Tradutor

domingo, 3 de março de 2013

Yoani Sánchez: a mulher que amedronta a Cuba de Fidel


Mercenária, Agente da CIA, inimiga número 1 do regime cubano, terror dos irmãos Castro, lacaia do imperialismo ianque... Sobram epítetos para tentar desqualificar a cidadã cubana Yoani Sánchez.

Uma mulher de trinta e poucos anos, de origem humilde, vivendo carências materiais, limitações, restrições, num país pobre e sob um governo duro, fechado, cheia de sonhos e amor pelas palavras e pela liberdade.


Uma alma sensível. Uma escritora talentosa. 


E um texto singelo, mas de alto risco, pelo germe revolucionário que carrega.





Reflexiones…



En estos tiempos cuando está de moda reflexionar sobre los problemas de los otros, y obviar lo inmediato y lo cercano, me propuse tocar otros temas fuera del estrecho marco de mi casa y mi ciudad. Pensé entonces en los aborígenes australianos discriminados en su propio país, en las dificultades para reconstruir Nueva Orleáns y en las demandas de los sin tierra en Brasil. Al final me di cuenta que no puedo escribir sobre ninguno, la razón es simple: me duele una muela.

Ya sé que parece que no tiene relación una cosa con la otra, pero sí. Mientras el latido del dolor me sube por la mejilla y me llega hasta el oído, no puedo concentrarme y reflexionar en otra cosa que no sean mis propios problemas. La tierra de los canguros se me desdibuja, el Superdome pasa a un segundo plano y las consignas agrarias se me apagan en la lejanía. La muela sigue llamándome a esta realidad.

Las sístoles del dolor se hacen más pronunciadas cuando recuerdo los últimos días perdidos en la consulta estomatológica. Una vez por falta de agua, la otra por el compresor roto y una tercera porque no tenían el papel para envolver el instrumental en el esterilizador; al final el grito de la recepcionista terminó con mis esperanzas: “No vamos a dar más turnos hasta el próximo mes”. Todo eso ocurre en el policlínico “19 de Abril” de Plaza, que es mostrado como ejemplo a las delegaciones extranjeras que vienen de visita a Cuba. Quien sabe si algunas viajan desde las remotas tierras australianas, las bajas planicies sureñas y el caliente campo brasileño. Así que he pensado seriamente sentarme con mi dolor en la puerta a esperar a uno de esos visitantes. Quizás pueda visitar ese “otro policlínico” que a ellos les muestran, ubicado exactamente en el mismo lugar del mío, pero donde las cosas funcionan y los pacientes sonríen satisfechos.

No será acaso que todo lo que necesitan las autoridades para reparar en nuestra realidad y afanarse en mejorarla, es un simple y prolongado dolor de muelas. Uno sin calmantes, sin dentista personal presto a intervenir y colocar una amalgama importada ayer mismo, sin bombillos en la lámpara del sillón estomatológico, sin cremitas anestésicas que dejen un sabor a caramelo de menta; en fin, uno como éste que tengo yo ahora.


Reflexões...

Nestes tempos em que está na moda refletir sobre os problemas dos outros, e evitar o imediato e o próximo, me propus tocar em outros temas além dos limites estreitos da minha casa e da minha cidade. Pensei então nos aborígenes australianos discriminados em seu próprio país, nas dificuldades para reconstruir Nova Orleans e nas necessidades dos sem-terra no Brasil. Finalmente, me dei conta de que não posso escrever sobre nenhum deles, e a razão é simples: tenho dor de dente.

Sei que parece que não há relação entre uma coisa e outra, mas há. Enquanto o pulsar da dor me sobe pela bochecha e me chega ao ouvido, não posso me concentrar e pensar em outra coisa que não sejam meus próprios problemas. A terra dos cangurus perde a nitidez, o Superdome passa para um segundo plano e os slogans dos sem-terra se apagam na distância. O dente continua me chamando para esta realidade.

As sístoles da dor ficam mais fortes quando lembro dos últimos dias perdidos na consulta odontológica. Uma vez por falta de água, a outra pelo compressor quebrado e uma terceira porque não tinham o papel para embrulhar os instrumentos no esterilizador... Finalmente, o grito da recepcionista acabou com minhas esperanças: "Não voltaremos a atender até o mês que vem". Tudo isso acontece na policlínica "19 de Abril" de Plaza, mostrada como exemplo às delegações estrangeiras que visitam Cuba. Quem sabe se algumas vêm  das longínquas terras australianas, das baixas planícies do sul e do quente campo brasileiro. Então, pensei seriamente em me sentar com minha dor na porta a esperar um destes visitantes. Quem sabe eu possa visitar essa "outra policlínica" que é mostrada a eles, situada exatamente no mesmo lugar da minha, mas onde as coisas funcionam e os pacientes sorriem satisfeitos...    

Por acaso tudo o que as autoridades necessitam para reparar na nossa realidade e trabalhar para melhorá-la não será uma simples e prolongada dor de dentes? Sem calmantes, sem dentista particular pronto a intervir e colocar um amálgama importado ontem mesmo, sem bulbos na lâmpada da cadeira de dentista, sem cremes anestésicos que deixem um sabor de caramelo de menta... Enfim, uma dor como esta que tenho agora.

Generación Y  (2007)

*

Nenhum comentário:

Postar um comentário