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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Teclado do Pepe


ÉTICA PLANETÁRIA



Ele vive de forma coerente com seus princípios e ideais.

Neste mundo esquizofrênico em que vivemos, ele é uma ilha. 

Quem sabe, faz. Quem não sabe, ensina...





Uma pequena antologia de frases de Pepe Mujica

Kiko Nogueira*, DCM




Um aplicativo do Android foi lançado com frases de Pepe Mujica, o presidente do Uruguai. O nome é “La Botonera del Pepe” (“O Teclado do Pepe”, numa tradução livre).

Há desde interjeições típicas de Mujica (“aahhhh….” ou “tá”), ironias (“você está misturando feijão com melancia”) e maldades com repórteres (“vá discutir com sua avó”) até trechos de seu emocionante discurso na ONU.

Eis uma pequena antologia de frases do pequeno gigante bigodudo uruguaio:


Essa velha é pior que o caolho. Ele era político; ela é teimosa. (Sobre Cristina Kirchner e o marido Nestor)

Mas a um papa argentino de 77 anos… você vai explicar a ele o que é um mapa? O que é um mate ou uma garrafa térmica?

Eu não sei se sou um bom presidente. Eu gasto pouco, sou austero, mas não sou pobre. Pobres não são aqueles que têm pouco. São os que querem muito. Eu não vivo na pobreza, eu vivo com a renúncia. Preciso de pouco para viver. 

Se eu tivesse um monte de coisas, teria de lidar com elas. A verdadeira liberdade está em ter pouco.


Eu quero saber a verdade, mas na Justiça eu não creio um caralho.


Esse dinheiro que me sustenta é o suficiente. Alguns vivem com muito menos.

Eu prefiro um caminho mais lento, uma construção menos espetacular, muito mais autogestão. Eu sou um inimigo da burocracia e tenho desconfiança do Estado, que quando se torna grande demais pode substituir a iniciativa das pessoas.

Eu não concordo com Bertolt Brecht. Não há homens imprescindíveis e sim causas imprescindíveis.

Nós não vivemos para cultivar a memória e olhar para trás. Acredito que o homem tem que saber curar suas feridas e caminhar na perspectiva do futuro porque não podemos viver escravizados pelas contas pendentes da vida. É importante não esquecer de nada, mas eu acho que você precisa olhar para o amanhã. Não se vive de recordações. É importante olhar para o passado, mas também é preciso perder o respeito por ele.

O inevitável não é feito para se lamentar. O inevitável deve ser enfrentado.

Eu fiquei 14 anos em cana e duas horas depois de sair dali estava militando.

A vida me bateu. A vida tem muitas coisas amargas, mas também oferece revanches. O problema é saber viver e ter a capacidade de levantar-se quando você cai.

Eu não sou exemplo de nada, eu me movo de acordo com a minha filosofia e os outros têm uma filosofia diferente. Me propus a transformar o mundo e não tenho filhos. Se eu tivesse filhos, eu teria de pensar de forma diferente, mas, bem, eu me dou o luxo de pensar assim.

Na vida você tem que carregar uma mochila de dor, mas não deve viver olhando para a mochila.


Arrasamos as selvas e as substituímos por selvas de concreto. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com remédios, a solidão com eletrônicos e pensamos ser felizes longe do convívio humano.

É uma civilização contra o tempo livre (…) Que não nos permite viver as relações humanas. Só o amor, a amizade, a solidariedade e a família transcendem. (…) O certo hoje é que para a sociedade consumir como um americano médio seriam necessários três planetas. Nossa civilização montou um desafio mentiroso.


* Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.


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O que Barbosa fez para melhorar a Justiça?


REFORMA DO JUDICIÁRIO



"JB disse que a justiça brasileira é a mais confusa do mundo. Ele comandou, recentemente, um julgamento, o do Mensalão, que foi o triunfo do caos e da falta de nexo. (...)

Barbosa criticou a pompa cafona com a qual os juízes se expressam. Ele já ouviu a si próprio? Ou a Marco Aurélio Mello, ou a Gilmar Mendes? Solenes, prolixos, vazios, rebarbativos, patéticos."



                                                                             Banco de Imagens/STF


Joaquim Barbosa critica a justiça como se não tivesse responsabilidade nenhuma por ela ser o que é


Paulo Nogueira, Londres

O que ele fez para melhorar a justiça?

Uma das coisas que mais me irritam é alguém se queixar de alguma coisa que esteja sob seu comando, como se tivesse a impotência do porteiro.

Vi isso muitas vezes na minha carreira. O cara comanda uma empresa ou um departamento e faz críticas como se não tivesse nada a ver com nada.

Seria como se eu, aqui, reclamasse do espírito e dos textos do DCM.

É bizarro o que estou narrando, mas é comum, e imagino que você já tenha visto muita coisa parecida em sua vida.

Veja Joaquim Barbosa, presidente do Supremo. Numa reunião promovida pela revista Exame, ele insultou a justiça brasileira como se fosse contínuo do Supremo, e não presidente.

O que ele fez, numa carreira já longa, para mudar alguma coisa entre tantos problemas que apontou – a maior parte, aliás, acertadamente?

JB disse que a justiça brasileira é a mais confusa do mundo. Ele comandou, recentemente, um julgamento, o do Mensalão, que foi o triunfo do caos e da falta de nexo.

Um dia a posteridade há de usar as devidas palavras pejorativas para falar, por exemplo, da “dosimetria”. Com ares científicos, os juízes estipularam penas que simplesmente não fazem sentido.

Comentei aqui, já. Marcos Valério recebeu uma pena duas vezes maior – 40 anos – do que a aplicada na Noruega a Anders Breivik, assassino confesso de dezenas de jovens.

Ainda hoje, li na mídia estrangeira que um tribunal internacional condenou um antigo ditador africano a 50 anos de prisão por genocídio. Mais um pouco e Valério teria a pena de um genocida.

Um amigo meu, grande jornalista, me contou que um dia acompanhava uma votação do Mensalão numa padaria, ao lado de algumas pessoas. Um juiz proferiu sua longa sentença, e ao fim dela um cliente da padaria fez a pergunta fatal: “Condenou ou absolveu?”

Barbosa criticou a pompa cafona com a qual os juízes se expressam. Ele já ouviu a si próprio? Ou a Marco Aurélio Mello, ou a Gilmar Mendes? Solenes, prolixos, vazios, rebarbativos, patéticos.

JB poderia ter dado o exemplo, e falado em português claro. Na Inglaterra, o juiz Brian Leveson comandou um inquérito sobre os crimes da mídia num inglês compreensível para qualquer pessoa alfabetizada. Acompanhei o caso.

Nada funciona mais que o exemplo pessoal quando você é, como JB, um líder.

Ele tocou em outro ponto: a questão das indicações políticas. Condenou as articulações que os magistrados fazem para obter altas posições.

Ora, todos sabemos o que ele fez nesse campo. Incomodou um alto funcionário do governo Lula no aeroporto de Brasília porque sabia que Lula procurava um juiz negro para o Supremo. Agiu como um tremendo cara de pau para praticar politicagem.

É difícil discordar das críticas de JB à justiça. Nenhuma delas é um erro. Faltou apenas listar outras. Por exemplo, a relação promíscua que juízes de altas cortes têm com a mídia. Para lembrar o grande editor Joseph Pulitzer, jornalista não tem amigo. E nem juiz deveria ter. Pior ainda quando são amigos entre si, a ponto de um dar emprego para o filho do outro.

Não vou ficar surpreso se um dia JB falar uma coisa dessas, à Pulitzer, como se mantivesse distância olímpica dos jornalistas.

Numa frase que entrou para a história, Gandhi disse que cada um de nós devia ser a mudança que gostaríamos de ver no mundo. É uma frase que cai melhor em JB do que seus ternos comprados no exterior.



O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


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