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domingo, 1 de dezembro de 2013

Elogio à solidão


“Quem depende apenas de si mesmo e em si mesmo coloca tudo tem todas as condições de ser feliz.”                        
                                                              (Cícero. Filósofo, orador e político romano)


Schopenhauer [filósofo alemão] disse que as pessoas não suportam a solidão porque não suportam a si mesmas.


Muitos anos atrás, uma tia, hoje falecida, me perguntou: "Sonia, como você consegue viver sozinha?" Eu tinha meus pais, tinha amigos, mas morava sozinha num pequeno apartamento perto da USP. Estranhei a pergunta. Mas consegui responder com alguma sabedoria: "Eu não vivo sozinha. Vivo com Proust, Shakespeare, Fernando Pessoa, Cervantes, Machado de Assis..."

Minha solidão é povoada por aqueles que verdadeiramente valem a pena.

Escrevo, leio, medito, contemplo, oro, canto mantras, preparo livros, estudo, converso com amigos presenciais e virtuais, ouço música, cuido de "filhos de quatro patas", enfrento quadrilha (risos), faço denúncias, edito blogs...

Uma solidão muito feliz e produtiva. 

Infeliz é quem vive cercada de jagunços e comparsas, patrulhando a vida alheia, sempre inquieta, desassossegada, maquinando, em sua mente criminosa, ciladas, emboscadas e malfeitorias para calar sua vítima...

Contemplar as árvores, os pássaros, a natureza, 
o infinito... é para poucos


Quem disse que você não pode ser feliz sozinho?
Uma breve discussão "filosófica".

Somos todos atormentados pela idéia da solidão, não somos?

Almoçar sozinho, ir ao cinema sozinho, viajar sozinho: estes são alguns dos nossos pesadelos de todos os dias.

A solidão é um anátema, um estigma, quase uma marca cravada na carne do solitário.

Mas.

Mas por quê?

Bem, uma das razões é que a solidão é tratada a pontapés em todos os filmes, em todas as novelas e em todas as conversas que vemos e travamos.

Ninguém basta a si próprio. Essa a mensagem contínua que recebemos.

Faz sentido?

Não, não faz. Isso nos leva a depender sempre dos outros para sermos felizes. Cícero disse o seguinte: “Quem depende apenas de si mesmo e em si mesmo coloca tudo tem todas as condições de ser feliz.”

Muito tempo depois, Dostoievsky escreveu que ficar sozinho é uma “necessidade natural, como dormir e comer”.

Schopenhauer disse que as pessoas não suportam a solidão porque não suportam a si mesmas.

Os chineses ricos, no final da vida, costumavam abandonar toda a riqueza e conforto para, numa vida solitária e remota, terem a chance de meditar e refletir.

Uma única vez vi, num filme, uma mensagem sábia sobre o tema. Foi em Beleza Americana.

A menina adolescente presencia uma briga horrível entre os pais num jantar. Fica chocada e vai para o seu quarto, onde a mãe depois aparece e diz: “Hoje você aprendeu a maior das lições. Conte apenas com você mesma.”

Platão não teria dito uma frase melhor.

* O cubano Fabio Hernandez é, em sua autodefinição, um "escritor barato".

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domingo, 21 de julho de 2013

Solidão, tagarelice e vazio existencial


Nunca estou mais acompanhado do que quando estou sozinho. Cícero

Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só. Rilke
A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais. Schopenhauer

Não venha roubar minha solidão, se não tiver algo mais valioso para oferecer em troca. Nietzsche





O elogio da solidão


Paulo Nogueira, Londres 

Você está só? Pense duas vezes antes de se entristecer.




O homem sábio basta a si mesmo, escreveu o filósofo grego Aristóteles. É um pensamento ao qual constantemente se agarram diversas escolas filosóficas ocidentais.

A solidão é um caminho para a sabedoria.

E no entanto vivemos num mundo em que a introspecção parece uma praga da qual todos fugimos.

A solidão como que embaraça e envergonha. Tente se lembrar de uma campanha publicitária baseada em alguém só. Ou de um filme americano em que o personagem na solidão não seja um atormentado.

As tradições orientais, do taoísmo ao hinduísmo, também sublinham a solidão como uma etapa indispensável para o autoconhecimento.

Na China e no Japão antigos, os homens poderosos se recolhiam à solidão monástica no final da vida em busca da elevação espiritual.

Cícero resumiu isso assim: “Quem depende apenas de si mesmo e em si mesmo coloca tudo tem todas as condições de ser feliz”.

Arthur Schopenhauer, o grande pensador alemão do século 19, se deteve longamente neste tema, o da solidão.

No final de sua vida, morava em Frankfurt na companhia de Atma, seu cão poodle. Tinha poucos amigos e jamais se casou. Mais que pregar a reclusão, ele a praticou.

Os ecos de sua voz se ouvem em múltiplos lugares. Movimentos como o existencialismo e artistas como Tolstoi, Proust e Wagner sofreram intensa influência da voz pessimista, ou simplesmente realista, de Schopenhauer. Todo homem digno, segundo ele, é retraído. “O que faz dos homens seres sociáveis é a sua incapacidade de suportar a solidão e, nesta, a si mesmos.”

As pessoas retraídas, numa cultura que supervaloriza a tagarelice vazia e a “desenvoltura” social, podem sentir-se diferentes das outras, e para pior.

Se lerem Schopenhauer, terão uma outra visão de si próprios, francamente mais positiva.

Numa obra já da maturidade, Aforismos para a Sabedoria de Vida (Martins Fontes), ele produziu reflexões memoráveis sobre a convivência entre as pessoas.

Não há doçura nessas reflexões, não há indulgência e nem modos polidos, mas uma agudeza mordaz que ao mesmo tempo incomoda e encanta.

“A chamada boa sociedade nos obriga a demonstrar uma paciência sem limites com qualquer insensatez, loucura, absurdo. Os méritos pessoais devem mendigar perdão ou se ocultar, pois a superioridade intelectual fere por sua mera existência. Eis por que a sociedade, chamada de boa, tem não só a desvantagem de pôr-nos em contato com homens que não podemos amar nem louvar, mas também a de não permitir que sejamos nós mesmos, de acordo com a nossa natureza. Antes, nos obriga a nos encolhermos ou a nos desfigurarmos. Discursos ou ideias espirituosas, na sociedade ordinária, são francamente odiados.”

Schopenhauer exagera? É possível. Ele tinha um estilo veemente de expor suas idéias.

Mas reflita com calma sobre a passagem acima. Tire o que possa parecer exagerado. Faz sentido ou não?

Você pode concordar com Schopenhauer ou discordar. Amá-lo ou odiá-lo. O que não dá é para não reconhecer a força colossal duradoura de seus pensamentos.


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