobre democratização da comunicação. A proposta não foi aprovada na plenária final.

Assim como também não se aprovou a moção (queríamos mesmo é que fosse incluído na carta final) de luta pelo fortalecimento do Estado laico e a mesa LGBT enfrentou resistência.

Blogosfera progressista? Não.

É uma blogosfera governista que ainda não percebeu que é apenas uma gota no oceano da blogosfera. Não consegue e nem tem interesse em incluir blogueiros nerds, culturais, de arte, de cinema, animação, juventude e nem mesmo LGBTs ou feministas.

Quanto mais a blogosfera anticapitalista.

E aqui vale salientar o exemplo do Blog Feministas que reúne em sua lista de discussão quase 400 mulheres e tem atualmente em torno de 60 colaboradoras que escrevem periodicamente e vão promovendo uma nova forma de blogar, mais solidária, cumulativa, que amplia e incentiva a formação de novos blogs.

O 3º BlogProg será em junho de 2012 em Salvador, Bahia.

O lobby do governo baiano nessa edição do blogprog foi simplesmente insuperável e já sabemos que o viés político continuará sendo governista. Pelo menos teremos as mesas LGBT e mulheres, mesmo já sabendo que não fazem parte da macrodiscussão “progressista”.

Por fim, gostaria de salientar um detalhe estranho.

Até a véspera do 2º BlogProg Brasília, a coordenação passava a ideia de que estava muito complicado financiar a estrutura toda do encontro e essa foi a desculpa para não ter uma creche no encontro.

Eis que na avaliação de um dos coordenadores gerais, Renato Rovai, surge um excedente de R$ 180 mil reais.

Eu vi mulheres que participaram precariamente do encontro porque precisaram levar seus filhos (afinal, era um final de semana) para o BlogProg e outras que deixaram de participar pelo mesmo motivo.

Tomar a decisão política de não organizar creche num encontro nacional em pleno 2011 é igual a desprezar a contribuição das mulheres.

Sempre que ouço falar em blogosfera progressista fatalmente associo a blogueiros em sua amplíssima maioria homens, héteros, brancos, apoiadores desse governo pseudoesquerda do PT-PMDB-e-mais-tudo-que-couber-num-mesmo-saco e excludentes.

O Eblog é claro em suas posições: Somos anticapitalistas, antimachistas e antihomofóbicos. Queremos uma blogosfera solidária, ampla, inclusiva, combatente e crítica.


Jornalistas convocados por Renato Rovai para se reunirem 

antes da fala de Lula saem discretamente à sala ao lado.



Conceição Oliveira (@Maria_Fro) anuncia a entrada de 

Lula na mesa; jornalistas correm para pegar suas câmeras



Enquanto Lula falava, massageava ego dos tuiteiros que 

ajudaram com a campanha de Dilma nas eleições; 
Jornalistas da imprensa capitalista atrás


Luiza Erundina (PSB), Fábio Konder Comparato e 

Venício Lima na mesa de Democratização da Comunicação

Nota: O Eblog está assumindo a convocação da blogagem coletiva pela democratização da comunicação.


Diário Liberdade

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domingo, 26 de junho de 2011

São Paulo: Festa da Cidadania e da Diversidade



Carta Aberta da Associação da Parada do Orgulho GLBT ao Povo Brasileiro




Carta aberta da APOGLBT para a população brasileira, contra o conservadorismo e o fundamentalismo


Incluir e amparar indiscriminadamente todas as pessoas não seria o princípio básico da religião?

07/06/2011


Em 2010 mais de 260 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram assassinados no Brasil, em ataques tipificados pelas autoridades como crimes de ódio. Uma sociedade que vende para o resto do mundo uma imagem de “acolhedora” e “diversa” está com suas mãos sujas de sangue. Nós, brasileiros, carregamos o título de país líder em assassinatos e violência contra LGBT.

Aqui se mata mais homossexuais do que nos países islâmicos em que a homossexualidade ainda é condenada pela lei com a pena de morte. A semelhança entre o Brasil e nações como o Irã, Arábia Saudita e os Emirados Árabes é que aqui a pena de morte aos LGBT também se dá através da fé e da religião, que, na teoria, não têm poder de interferência em nossa constituição, porém, na prática, têm sistematicamente regido a tão profanada Lei dos Homens, que deveria ser isenta e igualitária.

É inegável que a conquista da cidadania tem avançado para a população LGBT; um mérito que não é apenas da militância e do movimento organizado, mas também da nossa sociedade como um todo, que tem se mostrado comprometida contra o preconceito e todas as formas de discriminação.
 

Porém, como toda ação gera uma reação, observamos o recrudescimento dos setores conservadores. Eis que vemos no Brasil o surgimento de uma mobilização capaz de unir fundamentalistas e extremistas de direita, religiosos e nazifascistas, que numa voz uníssona bradam contra os direitos humanos de milhões de cidadãs e cidadãos.

Antes, nossos algozes agiam na calada da noite, nos violentando em becos à surdina, como se, nos atingindo individualmente, pudessem nos exterminar pelas beiradas. Hoje, saem às ruas, fazem abaixo-assinados, manifestam-se na Avenida Paulista e marcham sobre a Esplanada dos Ministérios para barrar a garantia de nossa dignidade.

Trata-se de uma versão brasileira do movimento norte-americano “God Hates Fags”. A diferença é que, aqui, os que creem que “Deus odeia as bichas” são muitos, têm forte representatividade no Congresso, recebem a atenção da imprensa e, infelizmente, ganham adeptos.

Na história da humanidade, o nome de Deus não somente foi usado diversas vezes em vão, como serviu para respaldar a violência e morte de diversas minorias. A escravidão dos negros africanos, a condenação dos judeus e a perseguição às mulheres no período de “caça às bruxas” são exemplos disso. Como herança cultural, ainda temos estabelecido o patriarcalismo e a soberania de brancos como regras informais de nossa civilização ocidental contemporânea. A Inquisição ainda está viva no que diz respeito à homofobia, mas não só a ela.

Em tempos modernos, os inquisidores apenas trocaram a tocha e a fogueira pela lâmpada fluorescente, mas a condenação ainda ocorre em praça pública, consentida e assistida por muitos.

Há quinze anos, a primeira Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu 2 mil pessoas para dizer que “somos muitos, estamos em todas as profissões”. Nos dias de hoje, os mais de 3 milhões que nos acompanham, multiplicados pelas mais de 200 Paradas que ocorrem em todo o território nacional, reafirmam isso e vão além.

Estamos em todas as profissões, famílias, lares, escolas, esportes e igrejas. Sim, mesmo sem você saber, sempre existiu e sempre existirá um LGBT ao seu lado, a quem você jamais gostaria de saber ter sido vítima de bullying, humilhação, agressão moral, violência física, sexual ou homicídio. Incluir e amparar indiscriminadamente todas as pessoas não seria o principio básico da religião?

Se “quem ama conhece a Deus”, qual seria a determinação religiosa para aqueles que professam o ódio e a ira? Não é condenável levantar falsos testemunhos sobre a compreensão da complexidade humana, assim como sobre toda e qualquer ação que visa proporcionar o reconhecimento da existência de uma população comum? Se para os crédulos, Deus não faz acepção de pessoas e todos são iguais perante a Ele, porque insistem em nos manter à margem?

Respeitosamente, nos apropriamos da frase “Amai-vos uns aos outros” para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos, financiada pelas brasileiras e brasileiros que dão voz aos fundamentalistas e extremistas que ocupam as cadeiras do Parlamento e espaço nas mídias. Nós, os perseguidos, apesar de já estarmos calejados de oferecer a outra face, usamos de suas crenças para dizer: “Perdoai-os. Eles não sabem o que fazem”.



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São Paulo: a maior Parada do Orgulho Gay do mundo

É hoje.

É na Capital da Diversidade e da Tolerância.

É na cidade de São Paulo.




A maior Parada do Orgulho Gay do mundo.

A 15a. edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a maior do mundo, acontece hoje aqui, na cidade de São Paulo, com a expectativa de reunir na Avenida Paulista e em outras vias importantes 3,5 milhões de manifestantes, dançando, cantando, defendendo seus direitos de cidadania com alegria e bom humor ao som de 16 trios elétricos.

Ontem foi a vez de Paris e Berlim.

O tema deste ano, em resposta ao conservadorismo e à homofobia das religiões, é:


                               "Amai-vos uns aos outros"


Saiba mais sobre toda a programação, acompanhe ao vivo a transmissão, acessando o site da Parada do Orgulho Gay.

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sábado, 25 de junho de 2011

Lésbicas e bissexuais marcham na Avenida Paulista

Antes da maior Parada do Orgulho Gay do mundo, que acontecerá nas ruas da cidade de São Paulo amanhã, 26 de junho, hoje as mulheres homo e bissexuais, numa marcha de cunho mais político, desfilaram na Avenida Paulista.


Lésbicas fazem marcha na Paulista um dia antes da Parada Gay

Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de SP está na 9ª edição.
Evento pede aprovação de projeto de lei que criminaliza homofobia.


Darlan Alvarenga
G1  São Paulo


                          Trio elétrico seguiu até a Praça dos Ciclistas
                                     (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

Lésbicas e bissexuais fizeram na tarde deste sábado (25) uma marcha na Avenida Paulista, um dia antes da 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Com um trio elétrico, a passeata saiu da praça Osvaldo Cruz e seguiu até a Praça dos Ciclistas, onde está prevista a realização de shows até as 18h.

De acordo com a Polícia Militar, o trecho entre a rua Bela Cintra e a Avenida Consolação, no sentido Consolação, ficará interditado até o término do evento. Cerca de 1.500 participaram da caminhada, segundo polícias militares que fizeram a escolta até a praça.

                Lésbicas e bissexuais participam de marcha, um dia antes
                         da Parada Gay (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

Esta é a 9ª Caminhada de Lésbicas e Bissexuais de São Paulo. Márcia Balades, da comissão organizadora, explicou que essa marcha sempre acontece um dia antes da Parada Gay. “A Parada Gay é uma coisa mais festiva. A nossa caminhada tem caráter mais político”, disse.

Segundo os organizadores, o objetivo do evento é tirar as lésbicas e bissexuais da condição de invisibilidade.

Nos cartazes e nas palavras de ordem exclamadas do trio elétrico, mensagens de protesto contra a violência, o racismo, o machismo a homofobia, "a bifobia" e a "lesbofobia".

A caminhada comemora este ano a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu o direito à união estável, e reivindica a aprovação projeto de lei que criminaliza a homofobia.


            Participantes protestaram contra o machismo e a homofobia
                                  (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

Os participantes também defendem uma política de saúde pública direcionada para as lésbicas. "É comum a gente ir a um posto de saúde e nos oferecerem camisinhas. Se esquecem que também existe sexo quando são duas mulheres envolvidas", protestou Natália Ribeiro.

As namoradas Eliane Dias e Jully Soares vieram de Belo Horizonte para participar da caminhada e da parada gay. "Sou militante, mas é a primeira vez que venho participar dessa parada que tem repercussão política nacional", disse Jully. "Somos parceiras afetivas e sociais", completou Eliane.

Parte dos integrantes da caminhada também deve participar da Parada Gay deste domingo, de acordo com os organizadores.

                    Caminhada interditou trecho entre a Bela Cintra e a
                    Consolação neste sábado (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

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São Paulo: Gay ou Evangélica?

Quem conhece bem e tem uma visão isenta de preconceitos sabe que São Paulo é cosmopolita, multicultural. E ao contrário do que falam as más línguas, São Paulo é a Capital da Tolerância.

Incidentes e ilícitos acontecem: ataques preconceituosos a homossexuais, negros, nordestinos. Como em outras capitais e cidades brasileiras.

Mas todos os dias milhões de cidadãos das mais variadas origens étnicas e regionais, das mais diversas culturas convivem pacificamente na cidade de São Paulo: nos abarrotados trens do metrô e da CPTU, em milhares de ônibus e lotações, nas ruas e avenidas, entupidas de gente e de automóveis, motocicletas e outros veículos.

Esta semana, duas manifestações ocorrem em São Paulo: a Marcha para Jesus, promovida pelos evangélicos, que aconteceu no feriado de Corpus Christi, e a Parada do Orgulho Gay, que terá lugar no próximo domingo.


Um olhar mais atento para estas duas movimentações gigantescas e pacíficas de milhões de pessoas nas principais avenidas da cidade de São Paulo mostra o quanto São Paulo convive bem com a diversidade e estimula algumas reflexões curiosas e interessantes sobre a cidade, como a que faz abaixo o jornalista Gilberto Dimenstein*.

 

São Paulo é mais gay ou evangélica?



Como considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São Paulo, gosto da ideia de termos, tão próximas, as paradas gay e evangélica tomando as ruas pacificamente. Tão próximas no tempo e no espaço, elas têm diferenças brutais.
 
Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays (o que, vamos reconhecer, é um direito deles). Ou seja, quer uma sociedade com menos direitos e menos diversidade.
 
Os gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a diversos segmentos da sociedade. Nesse ano, um dos seus focos foi o STF.
 
Por trás da parada gay, não há esquemas políticos nem partidários. Na parada evangélica há uma relação que mistura religião com eleições, basta ver o número de políticos no desfile em posição de liderança. Isso para não falar de muitos personagens que, se não têm contas a acertar com Deus, certamente têm com a Justiça dos mortais, acusados de fraudes financeiras.
 
Nada contra -- muito pelo contrário -- o direito dos evangélicos terem seu direito de se manifestarem. Mas prefiro a alegria dos gays que querem que todos sejam alegres. Inclusive os evangélicos.
 
Civilidade é a diversidade. São Paulo, portanto, é mais gay do que evangélica.
 
Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. 

Portal Folha

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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Olho por olho e dente por dente? Nem sempre...

A irracionalidade do perdão contra a irracionalidade da violência.

Não é fácil. 

Mas é possível.



Quebrando o ciclo do ódio

O que têm em comum Mark Strohan (texano preso por homicídio e que deverá ser executado no próximo dia 20 de julho) e Rais Bhuyan (bengali, imigrante legal, vivendo nos Estados Unidos há vários anos, cego de um olho)? O traço em comum entre os dois é justamente o olho perdido de Rais Bhuyan. Pois o responsável pela perda parcial de visão do bengali foi justamente Mark Strohan, que o atacou com um tiro no rosto.

Tudo começou no dia 11 de setembro de 2001, data que marca um novo ciclo na história ocidental e do mundo inteiro. O ataque às torres gêmeas plantou o terror e o ódio no centro do hemisfério, deixando um lastro de morte e destruição. Neste dia, Mark Strohan perdeu sua irmã e a inocência que lhe restava no coração. Passou a ser movido pelo desejo de vingança e pelo ódio a tudo e a todos que levassem qualquer proximidade e semelhança com os autores do atentado, responsáveis por sua perda e a dor incurável que ela provocara em sua vida.

Mark Strohan passou a perseguir e atacar imigrantes. Atirava para matar. Com dois, conseguiu seus intentos: um paquistanês e um indiano. Com Rais Bhuyan conseguiu apenas destruir seu olho. O bengali sobreviveu. E Mark Strohan foi preso. Era o dia 21 de setembro, dez dias depois do atentado que mudou o mundo e plantou o ódio no seu coração. O bengali retomou aos poucos sua vida, tendo que aprender a conviver com sua nova situação física. O texano ficou dez anos preso, foi condenado à pena capital e agora sua execução foi marcada.

Há, porém, uma voz que se levanta entre Mark Strohan e sua programada morte: surpreendentemente, a de Rais Bhuyan. O bengali que perdeu parte da visão pela arma do condenado não parece reger-se pela lei do Talião : “Olho por olho, dente por dente”. Mas sim pela compaixão que ensina a ver no outro, qualquer que ele seja, não importa o que haja feito, um irmão em humanidade. No intrincado aparelho judicial estadunidense, Rais Bhuyan luta para transformar a pena de morte decretada para Strohan em prisão perpétua. Não deseja a morte de seu agressor e, pelo contrário, luta para devolver-lhe a vida.

Bhuyan declara haver chegado à decisão de empreender este combate pela vida do homem que atirou em seu rosto e perfurou seu olho após um longo e duro processo de sofrimento e purificação. Dele saiu sem ódio no coração, mas cheio de gratidão por lhe ter sido dada a chance de viver. Sentia em si o desejo de fazer algo pelos outros. E logo essa alteridade em direção à qual se movia a nova compaixão que o habitava recebeu um rosto e um nome: o de Mark Strohan. Após consultar as famílias dos dois outros homens mortos pelo texano e delas receber a aprovação para o que desejava fazer, Rais lançou-se de corpo e alma na luta para libertar Strohan da injeção letal que deverá levá-lo à morte no próximo mês de julho.

Sua conduta chama a atenção e surpreende a opinião pública. Bhuyan tem que dar entrevistas explicando por que, em vez de vingar-se, escolheu perdoar. Como vítima do ódio, não seria mais lógico alegrar-se com a morte do agressor? A esta pergunta ele responde dizendo que deseja quebrar o ciclo do ódio e que o único caminho para isso é o perdão. Não vê Strohan como inimigo, mas como seu semelhante. Entende o que fez como fruto de uma perda de consciência e privação de sentidos. Deseja resgatá-lo como ser humano e dar-lhe a chance de ter sua vida de volta e redescobrir-se como ser humano.

Trabalhando em parceria com a advogada do condenado, Bhuyan tem esperança de conseguir seu intento. Quer encontrar-se com Strohan, falar com ele, declarar-lhe pessoalmente seu perdão. Ao saber disso, o texano chorou muito. Está disposto a receber seu defensor na prisão. O perfume do perdão derramado sobre o ódio e a violência que separou estes dois homens ungiu a distância e inaugurou uma nova aproximação. Uma ponte foi construída, o fosso foi transposto, Bhuyan e Strohan contemplam sua condição de seres criados para o amor e a relação, recém recuperada e renovada.

Contra a irracionalidade da violência, apenas a irracionalidade do perdão pode ter algum poder, alguma eficácia. Porque, como a palavra mesma diz, per-doar é persistir no dom. O dom da vida foi generosamente concedido a Strohan e a Bhuyan. Rompido pela violência de um, é restaurado pelo perdão do outro que persiste na doação. E o dinamismo vital continua em movimento, sem ser lançado no país escuro do “rigor mortis”. Contemplando a maravilha deste milagre, louvamos a Deus que criou a Strohan e a Bhuyan à sua imagem e semelhança.

 
Maria Clara Bingemer é teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. É autora de diversos livros, entre eles, ¿Un rostro para Dios?, de 2008, e A globalização e os jesuítas, de 2007. Escreveu também vários artigos no campo da Teologia.

Dom Total

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Noite de São João: Fé na Festa!

Feriadão, Noite de São João...

Deixemos de lado, por um momento, tristezas e preocupações.

Mágica noite de Alegria e Encantamento.

Fé na Festa!





Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=SoybVzCw-rc&feature=related




Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=-7m3t6vbuDw&feature=fvwrel

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São João: do Nordeste para o Mundo

Esse País chamado Nordeste...

Alegria! Muita Alegria no Coração!





Video: http://www.youtube.com/watch?v=8AUFgtCNB9o


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Dilma no Maior São João do Planeta

E a presidenta Dilma Rousseff mostrou ontem que não prestigia só as festas elitistas dos "serpentários midiáticos", como fez meses atrás na majestosa Sala São Paulo, em comemoração aos 90 anos daquele "jornal"...

Dilma só não dançou forró, mas esteve em Caruaru, a Capital do Forró,  para conhecer in loco uma das maiores manifestações da cultura popular planetária: o São João de Pernambuco.

Leia mais abaixo e no Blog do Planalto.

No maior São João do mundo, presidenta Dilma
valoriza cultura popular brasileira  


Presidenta Dilma Rousseff durante visita ao pavilhao da festa 
junina da cidade de Caruaru. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

A presidenta Dilma Rousseff participou, nesta quarta-feira (22/6), de uma das maiores manifestações populares do mundo: a festa de São João em Caruaru (PE). Ao longo do mês de junho, a cidade vive a grande celebração da cultura brasileira, atraindo mais de um milhão de pessoas em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro. Palhoças, quadrilhas, literatura de cordel, poesia matuta, cantadores, arraiais, shows, exposições, fogueiras, bandeirinhas e comidas típicas marcam o festejo.

Durante todo o mês, mais de 300 artistas e grupos se apresentam na cidade. Os investimentos, somando prefeitura e governos estadual e federal, ultrapassam os R$ 8 milhões. A expectativa do município é que sejam movimentados aproximadamente R$ 80 milhões na economia da cidade, gerando mais de dez mil empregos temporários, entre diretos e indiretos.

Neste ano, são quatro os homenageados: o forrozeiro Avenor Lopes, o teatrólogo Vital Santos e os cantores Jorge de Altinho e Israel Filho. Segundo a prefeitura, “cada um em sua área, os quatro contribuíram para que a cidade ganhasse o título de Capital do Forró, promovendo o maior São João do Mundo”.



Presidenta Dilma Rousseff conversa com o filho do 
Mestre Vitalino, Severino Vitalino, durante visita 
à Casa-Museu Mestre Vitalino. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Mestre Vitalino – Mais cedo, ao desembarcar na cidade, a presidenta Dilma visitou a Casa-Museu Mestre Vitalino, que guarda obras do famoso ceramista popular e músico pernambucano Vitalino Pereira dos Santos (1909 – 1963). Filho de lavradores, Vitalino começou, ainda criança, a modelar pequenos animais com as sobras do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos para serem vendidos na feira. Ele criou, na década de 1920, a banda Zabumba Vitalino, da qual era o tocador de pífano principal.

Sua atividade como ceramista permaneceu desconhecida do grande público até 1947, quando o desenhista e educador Augusto Rodrigues (1913 – 1993) organizou no Rio de Janeiro a 1ª Exposição de Cerâmica Pernambucana, com diversas obras suas. Seguiu-se, então, uma série de eventos que o tornou conhecido no Brasil e no exterior.

Em 1971, oito anos após sua morte, foi inaugurada no Alto do Moura, no local onde o artista residiu, a Casa-Museu Mestre Vitalino. No espaço, administrado pela família, estão expostas suas principais obras além de objetos de uso pessoal, ferramentas de trabalho e o rústico forno a lenha em que fazia suas queimas.

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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Um mundo ao avesso, de merda!

Eduardo Galeano.

Praça Catalunya, Barcelona, Espanha.

Maio de 2011.

Um mundo ao avesso, ao contrário, invertido. Dos indignos.

E a energia da dignidade. Dos cidadãos manifestantes. E de todos nós.


Estupendo.



O entusiasmo é uma vitamina "E"– de Entusiasmo -, que vem de uma palavra grega que significa “ter os deuses dentro”. E toda a vez que eu vejo que os deuses estão dentro de uma pessoa ou de muitas, ou da natureza, ou das montanhas, ou dos rios, eu digo: isso é o que me falta pra eu me convencer de que viver vale a pena. E que viver está muito, muito, muito além das mesquinharias da realidade política onde se ganha ou se perde… E da realidade individual, também. Ganhar ou perder na vida… isso importa pouco! Em relação com esse outro mundo que te aguarda. Esse outro mundo possível. Que está na barriga deste.

Vivemos um mundo infame, eu diria. Não nos incentiva muito… Um mundo mal-nascido. Mas existe outro mundo na barriga deste. Esperando… E é um mundo diferente. Diferente e de parto complicado. Não é fácil o seu nascimento. Mas com certeza pulsa no mundo que estamos. Um outro mundo que “pode ser”, pulsando no mundo que “é”. Essas manifestações espontâneas na Espanha são prova disso. E alguns me perguntam: “Mas o que vai acontecer?! E depois?! O que vai ser?!” E eu simplesmente digo o que nasce da minha experiência: Bom… Nada. Não sei o que vai acontecer. E não me importa o que “vai” acontecer. Me importa o que “está” acontecendo. Me importa o tempo que “é”. E o que “é” é o tempo que se anuncia sobre outro possível que acontecerá. Mas o que acontecerá no fim, não sei.

É como se me perguntassem quando me apaixono, quando vivo uma experiência de amor a fundo de verdade, quando sinto que vivo e não me importo se morrerei nesse momento mágico de amor, quando acontece. Pois então… O amor é assim! “É infinito enquanto dura”. E é importante que seja infinito enquanto dura. Não temos que planejar tudo como se estivéssemos fazendo o balanço de um banco. Assim: “Dívida, balanço, saldo. Estatísticas, probabilidade. O que nos espera?”. E o que me importa a merda que nos espera?

Esses tecnocratas de quinta categoria… são uns ignorantes! Não sabem nada de nada (“un carago de nada!”) e ganham uns salários imensos! E, em cada crise que eles desatam, acabam aumentando suas fortunas! Porque são recompensados por essas façanhas que consistem em arruinar o mundo! Esse é um mundo ao contrário: que recompensa os seus arruinadores ao invés de castigá-los. Não tem nenhum preso entre os banqueiros que promoveram, provocaram essa crise no planeta inteiro. Nenhum preso! E, por outro lado, há milhares de presos por terem consumido maconha! Ou por terem roubado uma galinha! Milhares de presos! É o mundo ao avesso! Um mundo de merda! Mas não é o único mundo possível. E cada vez que eu me junto a essas concentrações lindíssimas com os jovens, penso: Há um outro mundo que nos espera.

Esse mundo de merda está grávido de outro. E são os jovens que nos levam para frente. Esses jovens excluídos pelas seleções regidas pelos interesses dos partidos políticos, nos quais eles já não votam! Eu tô chegando agora da América do Sul. Os jovens chilenos não votaram lá no Chile. 2 milhões de jovens chilenos não votaram! Não votaram porque não crêem na democracia que oferecem a eles. E quantos jovens não votaram na Espanha? Não sei. Nem foram contados. Mas, dentro dos 10 milhões de espanhóis que não votaram, deve haver muitos jovens. E não é que não acreditem “na” Democracia. Não! O que acontece é que não acreditam “nessa” democracia manipulada, nesse nome sequestrado pelos banqueiros, pelos políticos mentirosos – “artistas de circo” que oferecem uma pirueta diferente a cada dia.

Havia um velho político no Uruguai, morreu há muitos anos, que não era revolucionário nem nada, era um político do sistema, mas era um homem que conhecia a vida mais que muitos outros. Chamava-se Herrera, falava fanhoso. Quando lhe ofereceram um candidato, na lista do Partido Nacional, perguntado “o que você acha de fulaninho para senador?”, ele disse: “Não, não, não! Porque esse é um redondo!” Ele chamava de “redondo” àqueles que ficavam “redondos” de tanto girar. Era verdade! E na realidade política atual há uma imensa quantidade de “redondos”, que ficam “redondos” de tanto dar voltas. E os jovens têm culpa de não acreditar nos “redondos”? Ou são os “redondos” que têm culpa de os jovens não acreditarem neles?

Bom, eu gosto de estar aqui conversando, porque é disso que eu gosto: jogar conversa fora. Se você tivesse me pedido para eu oferecer minha versão sobre o futuro da humanidade, eu teria dito: não! Eu gosto de jogar conversa fora, conversar com meus iguais, porque são iguais a mim. Porque somos todos iguais na luta por uma vida diferente. E tomara que isso siga vivo, porque senão… pra que merda viver? Se não for porque creio em algo melhor que isso? Mas não quero transmitir nenhuma mensagem para a humanidade.

Eu estive aqui conversando, me filmaram e tal… Tudo bem. Mais nada. Mais do que isso não posso, porque não sou um guru de nada, nem sábio… Além disso, confesso: os intelectuais me dão pena. Eu não quero ser intelectual! Quando me chamam de “distinto intelectual”, eu digo: Não! Não sou! Os intelectuais são os que divorciam a cabeça do corpo. Eu não quero ser uma cabeça que rola por aí. Sou uma pessoa! Sou cabeça, corpo, sexo, barriga, tudo! Mas não um intelectual, esse personagem abominável!

Como dizia Goya: “A razão cria monstros”. Cuidado com quem somente raciocina! Cuidado! Temos que raciocinar e sentir. E quando a razão se separar do coração, comece a tremer. Porque esse tipo de personagem pode levar ao fim da existência humana no planeta. Eu não vejo a vida como eles. Eu acredito nessa fusão contraditória, difícil, mas necessária, entre o que se sente e o que se pensa. Então, quando aparece alguém que só sente, mas não pensa, eu digo: é um sentimental. Mas quando só pensa e não sente, eu exclamo: Ai, que medo! Que horror! Que coisa espantosa! Uma cabeça que rola!

Essa sabedoria não me interessa mais. Me interessa a sabedoria que combina o cérebro com as tripas. Que combina tudo! Sem esquecer nada! Porque a cabeça sozinha é muito perigosa. É como o louvor ao dinheiro, um hino que se lança a cada dia. “Ah, que maravilha a liberdade do dinheiro”. A liberdade do dinheiro é inimiga da liberdade das pessoas. Muito cuidado com o dinheiro livre. É muito pior que um animal selvagem livre. Não! Dinheiro livre, não! Foi isso o que provocou as maiores catástrofes da humanidade.

O importante é que nós, as pessoas, sejamos livres. E plenamente conscientes de que somos parte da natureza. Esse foi o mandamento que Deus esqueceu: “Serás parte da natureza. Obedecerás à natureza de que fazes parte”. Deus se esqueceu porque estava ocupadíssimo… Mas está em tempo de recuperar isso.


Vídeo


O texto acima é do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, em depoimento a repórter nas manifestações de rua que acontecem na Espanha.  Transcrito pela querida blogueira Ana Tavares, que o compartilhou com todos nós em seu blog Quem Tem Medo da Democracia?

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