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sábado, 1 de junho de 2013

José Mujica: exemplo para a humanidade


CIDADANIA PLANETÁRIA



"Sua simplicidade, digna dos grandes filósofos, é inspiradora. É um contraponto à ganância e ao consumismo doentio que levaram o mundo a ser o que é hoje.

Ele recusou o palácio para viver em seu sitiozinho. Ele doa 90% de seu salário para os pobres. Ele se locomove num fusca velho. E vital: ele não é um demagogo."


Mujica para o Nobel da Paz. Já.

PAULO NOGUEIRA, de Londres 

Com sua simplicidade inspiradora, o presidente uruguaio virou um cidadão de estatura mundial.


Um exemplo para a humanidade

O Nobel da Paz já foi para almas bélicas e sangrentas.

Ted Roosevelt, presidente americano do começo do século 20, é um desses casos. Ele achava, como afirmou numa carta, que todo país deve guerrear de tempos em tempos para manter a “virilidade”.

Roosevelt, é certo, tinha um complexo familiar jamais superado. Seu pai não lutou na Guerra Civil. Pagou, como era comum naqueles dias, a um homem pobre para que o substituísse.

A covardia paterna pesou tanto em Roosevelt que, já velho e afastado da vida pública, ele tentou se alistar nas forças americanas na Segunda Guerra.

Barack Obama, naturalmente, é outro caso de acidente ao espírito pacifista que deveria dominar a entrega do Nobel da Paz.

Apenas para registro, Gandhi jamais levou o prêmio.

Mas.

Mas eis que surge uma rara notícia boa nessa área: a indicação, por uma ONG holandesa, do presidente Pepe Mujica para o Nobel da Paz.

Clap, clap, clap.

Mujica, segundo a ONG, trouxe paz à guerra contra as drogas, com sua política de liberação do consumo para minar o tráfico e os traficantes.

A contribuição ao mundo de Mujica vai muito além.

Sua simplicidade, digna dos grandes filósofos, é inspiradora. É um contraponto à ganância e ao consumismo doentio que levaram o mundo a ser o que é hoje.

Ele recusou o palácio para viver em seu sitiozinho. Ele doa 90% de seu salário para os pobres. Ele se locomove num fusca velho. E vital: ele não é um demagogo.


Ted Roosevelt amava guerras e ganhou o Nobel da Paz

Mujica faz uma dupla extraordinária com o Papa Chico, que tomava mate no centro de Buenos Aires quando era bispo, andava de ônibus e, como ele, rejeitara um palácio.

Chico viajou para o conclave de Roma na classe econômica. Compare com as revelações das constantes viagens de primeira classe de Joaquim Barbosa e companheiros de STF – mais acompanhantes.

Mujica já avisou que, terminado seu mandato, vai se recolher a uma quase contemplação, em vez de correr atrás de moedas no indecente circuito de palestras milionárias que atrai ex-presidentes de notoriedade internacional – uma atividade que une, no caso brasileiro, FHC e Lula.

Não há nada que substitua a força do exemplo pessoal, e é isso que estes dois sul americanos formidáveis oferecem a todos nós.

O papa é outro nome que mereceria o Nobel da Paz, com sua pregação pacifista que inclui até os ateus.

Ouça pessoas como o pastor Feliciano falando e a diferença saltará. Num de seus momentos mais pecaminosos, Feliciano disse que Deus matou Lennon porque ele comparou os Beatles a Jesus num momento.

O Nobel da Paz já errou muito.

É hora de acertar. Mujica ou Chico. Já.

Diário do Centro do Mundo

*

Dilma com os ruralistas. O que é isso, Presidenta?


OPINIÃO



Este texto é dedicado à memória do terena Oziel Gabriel, morto aos 35 na defesa da terra dos seus.

“O PT no poder parece que esqueceu toda a trajetória que o construiu”, disse recentemente um ativista dos direitos indígenas. “É doloroso que a sociedade, à frente os povos indígenas, tenha que partir para o confronto contra o PT-Governo para evitar que este se afunde no agronegócio dilapidador da biodiversidade e para impedir a exploração predatória.”

“A bancada ruralista chantageia, joga pesado, barganha. Sabe como enredar o governo porque joga de forma unitária, classista, não titubeia na defesa dos seus interesses. Há análises que interpretam que o maior partido no Brasil é o ‘partido dos ruralistas’.”

"Dize-me com quem andas e te direi quem és..."


Um governo a favor dos caras pálidas

Diário do Centro do Mundo, Londres


Gleisi Hoffmann simboliza a opção do governo Dilma pelos ruralistas em desfavor dos índios.


  Gleisi Hoffmann

Você mede socialmente uma administração pela forma como os desvalidos são tratados.

Olhe para os índios, e você vai ver quanto o Brasil tem que avançar no desenvolvimento social – a despeito das frequentes auto congratulações do PT.

Pobres índios.

Eles devem ter imaginado que, com um governo de raízes populares, sua vida melhoraria.

Talvez a mesma ilusão tenha tomado os moradores de Pinheirinho, o assentamento destruído há pouco mais de um ano em São José dos Campos.

Bem, a realidade é diferente. Nada mostra tão claramente o quanto o PT está engessado nas reformas sociais de que o país tanto necessita quanto a relação do governo Dilma com os índios e, do outro lado, com os ruralistas.

A opção pelos ruralistas é torrencial.

A ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann personifica isso. No começo de maio, na Câmara dos Deputados, ela desqualificou diante de uma plateia de ruralistas um dos raros apoios com os quais os índios contam: a Funai.

Foi aplaudida.

A Funai é um órgão envolvido com os interesses indígenas e, portanto, não é imparcial, disse ela. Gleisi colocou sob suspeição a competência da Funai para desenvolver as atribuições que estão sob a sua responsabilidade.

Dias depois, ela disse que “o governo não pode e não vai concordar com minorias com projetos ideológicos irreais”.

Irreais?

Um momento: preservar o resto do resto de terras indígenas é irreal?

Mudaram os índios, mudaram os fatos – ou mudou o PT?

“O PT no poder parece que esqueceu toda a trajetória que o construiu”, disse recentemente um ativista dos direitos indígenas. “É doloroso que a sociedade, à frente os povos indígenas, tenha que partir para o confronto contra o PT-Governo para evitar que este se afunde no agronegócio dilapidador da biodiversidade e para impedir a exploração predatória.”

Como isso aconteceu?

O governo Dilma Rousseff é hoje refém da bancada ruralista. Sem ela não aprova projetos como a MP dos Portos.

Escreveu um outro ativista: “A bancada ruralista chantageia, joga pesado, barganha. Sabe como enredar o governo porque joga de forma unitária, classista, não titubeia na defesa dos seus interesses. Há análises que interpretam que o maior partido no Brasil é o ‘partido dos ruralistas’.”

Continua ele: “Na ótica do governo, afrontar os ruralistas é empurrá-los para o apoio a outras candidaturas. Nas articulações políticas visando 2014 não é bom tê-los como inimigos, avalia o Palácio do Planalto. Sabe-se que o apoio dos ruralistas foi importante para a vitória de Dilma Rousseff em estados da região centro-oeste. As articulações para reeleição de Dilma contam com o apoio senão de todos, de parcela significativa dos ruralistas.”

Ouça agora o antropólogo Spensy Pimentel: “Num país como o Brasil, o bom trato com a questão indígena ajuda a definir o grau de nobreza de um governo. Porque os indígenas, aqui, não são expressivos, em termos eleitorais, mas eles são um componente da mais alta relevância no que se refere a nossa história e nossa identidade como brasileiros”.

Mas não dão votos e nem ajudam a passar projetos do governo no Congresso – e por isso são desprezados.