Tradutor

domingo, 21 de outubro de 2012

Canalha, Substantivo Feminino


"Toda família tem uma canalha", é o que afirma a jornalista Martha Mendonça, autora do livro Canalha, substantivo feminino, onde desvenda as canalhices do universo feminino.

Há famílias mais desafortunadas que abrigam duas ou mais canalhas... Já imaginaram o drama?

Além da canalha-mor, cruel e cafajeste, na mesma família se encontrar uma outra, uma canalha discípula, igualmente nociva e nefasta, com muitos traços da canalha original. E tendo muitas vezes a canalha original como mestra.

Eu conheço pelo menos duas, na mesma família. Ambas predadoras, frias, calculistas, alpinistas sociais, que usaram da instituição casamento para subir na vida, exibir casa nova, vestir roupas de grife, desfilar de nariz empinado dirigindo seus carros de luxo... 

São as "Tássias", adeptas do "Compro, logo existo"... Sobem na vida "escalando as calças masculinas" e adquirem um ar de superioridade em relação ao resto da humanidade. Elas chegaram lá. Não importa como.


Em seu livro a "canalhóloga" Martha Mendonça narra seis estórias tendo por protagonistas mulheres de natureza amoral, trapaceiras, que se fazem de vítima, usam e abusam da chantagem emocional, mentem descaradamente para subjugar maridos, gerenciar amantes, aumentar patrimônio pessoal, exibir seus podres poderes e até destruir suas vítimas, quando já nada têm para oferecer.

Abaixo reproduzo artigo sobre o livro das canalhas. Leia e aprenda a se proteger destas pestes. Aviso que não é fácil. Elas são exímias profissionais da empulhação.



Foto: Divulgação


Mulheres canalhas

Elas são muito piores que os cafajestes

Bem ou mal, eu sempre acreditei que homens e mulheres são essencialmente semelhantes. Ao contrário da longa tradição conservadora, que, desde a Bíblia, imputa às mulheres pensamento e sentimentos opostos aos dos homens, eu sempre defendi, de forma totalmente intuitiva, que, afora a biologia, as diferenças entre homens e mulheres são apenas culturais – nada que uma geração ou duas de igualdade não fosse capaz de varrer da face da Terra.

Por pensar assim, eu me surpreendo profundamente com as sugestões de diferenças inconciliáveis entre sexos, sobretudo quando apresentadas pelas próprias mulheres – como acontece no livro Canalhas, substantivo feminino, escrito pela minha colega Martha Mendonça, a gentil, ferina e bem-humorada repórter da sucursal do Rio de Janeiro de ÉPOCA.

Publicado pela Editora Record, o livro reúne contos sobre mulheres que fazem os cafajestes masculinos parecerem coroinhas. Cada uma dessas histórias é um pequeno compêndio de maldades – maldades que, pela forma e pelo conteúdo, parecem intrinsecamente femininas, ainda que muitas delas não sejam exclusivas das mulheres.

Há uma estagiária de 20 anos, Larissa, que seduz o chefe quarentão até levá-lo a um estado de loucura, pelo prazer egoísta de testar o próprio poder. Há uma loira sensual, Ingrid, que sobe na vida sem trabalhar usando os homens friamente, como degraus da sua escalada social. Há uma arquiteta de 30 anos, Mariana, que arrasta o marido da antiga rival de colégio para um motel apenas pelo gosto de humilhar a beldade envelhecida.

Todas essas histórias têm em comum uma perversidade que eu não vejo no universo masculino. Os homens fazem coisas torpes, mas, tanto quanto eu percebo, agem na vida privada movidos pela paixão dos sentimentos. Seus atos, vistos de fora, são impulsivos e primitivos, de tão óbvios.

Em oposição, as mulheres de Martha são racionais, calculistas, oblíquas como o olhar de Capitu. A mãe seduz o namorado da filha para sentir-se jovem e desejada. Sem hesitação e sem remorsos. A noiva entrega-se a todos os homens, menos ao seu prometido, por quem sente um mal disfarçado desprezo. A mulher planeja e leva a cabo o assassinato do marido por lento e penoso envenenamento.

De onde vem isso? Em primeiro lugar vem da Martha. Como boa carioca, ela parece ter bebido nas águas turvas do Nelson Rodrigues, o grande sintetizador do universo imoral brasileiro. As personagens de Martha são pecadoras de classe média baixa, criaturas infames do repertório da família degradada que o autor de Vestido de Noiva e Beijo no Asfalto reconheceria instantaneamente.

Mas há nelas também, como apontou uma amiga, um toque atemporal de Lolita – a adolescente sensual do livro de Vladimir Nabokov, capaz de manipular o desejo de um homem adulto até reduzi-lo ao estado (ainda servil) de trapo. Como Lolita, as mulheres de Martha são exímias manipuladoras, que usam o corpo delas e a imaginação dos homens como armas.

Os homens, tanto quanto eu percebo, são incapazes de operar nesse universo de sutilezas, por uma razão essencial: não é fácil manipular o desejo das mulheres.

Homens são facilmente controláveis pelo zíper. Não é preciso ser uma beldade para fazer isso. Basta ser sensual e gostar de sentir-se assim. E ter em si um grama de maldade. O roteiro é velho e batido: quando o sujeito quer, a moça não quer. Queria ontem, mas hoje não tem certeza. Aproxima-se, mas, depois, muda de ideia e se afasta. Enquanto isso, mantém o corpo desejado a uma distância impossível de ignorar, mas difícil de tocar. É fácil e simples.

Quantos homens vocês conhecem que são capazes de manter uma mulher na rédea com esse tipo de ardil? Eu não conheço nenhum. Nas únicas situações em que vi esse tipo de coisa acontecendo, a mulher estava completamente apaixonada. Mulheres apaixonadas parecem perder o controle. Homens perdem o controle por luxúria, por lascívia, por desejo, por tesão – sentimentos muito mais corriqueiros neste mundo de meu deus. A gente vê isso acontecendo todos os dias.

Outra coisa que distingue as mulheres da Martha dos homens reais é que elas operam numa esfera que eu chamaria de contra-poder.

Os homens têm o dinheiro, o prestígio social e o comando, nas empresas e no mundo. As mulheres têm aspirações. Contra o óbvio poder social dos homens, elas lançam mão de estratagemas e subterfúgios, atalhos que, nos enredos de Martha, passam quase invariavelmente pelo sexo. Mesmo a quarentona gostosa que seduz o namorado adolescente da filha está marcando um tento contra o poder masculino – aquele que escolhe favorecer o corpo da mulher jovem em detrimento da mulher mais velha. Há sempre uma ponta de afirmação no poder paralelo das mulheres canalhas.

Ao terminar o livro, que li de uma vez só, encantado, tive várias sensações.

A primeira foi de alívio. Aos 50 anos, eu ainda não encontrei uma das mulheres más que Martha descreve. Já vi algumas inebriadas com o seu poder de seduzir e outras que ensaiaram subir na vida escalando as calças masculinas, mas eram amadoras.

A segunda sensação com que o livro me deixou remete ao começo deste texto: mulheres, afinal, talvez sejam diferentes de nós, homens. O mundo do poder masculino criou tipos dominantes que são agressivos e toscos em seus métodos. Óbvios, enfim. O universo da submissão feminina inventou mulheres sutis e ardilosas, bem mais difíceis de mapear e entender.

Essas não são diferenças no interior do cérebro ou da alma, porém. São diferenças sociais que, de tão velhas, passaram a fazer parte de nós – até que sejam varridas da face da Terra por uma ou duas gerações criadas em igualdade.

Revista Época

*

2 comentários:

  1. Li o comentário sobre o livro no Ancelmo Góis de ontem, li o comentário deste site hoje pela manhã e vou correndo comprar o livro na hora do almoço. Compartilhei o comentário com um punhado de colegas, mais experientes como eu, também iniciados na sutil arte de diferenciar a mulher do homem independentemente de (mas com a ajuda de) aparelhos genito-sexuais distintos. Abençoado o homem que é casado com uma mulher que é sua parceira e quer ver o seu progresso, mantendo o progresso próprio (é o meu caso). Duplamente abençoado é esse mesmo homem cuja mulher lhe descortina os segredos das mulheres, como no livro com o qual Martha Mendonça ora nos brinda. Apenas um “pequeno” problema. Martha Mendonça necessitará contratar um eficiente esquema de segurança pessoal (seria bom se fosse todo de mulheres, mas é dificílimo encontrá-las pensando do mesmo modo) ... pois sua cabeça agora já deve estar a prêmio, as mulheres NUNCA admitirão que uma “colega“ (elas raramente são “colegas “ ou “companheiras” uma da outra, ao contrário de nós, homens) divulguem esses segredos e essas técnicas. Em qualquer caso, parabéns à autora!

    ResponderExcluir
  2. rsrsrsss... Fico feliz em saber que você é um dos "abençoados" que "tirou a sorte grande", encontrando uma verdadeira companheira. As vigaristas estão soltas por aí... Só faz aumentar o número de mulheres que estão adentrando o mundo do crime. Isso é muito preocupante, ainda mais quando se pensa que muitas são mães, responsáveis pela formação de crianças e adolescentes... Outras são professoras... Conheço uma que é ladra, estelionatária e... professora do ensino público! Já imaginou? O que esta senhora pode ensinar a seus alunos?!... Parabéns a autora e a editora!

    ResponderExcluir