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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A tragédia em Santa Maria e o grotesco da mídia


MÍDIA

"A falta de originalidade e o amálgama geral do prazer pelo grotesco permeiam a imprensa brasileira. Quem em sã consciência acredita que mostrar os corpos de centenas de vítimas de uma tragédia é, de fato, fazer jornalismo? Quem acredita que assediar parentes de vítimas em seu momento de dor é fazer jornalismo investigativo? O jornalismo brasileiro despe-se de humanidade seja para noticiar chacinas contra jovens negros das periferias de São Paulo, seja para 'denunciar' massacres contra populações indígenas ou sem terras, ou para noticiar e cobrir tragédias de grandes proporções como o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que causou a morte de mais de 230 jovens."



TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
Jornalismo ou a arte do grotesco?

Raphael Tsavkko Garcia*

O que há em comum entre tragédias como o deslizamento no morro do Bumba, o massacre na escola em Realengo e o incêndio em Santa Maria? A grotesca cobertura midiática. Sensacionalista, sedenta por sangue, louca pelo melodrama, desesperada pelo furo que normalmente consiste em imagens degradantes, cenas de humilhação, desespero e a miséria humana.

O jornalismo de verdade costuma ficar em segundo lugar. Isto quando sequer transparece nas páginas que oscilam entre pingar sangue ou verter torrentes de lágrimas colhidas a dedo para criar um quadro melodramático desnecessário e vergonhoso. A mídia busca respostas fáceis e quando não as encontra repete a história até ser possível encontrar uma brecha para fabricar suas próprias verdades. Não importa se a tragédia está acontecendo ou se é o aniversário dela – de 1, 10 ou mesmo 100 anos: o relevante é apenas espremer todo o sofrimento que puder.

Imagens de corpos carbonizados ou machucados, closes vergonhosos de pessoas sentindo a imensa dor da perda, vídeos com o momento exato de uma execução, a insistência nas perguntas-clichê nos momentos de maior dor de familiares ou mesmo vítimas: “Como você está se sentindo?”, “O que você pensa disso ou daquilo?”, “Qual a sensação?”


Direitos humanos

Sensação, sentimentos ou ideias que, infelizmente, a mídia não tem. A falta de originalidade e o amálgama geral do prazer pelo grotesco permeiam a imprensa brasileira. Quem em sã consciência acredita que mostrar os corpos de centenas de vítimas de uma tragédia é, de fato, fazer jornalismo? Quem acredita que assediar parentes de vítimas em seu momento de dor é fazer jornalismo investigativo? O jornalismo brasileiro despe-se de humanidade seja para noticiar chacinas contra jovens negros das periferias de São Paulo, seja para “denunciar” massacres contra populações indígenas ou sem terras, ou para noticiar e cobrir tragédias de grandes proporções como o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que causou a morte de mais de 230 jovens.

Em um primeiro momento apontaram os dedos midiáticos para os seguranças. Depois, para a “fatalidade” do ocorrido. Para a banda que usou material pirotécnico e começou o incêndio. Depois para teorias mil, comparações e para falhas na legislação, na fiscalização... Mas e os donos do local, estabelecimento que funcionava com permissão judicial provisória, sem estrutura alguma para garantir a segurança de milhares de frequentadores? E o prefeito da cidade, reeleito, responsável direto por fiscais e pela aplicação das leis no município? E o poder público que deveria zelar pela segurança dos cidadãos?

Mas não. Respostas fáceis são melhores. Apontar os dedos para os mortos, para o tempo, o espaço, o acaso, é muito mais fácil do que bater de frente e fazer jornalismo de verdade. O tom é sempre o mesmo. Sensacionalismo puro. A completa desumanização de familiares e vítimas que são mero produto para o entretenimento da massa. A cobertura de TVs e jornais em nada difere dos policialescos de péssima qualidade que diariamente demonstram que direitos humanos é algo a ser desrespeitado, que só serve para “bandido” e que bom mesmo é ver o sangue correr.


Show da vida

E o sangue corre. Sempre corre.

Em algum momento um jornalista questiona timidamente por que vemos tanta desgraça, por que há tanta violência? Mas em momento algum questiona a si e a seus colegas de profissão que, por vontade própria ou pressão dos diretores, vendem a morte, a dor e o sofrimento como itens típicos de mercado de esquina. Não é apenas a violência que aumenta, mas o espaço que ganha a cada dia na TV, nos jornais, nas revistas...

No caso de Santa Maria, convidam especialistas para falar de legislação, de tragédias, de fatos semelhantes... Tudo intercalado com rostos emocionados, vozes que tremem levemente frente às câmeras, um olhar de indignação semelhante ao usado em tragédias anteriores e muitas imagens chocantes, de desespero, de desalento.

É o show da vida, o show da realidade formatada para a audiência acostumada a reality shows e big brothers que não escondem nada, exceto a verdade.

* Raphael Tsavkko Garcia é blogueiro e jornalista, formado em Relações Internacionais pela PUC-SP e mestre em Comunicação.

2 comentários:

  1. BOMBEIROS NAO FORAM CRIADOS PARA ADVINHAR E SIM PARA FISCALIZAR PÉRIODICAMENTE AS INSTALAÇOES, DE LUGARES COMO A BOATE KISS, NAO ADIANTA QUERER TIRAR A RESPONSABILIDADE DO CORPO DE BOMBEIROS, PARA JOGAR PARA CIMA DE GOVERNADOR, JA QUE SE EXISTE UM COMANDANTE DENTRO DO CORPO DE BOMBEIROS, ELE É COMO UM SECRETARIO, OU ACESSOR DO GOV ERNARDOR, ENTAO DESSE C OMANDANTE É QUE TEM QUE PARTIR AS ORDENS DE FISCALIZAÇAO. SE POR EXEMPLO ELE DEIXOU QUE A BOATE CONTINUASSE FUNCIONANDO COM O ALVARÁ VENCIDO. É DE PURA RESPONSABILIDADE DO CORPO DE BOMBEIROS. SE OS EXTINTORES ESTAO VENCIDOS PIOR ISSO NOS MOSTRA QUE O CORPO DE BOMBEIROS NAO VINHA FAZENDO AS FISCALIZAÇOES OBRIGATORIAS. AINDA TEMOS A CALAFETAGEM DO TETO COM MATERIAL ALTAMENTE INFLAMAVEL QUE SERIA OBRIGAÇAO DO CORPO DE. BOMBEIROS INTERDITAR O LUGAR. HOUVE NEGLIGENCIA DO CORPO DE BOMBEIRTOS. E SO A ELE CABE A RESPONSABILIDADE DE DEIXAR A BOATE CONTINUAR FUNCIONANDO. DONA SARA SENDI REFLITA MELHOR NO QUE A SENHORA FALA. POIS MESMO TENDO UMA EMPRESA RESPONSAVEL PELA MUDANÇA DOS EXTINTORES CABE AOS DONOS DO ESTABELECIMENTO PEDIR PARA QUE OS EXTINTORES SEJAM RENOVADOS. MUITAS VEZES OS DONOS DE BOATE PARA ECONOMIZAR ACREDITANDO QUE NADA VAI ACONTECER NAO PEDEM PARA FAZER A RENOVAÇAO DESSES EXTINTORES. NESTE CASO JA SERIA UM MOTIVO CLARO PARA QUE O CORPO DE BOMBEIROS SE ESTIVESSE FAZENDO O SEU PAPEL INTERDITAR O LOCAL.= GOVERNADOR DELEGA PODERES A DIRETORES EM GERAL, COMANDANTES, ACESSORES, SECRETARIOS E CABE A CADA UM DELES DELEGAR PODERES AOS SEUS SUBORDINADOS PARA CUMPRIR UM CRONOGRAMA DE TRABALHO. SE NAO FOSSE ASSIM ENTAO O GOVERNADOR DISPENSAVA TODOS E CHAMAVA PARA SI TODA A RESPONSABILIDADE O QUE TODOS SABEM QUE É COMPLETAMENTE IMPOSSIVEL PARA UM GOVERNADOR. ENTAO NAO ADIANTE GENTE SEM ESCRUPULOS, CANALHAS, HIPOCRITAS, MIDIA SUJA QUERER RESPONSABILIZAR O GOVERNO DO ESTADO POIS ELE NAO. É JUSTAMENTE POR ISSO QUE EXISTE UM COMANDANTE DOS CORPOS DE BOMBEIROS PARA CUIDADES DISSO. SE ELE FOI RELAXADO DEVE RESPONDER E PONTO FINAL.

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  2. Concordamos totalmente com o comentário do nosso leitor. O governador do estado todo não pode responder pela fiscalização de um estabelecimento num município. As atribuições do governador são outras. O problema é que a mídia conservadora e partidária aproveita estas tragédias para fazer política e atacar o PT. E o prefeito? É preciso ver toda a cadeia de responsáveis. Há setores nas prefeituras próprios para a fiscalização. Como dissemos no post de ontem, acreditamos que a "corrupção" de agentes públicos esteja por trás disso tudo. A blogueira pede aos seus leitores-comentadores que não escrevam comentários em letra maiúscula (caixa alta), usando esse recurso apenas para dar destaque a um ou outro vocábulo. Grata.

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