Recordar é Viver...
Como blogueira, estou aqui no ABC! há 17 meses, quase um ano e meio. Antes disso, fui leitora de muitos blogs, principalmente dos que se autodenominam "progressistas": Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Luís Carlos Azenha (Vi o Mundo), Rodrigo Viana (Escrevinhador), Eduardo Guimarães (Blog Cidadania) e Conceição Oliveira (Maria Frô).
Como leitora, tive comentários censurados por PHA anos atrás. Comentários que contradiziam suas posições sobre a ex-ministra Marina Silva, contra a qual ele desferia ataques cheios de achincalhe, desprezo e ridicularização, como costuma fazer quando elege "inimigos". Em seguida fui "bloqueada" pelo jornalista-blogueiro, o que obviamente percebi como algo gravíssimo para quem se coloca como guardião da democracia e da liberdade de expressão. Com o Eduardo Guimarães tive experiência parecida. Enquanto elogiava seus posts e concordava com seus pontos de vista, maravilha. Mas ao expressar opiniões críticas e contrárias, deixei de ser bem-vinda no Cidadania.
No episódio da entrevista do presidente Lula a tais blogueiros, quando manifestei contrariedade sobre atitudes de tal grupinho, de novo estes senhores e senhora "progressistas" se uniram para se auto-elogiar e criticar as posições contrárias. Eles são muito solidários. Entre si. Atuam sempre em grupo, agem como "donos" e "estrelas" da blogosfera, se incensando mutuamente....
Como Mestra em Ciências da Comunicação, apaixonada e estudiosa da mídia, me preocupam os rumos da Blogosfera Brasileira, os equívocos, os enganos, os embustes. Venho falando bastante de direito e justiça no ABC! e das bandas boa e podre do Judiciário. Há que separar também o joio do trigo na Blogosfera.
Sou uma blogueira independente. O Abra a Boca, Cidadão! é um blog pequeno, mas bravo e indignado. E nunca esteve nem estará atrelado a grupo nenhum. Não é blog sabujo, satélite, lambe-botas. Aprende com os grandes e pequenos, repercute pontos de vista que considera merecedores de reflexão, mas tem coragem o suficiente para discordar do "alto escalão" blogosférico e oferecer opinião divergente. "Desafinando o Coro dos Contentes", como digo na abertura.
Venho lendo há alguns dias posts do grande jornalista Fábio Pannunzio, da Rede Bandeirantes de Televisão. Pannunzio vem publicando em seu blog artigos críticos sobre o trabalho jornalístico e as posições políticas de Mino Carta e Paulo Henrique Amorim, na revista VEJA, na época da ditadura. Mino foi sempre para mim uma "divindade" do jornalismo. E continuava sendo. Ele e seus "botões"... O blog de PHA era uma fonte de informação variada, mas ficou comprometido desde as atitudes truculentas de cerceamento a que me referi.
Considero os artigos que Fábio Pannunzio vem publicando importante contribuição para que todos nós, pequenos e grandes, que fazemos a Blogosfera Brasileira, como leitores, comentaristas ou blogueiros, possamos crescer, ampliar nosso olhar sobre quem faz esta mídia tão apaixonante e aprender a distinguir joio e trigo.
Fábio Pannunzio
Do nada, um certo site da nova, novíssima esquerda, começa a derramar posts em série sobre a ditadura brasileira. Chama de “cães de guarda” dos milicos os jornalistas que apoiaram descaradamente a ditadura militar brasileira. O nome desse site é Conversa Afiada. Poderia se chamar mesmo Conversa Fiada, uma vez que seu editor, Paulo Henrique Amorim, foi um dos mais dóceis cãezinhos de guarda da ditadura nos anos 70. Para o desespero dele, não é difícil demonstrar.
Alguns leitores bem-intencionados têm se mostrado surpresos com a série de revelações. Acreditavam, de bom coração, na sinceridade de PHA em sua defesa do governo Lula, do governo da Dilma, do governo FHC, … até de gente como o Zé ‘empate’ Dirceu, na sua retórica a favor dos pobres e oprimidos. Acreditavam até que PHA nasceu na esquerda. Até que ele agora é líder do movimento negro.
Aos fatos.
Muito jovem, quando todos costumam ser de esquerda, PHA já era uma espécie de poodle dos homens de farda. Naquele tempo, a revista Veja não assinava a maior parte das reportagens e, por isso, não é fácil encontrar o nome de PHA em muitas delas. De 70 a 74, foi o editor de economia da revista, segundo atesta o próprio currículo que ele publica em seu site.
Nessa condição, pode-se dizer, com segurança, que todas as reportagens econômicas ufanistas, de apoio à ditadura, têm o dedo dele. Convido o leitor a passear pelas páginas de economia da revista naquele período, consultando o arquivo digital, aberto a todos na internet (mas se preparem para o enjoo, diante de tanta propaganda pró-ditadura). Algumas vezes, porém, o editor da revista, Mino Carta, na seção “Carta ao Leitor”, denunciava a autoria das reportagens. E, quando isso acontece, não há como se esconder.
Foi o caso da edição de 26/08/70. Mino Carta escreve na Carta ao Leitor: “O anúncio do Programa de Integração Social [o PIS], o assunto da reportagem de capa daquela edição (página 28, texto final de Paulo Henrique Amorim e Emilio Matsumoto), confirma uma antecipação de Veja.”
O enjoo, caro leitor, começa pelo título: “Um programa à brasileira”. Assim mesmo, com esse ufanismo patriótico de conveniência a serviço da farda e do coturno. A ânsia de vômito aparece no subtítulo grandiloquente: “A integração social através de um fundo sem igual”.
Poucos leitores não passarão mal com o texto em si. Começa com uma rematada mentira: “Quem ganhar pelo menos dois salários mínimos por mês receberá, na pior das hipóteses, seu ordenado multiplicado por 36, ao se aposentar depois de trinta anos de serviços.”
Prossegue com um delírio fascista, o do fim das tensões, naturais, entre patrões e empregados, algo que a ditadura perseguia a ferro, fogo e pau-de-arara. Eis aí o fulcro da questão, o que francamente interessava ao regime — e a seu lulu adestrado — na época: afastar as discussões sobre a participação nos lucros, esta sim a verdadeira reivindicação dos operários. “Estão evitadas na mensagem presidencial todas as possibilidades de tensão entre patrões e empregados. Não se fala em participação nos lucros. Ao contrário, criou-se uma fórmula original, retirada da famosa inventividade brasileira. Os empregados participarão, através de um fundo, do faturamento (ou seja, das receitas) das empresas e não de seus lucros (o que significa tecnicamente o resultado da diferença entre receita e despesa).”
E, claro, acaba por bajular o ditador Médici, mentindo para os brasileiros ao dizer que o general tinha como objetivo uma sociedade próspera e aberta, tudo o que o Brasil não era à época: “‘O segredo mais bem guardado é o que todos imaginam’. A frase de Bernard Shaw, sábio dramaturgo irlandês, aplica-se inteiramente ao PIS. A notícia explodiu na semana passada com o impacto das grandes revelações. No entanto, analistas mais observadores já podiam prevê-la desde o dia 7 de outubro do ano passado, quando o Presidente Médici, pela televisão, comunicou que aceitava sua indicação para presidente da República. Naquele dia, mencionou seu desejo em promover uma revisão da distribuição da riqueza numa sociedade próspera e aberta. Na primeira reunião ministerial pediu aos seus auxiliares imediatos que estudassem medidas que viessem a marcar seu governo com as intenções reformistas a que se propunha.”
Não é segredo para ninguém que o lulu da economia de Veja se empenhava — e como! — em sua função de propagandista dos feitos homéricos do pior presidente que o País já teve. Pior no sentido de mais cruel, desumano. Aqui mesmo, neste espaço, publiquei outro dia um post revelando que PHA certa vez, nos idos dos 70, ganhou um prêmio Esso ao contestar o Censo, que acabara de sair com algo que não convinha ao comando da quartelada. O IBGE, que não era propriamente um bunker do PIG de então, constatou que havia, como a história provou, uma enorme concentração de renda no tal Milagre Econômico. PHA, no entanto, se fiou a um estudo assinado por Carlos Langoni para desqualificar o censo e provar que o Brasil Grande era maior e mais justo do que realmente era. Maior e mais justo. Au-au!
Volto ao assunto anterior. Na descrição do PIS, PHA não poupa adjetivos para vender aos brasileiros a falsa imagem de que o programa era uma coisa genial. Para isso, adula todos os czares da ditadura da época, para que nenhum deles se sentisse enciumado: “Acabou surgindo a fórmula do PIS, árvore de muitas sementes, depositadas com cuidado por Delfim, Barata, Leitão de Abreu, chefe do gabinete civil, e poucos assessores. (…) Fecha-se assim o círculo desse engenhoso mecanismo”. Engenhoso, diga-se de passagem, a ponto de ser anunciada desta forma: “Afastada a solução da participação nos lucros, o presidente apelou para a imaginação criativa de seus ministros“. Só elogios!
Não se esqueçam, ele estava falando do PIS, que vocês conhecem tão bem.
Para não haver dúvidas sobre a grandiloquência do projeto do recém-empossado ditador Médici, fecha com uma declaração de Delfim, com o objetivo de anestesiar os trabalhadores de então, vítimas do que, na época, chamavam de arrocho salarial: “‘O fundo demonstra claramente a preocupação do governo com os trabalhadores. Além disso, significa também uma verdadeira abertura política, já que as lideranças parlamentares foram convocadas pelo Presidente Médici para conhecerem com antecedência o conteúdo do programa’, disse Delfim. Para o ministro, porém, o PIS tem uma inestimável vantagem adicional, não fosse ele um de seus idealizadores: ‘Essa fórmula é brasileira. Não há no mundo sistema idêntico ou semelhante.’”
Verdadeira abertura política no governo Médici, cara pálida? Au-au!
Ora, em 1970, o Brasil vivia o auge da ditadura militar, com Dilma presa, torturada, assim como milhares de outros. Não havia sociedade próspera e aberta coisa nenhuma. E também nenhuma integração entre patrões e empregados. A reportagem, na verdade, é uma peça de propaganda da ditadura. Escrita pelo PHA.
Por que relembro todos esses casos? Porque acho que os jornalistas devem viver da verdade. Não à toa, conheço poucas pessoas que sejam contra a Comissão da Verdade. Os brasileiros, sem prejuízo da Lei da Anistia, devem conhecer a sua história. Mas esse conhecimento tem de ser completo. Se devemos conhecer quem eram os torturadores e golpistas, devemos saber quem eram os jornalistas que os apoiaram — a verdadeira imprensa golpista, que propagandeou sem nenhum constrangimento o golpe militar. A Comissão da Verdade pode começar por aí.
Para que você não se perca nesse emaranhado diáfano da história, publico na íntegra a reportagem ufanista que Paulo Henrique Amorim produziu. Reiterando que o Blog do Pannunzio não descontextualiza declarações para construir a crítica política, prática comum em certos canis virtuais contemporâneos.
Link do Blog do Pannunzio, com o post e o acesso à reportagem completa de PHA na VEJA.
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Gostaria que vc me respondesse essa pergunta sem paixão: Os militares nos livraram de um grande mal chamado comunismo ou não? Ou você é daquelas(es) que acham que os partidos de esquerda da época queriam democracia e liberdade? Para mim, e muitos brasileiros, essa turma queria implantar uma ditadura comunista nos moldes soviéticos. Não preciso nem entrar nos detalhes do fiasco desse regime, pois vc os sabe muito bem! Graças aos militares temos a democracia de hoje. Só pra efeito de informação: sou formado em filosofia e curso história. Já fui esquerdista, mas hoje estou curado.
ResponderExcluirAcho que militares têm outra função: proteção e defesa de um país em estado de guerra. Não acho que nos livraram de nada, já que depuseram um presidente empossado segundo a Constituição. Um presidente que pretendia fazer reformas importantes para o País, inclusive a agrária, que não tivemos até hoje. A ditadura nos trouxe mais de 20 anos de atraso, agravou os problemas econômicos do Brasil e fez centenas de mortos e desaparecidos, sem contar os danos da censura às artes e livre expressão. Eu vivi esse período, era adolescente e depois jovem, universitária. Os sobressaltos foram muitos. Os engodos também.
ResponderExcluirSejamos justos! As baixas ocorreram dos dois lados. Era inevitável!Eram dois grupos antagônicos disputando o poder. Não queira me dizer que apenas opositores ao regime foram vitimas. Já passei dessa fase alienante em que fui submetido nos tempos de ensino médio e superior. Não me respondeu à segunda pergunta! "você é daquelas(es) que acham que os partidos de esquerda da época queriam democracia e liberdade?". Assiste ontem o horário político do PC do B e quanta mentira dita ali. Dizer que Prestes lutava por democracia e liberdade é um afronta a inteligência da maioria dos brasileiros. Você foi uma privilegiada por ter vivido esse momento histórico do País. Mas convenhamos era inevitável não absorver os ideais do socialismo. De certa forma na sua essência era um modelo político ideal para qualquer País. No entanto, os soviéticos, e todos os outros países que o adotaram, o deturparam e produziram milhares de mortos para impor a ditadura de partido único. É esse modelo que vc deseja para o Brasil?!
ExcluirVocê confunde troca de ideias com interrogatório. Não estou aqui para ser interrogada. Minhas ideias e pontos de vista sobre tudo estão nos posts que publico ou reproduzo. Patrulhamento ideológico está meio fora de moda. Sou cidadã planetária, adepta da liberdade e da solidariedade humana. Ditadura, de esquerda ou direita... Tô fora! O regime político que promover e defender liberdade, igualdade e solidariedade eu apoio.
ExcluirSonia, conheci seu blog através do Panuzzio e confesso que gostei muito! Tb sofri a mesma retaliação entre os "grandes" da blogosfera. Vou seguir o seu sempre. Forte abraço.
ResponderExcluirSeja bem-vindo, Rafael. Esses tais "grandes" da Blogosfera, muitos, ali, são, claro, conhecidos jornalistas, têm todo um aparato de redes de televisão por trás, estão no ramo há muitos anos e, infelizmente, "tomaram de assalto" a Blogosfera, se colocando como "estrelas", organizando eventos onde só eles "brilham". Querem "seguidores". Mas o grande lance que vejo nas novas tecnologias da comunicação, na internet, nas redes sociais, é justamente a democratização dos meios, o acesso amplo e aberto a todo cidadão que queira produzir e veicular ideias e conteúdos. Se depender desse tal grupinho, "não tem pra ninguém". Ficaremos só na "arquibancada", batendo palmas pra eles... O ABC! defende também isso: que o cidadão atue, participe, crie seu espaço, ocupe os espaços que estão aí e que não têm donos... Abraços!
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