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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

PRESIDENTA Dilma na festa da Folha

A presidenta Dilma Rousseff "sobreviveu" ao convívio por algumas horas com as mais peçonhentas cobras criadas da mídia e da política brasileira, e já se encontra em Brasília, para um novo dia de trabalho digno e edificante.

Como autoridade máxima do País, a presidenta compareceu ontem na cerimônia de comemoração dos 90 anos do jornal Folha de S. Paulo, um dos órgãos do PIG, Partido da Imprensa Golpista, na denominação do jornalista-blogueiro Paulo Henrique Amorim.

Importante: no discurso da presidenta, ela deixa claro que está ali como "Presidente da República". Deduzimos daí que a mulher Dilma, a ex-guerrilheira Dilma, a cidadã Dilma jamais iria a tal comemoração. Aqui, portanto, uma pista da razão do comparecimento. Como presidenta é conveniente, é adequado, que ela "não vire as costas" a um dos órgãos do Quarto Poder.

Além da mediocridade midiática, muitas nulidades da política estiveram presentes, entre elas o ex-governador e candidato derrotado José Serra, o ex-presidente invejoso-rancoroso FHC e o ex-presidente defenestrado Fernando Collor.

Luiz Inácio Lula da Silva, maior, melhor e mais importante presidente que este país já teve, felizmente não compareceu. Ou porque não foi convidado. Ou porque teve algum outro compromisso. Ou porque convidado teve a hombridade de recusar o convite.

Saiba nossa opinião a respeito da participação da presidenta, nos posts Por que Dilma vai ao "serpentário midiático"? e Onde Dilma foi mais feliz? 

Abaixo o discurso frio, burocrático e previsível da mandatária da nação.



Presidenta Dilma Rousseff discursa durante comemoração dos 90 anos de fundação da Folha de S. Paulo _(São Paulo, SP, 21/02/2011) _Foto: Roberoto Stuckert Filho/PR
                                                  Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Eu queria desejar boa noite a todos os presentes.

Cumprimentar o sr. Michel Temer, vice-presidente da República, o nosso governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a senhora Lu Alckmin. Queria cumprimentar o senador José Sarney, presidente do Senado. Queria cumprimentar também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia. O ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, por meio de quem cumprimento os demais ministros do Supremo presentes a esta cerimônia.

Queria cumprimentar a família Frias, o Luiz, o Otavio, a Maria Cristina, e queria cumprimentar também o senhor José Serra, ex-governador do Estado.

Dirijo um cumprimento especial também aos governadores aqui presentes e também aos ministros de Estado que me acompanham nesta cerimônia. Cumprimento o senhor Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do Estado.

Queria cumprimentar também todos os senadores, deputados e senadoras, deputados e deputadas federais, deputados e deputadas estaduais. Queria cumprimentar o senhor Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Dirigir um cumprimento especial aos representantes das diferentes religiões que estiveram neste palco.

Dirigir também um cumprimento a todos os funcionários do Grupo Folha. Queria cumprimentar os senhores e as senhoras jornalistas. E a todos aqueles que contribuem para que a Folha seja diariamente levada até nós.

Eu estou aqui representando a Presidência da República, estou aqui como presidente da República. E tenho certeza que cada um de nós percebe, hoje, que o Brasil é um país em desenvolvimento econômico acelerado. Que aspira ser, ao mesmo tempo, um país justo, uma nação justa, sem pobreza, e com cada vez menos desigualdade. Para todos nós isso não é concebível sem democracia. Uma democracia viva, construída com esforço de cada um de nós, e construída ao longo destes anos por todos aqui presentes. Que cresce e se consolida a cada dia. É uma democracia ainda jovem, mas nem por isso mais valorosa e valiosa.

A nossa democracia se fortalece por meio de práticas diárias, como os diferentes processos eleitorais. As discussões que a sociedade trava e que leva até as suas representações políticas. E, sobretudo, pela atividade da liberdade de opinião e de expressão. E, obviamente, uma liberdade que se alicerça, também, na liberdade de crítica, no direito de se expressar e se manifestar de acordo com suas convicções.

Nós, quando saímos da ditadura em 1988, consagramos a liberdade de imprensa e rompemos com aquele passado que vedava manifestações e que tornou a censura o pilar de uma atividade que afetou profundamente a imprensa brasileira.

A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem.

E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas.

Ao comemorar o aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, este grande jornal brasileiro, o que estamos celebrando também é a existência da liberdade de imprensa no Brasil.

Sabemos que nem sempre foi assim. A censura obrigou o primeiro jornal brasileiro a ser impresso em Londres, a partir de 1808. Nesses 188 anos de independência, é necessário reconhecer que na maior parte do tempo a imprensa brasileira viveu sob algum tipo de censura. De Líbero Badaró a Vladimir Herzog, ser um jornalista no Brasil tem sido um ato de coragem. É esta coragem que aplaudo hoje no aniversário da Folha.

Uma imprensa livre, plural e investigativa, ela é imprescindível para a democracia num país como o nosso, que além de ser um país continental, é um país que congrega diferenças culturais apesar da nossa unidade. Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige sobretudo este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações.

Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.

Soube, por exemplo, levar o seu jornal a ocupar espaços decisivos em momentos marcantes da nossa história, como foi o caso da campanha das Diretas-Já. Soube também promover uma série de inovações tecnológicas, tanto nas versões impressas dos seus jornais, como nas novas fronteiras digitais da internet.

Reafirmo nessa homenagem aos 90 anos da Folha de S.Paulo meu compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião.

Sei que o jornalismo impresso atravessa um momento especial na sua história. A revolução tecnológica proporcionada pela internet modificou para sempre os hábitos dos leitores e, principalmente, a relação desses leitores com seus jornais. Como oferecer um produto que acompanhe a velocidade tecnológica e não perca a sua profundidade? Como aceitar as críticas dos leitores e torná-las um ativo do jornal?

Sei que as senhoras e os senhores conhecem a dimensão do desafio que enfrentam, e que, com a mesma dedicação com que enfrentaram a censura, irão encontrar a resposta para esse novo desafio. E desejo a vocês o que nesse caminho sintetiza melhor o sucesso: que dentro de 90 anos a Folha continue sendo tão importante como agora para se entender o Brasil.

É nesse espírito que parabenizo a Folha pelos seus 90 anos. Parabenizo cada um daqueles que contribuem, e daquelas que contribuem, para que ela chegue à luz. A todos esses profissionais que lhe dedicam diariamente o melhor do seu talento e do seu trabalho.

Por fim, reitero sempre, que no Brasil de hoje, nesse Brasil com uma democracia tão nova, todos nós devemos preferir um milhão de vezes os sons das vozes críticas de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras.

Muito obrigada.









4 comentários:

  1. (Lula não foi porque não é hipócrita!)

    Mas, deu para sentir o quanto foi emblemática a presença da nossa presidenta para a valorização do respeito “à liberdade de crítica, ao direito de se expressar e se manifestar de acordo com suas convicções” e o respeito a verdade.

    Ela deu também o recado de que estamos vivendo outros tempos com o advento da internet.

    Sucinta e protocolar, foi como ela agiu. Com toda certeza ela estava mais feliz em Aracajú.

    Dizemos que muitas vezes “fulano se faz de morto para comer o coveiro...”

    A nossa pressa e sede de justiça pedem muito mais, mas, faz somente 52 dias de governo Dilma e não vou me precipitar apesar de ser da geração “quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

    Vou esperar um “tiquinho” mais...

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  2. A tua percepção é a minha também. A presidenta mandou alguns recados, tocou em alguns pontos importantes. Mas achei que o tom foi "leve" demais. Acho que ela podia ter sido mais incisiva. E não gostei daquela estória de que "ser jornalista no Brasil TEM SIDO um ato de coragem". Como assim? Tem sido? Depende do jornalista. Os "vendidos", as "línguas de aluguel", não precisam de coragem. Os noblats, mainardis, cantanhedes, kramers, nunes, azevedos... precisam de coragem? Ou de desfaçatez? Eu não estou tirando o meu apoio à Dilma, não. Também vou esperar. Inclusive pela Lei da Mídia, que acredito ela fará. Abraços.

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  3. Sônia, sabe que respeito e admiro suas opiniões, eu estou sempre visitando seu blog por entender que a sua luta é mais do que justa, mas me permita contraditar. Atente para a declaração abaixo dada na ocasião do falecimento do Roberto Marinho:

    "Creio que o Brasil perde não apenas um grande jornalista, mas um grande homem. O Brasil perde uma pessoa que talvez tenha dado uma contribuição inestimável à comunicação e à cultura brasileira. Tive com o Dr. Roberto Marinho dois grandes momentos. Um em Paris, em que discutimos as eleições de 89; e outro na sede do Globo, quando discutimos a participação dele no impeachment de Collor. Acho que os dois momentos foram importantes. Conhecendo melhor as pessoas, podemos analisar o que as leva a tomarem as grandes decisões. Por isso, acho que o Brasil perde um grande homem. A comunicação e a cultura no Brasil perdem um homem de vanguarda. Não tenho dúvida de que os seus filhos, com aquilo que aprenderam com o pai, saberão tocar os negócios com grande competência. Dr. Roberto foi, inegavelmente, um dos maiores homens da história da comunicação desse país".

    Sabe quem disse isso? o melhor presidente da história do Brasil: Lula.

    Infelizmente um estadista são obrigados a engolir determinados sapos para validar suas críticas em momentos de confronto, Lula não se absteve de criticar a postura da imprensa mesmo afagando em determinadas ocasiões. É preciso separar militância do cargo de presidenta da república sob o risco de ser chamada de revanchista quando a lei dos meios estiver transitando no congresso. Penso que o governo deve evitar confrontos, essa tarefa nós desempenhamos enquanto militância. Achei de uma grandiosidade da nossa presidenta encarar olho no olho os seus algozes de campanha e dar um tapa de luva de pelica, a luva de boxe está guardada mais para a frente quando for preciso.

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  4. Len, você não imagina a honra que é receber e publicar teus comentários aqui. Sempre que posso leio teus posts. Além de culto, você é muito centrado, equilibrado, de pensamento e expressão claros. Te admiro muito. Muito obrigada pelas reflexões. Assistindo o vídeo do discurso da presidenta, fica muito evidente a entonação mais marcada que ela dá quando afirma que está ali representando a Presidência da República, está ali como Presidente. Foi muito bom ela ter afirmado isso. Entendi como um esclarecimento a todos os que a criticaram, inclusive eu. Você tem toda a razão quando diz que é preciso separar a militante da presidenta. E Dilma tem feito isso exemplarmente. Inclusive nas roupas que usa. Na emocionante e inesquecível festa da posse, teve blogueiro que queria a presidenta de vermelho. E ela, como presidenta da República, que inclui todos os brasileiros, vestiu um conjunto perolado. Nenhum detalhe em vermelho. E na semana passada, na festa dos 31 anos do PT, aí sim ela apareceu de vermelho. Eu procuro fazer uma leitura ampla dos acontecimentos, lendo palavras, entonações, expressões faciais, gestos, roupas... Essa do "tapa com luva de pelica" foi muito boa lembrança tua também... E mostra a coragem e a grandeza da presidenta, claro. Obrigadíssima pelos comentários. Abraços.

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