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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Dilma e a festança da ditadura midiática

E hoje o conhecido jornalista e blogueiro Altamiro Borges se manifestou sobre a ida da presidenta Dilma à festa dos 90 anos do jornal Folha de S. Paulo.

Vejam os leitores que o que a reles blogueira disse aqui, as críticas e reflexões que fez em vários posts, na segunda, terça e hoje, estão muito próximas das do experiente jornalista.

Infelizmente a luz amarela acendeu...


E Dilma foi à festa dos algozes da Folha


Por Altamiro Borges

O exercício de poder produz cenas constrangedoras! A presença de Dilma Rousseff na festa dos 90 anos da Folha é um exemplo típico do chamado “cretinismo institucional”. No passado distante e recente, este veículo esteve em campos diametralmente opostos ao da atual presidenta. Hoje, ele tenta disfarçar o seu oposicionismo. Amanhã, quem sabe como se comportará!

A ditadura no passado distante

No passado distante, a Folha foi um dos baluartes da direita brasileira. Em manchetes e editoriais, ela clamou pelo golpe militar de 1964; ajudou a criar um clima de instabilidade no país para justificar a deposição ilegal do presidente João Goulart. Depois, o seu fundador, Otávio Frias, foi um dos principais aliados dos “generais de linha dura”. A empresa chegou a ceder as suas peruas para transportar presos políticos à tortura. Já nos estertores do regime militar, ela mudou de lado e abraçou a bandeira das Diretas-Já.

Neste período sombrio, a jovem militante Dilma Rousseff participava da resistência à ditadura. Com diferentes métodos de luta, num contexto totalmente adverso, vários patriotas e democratas deram sua vida pela democracia no Brasil. A atual presidenta foi presa e torturada. Escapou da morte por pouco. Para o “seu” Octávio, chefão da Folha, Dilma Rousseff seria mais uma “terrorista”, “subversiva”, “comunista” – apta a ser enviada ao pau-de-arara, a levar choques elétricos, a figurar na lista dos “desaparecidos”.

O golpismo no passado recente

Superada a ditadura, a Folha manteve sua visão de classe. O ecletismo da sua linha editorial só serviu para ludibriar os ingênuos. Conquistada a eleição direta, o jornal elitista e preconceituoso fez de tudo para evitar a chegada do “peão” Lula à presidência. No reinado de FHC, ele foi um defensor militante dos dogmas regressivos e destrutivos do neoliberalismo. A partir da vitória de Lula, em 2002, o diário deixou de lado o seu falso pluralismo e abusou do denuncismo vazio, do oposicionismo golpista.

Para evitar a continuidade do ciclo político aberto pelo operário-presidente, a Folha estampou na capa uma ficha policial fajuta de Dilma - lembrando as manchetes contra os “terroristas” do finado “seu” Frias. O jornal blindou o demotucano José Serra e virou quartel-general da sua candidatura. Seus colunistas de aluguel tentaram justificar o soldo. Josias de Souza, o carona de FHC, não vacilou em usar estereótipos machistas – termos como vadia e vagabunda. Eliane Cantanhêde vibrou com a “massa cheirosa” do PSDB.

Manobra tática ou cedência estratégica?

Toda esta tenebrosa história, distante e recente, foi deixada de lado na festança dos 90 anos do jornal. Os mais otimistas afirmam que Dilma cumpriu o seu papel de chefe de estado, que não tinha como evitar o ritual – junto com ela estiveram os presidentes do Senado e da Câmara, ministros do STF e lideranças políticas de distintos partidos. Já os mais incrédulos criticam a participação da presidenta na homenagem aos algozes da Folha. Alguns suspeitam que sua atitude sinalize nova cedência aos barões da mídia.

Ainda é cedo para tirar conclusões taxativas sobre o significado do seu gesto. A presidenta pode ter decidido ir à “toca dos leões” numa tática para neutralizar ou minimizar os ataques deste veículo. Momentaneamente, a sua visita “diplomática” colocaria na defensiva os filhos do “seu” Frias – e, de quebra, o conjunto da mídia e de seus “calunistas”. Josias de Souza virou fã da Dilma; até o Estadão elogiou a festa do seu rival. Leitores mais hidrófobos devem ter entrado em parafuso. Essa é a hipótese mais otimista.

Um discurso ensaboado

A mais pessimista analisa o gesto não como uma manobra tática ou obrigação de uma estadista, mas sim como opção estratégica de evitar confrontos com os barões da mídia. Numa visão tecnicista e administrativista, Dilma estaria evitando qualquer “marola” – seja com a imprensa golpista ou com o “deus-mercado” (vide o aumento dos juros, o corte dos gastos públicos e a refrega do salário mínimo). Corrobora com esta visão mais negativa o próprio discurso da presidenta no evento festivo – veja íntegra abaixo [já publicado pelo ABC!].

Dilma nada falou sobre seu compromisso de campanha de promover mudanças no marco regulatório para democratizar os meios de comunicação. Nem sequer citou a projeto do seu antecessor sobre regulação da mídia. Ao fazer tantos elogios à Folha, ela não fez sequer uma crítica aos monopólios e às manipulações midiáticas. E a presidente ainda insistiu no erro conceitual ao confundir liberdade de imprensa – que serve hoje unicamente aos monopólios midiáticos – com a garantia da plena liberdade de expressão.

Em síntese, a festança da Folha revela que a ditadura midiática continua exercendo forte poder político e enorme capacidade de sedução – ou de intimidação. Dilma Rousseff, que foi vítima destas corporações no passado distante e recente, parece que ainda carece de uma melhor estratégia para o setor. Em festa, hoje a Folha bajula e acaricia. Amanhã, caso não dobre e enquadre a nova presidenta, o jornal poderá voltar novamente chamá-la de “terrorista”. Aí poderá ser tarde demais para mudanças!






 

Estadão comemora e aplaude discurso de Dilma



Mau sinal. Nuvens negras no horizonte...

Editorial do Estadão, que reproduzo abaixo, comemora o discurso da presidenta Dilma Rousseff na festa dos 90 anos da Folha, na última segunda-feira, em São Paulo. Leiam e tirem suas conclusões.

Chamo a atenção também do leitor para o vídeo que a Folha disponibilizou sobre a festa em seu portal. Atentem para as declarações do presidente do STF, ministro Cezar Peluso, sobre uma eventual tentativa de "controle" (regulação?) da mídia. Ele afirma que "qualquer tentativa de controle da imprensa cairia no Supremo Tribunal Federal, e o Supremo não permitiria"...

O discurso do Quarto Poder, equiparando regulação com censura, já encontra apoiadores no Terceiro?

Ao se defender "regulação da mídia", "marco regulatório das comunicações", não se está, nunca se esteve, defendendo censura ou pensando em colocar mordaças na mídia. Não se trata disso. A esta altura do campeonato, essa questão já deveria estar bastante esclarecida.

A quem interessa continuar repisando ad infinitum essa lengalenga equivocada?




Dilma e a imprensa livre

 

"Uma imprensa livre, pluralista e investigativa é imprescindível para um país como o nosso (...) Devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio das ditaduras", disse a presidente Dilma Rousseff no evento comemorativo de 90 anos da Folha de S. Paulo. Não é a primeira vez que a chefe de governo faz profissão de fé na imprensa livre, fundamento básico da democracia. Essas mesmas palavras ela já havia dito quando, recém-eleita, concedeu a sua primeira entrevista coletiva. E voltou a repetir o compromisso, sempre que oportuno. Mas o pronunciamento feito na Sala São Paulo diante de uma plateia de 1.200 convidados tem um significado especial e relevante. Primeiro, pelo inequívoco sentido de alerta, quase uma palavra de ordem sobre a postura que os governantes devem manter em relação à imprensa, claramente explicitada na presença de todos aqueles com quem Dilma divide a responsabilidade de governar. E também, não menos importante, por tudo o que pode significar o simples fato de a presidente da República comparecer naquele evento e afirmar o que afirmou. Pode significar o resgate das relações de respeito e de compreensão mútua dos respectivos papéis que devem caracterizar a convivência entre o poder público e a mídia numa sociedade democrática. É com otimismo, portanto, que, com mais esse vigoroso pronunciamento, se constata que o passado recente de permanente beligerância do poder central contra a imprensa livre é página virada.

Seguidores fiéis do ex-presidente Lula, como o fez há pouco o ministro Gilberto Carvalho, têm sistematicamente desdenhado os elogios a Dilma Rousseff por parte de quem, como este jornal, não poupa críticas a Lula quando julga que as merece. Argumentam que o que se pretende é "desconstruir" a imagem do ex-presidente. Na verdade, não fazem mais do que repetir o que o próprio Lula tem afirmado sempre que surge a oportunidade. Mas não há como deixar de registrar, e aplaudir, a enorme diferença, que não é apenas de estilo, entre as posições firmadas por Dilma numa questão fundamental como esta, a da liberdade de imprensa, e as insistentes diatribes de Lula e seus prepostos contra o trabalho dos jornalistas e a favor do "controle social" da mídia.

A verdade é que há muitos anos não se ouviam, por parte do chefe da Nação, declarações tão auspiciosas sobre os fundamentos da pluralidade democrática e o verdadeiro papel da imprensa. Afirmou Dilma Rousseff: "A multiplicidade de pontos de vista, a abordagem investigativa e sem preconceitos dos grandes temas de interesse nacional constituem requisitos indispensáveis para o pleno usufruto da democracia, mesmo quando são irritantes, mesmo quando nos afetam, mesmo quando nos atingem. E o amadurecimento da consciência cívica da nossa sociedade faz com que nós tenhamos a obrigação de conviver de forma civilizada com as diferenças de opinião, de crença e de propostas".

Em sua intervenção, o diretor de redação do jornal, Otávio Frias Filho, lembrou que, em nome do leitor, os jornalistas exercem a função de fiscais do governo, tendo sempre um compromisso com a democracia e com o desenvolvimento do País.

Essa alusão aos pesos e contrapesos que mantêm o equilíbrio da convivência democrática acabou estabelecendo uma feliz relação dialógica com o discurso da presidente da República, o que abre nova e promissora perspectiva para o futuro da imprensa no País. Pois, se a mídia conhece a extensão de sua responsabilidade social e sabe que essa responsabilidade deve ser cobrada pela sociedade, cabe ao poder público ser fiador do ambiente de liberdade indispensável ao exercício pleno da atividade jornalística. Dilma Rousseff demonstrou firme convicção nesses princípios ao reiterar seu "compromisso inabalável com a garantia plena das liberdades democráticas, entre elas a liberdade de imprensa e de opinião". E foi além: "Um governo deve saber conviver com as críticas dos jornais para ter um compromisso real com a democracia. Porque a democracia exige, sobretudo, este contraditório, e repito mais uma vez: o convívio civilizado, com a multiplicidade de opiniões, crenças, aspirações". Um discurso realmente novo.


Dilma na Folha: estratégia ou culto de vassalagem?

"Lutar com palavras, é a luta mais vã. Entanto lutamos, mal rompe a manhã..."

                                                    Carlos Drummond de Andrade


As autoridades máximas dos três poderes da República, acompanhadas por um séquito de ministros de Estado, deputados, senadores, sem contar as "cartas fora do baralho", ex-isso e ex-aquilo, mediocridades e nulidades políticas, todos foram garbosamente prestigiar na última segunda-feira a comemoração dos 90 anos "daquele jornal"...

Aquele, que apoiou a ditadura, que fez campanha eleitoral suja e descarada a favor do candidato tucano na recente eleição presidencial, com direito até a publicação de ficha falsa da "terrorista Dilma Vana Rousseff", e que é considerado por alguns papas do jornalismo brasileiro um dos baluartes do PIG - Partido da Imprensa Golpista.

Antes até do fato consumado, lendo logo cedo a agenda da presidenta na segunda-feira, manifestei aqui opinião a respeito, sugerindo que Dilma mandasse algum representante na festa do que chamei de "serpentário político-midiático".

Em três posts anteriores tratei deste episódio no mínimo preocupante.

Hoje, passada a indignação inicial, mas ainda um tanto aborrecida e desanimada, consigo esboçar aqui apenas algumas indagações, que serão respondidas pelo tempo.

Com suas presenças na tal festa, suas excelências deram respaldo ao apoio e à colaboração do jornal às atrocidades cometidas pela ditadura militar? Com seu comparecimento, minimizaram a sórdida e imunda campanha eleitoral recente, na qual o dito jornal teve posição de vanguarda, chamando a hoje presidenta de terrorista, ladra, abortista, vagabunda?

A presença de suas excelências na cerimônia, sobretudo a da presidenta da República, representa capitulação ao Quarto e Real Poder? Significa um triste, amargo e deplorável culto de vassalagem aos verdadeiros soberanos do País? Ou pode (e deve) ser entendida como estratégia, uma manobra tática numa guerra suja, ditada pela sagacidade, pela razão e pela análise criteriosa do inimigo?

Continuo a confiar na presidenta Dilma, na sua história de vida e nos seus compromissos com o povo brasileiro. E não ignoro que a política "tem dessas coisas", e que como presidenta da República é "adequado" que ela compareça a este tipo de festividade. Mesmo contra sua vontade.

Mas a confiança que tenho na presidenta não me cega, a ponto de impedir a sensação de estranhamento diante de algumas afirmações de seu discurso, a ponto de desconsiderar a louvação do jornal e de seu fundador feita em algumas linhas.

Precisava chegar a tanto?

Ontem postei o discurso integral de Dilma na Festa da Folha. Agora publico o trecho em que a presidenta tece loas, debulha elogios ao jornal e seu fundador. Em seguida reproduzo um Editorial, encontrado no Blog do Mello, escrito pelo sr. Octavio Frias nos anos 70, onde ele manifesta o que pensava sobre o governo ditatorial e sobre Dilma e seus companheiros de luta na derrubada do regime de exceção que oprimia a todos nós.


Presidenta Dilma:

(...) Este evento é também uma homenagem à obra e ao legado de um grande empresário. Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S. Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil.


Sr. Octavio Frias, Editorial do dia 22 de setembro de 1971:


Banditismo


A sanha assassina do terrorismo voltou-se contra nós.

Dois carros deste jornal, quando procediam ontem à rotineira entrega de nossas edições, foram assaltados, incendiados e parcialmente destruídos por um bando de criminosos, que afirmaram estar assim agindo em "represália" a notícias e comentários estampados em nossas páginas.

Que notícias e que comentários? Os relativos ao desbaratamento das organizações terroristas, e especialmente à morte recente de um de seus mais notórios cabeças, o ex-capitão Lamarca.

Nada temos a acrescentar ou a tirar ao que publicamos.

Não distinguimos o terrorismo do banditismo. Não há causa que justifique assaltos, assassínios e seqüestros, muitos deles praticados com requintes de crueldade.

Quanto aos terroristas, não podemos deixar de caracterizá-los como marginais. O pior tipo de marginais: os que se marginalizam por vontade própria. Os que procuram disfarçar sua marginalidade sob o rotulo de idealismo político. Os que não hesitaram, pelo exemplo e pelo aliciamento, em lançar na perdição muitos jovens, iludidos, estes sim, na sua ingenuidade ou no seu idealismo.

Desmoralizadas e desarticuladas, as organizações subversivas encontram-se nos estertores da agonia.

Da opinião pública, o terror só recebe repúdio. É tão visceralmente contrário às nossas tradições, à nossa formação e à nossa índole, que suas ações são energicamente repelidas pelos brasileiros e por todos quantos vivem neste país.

As ameaças e os ataques do terrorismo não alterarão a nossa linha de conduta.

Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca houve.

E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama.

O Brasil de nossos dias é um país que deseja e precisa permanecer em paz, para que possa continuar a progredir. Um país onde o ódio não viceja, nem há condições para que a violência crie raízes.

Um país, enfim, de onde a subversão - que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da Imprensa, que reflete os sentimentos deste. Essa mesma Imprensa que os remanescentes do terror querem golpear.

Porque, na verdade, procurando atingir-nos, a subversão visa atingir não apenas este jornal, mas toda a Imprensa deste país, que a desmascara e denuncia seus crimes.


(Destaques meus)