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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Corrupção policial: uma equação complexa


CORRUPÇÃO NA POLÍCIA



“O que mais importa é a revelação de que a corrupção policial é uma das chagas da nossa sociedade e que abordá-la com a batida teoria das ‘maçãs podres’ é atitude diversionista, pois equipara corporações de dezenas de milhares de integrantes a quitandas”.

“Há décadas, todos os governadores e autoridades da segurança têm invocado essa teoria para mostrar quão eficientes são. Ora, se o caminho se resumisse a expulsar efetivos, a polícia brasileira já seria uma das mais íntegras do mundo há muito tempo”.

     (Jorge da Silva, coronel aposentado da PM, professor da UERJ, especialista em  violência urbana)




Mauricio Dias

Corrupção da polícia

O cidadão suborna, a polícia chantageia – José Eduardo Cardozo não viu isso ao divulgar pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça.

A relação entre a sociedade e o aparato policial se dá de maneira assustadora. Não é o contato civilizado entre cidadão e autoridade que deve protegê-lo. Longe disso. Não tem sido assim desde os tempos anteriores a dom João Charuto. A polícia regular, criada em 1808, a exemplo da informal que a precedia, foi orientada para reprimir os “de baixo”, arrancados da África e tornados escravos no Brasil.


Fonte: Secretaria de Segurança Pública-RJ. 
Foto: Reginaldo Pimenta/Extra/Ag. O Globo

Uma pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pela Secretaria Nacional de Segurança do Ministério da Justiça, divulgada nos primeiros dias de abril e realizada em 26 estados com 78 mil entrevistas, reflete o resultado dessa origem: o alto nível de corrupção policial em todo o País.

O Rio de Janeiro, com 43 mil policiais militares e 10 mil civis, virou manchete ao ser apresentado como o caso exemplar. É o maior índice de corrupção policial entre todos os estados da Federação.

“Iniciativa importante, a pesquisa não se destinou a estabelecer o ranking da corrupção entre as polícias, como vem sendo lida, e sim oferecer elementos para a elaboração de políticas racionais para enfrentá-la”, diz Jorge da Silva, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coronel aposentado da PM e, sem dúvida, um dos mais respeitados especialistas sobre violência pública.

Tanto o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quanto a secretária Nacional de Segurança, Regina Miki, no entanto, escolheram o caminho oposto, mais fácil para transitar e ganhar espaço na mídia. Ambos sustentaram um debate sobre a expulsão de policiais militares da corporação.

Melhor expulsar? Melhor não expulsar? Esse é o problema secundário.

“O que mais importa é a revelação de que a corrupção policial é uma das chagas da nossa sociedade e que abordá-la com a batida teoria das ‘maçãs podres’ é atitude diversionista, pois equipara corporações de dezenas de milhares de integrantes a quitandas”, ironiza Silva. E justifica com uma observação que acerta a mosca:

“Há décadas, todos os governadores e autoridades da segurança têm invocado essa teoria para mostrar quão eficientes são. Ora, se o caminho se resumisse a expulsar efetivos, a polícia brasileira já seria uma das mais íntegras do mundo há muito tempo”.

Invocando o óbvio: policiais apanhados na prática de corrupção devem ser expulsos da corporação. Mas isso não resolve o problema.

“Na verdade, lutar contra esse mal de forma objetiva é empreendimento necessariamente precedido de pelo menos três indagações: 1. Qual o nível de corrupção geral existente na sociedade em que se cogita combater a corrupção policial? 2. Na relação dos policiais corruptos com suas vítimas, qual o papel do suborno? 3. Num ambiente determinado, o que estaria pesando mais: os desvios isolados de policiais com fraqueza de caráter ou a estrutura social, ou ainda os modelos gerenciais que favorecem a corrupção sistêmica?”, pergunta Jorge da Silva.

Por que a polícia militar se corrompe? Salvo desprezível índice de exceção, só se ingressa nessa instituição de 200 anos de vida com a ficha pessoal limpa. Logo depois, porém, no exercício do policiamento ostensivo, a ficha começa a ficar suja.

Com salário baixo e sujeito a pressões, o policial sucumbe ao apelo do corruptor: o cidadão. Em seguida, o corrompido passa à extorsão sobre os próprios corruptores. Esse é o óleo que faz o mecanismo girar ao contrário do que devia.

CartaCapital

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2 comentários:

  1. FIZ UMA DENUNCIA GRAVISSIMA SOBRE CORRUPÇÃO POLICIAL NA ZONA SUL EM JUNHO DE 2004,ENVOLVENDO POLICIAIS MILITARES E CIVIS E ESTOU SENDO AMEAÇADO ATÉ HOJE.
    FUI ATÉ NA REDE GLOBO.
    ESSE PAPO DE DENUNCIAR É A MAIOR FURADA.
    O JEITO É ACEITAR QUE ESTAMOS ENTREGUES À
    AUTORIDADES CORRUPTAS QUE ABAFAM ACONTECIMENTOS E INFORMAÇOĒS À POPULAÇÃO.

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  2. Meu querido, eu entendo perfeitamente o que você diz, porque vivo isso 24 horas por dia. Denunciar não é "a maior furada", até porque nada mudará se não tivermos atitude. Mas realmente as corregedorias e até o MP deixam muito a desejar e muitas vezes não apuram nada. "O jeito é aceitar"... será? Precisamos tentar atuar no ponto médio. Nem calar e nem denunciar. Não é fácil, mas é possível. E procurar atuar em grupo. Isoladamente você fica muito vulnerável. "Fui até na Rede Globo"... essa organização historicamente se alia ao que há de pior na vida brasileira. Aliás, quase toda a chamada grande imprensa. Não é fácil. Mas a covardia também não resolve nada. Procure pensar formas de atuação que te protejam: disque denúncia, por exemplo. Abraços e boa sorte!

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