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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A "arroganciocracia" das castas incultas



MÁFIAS ou “V” conversa com a Ex-tátua da Justiça - 1

Vera Vassouras


Máfia - qualquer (qualquer) organização criminosa que usa métodos inescrupulosos, regida por princípios de segredos e silêncios solidários, com o fim de estabelecer leis próprias e buscar se manter no comando do poder constituído. (Houaiss, com alguns ajustes.)

O Brasil (observa a sabedoria popular) é governado por três máfias: a branca, da medicina, a vermelha, dos políticos, e a preta, dos juízes. Seu fundamento ocorre no mesmo período do advento da chamada demo-cracia. Na cidade antiga, reservada aos cidadãos com direito a voto (excetuando-se estrangeiros e escravos). Médicos, advogados e empresários transformam-se em políticos em causa própria e dos membros de sua espécie. Direitos para poucos, deveres para o resto. Privilégios para uns, deveres para outros, e todos sob a égide do que se convencionou denominar Cortes, Estaduais ou Supremas. Nascem nos moldes das realezas que tiveram suas cabeças poupadas pelos acordos com mercenários, pederastas e saqueadores, travestidos de revolucionários. Intocáveis, cada vez que sua “caixinha preta” está para ser aberta: a opinião publicada volta-se contra o legislativo, que faz seu jogo.

Enquanto isso, os médicos calam-se à espera da expansão dos mercados das doenças, pois o legislativo, no meio da opinião publicada, votará o aumento das áreas de transgenia. Aumentar os próprios salários é imoral, somente o Judi(ci)ário pode fazê-lo. Matar o sub-solo, disseminar doenças, destruir o meio ambiente, saquear diariamente o povo: “é legal”!

Especialistas na criação de leis (para isso são convidados especiais em encontros reservados) atuam por contradições e contra-senso, às vezes por meio de torturas físicas e mentais, técnicas inquisitoriais modernamente denominadas “processos e procedimentos”. Ungidos por deus, são os executores nativos das ordens das máfias, protegidos por “julgadores vitalícios de aluguel”. Quanto aos políticos-parlamentares, suas agremiações são compostas pelos membros das outras máfias, incluindo-se o que na antiguidade denominavam-se agregados, atualmente denominados assessores, funcionários ou, simplesmente “empresários”, gerados dos “meios” de comunicação, legalmente transferidos às máfias nacionais e internacionais, sob a insígnia da liberdade de mercado. Na intimidade continuam a se tratar como “irmãos”. Suas bases encontram-se espalhadas por todo o território nacional: Escolas, Igrejas, Faculdades, Ordens, Seminários, Seitas e Clubes de Investimentos e Beneficência. Católicos, apostólicos e romanos, mantendo íntima relação com o Império do qual são, querem e desejam ardentemente continuar fazendo parte, mesmo na qualidade de um simples soldado, adestrado, amorfo. Imagine-se uma das paupérrimas cidades da mais recôndita região do país. Não tem energia elétrica, não tem saúde, não tem saneamento, não tem, afinal, futuro. Todavia tem uma cadeia, um juiz, uma Câmara Municipal, um médico para atender as “famílias” e uma televisão (ligada a um gerador). Enrolam-se como serpentes numa cova, formando um espetáculo terrível ao olhar da inteligência. Não creditam em liberdade pois, vinculados a juramentos e segredos. São prisioneiros de irmandades medievais. Cortesãos, bajuladores e promíscuos. Não respeitam o indivíduo, pois não têm individualidade, só lhes resta a (in)consciência do grupo, do corpo, das membranas que os conforta e protege na aparência de “corpo-ração”. Vivem, em pleno século XXI, como animais ferozes. Espantalhos comandados por tradições pagãs metamorfoseadas pelas ordenações do Império Católico Apostólico e Romano e Bárbaro e pseudo-Brâmane e Ariano, portanto. Castas. Não há igualdade. Existem apenas por e pelas corpo-rações. Seu sistema: o hierárquico (1). Seu princípio: a autoridade (2). Seus instrumentos: o medo e a obediência. Sua finalidade: manter, a qualquer preço, a fé e a esperança na lógica da dominação: encarcerar, matar, torturar a todos os que se atreverem a manter a independência e a criatividade. Seu destino: nosso destino! E seja o que deus quiser!!!

Periodicamente, reúnem-se com os mais “notáveis” pela opinião publicada e redigem “princípios constitucionais de algum estado”, nos quais incluem todos os privilégios das cortes e, quando inquiridos, vestem-se com “cláusulas pétreas” e “direitos adquiridos” e escrevem livros, criam dogmas, seduzem platéias de sonâmbulos em seus “cafés filosóficos”. Promovem as mais antagônicas, contraditórias e ridículas “interpretações legais”, conduzindo a sociedade ao desespero. Criam falsos dilemas e com os “meios de comunicação” mantêm os “outros” em intermináveis discussões sem finalidade, crítica e sem conteúdo. Esperanças inúteis calcadas na fé de um “destino” que está fora das possibilidades humanas de modificação.

Médicos podem matar, parlamentares podem saquear, juizes podem torturar e, todos, políticos-médicos, políticos-parlamentares, políticos-juízes vivem às gargalhadas, (d)equilibrando-se sobre os cadáveres que vão deixando pelo caminho. Cadáveres de gentes, cadáveres de animais, cadáveres de árvores, homens e mulheres-cadáveres. Jovens? Mas, cadáveres. Máfias apresentando seu espetáculo civilizatório: crânios, ossos e hipnose coletiva. Além disso, essa tradição é hereditária. O político não é uma pessoa, é um parlamentar. O juiz não é uma pessoa: é um juiz. Um médico não é uma pessoa: é um médico. E sob seus argumentos científicos e, portanto, incontestáveis: ciências políticas, ciências médicas, todo o horror é permitido, todo clamor é conduzido, toda a vergonha se esconde por trás das cortinas do palco no qual a verdade foi proibida de adentrar.

A patologia é hereditária. E a massa só é chamada a partir do centro. Do centro para a periferia e, novamente, da periferia para o centro, neste circo fortalecido pela propaganda e pelos “engenheiros da educação” para o sistema e seu mercado.

Demo-cracia, ARROGÂN-CIO-CRACIA é o seu nome!

Arrogância de castas incultas, arrogância das máfias ainda protegidas por seus soldadinhos de chumbo. Arrogância virtual.

A verdade queima.

(1) Que se entenda por hierarquia, por exemplo, a luz do sol, a verdade inexpugnável, independente de nosso denominado sensualismo, jamais esta hierarquia vulgar e predatória.


(2) Que se entenda por autoridade a sabedoria, a consciência, a liberdade individual, jamais esta autoridade que pretende reduzir pessoas a classificações numéricas de exércitos especializados.


Vera Vassouras é advogada, Mestra em Filosofia do Direito, professora universitária, tradutora e escritora, autora de O mito da igualdade jurídica no Brasil - Notas críticas sobre a igualdade formal.


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