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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Paulo Coelho ataca Copa, Ronaldo e governo e prevê iminente "explosão social" no Brasil


O grande mestre da literatura universal, autor de obras geniais, membro da Academia Brasileira de Letras e Mago, que faz chover e ventar, agora incorporado por algum Profeta do Apocalipse, vaticina:

A seleção ganhando ou não, eu tenho certeza que haverá uma explosão social. Haverá pessoas nos estádios e ainda mais pessoas que estarão nas ruas, quando o mundo terá os olhos no Brasil. O contexto é muito tenso. A violência voltou. A Copa do Mundo pode ser uma bênção e um momento de comunhão para nós como foi para a França ou a Alemanha. Mas é um desastre. O país quer mostrar uma face que não é a verdade. Há uma divisão entre o governo e o povo.

Por mera coincidência, em ano de bienal do livro em São Paulo, a fábrica de best-sellers está lançando novo e imperdível obra de sua já extensa e imprescindível lavra, oferecendo mais uma vez à humanidade as luzes de sua (lucrativa) genialidade.

O literato


“Vai haver uma explosão social”: como Paulo Coelho passou de entusiasta da Copa a profeta do Apocalipse


Kiko Nogueira*


Em 2007

Paulo Coelho tem usado seus poderes para prever o apocalipse no país. No mundo ideal, deveriam servir para que ele fosse impedido de escrever, mas seria esperar demais do oculto (toc, toc, toc).

O mago deu uma entrevista ao francês Le Journal Du Dimanche em que conta que teremos “uma explosão social no Brasil. Haverá pessoas nos estádios e ainda mais pessoas que estarão protestando. O contexto é muito tenso. A violência voltou. A Copa do Mundo poderia ser uma bênção e um momento de comunhão para nós, como foi para a França ou a Alemanha. Mas é um desastre”.

Avisou também que não irá aos estádios. “Fora de questão! Eu assisto aos jogos pela TV”, disse. “Nós poderíamos usar o dinheiro para construir algo diferente em um país que precisa de tudo: hospitais , escolas, transportes”. E deu uma cacetada no Fenômeno. “Ronaldo é um imbecil por dizer que não é o papel da Copa do Mundo construir essa infra-estrutura. Ele deveria ter calado a boca”.

PC não foi visto em nenhuma manifestação e passa seu tempo em sua casa em Genéve, na Suíça, onde pratica o tiro ao alvo com arco e flecha e posa para a Caras. Sua subida de tom nas críticas ao Brasil coincide com o momento do lançamento de sua nova obra, “Adultério”. Todas as entrevistas que deu, sem exceção, obedecem esse roteiro: começa com o livro e emenda no desencanto, ou algo que o valha, com o Brasil, o Mundial etc.

Veio num crescendo desde a história mal contada de sua desistência na participação na Feira do Livro de Frankfurt. Ele acusou “nepotismo”. O curador devolveu que PC queria levar “os amigos”.

Mas PC não foi sempre tão negativo. Em 2007, esteve em Zurique com Lula, a cúpula da CBF e alguns ministros defendendo a candidatura do país para sediar o torneio.

Chamou Blatter de “cher ami” e mandou: “A partir de hoje, começa uma vitória que durará sete anos. O que vemos na Seleção, vemos no povo. O trabalho árduo, a capacidade de sonhar e sua criatividade. Honraremos como povo brasileiro essa possibilidade”.

Só os tolos e os mortos não mudam de opinião, mas no caso de Paulo Coelho o achismo de Ney Matogrosso é elevado a outros patamares. Alguém sugeriu que Coelho fora “usado” pelo governo há sete anos. Ora, está para nascer a pessoa ou instituição capaz de “usar” o escritor, um dos maiores marqueteiros na história da literatura.

A cotovelada em Ronaldo é covarde. Além disso, de imbecil, ele não tem nada. Ronaldo é muito esperto, não necessariamente no bom sentido. O mesmo vale para PC.

Estamos combinados que ninguém é obrigado a achar a Copa uma maravilha, que há uma discussão sobre prioridades, sim — mas daí a apregoar o fim do mundo são outros quinhentos dólares. A razão para essa lenga-lenga é que, enquanto insistir nela, PC será manchete. É mais um lembrete de que o grande interesse de Paulo Coelho, o primeiro e o último, é ele mesmo, e o importante é manter o debate no mesmo nível da subliteratura que produz.

* Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.


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