Cidadania, Comunicação e Direitos Humanos * Judiciário e Justiça * Liberdade de Expressão * Mídia Digital Editoria/Sônia Amorim: ativista, blogueira, escritora, professora universitária, palestrante e "canalhóloga" Desafinando o Coro dos Contentes...
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Apagão Jornalístico: a velha mídia em estado terminal
O que eles produzem não é jornalismo. Faltam verdade, fidedignidade, objetividade. E sobra leviandade. Eles só se sustentam graças ao aparato corporativo. E aos interesses inconfessáveis a que servem.
O que promovem é desinformação. Ativismo político, como disse alguém.
O governo da presidenta Dilma precisa se dar conta de que Mídia é Quarto Poder. Não dá pra brincar com isso. Eles são profissionais e estão jogando pesado no tumulto, na desestabilização. Estão em estado terminal, acreditamos. Mas ainda podem fazer muitos estragos.
A mídia digital, emancipadora, planetária, feita por todos nós, aos poucos irá ocupando espaços. Caminho sem volta.
Comunicação Cidadã.
O Apagão Jornalístico da Cantanhede e colegas.
O desafio da comunicação pública
Luis Nassif
Coluna Econômica
Em qualquer grande organização privada, a comunicação pública é peça central. Não apenas para combater momentos de crise como para orientar públicos interno e externo, consumidores, funcionários e acionistas sobre objetivos, filosofia da empresa, estratégias etc.
Por isso mesmo, é impressionante o desaparelhamento do setor público brasileiro, em todos os níveis, em relação a esse tema, ainda mais nesses tempos de Internet, redes sociais e notícias online.
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Há duas características fatais no jornalismo:
1. A tendência histórica de escandalização de cada tema. Mesmo quando as informações são verdadeiras, basta forçar um enfoque - especialmente nos temas mais técnicos - para desvirtuar totalmente seu sentido.
2. Com as redes sociais, há o fenômeno da expansão viral das notícias, que tende a crescer exponencialmente.
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Por tudo isso, o monitoramento diuturno das redes sociais - e a pronta resposta às notícias ali disseminadas - faz parte da estratégia de toda grande organização.
O caso Speedy-Telefonica foi um divisor de águas. As reclamações começaram nas redes sociais, ganharam o Twitter e criaram uma avalanche, antes de chegar aos jornais, pegando a empresa no contrapé.
Hoje em dia, toda grande empresa tem uma assessoria monitorando tudo o que sai sobre ela na rede, classificando as notícias como positivas, negativas ou neutras, gerando gráficos em tempo real para identificar as negativas e atuando decididamente sobre notas potencialmente críticas.
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Tenho dois exemplos:
1. Meses atrás soltei um Twitter reclamando da lentidão de minha linha de banda larga. Imediatamente fui contatado por um representante da empresa querendo saber o que estava acontecendo e dispondo-se a corrigir o problema.
2. No meu Blog há uma nota antiga sobre as dificuldades de se romper o contrato com determinada companhia de TV por assinatura. A cada três dias alguém tenta colocar um comentário novo em uma nota antiga. Certamente faz parte da estratégia da empresa concorrente.
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E o que não dizer das organizações públicas, mais amplas, complexas e desorganizadas do que qualquer organização privada?
Tomem-se episódios recentes.
Uma matéria da Folha sustentando que houve uma convocação extraordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, tendo em vista o risco de apagão. Uma comunicação profissional logo de manhã soltaria uma nota para todos os sites e blogs noticiosos explicando que a reunião estava marcada há meses. Mataria o boato no nascedouro. Permitiu-se prosperar durante todo o dia.
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Hoje em dia, o jogo não comporta mais amadorismo e passa pelas seguintes etapas:
1. Em organizações complexas (como as públicas) há a necessidade de assessorias descentralizadas mas obedecendo a uma orientação única.
2. Cabe à coordenação central utilizar ferramentas para monitoramento contínuo das notícias, identificação dos pontos críticos, montagem de estratégias de comunicação para temas mais polêmicos.
3. Há que se ter treinamento, padronização de respostas, compromisso com a objetividade e a veracidade dos dados, indicadores de eficácia.
Nesses períodos de transformação profunda, a comunicação é essencial. E não dá mais para se limitar a marcar audiência com a respectiva autoridade.
Luis Nassif Online
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Blogueira Paulistana: mais vigiada que a Blogueira Cubana
Como muitos de vocês sabem, Yoani Sánchez, a mundialmente famosa blogueira cubana, crítica do regime implantado em Cuba por Fidel Castro, mantém um blog onde relata sua vida e dia a dia em Havana. Yoani já foi detida algumas vezes, dizem que recebe dinheiro dos EUA para escrever contra os irmãos Castro, mas não consta que tenha sua vida particular devassada por câmeras. Yoani, que vive num país comunista e se coloca claramente como inimiga do regime, não é vítima de violação de privacidade como esta blogueira paulistana que vos escreve aqui.
Há mais de um ano, venho sendo monitorada 24 horas por dia por câmeras instaladas na casa ao lado. Minhas movimentações, entradas e saídas de casa, a pé e de carro, visitas que eventualmente receba... tudo é bisbilhotado e controlado pelas câmeras instaladas na casa ao lado, no alto, ilícito denunciado e até o momento ignorado.
Por que existe tanto interesse em vigiar minha vida? Por que existe interesse em saber se estou em casa, se saí, quando saí, com que roupa fui, se voltei, quem me visita... Com que direito bisbilhotam minha vida?
Diante da inércia das autoridades devidamente informadas deste e de outros ilícitos, não me restou alternativa a não ser expor publicamente tais fatos e as violências que venho sofrendo.
A Constituição da República protege a PRIVACIDADE das pessoas.
VIOLAÇÃO DE PRIVACIDADE é VIOLÊNCIA, DELITO, sancionado por lei.
Agora, vejam algumas imagens das câmeras que vigiam a Blogueira Paulistana.
E antes que me esqueça: VIVA CUBA !!!
Câmera instalada na coluna amarela (garagem da casa vizinha),
cobrindo toda a frente e jardim da casa da blogueira (12 metros).
Foto feita da garagem da casa da blogueira.
Câmera instalada na entrada da casa vizinha,
cobrindo o jardim e o portão de entrada da casa da blogueira.
Câmera nos fundos da casa vizinha, cobrindo o quintal
da casa da blogueira e sua saída pela garagem.
A mesma câmera anterior, vista de outro ângulo. Observem a
posição dela, claramente direcionada para o quintal da blogueira.
Além da câmera da esquerda, há outra, na viga de sustentação
do telhado de área de serviço da casa vizinha. Ambas
direcionadas à casa da blogueira.
direcionadas à casa da blogueira.
Câmera instalada no alto e nos fundos da casa vizinha,
cobrindo todo o quintal e os acessos da casa
da blogueira ao quintal e garagem.
cobrindo todo o quintal e os acessos da casa
da blogueira ao quintal e garagem.
Observem o direcionamento das duas câmeras: claramente
voltadas para a casa e o quintal da blogueira.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
SP: Blogueira denuncia invasão de domicílio e crime ambiental
Os que acham que podem tudo, que estão acima das leis e que o Código Penal é para os trouxas e os pobres continuam promovendo ilícitos contra a blogueira Sônia Amorim e sua casa, colocando em risco a vida da cidadã.
A escritora e blogueira vem sendo há quase 15 anos esbulhada, espoliada, lesada - violação de direito de propriedade -, e há 3 anos passou a sofrer violências moral, psicológica, institucional e tentativas de violência física (sequestro? assassinato?).
No Fórum Penha de França, nas delegacias do bairro, na Corregedoria do Município de São Paulo e até na Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo as denúncias da cidadã andam a passo de tartaruga, quando andam.
Urge que as instituições de investigação e controle da criminalidade abram apurações sérias, não burocráticas, "só pra inglês ver", mas averiguações consistentes e consequentes. Chega de "arquivamento" de denúncias!
Ministério Público é Fiscal da Lei, não "Engavetador de Denúncias".
Além das fotos de ataques a pinheiro, bananeira, ipês e mamoneiro que postei ontem, a seguir publico mais cenas explícitas de barbárie cometida contra árvores da minha casa. A vítima desta vez foi uma cerejeira-do-campo (Eugenia involucrata), de quase 3 anos, atacada com "requintes de perversidade", dentro do quintal da blogueira.
Observem a crueldade dos infratores, que esperam a blogueira se recolher e, na calada da noite, trepam no muro ou invadem o quintal da cidadã para cometer atrocidades. Já imaginaram a cena ridícula?
O arbusto estava viçoso, saudável, com cerca de dois metros e meio de altura, folhas verdes e brilhantes etc. A ponta do arbusto foi quebrada há cerca de 60 cm, lascada, para a introdução de veneno, também atirado nos galhos e folhas.
Uma atrocidade cometida por pura falta do que fazer...
Isto também é Violência contra Mulher.
Não me calo.
***Só os ignorante
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O Apagão Jornalístico da Apocalíptica Cantanhede
Os Maias erraram sua previsão. O mundo não acabou em 21 de dezembro de 2012, mas deve acabar nas próximas semanas, segundo a "jornalista" Eliane Cantanhede, da Folha de S. Paulo.
A "Musa da Febre Amarela" incorporou agora novo personagem: a "Musa do Apagão".
O mundo (o Brasil!) não acabará nem em fogo, nem em água, mas "na escuridão". E por culpa do PT, de Lula e da presidenta Dilma Rousseff, claro.
"Jornalismo" leviano, irresponsável. Ou melhor, "guerra política", golpismo, mídia partidarizada, em campanha para 2014.
O "Apagão da Cantanhede", na verdade, é mais um capítulo do "Apagão Jornalístico" de que padece a mídia golpista brasileira.
Os boatos sobre o apagão de energia
Luis Nassif
Na Folha de ontem, a jornalista Eliana Cantanhede forneceu a manchete, ao anunciar uma reunião de emergência do setor elétrico. Segundo a matéria, “a reunião foi acertada entre Dilma, durante suas férias no Nordeste, e o Ministro das Minas e Energia Edison Lobão”.
“Dirigentes de órgãos do setor tiveram que cancelar compromissos para comparecer”, dizia a matéria. Mais: “Dez dias depois de dizer que é "ridículo" falar em racionamento de energia, a presidente Dilma Rousseff convocou reunião de emergência sobre os baixos níveis dos reservatórios, para depois de amanhã, em Brasília.
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Segundo a jornalista, “oficialmente, estarão presentes ao encontro de quarta-feira os integrantes do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), que é presidido pelo ministro das Minas e Energia e é convocado, por exemplo, quando há apagões de grandes proporções, como ocorreu mais de uma vez em 2012”.
Existe um órgão denominado de Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) que reúne-se mensalmente para analisar o setor. Participam da reunião o Ministro, o Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Agência Nacional de Petróleo (ANP), a Agência Nacional de Águas (ANA), entre outras.
As reuniões são mensais e a agenda do ano é definida sempre no mês de dezembro do ano anterior. Portanto, desde o mês passado a tal reunião “extraordinária” estava marcada.
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O mercado de energia elétrica é dividido em dois segmentos. Há os contratos de longo prazo, firmados entre grandes consumidores (entre os quais as distribuidoras) e fornecedores; e o chamado mercado spot, com compras de curto prazo.
Uma informação incorreta, como esta, poderia provocar oscilações de monta nas cotações do mercado spot. Poderia fazer empresas suspenderem planos de investimento, montarem planos de contingência.
Não afetou o mercado porque as grandes empresas, os grandes investidores dispõem de canais de informação específicos. E a própria Internet permitiu a propagação do desmentido do MME acerca do caráter “extraordinário” da reunião.
Mas a falsa notícia levantou até o argumento de que os problemas eram decorrentes da redução da conta de luz – que sequer ocorreu ainda.
***
De concreto, existe a enorme seca que assola o Nordeste, que reduziu as reservas do sistema. Atualmente os reservatórios da Região Nordeste operam com 31,6% da sua capacidade, e os da Região Norte com 41,24%.
Limitações ambientais, além disso, obrigaram a uma mudança na arquitetura das novas usinas hidrelétricas, substituindo os grandes lagos pela chamada tecnologia de “fio d’água”.
***
Mas o modelo prevê um conjunto de usinas termoelétricas de reserva. Sempre que há problemas no fornecimento, elas são autorizadas a operar até que o sistema convencional volte a dar conta do recado.
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O episódio mostra, em todo caso, a dificuldade, hoje em dia, de se dispor de informações objetivas. Na Internet, há um caos informacional; nos jornais, uma sobreposição diária das intenções políticas sobre a objetividade das matérias.
Luis Nassif Online
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013
São Paulo: atentados contra a blogueira Sônia Amorim
Os que lesam esta Blogueira, sob risco de processo criminal, devido a graves ilícitos cometidos contra a cidadã (fraude, estelionato, roubo, atentados...), continuam desafiando o Estado brasileiro e as instituições, apoiados, ao quer tudo indica, por setores do Judiciário, da advocacia, agentes públicos, servidores municipais e infratores de menor porte, paus-mandados e línguas-de-aluguel que nem vale a pena nomear aqui...
Todo este aparato, mais de 30 faltosos, contra uma única cidadã!
Que covardia! Que ridículo! Gente sem-vergonha, despudorada!
Desde fevereiro de 2010, esta Blogueira vem sofrendo perseguições e violências de todo o tipo, inclusive dentro de sua casa, violências desferidas por casal de inquilinos, cooptados, que entraram para o esquema.
As violências continuam.
A Blogueira nada teme e está atenta às movimentações dos faltosos.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Stédile (MST): situação no campo é insustentável
"Uma política de reforma agrária não é apenas a simples distribuição de terras para os pobres. Isso pode ser feito de forma emergencial para resolver problemas sociais localizados. Embora nem por isso o governo se interesse. No atual estágio do capitalismo, reforma agrária é a construção de um novo modelo de produção na agricultura brasileira. Que comece pela necessária democratização da propriedade da terra e que reorganize a produção agrícola com outros parâmetros. (...) É preciso que a agricultura seja reorganizada para produzir, em primeiro lugar, alimentos sadios para o mercado interno e para toda a população brasileira. E isso é necessário e possível, criando políticas públicas que garantam o estímulo a uma agricultura diversificada em cada bioma, produzindo com técnicas de agroecologia."
Presidente do MST diz que Dilma está cega
Em artigo publicado na Carta Capital, João Pedro Stédile expõe
problemas do meio rural e faz duros ataques ao governo;
líder diz que espera que a presidente, como leitora da revista,
veja o artigo, já que "dificilmente algum puxa-saco que a cerca
o colocaria no clipping do dia"
Segundo o líder rural, não há motivação do governo para tratar seriamente diversos temas, como a redistribuição de terras e o assentamento de famílias, e a chefe do Executivo estaria cega "pelo sucesso burro das exportações do agronegócio" que, em sua opinião, "não tem nada a ver com projeto de país".
Por fim, Stédile provoca a presidente, afirmando que espera que ela, como leitora da revista Carta Capital, veja esse artigo, que certamente não seria incluído por "algum puxa-saco que a cerca" no clipping diário.
Leia abaixo a íntegra do texto:
Conflito permanente
A sociedade brasileira enfrenta no meio rural problemas de natureza distintos, que precisam de soluções diferenciadas. Temos problemas graves e emergenciais que precisam de medidas urgentes. Há cerca de 150 mil famílias de trabalhadores sem-terra vivendo debaixo de lonas pretas, acampadas, lutando pelo direito que está na Constituição de ter terra para trabalhar. Para esse problema, o governo precisa fazer um verdadeiro mutirão entre os diversos organismos e assentar as famílias nas terras que existem, em abundância, em todo o País. Lembre-se de que o Brasil utiliza para a agricultura apenas 10% de sua área total.
Há no Nordeste mais de 200 mil hectares sendo preparados em projetos de irrigação, com milhões de recursos públicos, que o governo oferece apenas aos empresários do Sul para produzirem para exportação. Ora, a presidenta comprometeu-se durante o Fórum Social Mundial (FSM) de Porto alegre, em 25 de janeiro de 2012, que daria prioridade ao assentamento dos sem-terra nesses projetos. Só aí seria possível colocar mais de 100 mil famílias em 2 hectares irrigados por família.
Temos mais de 4 milhões de famílias pobres do campo que estão recebendo o Bolsa Família para não passar fome. Isso é necessário, mas é paliativo e deveria ser temporário. A única forma de tirá-las da pobreza é viabilizar trabalho na agricultura e adjacências, que um amplo programa de reforma agrária poderia resolver. Pois nem as cidades, nem o agronegócio darão emprego a essas pessoas.
Temos milhões de trabalhadores rurais, assalariados, expostos a todo tipo de exploração, desde trabalho semiescravo até exposição inadequada aos venenos que o patrão manda passar, que exige intervenção do governo para criar condições adequadas de trabalho, renda e vida. Garantindo inclusive a liberdade de organização sindical.
Há na sociedade brasileira uma estrutura de propriedade da terra, de produção e de renda no meio rural hegemonizada do modelo do agronegócio, que está criando problemas estruturais gravíssimos para o futuro. Vejamos: 85% de todas as melhores terras do Brasil são utilizadas apenas para soja/ milho, pasto e cana-de-açúcar. Apenas 10% dos fazendeiros que possuem áreas acima de 200 hectares controlam 85% de todo o valor da produção agropecuária, destinando-a, sem nenhum valor agregado, para a exportação. O agronegócio reprimarizou a economia brasileira. Somos produtores de matérias-primas, vendidas e apropriadas por apenas 50 empresas transnacionais que controlam os preços, a taxa de lucro e o mercado mundial. Se os fazendeiros tivessem consciência de classe, se dariam conta de que também são marionetes das empresas transnacionais,
A matriz produtiva imposta pelo modelo do agronegócio é socialmente injusta, pois ela desemprega cada vez mais pessoas a cada ano, substituindo-as pelas máquinas e venenos. Ela é economicamente inviável, pois depende da importação, anotem, todos os anos, de 23 milhões de toneladas (s/ç) de fertilizantes químicos que vêm da China, Uzbequistão, Ucrânia etc. Está totalmente dependente do capital financeiro que precisa todo ano repassar: 120 bilhões de reais para que possa plantar. E subordinada aos grupos estrangeiros que controlam as sementes, os insumos agrícolas, os preços, o mercado e ficam com a maior parte do lucro da produção agrícola. Essa dependência gera distorções de todo tipo: em 2012 faltou milho no Nordeste e aos avicultores, mas a Cargill, que controla o mercado, exportou 2 milhões de toneladas de milho brasileiro para os Estados Unidos. E o governo deve ter lido nos jornais, como eu... Por outro lado, importamos feijão-preto da China, para manter nossos hábitos alimentares.
Esse modelo é insustentável para o meio ambiente, pois pratica a monocultura e destrói toda a biodiversidade existente na natureza, usando agrotóxicos de forma exagerada. E isso desequilibra o ecossistema, envenena o solo, as águas, a chuva e os alimentos. O resultado é que o Brasil responde por apenas 5% da produção agrícola mundial, mas consome 20% de todos os venenos do mundo. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelou que a cada ano surgem 400 mil novos casos de câncer, a maior parte originária de alimentos contaminados pelos agrotóxicos. E 40% deles irão a óbito. Esse é o pedágio que o agronegócio das multinacionais está cobrando de todos os brasileiros! E atenção: o câncer pode atingir a qualquer pessoa, independentemente de seu cargo e conta bancária.
Uma política de reforma agrária não é apenas a simples distribuição de terras para os pobres. Isso pode ser feito de forma emergencial para resolver problemas sociais localizados. Embora nem por isso o governo se interesse. No atual estágio do capitalismo, reforma agrária é a construção de um novo modelo de produção na agricultura brasileira. Que comece pela necessária democratização da propriedade da terra e que reorganize a produção agrícola com outros parâmetros. Em agosto de 2012, reunimos os 33 movimentos sociais que atuam no campo, desde a Contag até o movimento dos pescadores, quilombolas, MST etc., e construímos uma plataforma unitária de propostas de mudanças. É preciso que a agricultura seja reorganizada para produzir, em primeiro lugar, alimentos sadios para o mercado interno e para toda a população brasileira. E isso é necessário e possível, criando políticas públicas que garantam o estímulo a uma agricultura diversificada em cada bioma, produzindo com técnicas de agroecologia. E o governo precisa garantir a compra dessa produção por meio da Conab.
A Conab precisa ser transformada na grande empresa pública de abastecimento, que garante o mercado aos pequenos agricultores e entregue no mercado interno a preços controlados. Hoje já temos programas embrionários como o PAA (programa de compra antecipada) e a obrigatoriedade de 30% da merenda escolar ser comprada de agricultores locais. Mas isso atinge apenas 300 mil agricultores e está longe dos 4 milhões existentes.
O governo precisa colocar muito mais recursos em pesquisa agropecuária para alimentos e não apenas servir às multinacionais, como a Embrapa está fazendo, em que apenas 10% dos recursos de pesquisa são para alimentos da agricultura familiar. Criar um grande programa de investimento em tecnologias alternativas, de mecanização agrícola para pequenas unidades e de pequenas agroindústrias no Ministério de Ciência e Tecnologia.
Criar um grande programa de implantação de pequenas e médias agroindústrias na forma de cooperativas, para que os pequenos agricultores, em todas as comunidades e municípios do Brasil, possam ter suas agroindústrias, agregando valor e criando mercado aos produtos locais. O BNDES, em vez de seguir financiando as grandes empresas com projetos bilionários e concentradores de renda, deveria criar um grande programa de pequenas e médias agroindústrias para todos os municípios brasileiros.
Já apresentamos também ao governo propostas concretas para um programa efetivo de fomento à agroecologia e um programa nacional de reflorestamento das áreas degradadas, montanhas e beira de rios nas pequenas unidades de produção, sob controle das mulheres camponesas. Seria um programa barato e ajudaria a resolver os problemas das famílias e da sociedade brasileira para o reequilíbrio do meio ambiente.
Infelizmente, não há motivação no governo para tratar seriamente esses temas. Por um lado, estão cegos pelo sucesso burro das exportações do agronegócio, que não tem nada a ver com projeto de país, e, por outro lado, há um contingente de técnicos bajuladores que cercam os ministros, sem experiência da vida real, que apenas analisam sob o viés eleitoral ou se é caro ou barato... Ultimamente, inventaram até que seria muito caro assentar famílias, que é necessário primeiro resolver os problemas dos que já têm terra, e os sem-terra que esperem. Esperar o quê? O Bolsa Família, o trabalho doméstico, migrar para São Paulo?
Presidenta Dilma, como a senhora lê a CartaCapital, espero que leia este artigo, porque dificilmente algum puxa-saco que a cerca o colocaria no clipping do dia.
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O escândalo da mídia e a "revolução" possível
Entrevista com Noam Chomsky
Linguista, filósofo e ativista político fala da velha e da nova mídia, das redes sociais e das alternativas possíveis para a democratização dos meios de comunicação
"A situação dos media na América Latina é praticamente um escândalo. Estão enormemente centralizados, sob controle privado, são muito reacionários e muito danosos para os países. Dão uma imagem muito distorcida do mundo."
"Tem muitas críticas sobre os media que são justificadas, mas há muito pouco trabalho em tratar de criar alternativas. E pode ser feito, como sucedeu com Democracy Now, que funciona. Mas se os grupos de esquerda utilizassem estas possibilidades que estão ao seu alcance poderiam fazer mais. Há muito para fazer."
"Estive uma vez no Brasil, antes de Lula ser eleito presidente, e uma tarde ele levou-me aos subúrbios do Rio, onde vi algo muito interessante dos media populares que não sei se ainda funcionam. O que acontecia era que um grupo de profissionais dos media do Rio ia a uma praça no meio de uma cidade às nove da noite, prime-time [horário nobre], e punha um caminhão com um ecrã [telão]. Aí passavam programas que eram apenas para as pessoas que estavam sentadas na praça ou nos bares ao redor. Os conteúdos tinham sido escritos por pessoas da zona, apresentados por eles e eram interessantes. Não podia entender tudo o que diziam, mas dei-me conta de que alguns eram comédia, outros eram mais sérios e falavam sobre a crise da dívida ou sobre o HIV, por exemplo. Depois dos programas, uma das atrizes ia com o microfone e uma câmera pedir um comentário às pessoas que tinham assistido. Essas opiniões eram passadas no ecrã gigante e outras pessoas vinham juntar-se. Gerava interação comunitária e essas pessoas não viam a televisão prime-time, e em vez disso preferiam estes programas. Tudo era feito pela comunidade, salvo o equipamento, que vinha da cidade. Coisas como essas podem ser feitas."
Chomsky e as alternativas midiáticas

Nesta entrevista a Tiempo Argentino, Chomsky reflete sobre o problema da concentração da mídia na América Latina, sobre os movimentos (Occupy e outros) que vêm dando sinais de potencial mudança na sociedade dos EUA, sobre a importância relativa das “redes sociais”.
Até que ponto terá o desenvolvimento dos países da América Latina a ver com os Estados Unidos terem estado concentrados noutros temas?
– Quanto menor atenção prestem os EUA ao continente, melhor para este último. Mas não deve dar-se por assente que seja isso que tem ocorrido. De fato, creio que têm estado a prestar bastante atenção. Quando alguma coisa sucede na América Latina, os EUA estão lá. Nos anos 80 estiveram muito ativos na América Central. Nos primeiros anos das ditaduras sul-americanas, os EUA apoiavam todas. Na Argentina, por exemplo. Nos anos 90, a América Latina estava bastante sob controle com a estrutura dos programas de ajustamento, pelo que os EUA não tiveram que se empenhar muito. Mas na última década os EUA têm sido afastados e têm tratado com muito afinco de reconstruir a sua posição. Creio, definitivamente, que tratam de aplicar mais ou menos a mesma política que antes, mas têm menos capacidade para a implementar.
Vários dos governos da América Latina que têm assumido uma posição mais dura na sua relação com os Estados Unidos também se têm defrontado com as corporações midiáticas e têm promovido novas medidas para regular o poder da mídia. Como analisa isso?
– A situação dos media na América Latina é praticamente um escândalo. Estão enormemente centralizados, sob controle privado, são muito reacionários e muito danosos para os países. Dão uma imagem muito distorcida do mundo. Entretanto, não creio que a resposta correta seja que os governos os constranjam, mas sim que ajudem o surgimento de alternativas comunitárias. Em certo ponto isso começou a fazer-se na Venezuela. Por outro lado, quando ocorreu ali o caso do canal RCTV, que não foi encerrado mas sim remetido para a difusão por cabo, escrevi que estava de acordo com os protestos ocidentais e também com o fato de que algo semelhante não podia suceder nos EUA. Mas acrescentei algo que tornou impublicável aqui a minha opinião. Não poderia suceder neste país por uma boa razão: se algo semelhante acontecesse cá, se a CBS, por exemplo, apoiasse um golpe de Estado contra o governo e passados alguns dias esse golpe tivesse sido derrotado, não haveria nenhum julgamento dos diretores e a cadeia não continuaria a transmitir. Simplesmente, os donos e os diretores dessa estação seriam assassinados sem julgamento prévio por um esquadrão especial.
Crê que o confronto aberto entre os governos e os media concentrados ajuda a conscientizar as pessoas acerca dos interesses que estão por detrás da mídia?
– Na maior parte dos países, os governos apoiam os media concentrados. E nos casos em que não é assim, creio que a melhor forma de responder não é pressionando mas desenvolvendo alternativas, que é algo que o governo pode fazer. Alguma coisa de semelhante está querendo desenvolver-se aqui, em pequena escala. Por exemplo, quando o sistema de cabo apareceu nos EUA no início dos anos 70, o Congresso aprovou uma lei que impedia as companhias de cabo de deter monopólios em algumas áreas particulares. Por exemplo na zona onde estamos, Cambridge. Qualquer rede de cabo que quisesse operar aqui devia incluir um sinal comunitário. É uma grande falha da esquerda nos EUA que esta oportunidade não seja aproveitada. Há aqui uma estação da comunidade e se lá fores terás a surpresa de verificar que o equipamento é bastante bom. Não é a CBS, mas é melhor que outros que são propriedade de movimentos políticos. E muitas vezes são dirigidos por lunáticos porque a esquerda não os usa. Chegam a muita gente e poderiam ser usados como uma base alternativa de media.
O que é que falta aos grupos de esquerda para tirar partido dessa possibilidade?
– Isso é o que eu venho discutindo há 40 anos. Tem muitas críticas sobre os media que são justificadas, mas há muito pouco trabalho em tratar de criar alternativas. E pode ser feito, como sucedeu com Democracy Now, que funciona. Mas se os grupos de esquerda utilizassem estas possibilidades que estão ao seu alcance poderiam fazer mais. Há muito para fazer.
E não seria importante apenas o conteúdo, mas também a forma como se concretiza…
– Estive uma vez no Brasil, antes de Lula ser eleito presidente, e uma tarde ele levou-me aos subúrbios do Rio, onde vi algo muito interessante dos media populares que não sei se ainda funciona. O que acontecia era que um grupo de profissionais dos media do Rio ia a uma praça no meio de uma cidade às nove da noite, prime-time [horário nobre], e punha um caminhão com um ecrã [telão]. Aí passavam programas que eram apenas para as pessoas que estavam sentadas na praça ou nos bares ao redor. Os conteúdos tinham sido escritos por pessoas da zona, apresentados por eles e eram interessantes. Não podia entender tudo o que diziam, mas dei-me conta de que alguns eram comédia, outros eram mais sérios e falavam sobre a crise da dívida ou sobre o HIV, por exemplo. Depois dos programas, uma das atrizes ia com o microfone e uma câmera pedir um comentário às pessoas que tinham assistido. Essas opiniões eram passadas no ecrã gigante e outras pessoas vinham juntar-se. Gerava interação comunitária e essas pessoas não viam a televisão prime-time, e em vez disso preferiam estes programas. Tudo era feito pela comunidade, salvo o equipamento, que vinha da cidade. Coisas como essas podem ser feitas.
Processos políticos como a Primavera Árabe, o movimento Occupy ou o dos indignados comoveram sociedades com as suas posições. Crê que estes grupos têm potencial revolucionário?
– Creio que são importantes, mas há muitas outras coisas também revolucionárias que estão a suceder. Por exemplo, os desenvolvimentos comunitários e o trabalho em empresas. Alguma coisa dessa iniciativa, de fato, veio da Argentina pós-colapso. Gar Alperovitz trabalha sobre isso e informa sobre lugares como Cleveland, onde há uma rede de empresas cujos proprietários são os seus próprios trabalhadores. Cooperativas que começam a estabelecer ligações a nível internacional com outras empresas em Espanha. Hoje isso existe em vários lugares do país e é revolucionário. Não sei se alcançará uma escala capaz de mudar a sociedade, mas é uma das coisas mais importantes que estão a acontecer.
Uma jovem espanhola que participou do movimento de indignados em Espanha dizia que admirava a experiência de Occupy Wall Street porque no seu país reclamavam direitos que tinham perdido e nos EUA por direitos que nunca tiveram…
– É que aqui luta-se pelos direitos de outras pessoas. Nenhum dos que está no movimento Occupy e passa o tempo no parque Zuccoti é pobre. Todos têm, pelo menos, um prato de comida na mesa e não vêm dos bairros mais desprovidos. Essa gente não tem tempo para estas coisas. No entanto, creio que estão a conseguir chamar a atenção dos media em muitos aspectos. Os elementos que Occupy trouxe colocaram-se no centro da agenda nacional. Antes falava-se muito pouco da desigualdade, da fraude bancária, da compra das eleições. Estas coisas agora estão a ser discutidas. De fato, o slogan de “somos os 99% vs. o 1%” pode ler-se na imprensa de negócios e todos falam dele. Para além disso, estão a fazer coisas. Por exemplo, com o furacão Sandy de há um par de semanas, os primeiros a sair para ajudar foram os jovens de Occupy. Também estão a ajudar as pessoas que estão a ser desalojadas das suas casas pelos bancos: apoiam-nos para resistir ao desalojamento ou vão ao tribunal protestar. Por isso, pode transformar-se em algo muito construtivo. De fato, creio que o mais importante que fizeram, que a maioria da imprensa não reconhece e de que ninguém fala, é que romperam a atomização da sociedade. Esta é uma sociedade em que as pessoas estão sós. É quase sociopático. As pessoas não se juntam para falar, ficam presos na televisão, no consumo de bens. Mas Occupy reuniu pessoas, pô-las a fazer algo de forma cooperativa. Abriu um espaço de discussão, interação. As pessoas estão a aprender a fazer coisas juntas e isso é muito importante, em especial numa sociedade como esta. Se durar, pode ser importante para inspirar mais grupos.
Pensa que deste movimento pode decorrer uma mudança mais profunda na sociedade?
– É um elemento entre outros. Há muitas coisas a acontecer no país. Este foi uma espécie de faísca e isso é visível. Foi visível no fato de que no dia seguinte a Zuccoti havia movimentos Occupy em todo o país e, na realidade, em outras partes do mundo. E passou apenas um ano, não pode dizer-se mais, mas foi muito bem sucedido. E se puderem associar-se a outros movimentos, como o das empresas recuperadas, pode ser muito interessante.
Um olhar sobre as redes sociais
O gabinete de trabalho de Noam Chomsky está repleto de livros. Entre duas estantes em forma da letra L que ocupam dois dos lados do compartimento, há apenas um espaço livre para alguns porta-retratos familiares. Não surpreende que Chomsky admita não ver muita televisão e que se informa a partir de “toneladas de leitura”. “Leio a imprensa nacional, a imprensa de negócios, a internacional. Um sem-fim de periódicos com um amplo espectro de perspectivas, inclusive conservadoras”, descreve. O cronista confessa então que antes deste encontro reviu os seus dados biográficos na Wikipedia.
“Eu uso a Wikipedia para algumas coisas. Se queres saber sobre matemática ou história medieval, está bem. Mas se se trata de algum tema contemporâneo e controverso, então há que ser muito cauteloso.”
E as redes sociais?
- Não tenho uma opinião porque estou fora de moda. Dizem-me que tenho uma conta de Facebook, mas não fui eu que a abri.
Atribuem-lhes um papel importante na Primavera Árabe.
– Aqui também têm um papel importante. Qualquer grupo ativista anuncia o que faz nas redes sociais para atrair pessoas para as suas atividades. Acho bom, não tenho nenhuma objeção contra isso. Mas o máximo que faço é ler ocasionalmente blogues. Creio que é uma grande coisa que qualquer um possa dizer o que quiser na Internet, mas significa que 99% são coisas sem importância.
Costuma fazer-se a crítica de que afetam o jornalismo acelerando os processos e contribuindo para a perda de análises e de verificação de dados…
Por isso leio os diários e não as redes sociais. Mas na Primavera Árabe sucedeu algo de interessante. Em dada altura (o presidente do Egipto Hosni) Mubarak encerrou a Internet. A interação cresceu porque em vez de tuitar as pessoas falavam entre si e a organização avançou mais rapidamente. Quer dizer, aceleram as coisas, mas não tanto.
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