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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Mulheres Brasileiras: Maria da Paixão


Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher e ao Mês da Mulher, o governo da primeira mulher presidente da República do Brasil publicará no Blog do Planalto artigos sobre importantes e lutadoras mulheres brasileiras. Mulheres guerreiras, mulheres do povo.

A série teve início hoje, com a trabalhadora rural Maria da Paixão, da cidade de Lapão, Bahia, que vive, como outras tantas mulheres, da agricultura familiar.

Dona Maria da Paixão planta hortaliças - alface, brócolis e coentro - e também mamona, para a produção de biodiesel. Além disso, dedica-se à criação de caprinos.

A presidenta Dilma estará amanhã, terça, em Irecê, Bahia, para lançar programas que beneficiam trabalhadores rurais, em especial as agricultoras como Maria da Paixão.

Mais  detalhes sobre os programas governamentais e sobre a cerimônia de amanhã, "Trabalho e Cidadania", no sertão baiano, abaixo e no post completo do Blog do Planalto.



‘Ônibus da cidadania’ permitirá emissão de bloco de notas fiscais às trabalhadoras rurais


Maria da Paixão, produtora familiar rural de Lapão (BA), é uma das
mulheres que poderá ser beneficiada pelo programa 'Bloco da Produtora Rural'.
Foto: Rafael Alencar/PR

Selo da série especial Dia internacional da Mulher

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Blog do Planalto traz uma série especial dedicada às mulheres brasileiras. Nosso primeiro post é sobre a agricultura familiar, atividade que vem resgatando cada vez mais famílias da pobreza e que é tema central da Cerimônia de Início das Comemorações do Mês da Mulher: Trabalho e Cidadania, que acontece amanhã (1/3), em Irecê (BA).

A partir desta terça-feira, as trabalhadoras rurais terão acesso à emissão do ‘Bloco da Produtora Rural’ – serviço que permite a emissão de notas fiscais para a comercialização de seus produtos – sem precisar se deslocar de seus municípios. A ação que será lançada nacionalmente em Irecê fará parte do Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR), que leva a emissão de documentação civil e trabalhista em ônibus que percorrem todo o território nacional.

Expresso Cidadã levará a emissão gratuita do Bloco da Produtora Rural a todo o território brasileiro. Foto: Rafael Alencar/PR

Com o bloco de notas fiscais em mão, a trabalhadora rural poderá comercializar sua produção de formal legal e expandir a venda para mercados, órgãos públicos e à comunidade em geral. O documento possibilita à trabalhadora ter uma inscrição estadual e registrar toda a movimentação de compra e venda dentro da propriedade rural no bloco.

Outra garantia é a inscrição como asseguradas especiais no INSS e comprova a atividade agrícola para fins previdenciários (aposentadoria, auxílio maternidade, auxílio doença).

O foco do programa são as produtoras familiares que tocam a produção de forma artesanal, muitas vezes organizadas em associação de mulheres, e que ficam impossibilitadas de expandir a venda de seus produtos por não poderem emitir o documento fiscal.

Maria da Paixão Rocha, produtora familiar do município de Lapão, no sertão baiano, é uma das trabalhadoras foco da ação. Há 15 anos dona Paixão, como é conhecida, toca a produção de uma pequena propriedade rural que divide com a família, onde é praticada a policultura. Lá se encontra desde hortaliças como alface, brócolis e coentro, à mamona – utilizada para a produção de biodiesel –, além da criação de caprinos. Tudo o que é produzido pela família é vendido para a comunidade local.

(...)

Dilma e Gandhi: alguma semelhança?

“Tia Dilma na festa da Folha é prova de feminina astúcia, de fragilidade confessa, de amnésia, de ingenuidade ou de falta de vergonha na cara...”

     (Nilson Lage, jornalista e professor aposentado da UFSC, em seu twitter)



A ida da presidenta Dilma Rousseff ao "serpentário político-midiático" armado para a comemoração dos 90 anos do jornal Folha de S. Paulo na semana passada continua rendendo manifestações e análises. De blogueiros, leitores de blogs, jornalistas, estudiosos da comunicação, cidadãos e cidadãs que pensam o Brasil.

Não foi, pois, um acontecimento "menor". Tem propiciado variados pontos de vista, estimulado debates e observações, das mais leves às mais veementes e apaixonadas.

O tempo dirá se a atitude da presidenta foi a mais acertada para o País e para a cidadania.

O artigo abaixo contribui com novas reflexões. Apreciem sem moderação.



Dilma e Gandhi - o sal e o pré-sal

 Samuel Lima
Docente da UnB, professor visitante na UFSC e pesquisador do objETHOS


O gesto de um homem chamado Mahatma Ghandi atravessou o tempo. Corriam os anos 1930 e os tiranos ingleses haviam proibido a extração e comércio de sal em território indiano porque pretendiam eliminar qualquer competição com o seu produto. A decisão dos colonizadores condenava milhares de pessoas à fome porque colher sal era crime. Desafiando a ordem injusta, um homem aparentemente frágil catou um punhado de sal, numa praia de Gujarat, ergueu o punho e começou a luta efetiva pela independência do país, que seria vitoriosa 20 anos depois. Um homem, um punhado de sal e um gesto que mudou a História.

Dilma Rousseff, que comanda um governo cuja jóia são as riquezas existentes na camada pré-sal, pode ter marcado sua trajetória no poder a partir de outro gesto simbólico. No dia 21 de fevereiro, Dilma foi ao encontro de seus algozes, “comemorar” o aniversário de 90 anos do jornal Folha de S. Paulo. Mais que uma simples visita de cortesia a um veículo que publicou sua ficha falsa na capa (e jamais fez nenhuma autocrítica) e respaldou um de seus colunistas mais conhecidos a xingá-la de “vadia e vagabunda”, ela fez um discurso incompreensível àqueles que lutam pela liberdade de expressão e o direito à comunicação no país. A síntese é clara: “Ao comemorar o aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, este grande jornal brasileiro, o que estamos celebrando também é a existência da liberdade de imprensa no Brasil”.

Gesto e discurso são objetos de intenso debate na blogosfera, a partir de alguns conhecidos “blogueiros sujos” (assim chamados por José Serra), que na recente disputa eleitoral posicionaram-se ao lado da presidenta. O jornalista Leandro Fortes escreveu:

O pecado capital de Dilma foi ter, quase que de maneira singela, corroborado com a falsa retórica da velha mídia sobre liberdade de imprensa e de expressão. (...) A presidenta usou como seu o discurso distorcido sobre dois temas distintos transformados, deliberadamente, em um só para, justamente, não ser uma coisa nem outra. Uma manipulação conceitual bolada como estratégia de defesa e ataque prévios à possível disposição do governo em rever as leis e normas que transformaram o Brasil num país dominado por barões de mídia dispostos, quando necessário, a apelar para o golpismo editorial puro e simples. (Fonte: http://brasiliaeuvi.wordpress.com/)

O repórter especial de CartaCapital enxerga, na atitude de Dilma, algo a mais. Trata-se, para Fortes, de “uma concessão que está no cerne das muitas desgraças recentes da história política brasileira, baseada na arte de beijar a mão do algoz na esperança, tão vã como previsível, de que esta não irá outra vez se levantar contra ela. Ledo engano. (...) A presidenta conhece a verdadeira natureza dos agressores. Deveria saber, portanto, da proverbial inutilidade de se colocar civilizadamente entre eles”, vaticina o jornalista. Já o blogueiro Altamiro Borges, observa a cena a partir de duas interpretações possíveis:

Os mais otimistas afirmam que Dilma cumpriu o seu papel de chefe de Estado, que não tinha como evitar o ritual – junto com ela estiveram os presidentes do Senado e da Câmara, ministros do STF e lideranças políticas de distintos partidos. Já os mais incrédulos criticam a participação da presidenta na homenagem aos algozes da Folha. Alguns suspeitam que sua atitude sinalize nova cedência aos barões da mídia. (Fonte: http://altamiroborges.blogspot.com/)

Ao coro dos contentes veio se juntar o jornalista Alberto Dines, decano do Observatório da Imprensa, em comentário radiofônico publicado no OI (25/02/11). Para Dines, a participação da presidenta nos 90 anos da Folha é parte da "Doutrina Dilma para a Mídia". Para o Observador, sua presença no convescote dos Frias é uma “saudação a uma imprensa livre e plural”.

Estranha coincidência, três dias depois coube ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT), “suitar” a fala de Dilma na festa da Folha. Bernardo foi categórico e sinalizou o recuo, já desqualificando o projeto herdado do governo Lula: só irá encaminhar o projeto do novo marco regulatório do setor no segundo semestre, à apreciação do Congresso Nacional, porque “tem grandes chances de ter uma besteira no meio” (grifo nosso). Por “besteira” entenda-se algo que possa contrariar os interesses dos empresários da comunicação...

Mais que meia palavra, basta um gesto para bons e maus entendedores. Ao invés de um punhado de sal erguido contra os grilhões da ditadura midiática, a mandatária maior do país preferiu desafiar a lógica política. O enigma está posto e o maestro Nilson Lage (professor aposentado da UFSC) deu algumas pistas, em seu twitter: “Tia Dilma na festa da Folha é prova de feminina astúcia, de fragilidade confessa, de amnésia, de ingenuidade ou de falta de vergonha na cara...”. A ver.


objETHOS





domingo, 27 de fevereiro de 2011

A sutileza dilmista

Assim como eu gostaria de ler artigo do veterano Mino Carta sobre a ida da presidenta Dilma Rousseff à festa dos 90 anos da Folha de S. Paulo, e saber de seu ponto de vista sobre a controversa participação e sobre as linhas do discurso onde Dilma enaltece o jornal e seu fundador, fiquei feliz em encontrar um texto do veteraníssimo Alberto Dines no Observatório da Imprensa.

Dines não se estende muito, mas viu pontos positivos na presença, atitudes e palavras da presidenta. E detectou alguns traços de uma provável "Doutrina Dilma para a Mídia".

Fiquemos atentos, então, às considerações do respeitadíssimo jornalista e "observador".




O recado da presidente

Alberto Dines


Comentário para o programa radiofônico do OI, 25/2/2011
A participação da presidente Dilma Rousseff nas comemorações dos 90 anos da Folha de S. Paulo ofereceu mais alguns elementos para compor uma "Doutrina Dilma para a Mídia".

A presidente concordou em escrever um texto sobre a efeméride no jornal, mas não mencionou o nome da Folha. Compareceu e discursou no evento na Sala São Paulo (segunda, 21/2) porque ali estavam representados todos os poderes, mas na sua oração embutem-se alguns reparos que não podem ser ignorados. O mais importante deles é a sua saudação a uma imprensa livre e plural.


Novas posições


 O adjetivo plural merece uma análise mais atenta porque raramente é utilizado nas proclamações a favor da imprensa. Ao contrário: sua utilização é mais frequente nos círculos e textos que criticam a concentração e a falta de diversidade da nossa mídia.

A sutil lembrança de que o primeiro periódico brasileiro foi impresso no exterior para escapar do controle da censura inquisitorial também não pode passar despercebida porque, em 2008, tanto a Folha como a maioria dos grandes veículos brasileiros ignoraram ostensiva e coletivamente os 200 anos da entrada do Brasil na Era Gutenberg.

De forma discreta, em clave baixa, a presidente Dilma Rousseff marca novas posições e demarca-se de outras sugerindo indiretamente à imprensa um comportamento menos badalativo e mais perspicaz, menos ruidoso e mais profundo.




Dilma na Bahia: o sertão vai "ferver"...

Depois do "beija-mão" no "andar de cima" (ou seria mais adequado "na cobertura"?), ao som de Villa-Lobos, na majestosa Sala São Paulo, na festa dos 90 anos da Folha, segunda-feira passada, a semana que se inicia promete emoções verdadeiras para a presidenta Dilma, que desembarcará nesta terça-feira em Irecê, em pleno sertão baiano.

Estão previstos um anúncio de reajuste para o programa Bolsa Família e inaugurações, dando início à semana de comemorações pelo Dia Internacional da Mulher. Afinal, 93% dos usuários do cartão do importante programa de distribuição de renda são mulheres.

Apesar de uma região conturbada pelos desequilíbrios climáticos e pelas disputas de poder, acreditamos que a presidenta Dilma se sentirá muito mais à vontade e confortável entre o povo simples e trabalhador, sendo acolhida sem artificialismos ou falsidades.

Abaixo artigo do escritor e jornalista baiano Vitor Hugo Soares a respeito da visita.


  

Visita ao andar de baixo


Antonio Cruz/Agência Brasil
Dilma pisará o solo de uma região emblemática de contrastes e confrontos da política e da economia no Nordeste
Dilma pisará o solo de uma região emblemática de contrastes e confrontos da política
e da economia no Nordeste

Vitor Hugo Soares

De Salvador (BA)


Na terça-feira que vem desembarca na Bahia, em sua primeira viagem ao estado depois da posse, a presidente Dilma Rousseff - ou presidenta para quem preferir, sem querer jogar mais fogo na fogueira de vaidades linguísticas que cerca o assunto desde antes de receber a faixa, em 1º de janeiro deste complicado e intrigante 2011.

A expectativa é de que Dilma trará um saco de guloseimas para adoçar a boca dos habitantes do andar de baixo, a começar pelo anúncio do novo teto do pagamento do programa Bolsa Família, pedra de toque do governo na área social, apontado como crucial para a ascensão de uma mulher pela primeira vez ao posto mais elevado da Nação.

Pela programação oficial, a presidente descerá na capital para uma cerimônia de inauguração ao lado do governador Jaques Wagner (PT) e aliados. Seu destino principal, no entanto, é a cidade de Irecê, a pouco menos de 500 quilômetros de Salvador, em pleno sertão baiano.

Dilma pisará o solo de uma região emblemática de contrastes e confrontos da política e da economia no Nordeste: dos jogos mais pesados e rasteiros de poder nos períodos de chuvas ou de secas; do mandonismo aberto no tempo dos antigos coronéis e chefes políticos, das pressões e tentativas de amedrontamento feitas pelos mandantes atuais, que seguem ameaçando e tentando intimidar os que se opõem, opinam ou simplesmente informam sobre desmandos éticos, políticos ou mazelas administrativas dos poderosos da vez.

É bem o caso das pressões levadas a efeito há duas semanas pelo prefeito petista do município, que, de dentro de um hospital da cidade, ameaçava por telefone um radialista. Este, no ar, apresentava um programa de notícias e comentários de grande audiência na região, e deu informações concretas sobre o abandono do hospital público e dos programas e atendimentos de saúde em Irecê.

As ameaças do prefeito petista ao radialista para que lhe fosse revelada a fonte da informação colhida no hospital caiu na web, graças a um vídeo postado no You Tube. O elevado número de acesso acabou dando ao fato repercussão estadual e nacional na semana passada. E ainda causa tremores e muito desconforto em arraiais do PT às vésperas da visita da presidente Dilma.

A chegada da presidente (a) no Estado e na cidade governados por seu partido está programada para acontecer exatamente dois meses depois de receber a faixa de comando do País. Dias depois de obter do Congresso sem muita conversa a aprovação do salário mínimo de R$ 545, ao mesmo tempo em que faz acenos de máxima austeridade nos gastos públicos, independência na política externa, defesa plena da liberdade de expressão e de imprensa, tudo envolto em discursos e acenos simpáticos e de linguagem agradável aos ouvidos dos habitantes do andar de cima.

Não só no âmbito da frágil e desconectada oposição, mas principalmente em setores mais nervosos e preocupados da aliança governista, já há quem enxergue semelhanças com a personagem de uma narrativa fantástica do argentino Julio Cortázar, incluída no livro "História de Cronópios e Famas": a membro da família que tinha medo de cair de costas.

"Há anos que a família luta para curá-la da obsessão, mas chegou a hora de confessar nosso fracasso. Por mais que nos esforcemos, a tia tem medo de cair de costas; e sua inocente mania nos afeta a todos, a começar por meu pai que a acompanha fraternalmente a toda parte e vai olhando o chão para que a tia possa andar despreocupada, enquanto minha mãe se esmera em varrer o pátio várias vezes por dia, minhas irmãs apanham as bolas de tênis com que se divertem inocentemente no terraço, e meus primos apagam todos os rastos atribuídos aos cachorros, gatos, tartarugas e galinhas que proliferam lá em casa. Mas de nada adianta, a tia só resolve atravessar os quartos depois de prolongada vacilação, intermináveis observações oculares e palavras desaforadas a qualquer menino que passar por lá nesse momento", escreve Cortázar em trecho marcante de sua narrativa impagável e exemplar.

Voltemos a Irecê, onde a presidente Dilma anuncia no dia 1º de março os novos valores para pagamento do Bolsa Família, em ato pensado para abrir as atividades relacionadas ao Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, e ao qual este ano o governo, por motivos óbvios, pretende emprestar relevância especial.

Dados do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome revelam que 93% dos usuários do cartão são mulheres. Por isso, o governo considera o programa crucial para melhorar a situação econômica das mulheres.

O Bolsa Família foi reajustado pela última vez em setembro de 2009. Os valores pagos hoje pelo programa variam de R$ 22 a R$ 220, dependendo da quantidade de filhos e da renda de cada família beneficiada. O valor médio pago pelo Bolsa Família é R$ 94. O valor do novo reajuste ainda não está definido. O martelo será batido em reunião da ministra de Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Tereza Campello, com Dilma Rousseff, antes da viagem para o anúncio oficial.

Olhos na Bahia, portanto, que na terça-feira Irecê - antigo bastião do carlismo no sertão, tomado agora pelo PT - vai ferver.

A conferir.


Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site-blog Bahia em Pauta ( http://bahiaempauta.com.br/).

Portal Terra





sábado, 26 de fevereiro de 2011

Dilma e a "rebelião da toga"

Todos nós aguardamos com ansiedade o desfecho do "caso Battisti", que voltou ao STF por interferência do ministro Cezar Peluso. O presidente do Supremo, contrariando a expectativa de muitos ativistas e juristas, não libertou o escritor italiano Cesare Battisti após o presidente Lula decidir soberanamente por sua não extradição para a Itália.

Em início de governo, mais um "desafio" vindo do Judiciário é apresentado para a presidenta Dilma encarar.

Uma questão que envolve "reposição salarial", de cunho portanto econômico, está sendo colocada como questão política pela Associação dos Juízes Federais, envolvendo a relação independente e harmônica dos três poderes da República.

A AJF não aceita a decisão da presidenta Dilma de não negociar com a categoria, afirma que não se deixará intimidar e cogita colocar na interlocução com o governo o ministro da Defesa e jurista Nelson Jobim e o também jurista vice presidente Michel Temer.

Abaixo a notícia detalhada. Vamos acompanhar o desenrolar da questão aqui, e ver como se sai a presidenta Dilma diante das pressões e ameaça de uma eventual "rebelião da toga".



Juiz insinua que governo trata categoria como sindicato de motorista


Presidente da Associação dos Juízes Federais afirma que Planalto não pode igualar Judiciário a outras categorias; sindicato de motoristas promete processo


Fausto Macedo/O Estado de S. Paulo

A toga se declarou nesta sexta-feira "perplexa, chocada" com a decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) de não negociar com a categoria, que reivindica reajuste de 14,79% a título de reposição de perdas inflacionárias. "O governo não pode tratar sua relação com outro poder, que é independente, como se estivesse negociando com sindicato de motorista de ônibus", declarou o presidente da Associação dos Juízes Federais, Gabriel Wedy.

Para Wedy, "o governo precisa evidentemente fazer essa distinção, não pode desconhecer o magistrado como agente político do Estado". A entidade subscreve mandado de injunção ao Supremo Tribunal Federal, por meio do qual os magistrados pleiteiam a reposição sob argumento de que a omissão do Congresso lhes subtrai direito constitucional de irredutibilidade de vencimentos.

Em agosto de 2010, o STF enviou projeto de lei ao Legislativo reivindicando os quase 15%, mas não houve resposta até agora dos parlamentares. A pretensão dos magistrados esbarra na disposição do Palácio do Planalto de promover um ajuste nas contas públicas após o corte de R$ 50 bilhões do orçamento.O governo avisa que não vai se curvar a pressões.

"Ficamos impressionados com essa reação do governo em início de gestão dizendo que vai ficar mais um ano descumprindo a Constituição", afirma Gabriel Wedy. "O governo foi muito inábil, com uma declaração duríssima." "Causa espanto o governo nos comparar a outras categorias", insiste. "Falta tato político ao governo. É importante que a presidente Dilma realize uma interlocução de forma mais qualificada com o STF e com a magistratura do País. Não se está discutindo aumento de salário, mas a funcionalidade do teto constitucional."

Os magistrados elegeram o ministro Nélson Jobim (Defesa) para o papel de negociador e vão pedir a ele que aceite a missão. Na próxima semana vão solicitar reunião com Jobim, a quem consideram qualificado para levar ao governo os argumentos e as razões da classe. Jobim foi ministro da Justiça e presidente do STF. "Ele criou o teto constitucional, quando presidiu o Supremo", destaca Wedy. "É muito respeitado por toda a magistratura e pode resolver esse impasse pela habilidade que tem como jurista e constitucionalista. Pode assessorar a presidente Dilma, tem o perfil ideal."

Michel Temer, vice presidente da República, também poderá ser assediado, segundo planeja a toga. "Temer pode auxiliar o governo para a elevação do nível do debate como constitucionalista que é, tornando-o mais técnico, qualificado e menos emotivo", avalia o presidente da associação dos juízes. "Queremos resolver o impasse."

Os juízes consideram o teto moralizador. "Quando o teto para o funcionalismo foi criado tinha servidor público que ganhava R$ 80 mil de salário", anota Wedy. "Nós defendemos o teto. A questão envolve muito mais direito constitucional do que economia. Por isso, precisamos qualificar o debate."

"O governo não pode ignorar o fato de que os juízes são agentes políticos do Estado com garantias constitucionais que não são nossas, mas da sociedade", adverte o presidente da Associação dos Juízes Federais. Essa declaração de endurecimento do governo, esse tipo de balão de ensaio largado pelo governo não vai nos intimidar, não vai fazer com que a gente pare de negociar." Para os juízes, "a negociação entre um poder de Estado e outro se dá em moldes diferentes da relação entre o governo e um sindicato".

Wedy observa que consta do artigo 2.º da Constituição que os poderes são independentes e harmônicos. "O governo precisa ter a dimensão que está negociando com um outro poder de Estado, que é o STF."

(colaboração Lucas de Abreu Maia)

Portal O Estado



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dilma na Folha: a "mineiridade" explica...

Andei lendo muita coisa na blogosfera sobre a polêmica ida da presidenta Dilma na festa dos 90 anos da Folha de S. Paulo, e reproduzo abaixo comentário de um leitor do Blog do Mello, sr. Giovani, a respeito.

Não deixa de ser um ponto de vista interessante, curioso, que vale a pena ser considerado.



Mello,

 
Eu sou mineiro e vou dizer a você como funciona a cabeça dos mineiros.


O que a Dilma fez foi dar um "rabo-de-vaca" (drible do futebol) na velha mídia. Ela finge que vai para um lado e na verdade, move-se para o outro lado.

Como assim?

É assim que o mineiro age? Sim. Ele faz você pensar que está concordando com tudo o que você está fazendo e falando, porém, enquanto isso, sozinho, longe das câmeras, sem alarde, ele tece os seus próprios planos...

Traição... dirão uns.

Duas caras... dirão outros.

Desonestos... gritará alguém.

Desconfiado... respondo eu.

A questão é simples:

Eles fizeram o convite justamente para que ela declinasse!!! Assim eles - velha mídia - teriam carta branca para sentar o pau e começar a distenção.

Como a Dilma não é boba, nem nada, tratou de ir e FAZER BONITO.

O que vai acontecer é que a Dilma vai atender, A TODOS OS VEICULOS, sempre que solicitada. Porém, deixará sempre o seu ponto de vista. Eles - velha mídia - ficarão com a pulga atrás da orelha...

Aí.... quando a situação do SBT for definida...

Aí.... quando o PNBL for implantado...

Aí... quando a internet tiver a força necessária...

Aí... quando a questão do campeonato brasileiro for definida...

Aí... quando o Estadão pedir concordata...

Aí... a Dilma terá as ferramentas para enfraquecer mais um pouco a velha mídia.

Não será no governo dela que teremos ainda - infelizmente - a democratização dos meios de comunicação. Vai demorar mais um pouco.

Isso não se faz, na base da birra... da cara feia... do agora você me paga!!!

Temos que criar alternativas para o povo. (A internet seria uma delas)

Queira você ou não, temos assuntos mais importantes no Brasil do que se preocupar com o que o William Bonner diz ou deixa de dizer no JN. Aliás ele já é passado...

Enfim, mineiramente a Dilma criará, do JEITO dela, os caminhos para essa transformação.

Continue vigilante.

Você é uma peça importante deste jogo.

Apenas tenha paciência e tente entender como os mineiros jogam esse jogo. É diferente dos paulistas, diferente dos cariocas...

A última vez que um mineiro foi presidente, ele criou o Real (Itamar Franco) e antes deste, JK, apenas mudou a capital do país de lugar.

Não duvide da capacidade dos mineiros.

Obs: O menino do rio (Aécio Never) não serve como exemplo de político mineiro. Ele é apenas o mal a ser combatido diariamente.












Raiou a manhã

Aos meus companheiros e companheiras de jornada...

o meu carinho.





Morning has broken  Raiou a manhã   Cat Stevens

MORNING HAS BROKEN  Raiou a manhã

LIKE THE FIRST MORNING 
Como se fosse a primeira
BLACKBIRD HAS SPOKEN 
O pássaro cantou
LIKE THE FIRST BIRD 
Como se fosse o primeiro
PRAISE FOR THE SINGING  Louvamos
o canto
PRAISE FOR THE MORNING  Louvamos a
manhã
PRAISE FOR THEM SPRINGING  Louvamos o
brotar dessas coisas
FRESH FROM THE WORLD 
Recém-chegadas ao mundo
SWEET THE RAIN'S NEW FALL 
Docemente cai a primeira chuva
SUNLIT FROM HEAVEN 
Iluminada pelos céus
LIKE THE FIRST DEW FALL
Como o primeiro orvalho
ON THE FIRST GRASS  Sobre
a primeira grama
PRAISE FOR THE SWEETNESS OF THE WET GARDEN  Louvamos a
doçura do jardim orvalhado
SPRUNG IN COMPLETENESS 
Brotado por completo
WHEN HIS FEET PASS 
Quando Ele passa
MINE IS THE SUNLIGHT 
Minha é a luz do sol
MINE IS THE MORNING 
Minha é a manhã
BORN OF THE ONE LIGHT EDEN SAW PLAY  Nascida de uma luz que o
 Éden viu vibrar
PRAISE WITH ELATION  Louvamos
com alegria
PRAISE EVERY MORNING
  Louvamos cada manhã
GOD'S RECREATION OF THE NEW DAY 
A recriação divina de um novo dia







quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dilma e a "Brava Gente Brasileira"

Às vezes, quando passamos por algum problema, algum aborrecimento ou contratempo, precisamos recorrer a uma "compensação", que nos conforte, nos devolva o equilíbrio, a alegria...

Acontece muito com nós, mulheres. E aí, um presente, singelo que seja, que se dá a si mesma, pode ser a saída.

No meu caso não funciona muito. Pra mim, a palavra mágica é "chocolate"...

E como agora de manhã não vejo nenhum bombom, nenhum tabletinho que seja da iguaria, aqui por perto, para devorar, me ocorreu "compensar" os aborrecimentos dos últimos dias "provocados" pela presidenta Dilma, recorrendo a ela mesma...

Quem me acompanha aqui, meus "companheiros de jornada na blogosfera", não "seguidores", mas companheiros, quem me acompanha sabe que sou fã da presidenta, que desde meados de outubro estou aqui diariamente, me empenhando para que a belíssima história de vida dela continue sempre ascendendo... para o bem do País e de todos nós, claro!

Pra mim foi duríssimo vê-la aos beijos e abraços com as cobras criadas da escumalha político-midiática, seus algozes. Nossos algozes. Algozes do povo brasileiro.

Então... pra levantar do "tropeço", reequilibrar, continuar a caminhada... não havendo um pedaço sequer de chocolate, fui buscar amparo nela mesma. Fui buscar alguns de seus recentes "melhores momentos".

"Mulher não é só coragem. É carinho também", afirmou emocionada a presidenta em seu discurso de posse.

Então... publico abaixo algumas imagens dela, para trazer a todos nós um pouco de alento, um tanto de carinho, para aquecer, confortar e colocar um pouco de alegria nos nossos corações.


Dilma e a "Brava Gente Brasileira"


Presidenta Dilma Rousseff cumprimenta atletas paraolímpicos durante encontro no Palácio do Planalto _(Brasília, DF, 02/02/2011) _ Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff recebe, no Palácio do Planalto, a delegação brasileira de atletas paraolímpicos _(Brasília, DF, 02/02/2011) _ Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff e a atleta Terezinha Guilhermina durante encontro com a delegação brasileira de atletas paraolímpicos, no Palácio do Planalto _(Brasília, DF, 02/02/2011) _ Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Presidenta Dilma Rousseff posa para foto com a delegação brasileira de atletas paraolímpicos durante encontro no Palácio do Planalto _(Brasília, DF, 02/02/2011) _ Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Fotos de Roberto Stuckert Filho/PR, dia 2 de fevereiro de 2011, quando a presidenta Dilma recebeu no Planalto a vitoriosa delegação de atletas paraolímpicos.




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dilma e a festança da ditadura midiática

E hoje o conhecido jornalista e blogueiro Altamiro Borges se manifestou sobre a ida da presidenta Dilma à festa dos 90 anos do jornal Folha de S. Paulo.

Vejam os leitores que o que a reles blogueira disse aqui, as críticas e reflexões que fez em vários posts, na segunda, terça e hoje, estão muito próximas das do experiente jornalista.

Infelizmente a luz amarela acendeu...


E Dilma foi à festa dos algozes da Folha


Por Altamiro Borges

O exercício de poder produz cenas constrangedoras! A presença de Dilma Rousseff na festa dos 90 anos da Folha é um exemplo típico do chamado “cretinismo institucional”. No passado distante e recente, este veículo esteve em campos diametralmente opostos ao da atual presidenta. Hoje, ele tenta disfarçar o seu oposicionismo. Amanhã, quem sabe como se comportará!

A ditadura no passado distante

No passado distante, a Folha foi um dos baluartes da direita brasileira. Em manchetes e editoriais, ela clamou pelo golpe militar de 1964; ajudou a criar um clima de instabilidade no país para justificar a deposição ilegal do presidente João Goulart. Depois, o seu fundador, Otávio Frias, foi um dos principais aliados dos “generais de linha dura”. A empresa chegou a ceder as suas peruas para transportar presos políticos à tortura. Já nos estertores do regime militar, ela mudou de lado e abraçou a bandeira das Diretas-Já.

Neste período sombrio, a jovem militante Dilma Rousseff participava da resistência à ditadura. Com diferentes métodos de luta, num contexto totalmente adverso, vários patriotas e democratas deram sua vida pela democracia no Brasil. A atual presidenta foi presa e torturada. Escapou da morte por pouco. Para o “seu” Octávio, chefão da Folha, Dilma Rousseff seria mais uma “terrorista”, “subversiva”, “comunista” – apta a ser enviada ao pau-de-arara, a levar choques elétricos, a figurar na lista dos “desaparecidos”.

O golpismo no passado recente

Superada a ditadura, a Folha manteve sua visão de classe. O ecletismo da sua linha editorial só serviu para ludibriar os ingênuos. Conquistada a eleição direta, o jornal elitista e preconceituoso fez de tudo para evitar a chegada do “peão” Lula à presidência. No reinado de FHC, ele foi um defensor militante dos dogmas regressivos e destrutivos do neoliberalismo. A partir da vitória de Lula, em 2002, o diário deixou de lado o seu falso pluralismo e abusou do denuncismo vazio, do oposicionismo golpista.

Para evitar a continuidade do ciclo político aberto pelo operário-presidente, a Folha estampou na capa uma ficha policial fajuta de Dilma - lembrando as manchetes contra os “terroristas” do finado “seu” Frias. O jornal blindou o demotucano José Serra e virou quartel-general da sua candidatura. Seus colunistas de aluguel tentaram justificar o soldo. Josias de Souza, o carona de FHC, não vacilou em usar estereótipos machistas – termos como vadia e vagabunda. Eliane Cantanhêde vibrou com a “massa cheirosa” do PSDB.

Manobra tática ou cedência estratégica?

Toda esta tenebrosa história, distante e recente, foi deixada de lado na festança dos 90 anos do jornal. Os mais otimistas afirmam que Dilma cumpriu o seu papel de chefe de estado, que não tinha como evitar o ritual – junto com ela estiveram os presidentes do Senado e da Câmara, ministros do STF e lideranças políticas de distintos partidos. Já os mais incrédulos criticam a participação da presidenta na homenagem aos algozes da Folha. Alguns suspeitam que sua atitude sinalize nova cedência aos barões da mídia.

Ainda é cedo para tirar conclusões taxativas sobre o significado do seu gesto. A presidenta pode ter decidido ir à “toca dos leões” numa tática para neutralizar ou minimizar os ataques deste veículo. Momentaneamente, a sua visita “diplomática” colocaria na defensiva os filhos do “seu” Frias – e, de quebra, o conjunto da mídia e de seus “calunistas”. Josias de Souza virou fã da Dilma; até o Estadão elogiou a festa do seu rival. Leitores mais hidrófobos devem ter entrado em parafuso. Essa é a hipótese mais otimista.

Um discurso ensaboado

A mais pessimista analisa o gesto não como uma manobra tática ou obrigação de uma estadista, mas sim como opção estratégica de evitar confrontos com os barões da mídia. Numa visão tecnicista e administrativista, Dilma estaria evitando qualquer “marola” – seja com a imprensa golpista ou com o “deus-mercado” (vide o aumento dos juros, o corte dos gastos públicos e a refrega do salário mínimo). Corrobora com esta visão mais negativa o próprio discurso da presidenta no evento festivo – veja íntegra abaixo [já publicado pelo ABC!].

Dilma nada falou sobre seu compromisso de campanha de promover mudanças no marco regulatório para democratizar os meios de comunicação. Nem sequer citou a projeto do seu antecessor sobre regulação da mídia. Ao fazer tantos elogios à Folha, ela não fez sequer uma crítica aos monopólios e às manipulações midiáticas. E a presidente ainda insistiu no erro conceitual ao confundir liberdade de imprensa – que serve hoje unicamente aos monopólios midiáticos – com a garantia da plena liberdade de expressão.

Em síntese, a festança da Folha revela que a ditadura midiática continua exercendo forte poder político e enorme capacidade de sedução – ou de intimidação. Dilma Rousseff, que foi vítima destas corporações no passado distante e recente, parece que ainda carece de uma melhor estratégia para o setor. Em festa, hoje a Folha bajula e acaricia. Amanhã, caso não dobre e enquadre a nova presidenta, o jornal poderá voltar novamente chamá-la de “terrorista”. Aí poderá ser tarde demais para mudanças!






 

Estadão comemora e aplaude discurso de Dilma



Mau sinal. Nuvens negras no horizonte...

Editorial do Estadão, que reproduzo abaixo, comemora o discurso da presidenta Dilma Rousseff na festa dos 90 anos da Folha, na última segunda-feira, em São Paulo. Leiam e tirem suas conclusões.

Chamo a atenção também do leitor para o vídeo que a Folha disponibilizou sobre a festa em seu portal. Atentem para as declarações do presidente do STF, ministro Cezar Peluso, sobre uma eventual tentativa de "controle" (regulação?) da mídia. Ele afirma que "qualquer tentativa de controle da imprensa cairia no Supremo Tribunal Federal, e o Supremo não permitiria"...

O discurso do Quarto Poder, equiparando regulação com censura, já encontra apoiadores no Terceiro?

Ao se defender "regulação da mídia", "marco regulatório das comunicações", não se está, nunca se esteve, defendendo censura ou pensando em colocar mordaças na mídia. Não se trata disso. A esta altura do campeonato, essa questão já deveria estar bastante esclarecida.

A quem interessa continuar repisando ad infinitum essa lengalenga equivocada?




Dilma e a imprensa livre

 

"Uma imprensa livre, pluralista e investigativa é imprescindível para um país como o nosso (...) Devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", disse a presidente Dilma Rousseff no evento comemorativo de 90 anos da Folha de S. Paulo. Não é a primeira vez que a chefe de governo faz profissão de fé na imprensa livre, fundamento básico da democracia. Essas mesmas palavras ela já havia dito quando, recém-eleita, concedeu a sua primeira entrevista coletiva. E voltou a repetir o compromisso, sempre que oportuno. Mas o pronunciamento feito na Sala São Paulo diante de uma plateia de 1.200 convidados tem um significado especial e relevante. Primeiro, pelo inequívoco sentido de alerta, quase uma palavra de ordem sobre a postura que os governantes devem manter em relação à imprensa, claramente explicitada na presença de todos aqueles com quem Dilma divide a responsabilidade de governar. E também, não menos importante, por tudo o que pode significar o simples fato de a presidente da República comparecer naquele evento e afirmar o que afirmou. Pode significar o resgate das relações de respeito e de compreensão mútua dos respectivos papéis que devem caracterizar a convivência entre o poder público e a mídia numa sociedade democrática. É com otimismo, portanto, que, com mais esse vigoroso pronunciamento, se constata que o passado recente de permanente beligerância do poder central contra a imprensa livre é página virada.

Seguidores fiéis do ex-presidente Lula, como o fez há pouco o ministro Gilberto Carvalho, têm sistematicamente desdenhado os elogios a Dilma Rousseff por parte de quem, como este jornal, não poupa críticas a Lula quando julga que as merece. Argumentam que o que se pretende é "desconstruir" a imagem do ex-presidente. Na verdade, não fazem mais do que repetir o que o próprio Lula tem afirmado sempre que surge a oportunidade. Mas não há como deixar de registrar, e aplaudir, a enorme diferença, que não é apenas de estilo, entre as posições firmadas por Dilma numa questão fundamental como esta, a da liberdade de imprensa, e as insistentes diatribes de Lula e seus prepostos contra o trabalho dos jornalistas e a favor do "controle social" da mídia.

A verdade é que há muitos anos não se ouviam, por parte do chefe da Nação, declarações tão auspiciosas sobre os fundamentos da pluralidade democrática e o verdadeiro papel da imprensa. Afirmou Dilma Rousseff: "A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem. E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas".

Em sua intervenção, o diretor de redação do jornal, Otávio Frias Filho, lembrou que, em nome do leitor, os jornalistas exercem a função de fiscais do governo, tendo sempre um compromisso com a democracia e com o desenvolvimento do País.

Essa alusão aos pesos e contrapesos que mantêm o equilíbrio da convivência democrática acabou estabelecendo uma feliz relação dialógica com o discurso da presidente da República, o que abre nova e promissora perspectiva para o futuro da imprensa no País. Pois, se a mídia conhece a extensão de sua responsabilidade social e sabe que essa responsabilidade deve ser cobrada pela sociedade, cabe ao poder público ser fiador do ambiente de liberdade indispensável ao exercício pleno da atividade jornalística. Dilma Rousseff demonstrou firme convicção nesses princípios ao reiterar seu "compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião". E foi além: "Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige, sobretudo, este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações". Um discurso realmente novo.


Dilma na Folha: estratégia ou culto de vassalagem?

"Lutar com palavras, é a luta mais vã. Entanto lutamos, mal rompe a manhã..."

                                                    Carlos Drummond de Andrade


As autoridades máximas dos três poderes da República, acompanhadas por um séquito de ministros de Estado, deputados, senadores, sem contar as "cartas fora do baralho", ex-isso e ex-aquilo, mediocridades e nulidades políticas, todos foram garbosamente prestigiar na última segunda-feira a comemoração dos 90 anos "daquele jornal"...

Aquele, que apoiou a ditadura, que fez campanha eleitoral suja e descarada a favor do candidato tucano na recente eleição presidencial, com direito até a publicação de ficha falsa da "terrorista Dilma Vana Rousseff", e que é considerado por alguns papas do jornalismo brasileiro um dos baluartes do PIG - Partido da Imprensa Golpista.

Antes até do fato consumado, lendo logo cedo a agenda da presidenta na segunda-feira, manifestei aqui opinião a respeito, sugerindo que Dilma mandasse algum representante na festa do que chamei de "serpentário político-midiático".

Em três posts anteriores tratei deste episódio no mínimo preocupante.

Hoje, passada a indignação inicial, mas ainda um tanto aborrecida e desanimada, consigo esboçar aqui apenas algumas indagações, que serão respondidas pelo tempo.

Com suas presenças na tal festa, suas excelências deram respaldo ao apoio e à colaboração do jornal às atrocidades cometidas pela ditadura militar? Com seu comparecimento, minimizaram a sórdida e imunda campanha eleitoral recente, na qual o dito jornal teve posição de vanguarda, chamando a hoje presidenta de terrorista, ladra, abortista, vagabunda?

A presença de suas excelências na cerimônia, sobretudo a da presidenta da República, representa capitulação ao Quarto e Real Poder? Significa um triste, amargo e deplorável culto de vassalagem aos verdadeiros soberanos do País? Ou pode (e deve) ser entendida como estratégia, uma manobra tática numa guerra suja, ditada pela sagacidade, pela razão e pela análise criteriosa do inimigo?

Continuo a confiar na presidenta Dilma, na sua história de vida e nos seus compromissos com o povo brasileiro. E não ignoro que a política "tem dessas coisas", e que como presidenta da República é "adequado" que ela compareça a este tipo de festividade. Mesmo contra sua vontade.

Mas a confiança que tenho na presidenta não me cega, a ponto de impedir a sensação de estranhamento diante de algumas afirmações de seu discurso, a ponto de desconsiderar a louvação do jornal e de seu fundador feita em algumas linhas.

Precisava chegar a tanto?

Ontem postei o discurso integral de Dilma na Festa da Folha. Agora publico o trecho em que a presidenta tece loas, debulha elogios ao jornal e seu fundador. Em seguida reproduzo um Editorial, encontrado no Blog do Mello, escrito pelo sr. Octavio Frias nos anos 70, onde ele manifesta o que pensava sobre o governo ditatorial e sobre Dilma e seus companheiros de luta na derrubada do regime de exceção que oprimia a todos nós.


Presidenta Dilma:

(...) Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S. Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.


Sr. Octavio Frias, Editorial do dia 22 de setembro de 1971:


Banditismo


A sanha assassina do terrorismo voltou-se contra nós.

Dois carros deste jornal, quando procediam ontem à rotineira entrega de nossas edições, foram assaltados, incendiados e parcialmente destruídos por um bando de criminosos, que afirmaram estar assim agindo em "represália" a notícias e comentários estampados em nossas páginas.

Que notícias e que comentários? Os relativos ao desbaratamento das organizações terroristas, e especialmente à morte recente de um de seus mais notórios cabeças, o ex-capitão Lamarca.

Nada temos a acrescentar ou a tirar ao que publicamos.

Não distinguimos o terrorismo do banditismo. Não há causa que justifique assaltos, assassínios e seqüestros, muitos deles praticados com requintes de crueldade.

Quanto aos terroristas, não podemos deixar de caracterizá-los como marginais. O pior tipo de marginais: os que se marginalizam por vontade própria. Os que procuram disfarçar sua marginalidade sob o rotulo de idealismo político. Os que não hesitaram, pelo exemplo e pelo aliciamento, em lançar na perdição muitos jovens, iludidos, estes sim, na sua ingenuidade ou no seu idealismo.

Desmoralizadas e desarticuladas, as organizações subversivas encontram-se nos estertores da agonia.

Da opinião pública, o terror só recebe repúdio. É tão visceralmente contrário às nossas tradições, à nossa formação e à nossa índole, que suas ações são energicamente repelidas pelos brasileiros e por todos quantos vivem neste país.

As ameaças e os ataques do terrorismo não alterarão a nossa linha de conduta.

Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca houve.

E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama.

O Brasil de nossos dias é um país que deseja e precisa permanecer em paz, para que possa continuar a progredir. Um país onde o ódio não viceja, nem há condições para que a violência crie raízes.

Um país, enfim, de onde a subversão - que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da Imprensa, que reflete os sentimentos deste. Essa mesma Imprensa que os remanescentes do terror querem golpear.

Porque, na verdade, procurando atingir-nos, a subversão visa atingir não apenas este jornal, mas toda a Imprensa deste país, que a desmascara e denuncia seus crimes.


(Destaques meus)






terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

PRESIDENTA Dilma na festa da Folha

A presidenta Dilma Rousseff "sobreviveu" ao convívio por algumas horas com as mais peçonhentas cobras criadas da mídia e da política brasileira, e já se encontra em Brasília, para um novo dia de trabalho digno e edificante.

Como autoridade máxima do País, a presidenta compareceu ontem na cerimônia de comemoração dos 90 anos do jornal Folha de S. Paulo, um dos órgãos do PIG, Partido da Imprensa Golpista, na denominação do jornalista-blogueiro Paulo Henrique Amorim.

Importante: no discurso da presidenta, ela deixa claro que está ali como "Presidente da República". Deduzimos daí que a mulher Dilma, a ex-guerrilheira Dilma, a cidadã Dilma jamais iria a tal comemoração. Aqui, portanto, uma pista da razão do comparecimento. Como presidenta é conveniente, é adequado, que ela "não vire as costas" a um dos órgãos do Quarto Poder.

Além da mediocridade midiática, muitas nulidades da política estiveram presentes, entre elas o ex-governador e candidato derrotado José Serra, o ex-presidente invejoso-rancoroso FHC e o ex-presidente defenestrado Fernando Collor.

Luiz Inácio Lula da Silva, maior, melhor e mais importante presidente que este país já teve, felizmente não compareceu. Ou porque não foi convidado. Ou porque teve algum outro compromisso. Ou porque convidado teve a hombridade de recusar o convite.

Saiba nossa opinião a respeito da participação da presidenta, nos posts Por que Dilma vai ao "serpentário midiático"? e Onde Dilma foi mais feliz? 

Abaixo o discurso frio, burocrático e previsível da mandatária da nação.



Presidenta Dilma Rousseff discursa durante comemoração dos 90 anos de fundação da Folha de S. Paulo _(São Paulo, SP, 21/02/2011) _Foto: Roberoto Stuckert Filho/PR
                                                  Foto: Roberto Stuckert Filho/PR


Eu queria desejar boa noite a todos os presentes.

Cumprimentar o sr. Michel Temer, vice-presidente da República, o nosso governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e a senhora Lu Alckmin. Queria cumprimentar o senador José Sarney, presidente do Senado. Queria cumprimentar também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Cumprimentar o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia. O ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal, por meio de quem cumprimento os demais ministros do Supremo presentes a esta cerimônia.

Queria cumprimentar a família Frias, o Luiz, o Otavio, a Maria Cristina, e queria cumprimentar também o senhor José Serra, ex-governador do Estado.

Dirijo um cumprimento especial também aos governadores aqui presentes e também aos ministros de Estado que me acompanham nesta cerimônia. Cumprimento o senhor Barros Munhoz, presidente da Assembleia Legislativa do Estado.

Queria cumprimentar também todos os senadores, deputados e senadoras, deputados e deputadas federais, deputados e deputadas estaduais. Queria cumprimentar o senhor Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Dirigir um cumprimento especial aos representantes das diferentes religiões que estiveram neste palco.

Dirigir também um cumprimento a todos os funcionários do Grupo Folha. Queria cumprimentar os senhores e as senhoras jornalistas. E a todos aqueles que contribuem para que a Folha seja diariamente levada até nós.

Eu estou aqui representando a Presidência da República, estou aqui como presidente da República. E tenho certeza que cada um de nós percebe, hoje, que o Brasil é um país em desenvolvimento econômico acelerado. Que aspira ser, ao mesmo tempo, um país justo, uma nação justa, sem pobreza, e com cada vez menos desigualdade. Para todos nós isso não é concebível sem democracia. Uma democracia viva, construída com esforço de cada um de nós, e construída ao longo destes anos por todos aqui presentes. Que cresce e se consolida a cada dia. É uma democracia ainda jovem, mas nem por isso mais valorosa e valiosa.

A nossa democracia se fortalece por meio de práticas diárias, como os diferentes processos eleitorais. As discussões que a sociedade trava e que leva até as suas representações políticas. E, sobretudo, pela atividade da liberdade de opinião e de expressão. E, obviamente, uma liberdade que se alicerça, também, na liberdade de crítica, no direito de se expressar e se manifestar de acordo com suas convicções.

Nós, quando saímos da ditadura em 1988, consagramos a liberdade de imprensa e rompemos com aquele passado que vedava manifestações e que tornou a censura o pilar de uma atividade que afetou profundamente a imprensa brasileira.

A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem.

E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas.

Ao comemorar o aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo, este grande jornal brasileiro, o que estamos celebrando também é a existência da liberdade de imprensa no Brasil.

Sabemos que nem sempre foi assim. A censura obrigou o primeiro jornal brasileiro a ser impresso em Londres, a partir de 1808. Nesses 188 anos de independência, é necessário reconhecer que na maior parte do tempo a imprensa brasileira viveu sob algum tipo de censura. De Líbero Badaró a Vladimir Herzog, ser um jornalista no Brasil tem sido um ato de coragem. É esta coragem que aplaudo hoje no aniversário da Folha.

Uma imprensa livre, plural e investigativa, ela é imprescindível para a democracia num país como o nosso, que além de ser um país continental, é um país que congrega diferenças culturais apesar da nossa unidade. Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige sobretudo este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações.

Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.

Soube, por exemplo, levar o seu jornal a ocupar espaços decisivos em momentos marcantes da nossa história, como foi o caso da campanha das Diretas-Já. Soube também promover uma série de inovações tecnológicas, tanto nas versões impressas dos seus jornais, como nas novas fronteiras digitais da internet.

Reafirmo nessa homenagem aos 90 anos da Folha de S.Paulo meu compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião.

Sei que o jornalismo impresso atravessa um momento especial na sua história. A revolução tecnológica proporcionada pela internet modificou para sempre os hábitos dos leitores e, principalmente, a relação desses leitores com seus jornais. Como oferecer um produto que acompanhe a velocidade tecnológica e não perca a sua profundidade? Como aceitar as críticas dos leitores e torná-las um ativo do jornal?

Sei que as senhoras e os senhores conhecem a dimensão do desafio que enfrentam, e que, com a mesma dedicação com que enfrentaram a censura, irão encontrar a resposta para esse novo desafio. E desejo a vocês o que nesse caminho sintetiza melhor o sucesso: que dentro de 90 anos a Folha continue sendo tão importante como agora para se entender o Brasil.

É nesse espírito que parabenizo a Folha pelos seus 90 anos. Parabenizo cada um daqueles que contribuem, e daquelas que contribuem, para que ela chegue à luz. A todos esses profissionais que lhe dedicam diariamente o melhor do seu talento e do seu trabalho.

Por fim, reitero sempre, que no Brasil de hoje, nesse Brasil com uma democracia tão nova, todos nós devemos preferir um milhão de vezes os sons das vozes críticas de uma imprensa livre ao silêncio das ditaduras.

Muito obrigada.









segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Onde Dilma foi mais feliz?

Entre amigos, companheiros, gente simples do povo, no Nordeste, ao longo do dia...


         Presidenta Dilma Rousseff assiste apresentação do grupo Samba de Parea da Mussuca após cerimônia de abertura do XII Fórum dos Governadores do Nordeste


Ou à noite, entre inimigos declarados, falsos amigos e raposas velhas da política e da mídia, no "serpentário" paulistano?


Presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer durante comemoração dos 90 anos de fundação da Folha de São Paulo _(São Paulo, SP, 22/02/2011) _Foto: Roberto Stuckert Filho/PR



Fotos: Roberto Stuckert Filho/PR



Por que Dilma vai ao "serpentário midiático"?

A política brasileira tem alguns mistérios "insondáveis", mesmo...

Após passar o dia no XII Fórum de Governadores do Nordeste, em Aracaju, Sergipe, a presidenta Dilma embarcará para São Paulo no final da tarde, devendo participar à noite da comemoração dos 90 anos do jornal Folha de S. Paulo. Haverá um ato ecumênico com representantes de diversas correntes religiosas. Dilma deve assistir também um concerto da Orquestra Sinfônica do Estado, que tocará Villa-Lobos, na Sala São Paulo, no bairro da Luz. Está previsto também um pronunciamento da presidenta.

A Folha de S. Paulo é aquele jornal que apoiou a sangrenta e feroz ditadura militar, que perseguiu, prendeu e seviciou centenas de brasileiros, entre eles a presidenta, na época militante revolucionária. A Folha de S. Paulo é aquele jornal que, se não comandou, foi um dos veículos da mazela midiática mais empenhados na campanha sórdida contra a então candidata Dilma Rousseff na recente eleição presidencial. A Folha de S. Paulo é aquele jornal que no dia 5 de abril de 2009 publicou a ficha falsa da então "terrorista" Dilma nos anos 70...

Presidenta eleita, Dilma não escapou das perseguições da Folha de S. Paulo, que entrou com pedido no Superior Tribunal Militar para ter acesso aos autos do processo da ditadura contra a então jovem subversiva. O jornal chegou a explorar partes do processo, estampando em suas páginas trechos selecionados... 

Imagino que Maquiavel e outros eminentes teóricos da ciência política expliquem a atitude da presidenta ao aceitar o convite para por algumas horas adentrar no "serpentário político-midiático" que será armado na belíssima sala de concertos.

Mas... como gostamos de "abrir a boca" e indagar, perguntamos: Presidenta, será que o vice ou algum ministro... por exemplo, o próprio ministro das Comunicações Paulo Bernardo, não poderia representá-la nesse compromisso? Sair do Nordeste, depois de um dia exaustivo de reuniões com os governadores, e em vez de ir pra casa tomar uma ducha, jantar, relaxar... vir direto pra São Paulo e se atirar nos braços de alguns dos seus algozes?!...

Dizem que o Brasil não tem memória. Esta reles blogueira costuma ter. Para os que não têm, publico abaixo a ficha falsa da presidenta Dilma, estampada na Folha de S. Paulo em 5 de abril de 2009.




FICHA CRIMINAL

A República dos Doutores

Em 28 de janeiro último, a Universidade Federal de Viçosa homenageou o ex-presidente Lula com o título de Doutor Honoris Causa, honraria equivalente a um doutorado acadêmico.

E parece que o "Doutor Lula" não ficará "só" com um doutorado. Segundo dizem, há quarenta (!) universidades, até do exterior, que já se manifestaram no sentido de conceder tal título ao ex-presidente.

No entendimento desta reles blogueira, que condena o emprego indiscriminado do tratamento "doutor", o título concedido a Lula é merecidíssimo. Já foi dito aqui em post sobre o assunto, no dia 29 de janeiro: Lula é Doutor em Política, em Comunicação, em Solidariedade, em Cidadania, em Povo, em Brasil. No mínimo.


Encerrando estas nossas reflexões sobre o tema, publico abaixo um artigo do psicanalista italiano radicado no Brasil, Contardo Calligaris.
 




A república dos doutores


Numa época, as universidades particulares procuravam ansiosamente por doutores. O fato é que, para autorizar novos cursos, o Ministério da Educação exige que o corpo docente inclua pesquisadores qualificados, ou seja, doutores.


Ultimamente, as universidades particulares descobriram que o salário dos doutores é caro. Na medida do possível, querem substituí-los por mestres e graduados.


Esse cálculo poderia comprometer a qualidade do ensino. Mas não é o caso de preocupar-se: os donos das universidades particulares não acharão os mestres e os simples graduados necessários para efetuar a substituição, pois, no Brasil do começo do século 21, só há doutores. Prudente de Moraes pode festejar: a República dos Bacharéis se pós-graduou.


Faça a prova: ligue para advogados, psicólogos, arquitetos e outros profissionais liberais. Ouvirá: "A doutora está em consulta", "Vou ver se o doutor pode atender". Ligue para uma agência de publicidade, um escritório comercial ou uma empresa e tente falar com um dirigente (engenheiro, arquiteto, administradora etc.). É a mesma coisa: "O doutor está em reunião", "Quer deixar um recado para a doutora?".


Mas, trégua de brincadeiras. Em geral, esses profissionais não se apresentam como doutores num encontro com membros de sua classe social. Eles são doutores para suas secretárias e, graças a elas, para quem telefona.


Algumas semanas atrás, para assinar um contrato, fui até um elegante escritório comercial, na área de São Paulo (ao redor da avenida Berrini) que se apresenta como cartão-postal da modernização. Anunciei ao porteiro que eu devia encontrar o senhor E., que estava me esperando. O porteiro, modulando a voz de modo a acentuar a correção de minhas palavras, perguntou: "Você quer ver o doutor E.? E você é o senhor...?". Ele parecia treinado para produzir uma tentativa de intimidação social. Não achei graça e retruquei: "Ah, o senhor E. é doutor? Ele é médico ou tem doutorado em alguma outra especialidade?". O porteiro ficou atônito: como ele deveria reagir a essa resposta imprevista?


As regras do uso legítimo do título de doutor dizem que doutores são os que completam um doutorado e, por consideração especial, os médicos. Não sei se o porteiro conhecia essas regras. No entanto, graças a uma sabedoria vital em nosso mundo, ele sabia certamente que o título de doutor do senhor E. não designa uma excelência acadêmica, mas serve para significar uma distância social.


No caso, não há diferença nenhuma entre ser doutor e ser marquês de Carabás: ambos são títulos cujo uso vale como um gesto de submissão, como uma genuflexão. Reconhecendo que o senhor E. pertence a outra casta, o porteiro me convidava a dar prova da mesma deferência.


Ora, a modernidade triunfa quando a diversidade das origens, das funções sociais e das condições econômicas não altera o fato de que somos todos essencialmente iguais.


Na adolescência, participei da fundação de um pequeno círculo liberal "extremista", em que a gente praticava o costume jacobino de chamar os outros de "cidadão" ou "cidadã" (título que era para nós uma honra suprema), acompanhado da função de cada um: cidadão professor, cidadã estudante, cidadão carpinteiro. Um pouco mais tarde, sonhei com um mundo em que nos chamaríamos um ao outro de "companheiro" ou "companheira".


Isso acontecia numa outra sociedade de doutores, a Itália dos anos 60. A sociedade italiana acabava de se tornar republicana e vivia um conflito agudo entre a modernização acelerada, as desigualdades econômicas violentas e a nostalgia das antigas hierarquias. Com isso, as diferenças sociais modernas (diferenças de formação e de função) eram extraviadas e usadas como indicadores de privilégio e de casta. "Doutor", um título que deveria assinalar a competência específica de um cidadão, era usado para afirmar que ele pertencia à tribo dos abastados.


Entre parênteses: a universidade italiana, cúmplice do atraso nacional, chamava de "doutor" qualquer graduado.


A alusão a uma educação superior, que é contida no título "doutor", serve também para justificar o privilégio: se alguém é doutor, "merece" ser rico. Com isso, a classe média, sempre ameaçada por seu retrocesso, pode acreditar que seu privilégio não seja arbitrário e efêmero. Explica-se assim o mistério das reuniões de condomínio em que todos os condôminos são doutores e doutoras.


Enfim, é provável que o uso de "doutor" como índice e justificação do privilégio social seja um sintoma constante em todas as sociedades em que formas arcaicas de domínio desvirtuam as formas modernas da diferença social. "Doutor", nessas sociedades, não é médico nem pós-graduado: é quem tem cartão de crédito, acesso à sala VIP do aeroporto e carro importado.


Nota. A república dos doutores é especialmente risível hoje, quando a hierarquia social que parece contar é aquela produzida pela notoriedade. Nessa hierarquia, o que importa não são os títulos, mas os nomes próprios, à condição que sejam reconhecíveis. Você acha que Giorgio Armani e Paulo Coelho querem ser chamados de dr. Armani e dr. Coelho?


Contardo Calligaris