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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria: crime e castigo


OPINIÃO


As lágrimas e o dever


MAURO SANTAYANA


A cumplicidade criminosa do poder público com a ganância empresarial e a irresponsabilidade de jovens músicos provocou a tragédia

A grande tragédia de Santa Maria, como todas as semelhantes que a precederam, pode ser resumida em sua causa medíocre e repulsiva: a ânsia do lucro do empresário. E isso nos conduz a outras lancinantes indagações. Podemos começar pela superfície.

No mundo inteiro há estabelecimentos como a boate gaúcha. A palavra boate, vinda do francês boite, é expressiva para designar – mais do que no passado – essas casas noturnas. São caixas, fechadas, com uma só abertura. É preciso que os seus sons não saiam, para não incomodar os vizinhos, que o confinamento favoreça o convívio e amplie a estridência alucinadora dos sons.

O homem, sendo muitos, é, na definição de Huizinga, homo ludens, um ser que brinca. Essa atividade, a do jogo lúdico, não é atributo exclusivo destes primatas aprimorados que somos. Todos os animais brincam, e não só em sua própria espécie: os pesquisadores mostram relações afetivas de bichos diferentes, tanto entre os domesticados, quanto entre os selvagens.

É na vida dos homens que as atividades lúdicas chegam à excelência – na música, nas artes, nos encontros sociais, entre poucas pessoas, mas também nos grandes shows musicais e no baile que, em nossa civilização de massas, pode reunir centenas ou milhares de pessoas. Algumas vezes esses encontros só se fazem para a alegria, em outras, para ações claramente políticas, como ocorreu em Woodstock, em agosto de 1969 – na sequência do ano surpreendente de 1968.

Produzir sons e acompanhar o seu ritmo com o movimento do corpo é uma atividade que vem dos primeiros tempos da Humanidade, ainda no Paleolítico. Da madrugada da espécie, com a descoberta da beleza, que se expressava no som do soprar dos ventos sobre as árvores e arbustos, do choque das grandes ondas do mar contra os rochedos e do murmúrio sedutor das águas dos riachos. Isso sem falar no canto dos pássaros e dos insetos, todos saudando o milagre da vida, e chamando os parceiros para o amor.

A descoberta de uma flauta feita de osso de abutre, e datada de há 35 mil anos, mostra que, já naquele tempo, o homem era capaz de retirar das coisas naturais os sons e recriá-los, na doma das notas. E, deduzimos, acompanhá-los com seus movimentos corporais, na busca de harmonia e de cumplicidade com a natureza.

Em 1969, em Woodstock, os que se reuniram ao lado de Nova York tentavam retomar a estrada libertária aberta um ano antes, em Paris, em Berkeley, em Berlim, em Praga – e no Rio de Janeiro. Era o tempo de belo e antigo sonho, em que se pretendia que só fosse proibido proibir.

Em Santa Maria, os jovens só queriam ser felizes, nos momentos de ternura e no encontro com os amigos. De repente, no recinto fechado, o fogo irrompe. Como já ocorreu em outros casos, com mais vítimas e menos vítimas, o que era a celebração da vida passou a ser o festim da morte.

Não foi exatamente uma fatalidade. Não se tratou de ato de terrorismo. Tratou-se de cumplicidade criminosa entre o poder público, que não cumpre o seu dever de impor normas rígidas de segurança a tais casas de espetáculo e fiscalizar seu cumprimento; a ganância empresarial privada e a irresponsabilidade dos jovens músicos, que agiram sem a orientação de pessoas mais experientes.

Estamos perdendo a capacidade de associar uma ideia à outra, no planejamento de qualquer ato. E muito mais do que isso, estamos perdendo a noção de que pertencemos à Humanidade. Esquecemo-nos da advertência de John Donne em seus belos versos: nenhum homem é uma ilha. Quando os sinos de Santa Maria dobram nos sons de finados, eles dobram pela nossa agonia como seres humanos. Não estamos mais seguindo o mandamento cristão de doar o que temos, seja o pão, seja o afeto, mas obedecendo ao mandamento diabólico do egoísmo, do lucro fácil, do desrespeito às normas necessárias de convívio.

Quando passar o luto, se não agirmos como cidadãos, casas noturnas como a de Santa Maria continuarão a superlotar seus recintos e a manter fechada a porta, a fim de impedir que as pessoas saiam sem provar que pagaram a conta.

Os adolescentes e jovens começaram a ser sepultados ontem, com a terra salgada pelas lágrimas de seus pais e irmãos. E com as lágrimas da Nação, que a presidente da República deixou escorrer em sua visita aos mortos.

É preciso punir este crime hediondo.

Mas devemos pensar em como usufruir a graça da vida, em como repartir, com igualdade, os bens e a alegria do mundo, assim como quase todos nós – menos alguns poucos – estamos dividindo, com os que perderam os seus seres amados, as dores destas horas.

Todo o Brasil que se merece está em Santa Maria.


Brasil 247

Destaques do ABC!

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STF e Mídia Golpista: a "parceria" escancarada


RIR PRA NÃO CHORAR


Eles não têm um pingo de compostura, mesmo!...


Parceria, camaradagem, conúbio, conluio... que nome dar a isso, cidadão?




"Imortal", Merval lança livro sobre o Mensalão


Único integrante da Academia Brasileira de Letras que publicou apenas 
artigos de jornal antes de chegar ao Olimpo das letras, Merval Pereira, 
do Globo, lança seu segundo trabalho "literário"; é um livro sobre o mensalão, com prefácio de ninguém menos que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, e que revela como o jornalista pautou e até antecipou votos de ministros; quem anuncia a chegada da obra é Reinaldo Azevedo

247 - O livro sobre a Ação Penal 470, do jornalista Merval Pereira, que pautou o comportamento de vários ministros do Supremo Tribunal Federal, recriminou o comportamento de outros e, de certa forma, regeu a orquestra do "julgamento do século", está chegando às livrarias. O mais espantoso é que o prefácio tenha sido escrito por Carlos Ayres Britto, ex-presidente da corte, sinalizando uma espécie de conúbio entre O Globo e o STF. Merval é o único integrante da Academia Brasileira de Letras que escreveu apenas artigos de jornal e lança agora seu segundo livro, intitulado "Mensalão", que reúne artigos escritos durante o julgamento. Quem anuncia a "boa nova" é o também insuspeito Reinaldo Azevedo, que qualifica Merval como "um dos textos mais lúcidos e precisos da imprensa brasileira". Leia, abaixo, a apresentação feita pelo blogueiro neocon de Veja.com:

Leia “Mensalão”, o livro do jornalista Merval Pereira. Chegou a hora de interpretar ainda mais o mundo!

O maior e mais grave escândalo da história republicana — porque se tratou, além da roubalheira, de tentar golpear a democracia com a criação de um Congresso paralelo — ganhou há poucos dias outro livro: “Mensalão — O dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil”, do jornalista Merval Pereira, colunista do jornal “O Globo” (Editora Record) e comentarista da GloboNews e da CBN. Digo “outro” porque há a história lida e analisada pelo professor Marco Antonio Villa em “Mensalão” (Editora LeYa).

Com prefácio de Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo, que presidiu o julgamento, o livro traz os artigos escritos sobre o tema no Globo entre 2 de agosto e 11 de dezembro de 2012. Merval é um dos textos mais lúcidos e precisos da imprensa brasileira e tem um vício incurável: é dono das próprias ideias. Não integra as hostes crescentes dos que escrevem ou para agradar ou para não desagradar. Também não é do tipo que marcha no descompasso só para chamar a atenção. Aliás, esta é a acusação frequente que pesa contra os jornalistas independentes: porque eventualmente não seguem o ritmo da mediocridade influente, são, então, tachados de meros provocadores.

Merval sabe fazer a composição entre o detalhe e o conjunto, entre a parte e o todo. Ao longo dos textos, entendemos o fluxo da história, mas sem perder alguns detalhes saborosos que ilustram e iluminam a trajetória.

Leia-se este trecho de “Fugindo da cadeia”, texto publicado no dia 15 de novembro de 2012:


É meio vergonhoso para o PT, há dez anos no poder, que a situação desumana de nosso sistema penitenciário vire tema de debate só agora que líderes petistas estão sendo condenados a penas que implicam necessariamente regime fechado.


Chega a ser patético que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no final das contas responsável pelo monitoramento das condições em que as penas são cumpridas, diga em público que preferiria morrer caso fosse condenado a muitos anos de prisão. Dois anos no cargo, e o ministro só se mobiliza para pôr a situação das prisões brasileiras em discussão no momento em que companheiros seus de partido são condenados a sentir na própria pele as situações degradantes a que presos comuns estão expostos há muitos e muitos anos, os dez últimos sob o comando do PT.


Também o ministro revisor Ricardo Lewandowski apressou-se a anunciar que muito provavelmente o ex-presidente do PT José Genoino vai cumprir sua pena em prisão domiciliar porque não há vagas nos estabelecimentos penais apropriados para reclusões em regime semiaberto. Para culminar, vem Dias Toffoli defender que as condenações restritivas da liberdade sejam trocadas por penas alternativas e multas em dinheiro. Tudo parece compor um quadro conspiratório para tentar evitar que os condenados pelo mensalão acabem indo para a cadeia, última barreira a ser superada para que a impunidade que vigora para crimes cometidos por poderosos e ricos deixe de ser a regra.

(…)

Voltei
Os artigos, uma vez reunidos em livro, ganham uma vida nova. No curso da leitura, entendemos com mais clareza as estratégias dos advogados dentro e fora dos tribunais, recuperamos o embate das teses jurídicas, lembramo-nos de detalhes das chicanas e reavivamos os valores, os bons valores, que fizeram com que as instituições brasileiras dissessem “não” aos golpistas.

Que o mensalão produza muito mais livros. Marx, bom frasista mesmo quando dizia as maiores cretinices, afirmou na “11ª Tese sobre Feuerbach”: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras, trata-se, entretanto, de transformá-lo”. Não há como salvar essa tolice mesmo no ambiente do texto original. Parece inteligência, mas é obscurantismo.

O nosso papel, o de filósofos, jornalistas, historiadores — cada trabalho com seu acento peculiar —, é mesmo este: interpretar o mundo. É o modo que temos de transformá-lo. De resto, ansiamos para que todos, mesmo os homens especialmente talhados para a “transformação”, jamais abandonem a teoria e o pensamento. Leiam “Mensalão”, um livro que ousa interpretar a realidade tendo como norte os fatos.


Brasil 247

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Dilma compara Holocausto à Ditadura e Escravidão


CIDADANIA


"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, 
porque, afinal, eu não era comunista. 
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, 
porque, afinal, eu não era social-democrata. 
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, 
porque, afinal, eu não era sindicalista. 
Quando levaram os judeus, eu não protestei, 
porque, afinal, eu não era judeu. 

Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".

             Martin Niemöller, poeta alemão, citado pela presidenta Dilma Rousseff


                                                                                      Foto: Roberto Stuckert Filho/PR



Dilma: o Holocausto também se repete quando é negado

Heloisa Cristaldo

Brasília – Na data que celebra o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, a presidenta Dilma Rousseff disse que "o Holocausto também se repete quando é negado. Por isso deve-se sempre lembrar, mas ter muita responsabilidade quanto à verdade dos fatos”.
Dilma Rousseff disse hoje (30) em seu discurso que o país também enfrentou momentos difíceis com os 300 anos de escravidão e os períodos de ditadura. A presidenta reiterou diversas vezes em seu discurso que o caminho para evitar esse tipo de tragédia é o conhecimento da verdade e da história da humanidade.
“Respeitando a diversidade, a liberdade de pensamento e a grande riqueza de sermos diferentes e tão iguais, tão humanos, isso não significa que podemos deixar de avaliar, de conhecer, de estudar as mais dolorosas lições do ser humano. (...) [Devemos] lembrar, sistematicamente, para evitar que isso se repita”, disse.
Para a presidenta, a ideologia que resultou no holocausto “não chegou abruptamente”. “Sem dúvida nenhuma os guetos são uma antecipação disso. A expulsão dos judeus de Portugal [durante o período de inquisição] foi outra manifestação histórica, uma longa preparação, secular, que desembocou naquele momento terrível da história da humanidade, que foi a perseguição aos diferentes, aos judeus. E se repete sempre que foi aos judeus, porque tinha uma sistemática tentativa de descaracterizar seres humanos como humanos”, disse.
A presidenta ressaltou a criação no governo da Comissão da Verdade, que tem a finalidade de apurar graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.
Dilma Rousseff encerrou o evento citando o poeta alemão Martin Niemöller. "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".
A cerimônia homenageou Aracy Guimarães Rosa, mulher do escritor João Guimarães Rosa, funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, e Luis Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro na França. Os dois, nas décadas de 1930 e 1940, salvaram centenas de judeus, concedendo a eles vistos para o Brasil, contrariando ordens superiores.
Por questões de segurança, a cerimônia, que ocorreria no prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Brasília, foi transferida de local. A decisão foi do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a partir de laudo do Corpo de Bombeiros.
A data lembrada hoje [ontem] marca a libertação do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945. No local, mais de 1,5 milhão de pessoas foram exterminadas.

Edição: Fábio Massalli


Agência Brasil

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