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quinta-feira, 10 de março de 2011

Morre freira torturada pela ditadura

Faleceu, no último sábado, Madre Maurina, inocente freira franciscana presa e torturada pelos militares na ditadura. A religiosa, com 84 anos, vivia num convento da Congregação das Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição, em Araraquara, interior de São Paulo.

Presa em outubro de 1969, foi acusada de acobertar subversivos da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), em Ribeirão Preto.

"Madre Maurina foi uma grande vítima da ditadura militar, porque não tinha nenhuma participação política e jamais participou de organização que pregava a luta armada", disse d. Angélico Sandro Bernardino, bispo emérito (aposentado) de Blumenau-SC.

Publico abaixo coluna de Rose Nogueira homenageando Madre Maurina, no blog do Zé Dirceu, e em seguida entrevista da freira a Luíz Carlos Eblak, a partir do blog da Gabriela Yamada 


Direitos Humanos e Sociedade
Madre Maurina, Minha Lembrança

ImageRose Nogueira

Madre Maurina era clarinha, tão branquinha e sua pele tão rosada que, mesmo naquela situação, a gente prestava atenção.

Ocupei sua cela, a 4 do Fundão do corredor do DOPS. Levaram-na para o presídio Tiradentes naquele mesmo dia para que a cela fosse ocupada por mim, pela Ana Vilma Penafiel e por Tiana, uma professora que gritava ter sido presa por engano. À noite trouxeram Makiko Kishi, presa por ter fotografado o grande Carlos Marighella logo depois de ter sido assassinado pelo Esquadrão da Morte em 04 de novembro de 1969. 

Tiana estava agressiva, inconformada. Quando parou de gritar na pequena janela da porta grossa, disse-nos mais ou menos o seguinte: "Por que vocês não são como a Madre Maurina, que falava comigo e me acalmava? Ela era o meu remédio!" E voltou a gritar na janelinha: "Cadê a Madre Maurina, cadê a Madre Maurina?" Como esquecer daquela noite, em que os gritos de Tiana foram abafados pela outra gritaria que se seguiu, quando os assassinos desceram para o corredor das celas festejando seu crime? Nós não éramos a Madre Maurina, a doce pessoa descrita nervosamente por Tiana. Não tínhamos a sabedoria e o poder para, numa situação daquelas, ser o seu remédio, o bálsamo necessário para alguém que sofria com seu próprio transtorno.   

Nas vésperas do Natal, ao chegar ao presídio Tiradentes, subir a escada monumental da torre e ser levada para a cela da direita, vi dois rostos na cela maior em frente, à esquerda, observando quem chegava. Um deles o da Dulce Maia, que eu ainda não conhecia e depois, até hoje, passou a ser muito querida. O outro, eu reconheci pela descrição constante de Tiana: era clarinha, muito rosada, já tinha idade, de óculos, a bondade percebida à distância. A Madre Maurina.

Ficamos juntas poucos dias no Tiradentes. Logo depois abriram as celas porque a cada dia chegavam mais meninas e ela foi transferida para Ribeirão Preto, se não me engano. Ocupei de novo o lugar da Madre Maurina: fiquei na cela grande, a celona. Sabíamos que tinha sido barbaramente torturada. Havia rumores que teria sido violentada. Acho que nunca houve quem lhe perguntasse isso, não sei. Lembro-me dela com um roupão florido, comprido, e para mim perguntou apenas do meu bebê, que tinha um mês na época da prisão. Contei-lhe que havia tomado uma injeção à força no DOPS para cortar o leite. Ela me disse: "Foi uma descarga de estrógeno". E mais: "massageie os seios, use soutien, tenha cuidado que um dia podem aparecer nódulos...", enquanto segurava minha mão. Esse foi nosso único contato. Ela foi embora, para uma outra prisão.

Acompanhamos, tensas, meses depois, a troca da Madre e de outros companheiros pelo cônsul do Japão Nobuo Oguchi. O mundo todo falou nela, a freira presa pela ditadura. Foi banida, perdeu seus direitos políticos e sua cidadania, não podia voltar ao país. Mas voltou.

Em 1979, quando era repórter do Jornal Nacional, fui escalada para cobrir o julgamento dela, que insistiu em voltar ao Brasil apesar de ter sido banida. Pedi para não ir. Gostaria de ter ido como companheira e não como profissional. Mas o chefe foi irredutível. E ainda ouvi: "sem emoção, hem, sem emoção... postura profissional!" Naquele tempo era assim. Ele estava me pedindo o impossível.

Na auditoria militar, no mesmo lugar onde eu tinha sido julgada anos antes, revi Madre Maurina, ao lado de dom Paulo Evaristo Arns. Dessa vez, ela ocupava uma cadeira daquelas, como a que tinha sido minha: a de ré, na segunda fila - acho que a primeira estava vazia; é assim na minha lembrança. Estava ali como eu tinha estado, diante de um tribunal composto por quatro homens fardados e um juiz de toga no meio. Quem eram eles? Quem pensavam que eram?

A imprensa só podia ficar em pé ao lado daquele pequeno auditório. Fui até a frente, queria vê-la, queria que me visse, dei um adeus rápido com a mão, mas mandaram-me voltar para trás. Ela me olhou e sorriu.

Isso foi um pouco antes da lei da Anistia. Estava nas ruas, em todo lado, a campanha pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Dom Paulo estava certo: era preciso furar as leis da ditadura. A vinda da Madre Maurina para ser julgada foi uma exigência dela e acho que um acordo dele.

Na calçada da avenida Brigadeiro Luiz Antonio todos se abraçavam. Ela fora absolvida. Mas queria voltar para o México, onde vivia num convento - explicou no microfone à minha pergunta sobre o exílio. Depois me olhou nos olhos, sorriu, pegou minha mão e perguntou: "E o nenê, como é que está o nenê?" Nos abraçamos longamente, chorei na hora e choro agora. Voltei pro jornal, levei a maior bronca pela emoção e pedi demissão - mas isso é uma outra história, que continua com o Carlito Maia, irmão da Dulce, a dona do outro rosto da celona, que me fez voltar atrás um mês ou dois depois, para trabalhar no projeto da TV Mulher.


Madre Maurina foi para o México, disse que ia tranquila e não pensava voltar tão cedo. Agora está no céu.

Rose Nogueira é jornalista e membro do grupo Tortura Nunca Mais.  

 

Madre Maurina, por Luís Carlos Eblak

A madre franciscana Maurina Borges da Silveira morreu no final de semana. Única freira a ser presa e torturada durante a época da ditadura militar, em Ribeirão Preto, ela viveu no exílio durante 10 anos no México. Quando voltou, evitou falar com a imprensa sobre o que sofreu, alegando que já havia perdoado a todos.

Mas existe uma entrevista muito bacana concedida ao jornalista Luís Carlos Eblak, hoje editor da Folha Ribeirão (e nosso querido mestre, da faculdade), feita em 1998. No final da entrevista, uma revelação exclusiva sobre a alta sociedade de Ribeirão. Vale a pena ler.



Luis Eblak - Como foi o episódio da sua prisão?

Madre Maurina Borges da Silveira - Havia um grupo, o MEJ (Movimento Estudantil Jovem), que fazia reuniões em uma sala do Lar Santana. Num determinado dia, li nos jornais sobre as prisões. No jornal saiu que o presidente do MEJ, Mário Lorenzato, estava sendo procurado pela polícia. E já fazia muitas semanas que ele não aparecia mais no Lar Santana. Então, fiquei pensando o que teria ocorrido com ele. Fui até a salinha onde eles se reuniam. Tinha, no local, todo aquele material do jornal "O Berro", da FALN, e outras coisas. Não queria aquilo lá, então mandei queimar tudo. Aí a polícia apareceu no Lar para revistar a casa. Mas o que eles acharam foram somente as cadernetas do MEJ. E levaram tudo. Eles foram embora, mas continuei pensando: posso ser presa a qualquer momento... Aí, um dia, eu ainda estava nessa reunião quando eles me chamaram por telefone e avisaram que a polícia estava me esperando lá em casa, para me buscar. E eu cheguei na porta e nem me deixaram entrar. Já me levaram para a delegacia; me levaram para uma sala, na antiga Força Pública, hoje Delegacia Seccional. E lá eu fiquei até as duas da tarde... Fiquei lá. Tinha um monte de coisas no chão, coisas apreendidas pela polícia. Tinha armas, coisas de farmácia, glicerina, que eles falavam que era para fazer bombas... Chegaram seis homens, mais ou menos, entre eles estava o Fleury (Sérgio Paranhos Fleury). Começaram os interrogatórios... que foram os mais bobos que existiam... Uns falavam de virgindade, outros, que eu estava abandonada, outros, que a Igreja não queria mais saber de mim... Outros perguntavam se eu queria sacerdote para me interrogar... E, quando eles falavam essas besteiras, eu não respondia nada, ficava quieta... E, quando eu não respondia, eles me davam choque elétrico... Então, eles esperavam eu descansar para depois começar de novo... E isso durou muito tempo... Até, eu acho, umas três ou quatro da tarde. Vinha um, me interrogava, vinha outro, interrogava...

Eblak - A senhora conhecia os policiais?

Maurina - Não... O único que eu conhecia era o Fleury... Ele ficou danado da vida comigo. Ele me perguntou: "Quer que eu chame meu primo, que é padre, para te interrogar?". E eu não respondi... Passou um tempo, ele perguntou novamente: "Você não responde? Não olha na minha cara?". Eu olhei bem no olho dele... Ele perguntou: "Como você me conheceu?". E eu disse que tinha conhecido o Fleury na revista "Veja", quando ele tinha inventado uma história com os dominicanos. Ele ficou bravo quando falei isso, muito bravo. Simulou, bateu na mesa... E completei: "Foi aí que eu conheci você". Então, ele deu um murro na mesa e saiu da sala.

Eblak - A senhora se referia ao episódio do frei Betto e do frei Tito?

Maurina - Sim. Mas só falei dominicanos porque vi na revista. Depois, veio um delegado. Estava meio bêbado. Começou a me abraçar e eu disse: "Sai pra lá!".

Eblak - Quem era o delegado?

Maurina - Não sei quem era...

Eblak - Ele apenas abraçou a senhora?

Maurina - Sim, sim, só. Só sei que era um delegado de São Paulo. Não sei quem era ele. Ele pegou a arma e queria que eu pegasse na arma. Eu disse não. Disse que não iria pegar a arma. Ele queria que eu deixasse minhas digitais no objeto. Depois me colocaram numa sala com a Áurea Moretti. Ela não podia nem sentar nem deitar, pois estava toda machucada. Nas mãos e nos rostos, eles não faziam nada, mas no resto do corpo sim. Não podia nem falar, comunicava-se só com gestos. No dia seguinte, fomos transferidos para a Cadeia Pública de Cravinhos (23 km de Ribeirão Preto). Ficamos lá um mês. Eu fui interrogada só uma vez. E colocaram o Mário (Lorenzato) na minha frente porque eles diziam que ele era meu amante.

Eblak - A polícia falava isso?

Maurina - Sim, a polícia. E queriam porque queriam que nós confessássemos isso. Tanto que foram escrevendo tudo como se fosse depoimento nosso. Escreviam que eu era comunista, amante do Mário. E a polícia nos fez assinar isso. No dia seguinte, nos levaram para São Paulo. Fomos para o Dops (Departamento Estadual da Ordem Política e Social), depois eu fui para a prisão Tiradentes. Cheguei lá em novembro, fiquei dezembro, janeiro... Aí fui para a Penitenciária de Tremembé, que era cuidada por irmãs. Aí um dia eu estava vendo televisão. Era programa sobre a cultura japonesa. Mostrava todos os costumes do Japão, as características, a religião deles... Até que interromperam o programa e disseram que havia uma notícia importante. "O Presidente da República (Emílio Garrastazu Médici) já liberou os presos políticos que vão ser trocados pelo cônsul japonês e vão para o México", disse o moço da televisão. E o primeiro dos cinco nomes de presos políticos a ser mencionado foi o meu: "Madre Maurina Borges da Silveira". Foi um choque, uma surpresa desagradável.

Eblak - Do seqüestro, a senhora já sabia naquele momento?

Maurina - Já tinha lido. Então, foi como se tivessem jogado um balde d'água sobre mim. Eu não poderia acreditar naquilo. Eu não queria sair do país. Queria provar minha inocência. Então, eu saí de Tremembé, fui para São Paulo. No aeroporto, entrei no avião da FAB e foi a mesma coisa: não me deixaram olhar pela janela, não deixaram ver o Brasil, o meu país, pela última vez... Isso porque nós éramos daqueles que estavam atrapalhando o país, então, não podíamos nem olhar uma última vez para o Brasil, pois tínhamos que sair do país sem ter uma imagem de despedida. No avião, os homens da polícia viajaram o tempo todo armados. No México, queriam que descêssemos algemados, mas o cônsul brasileiro impediu. Saímos do avião sem algemas. E os policiais brasileiros queriam descer no México, mas as autoridades não deixaram. O primeiro a me receber foi o padre Francisco Lages. A princípio, fiquei num hotel, depois fui para a congregação São José, de irmãs católicas do México. No México, foi minha fé em Deus que me sustentou. Por meio dela eu pude ter momentos felizes.

Eblak - A senhora viveu na Cidade do México?

Maurina - Fui para uma fazenda... Era uma cidade chamada Demascalapa, no Estado do México. Fiz trabalhos sociais, com os trabalhadores rurais.

Eblak - Voltando um pouco na história. Antes da prisão dos membros da FALN, a senhora sabia da existência do grupo guerrilheiro?

Maurina - Não sabia. Não sabia de nada. Só sabia do MEJ, mas nada da guerrilha. Nem desconfiava. Um dia, o pessoal do MEJ me pediu para fazer uma palestra sobre amor... Então, nem dá para imaginar que gente de um grupo guerrilheiro se interesse por palestra de uma freira sobre amor.

Eblak - De onde acha que vieram tantos boatos sobre a senhora, como os episódios do seu envolvimento com guerrilheiros e a violência sexual?

Maurina - Porque eles torturaram Mário Lorenzato para que ele mentisse... Agora, tem uma coisa que eu nunca disse a ninguém. É sobre os ricos de Ribeirão Preto. No Lar Santana, orfanato que eu dirigia, tinha muita criança filha de mãe solteira e rica, o que era um escândalo social para a época (1969). Então, as crianças ficavam lá, mas o lugar era para os pobres. Eram cerca de cem crianças, e pelo menos 15 eram filhas de mães solteiras e ricas. Elas estavam tomando o lugar de outras, pobres, que precisavam de fato ficar no orfanato Lar Santana. As famílias davam cheques para nós e tudo o mais, mas o correto era que as crianças vivessem em suas casas. O que eu fiz? Devolvi as 15 crianças. Fui à casa de cada uma delas e as devolvi. E eram mansões, casas enormes. Eu dizia para as famílias: "O orfanato é lugar de criança necessitada que precisa de um lugar para viver, que não tem pai nem mãe". Acho que isso acabou influenciando de algum jeito no que me ocorreu depois. Não sei quem eram as famílias, mas isso deve ter tido ligação com a minha prisão.




Senhora de Poderosas Palavras

Dando continuidade à publicação de textos em comemoração ao Mês da Mulher, falamos hoje de uma poeta.

E também doceira, vendedora de livros, linguiças e banha de porco.

Brasileira. Guerreira. Revolucionária.

A revolução da palavra.



Saber viver, segundo Cora Coralina


Saber viver, segundo Cora Coralina

Nascida Ana Lins Guimarães Peixoto, viveu quase 96 anos; somente na sua última década de vida é que o Brasil a conheceu. Imaginem quem  apresentou Cora Coralina para todos os brasileiros? O mestre de Itabira, que sempre nos diz: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”: Carlos Drummond de Andrade.

Sobre Cora Coralina, Carlos Drummond de Andrade nos diz em uma carta dirigida a ela, sob o título: Carta dirigida a Cora (1983):


“Minha querida amiga Cora Coralina: Seu “Vintém de Cobre” é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia…”


Muito mais que poetisa e contista, era uma sábia! Na sua sabedoria, escrevia coisas simples e repletas de lições para a vida. Uma delas?



Saber Viver


Não sei… Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura… Enquanto dura.



Cedo na vida, aventurou-se pelos lados de São Paulo, saindo dos grotões do velho Goiás. Sempre escreveu, mas não conseguiu, por tantos anos, apresentar sua arte para todos nós. Não participou da Semana de Arte Moderna (1922), pois o marido não tinha permitido! Viúva cedo, foi vendedora de livros, mudou de cidades algumas vezes, vendendo e fazendo linguiças e banha de porco. Soube plantar muitas alegrias e flores em sua vida, mas também colheu muitas pedras durante a caminhada:


Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.




coracoralina Saber viver, segundo Cora Coralina

 

Por fim, manda-nos uma linda poesia, uma singela oração, que pode resumir numa palavra o que são as verdadeiras lições da vida e da sabedoria. Sua bênção, Dona Aninha CORA CORALINA!



Humildade


Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.


                                                           Do site Cuidar de Idosos, do Dr. Marcio Borges, médico geriatra.