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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Os canalhas de plantão


"A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom."

"Internet é um território livre? Livre, mas nem tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas opiniões e não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo que se chama educação. Caso nós, sociedade e 'postadores' não tenhamos noção disto estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação."

Na opinião desta blogueira, falta ao cidadão maturidade, educação e melhor compreensão do que vem a ser liberdade de expressão.


De tragédias, preconceito ou Os canalhas de plantão




A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, 
informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor 
o que o ser humano tem de melhor... e de pior. Basta ter uma opinião 
contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém 
é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um 
mínimo 
de respeito é de bom tom. 
Artigo de Paulo Emílio, editor do PE247

Paulo Emílio _ PE247 - A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom. Os exemplos são inúmeros.

No mais recente, a recente tragédia que vitimou mais de 230 jovens em um incêndio em Santa Maria (RS) serviu para explicitar o que o ser humano tem de pior. Em meio às declarações de dor, apoio e solidariedade houve gente capaz de postar "Isso não pode ser verdade. O meu Rio Grande não merece isso. Se fosse no Amazonas, Piauí, na Bahia, no Ceará, onde não há vida inteligente, tudo bem. Mas no meu Rio Grande e logo na cidade do meu falecido pai é de cortar o coração. Estou de luto", postou Patricia Anible. Ou outra que postou no Twitter que “O povo do sul não ama churrasco? Está tendo um monte lá em Santa Maria”... e vai por aí.

Quer dizer que a vida de alguém que mora nas regiões Norte e Nordeste vale menos que alguém que mora no Sul ou Sudeste? Ou que alguém pode tripudiar sobre a tragédia que comoveu não apenas um país, mas o mundo – vide as mensagens de apoio e solidariedade emitidas por representantes dos mais diversos credos e países e por figuras públicas e anônimas – sem ao menos pensar naquilo que escreve? É fácil se esconder na Internet, ser um “ativista de sofá” ou um “cabeçóide” ou até mesmo dizer o que realmente se é – um preconceituoso sem escrúpulos ou algo semelhante – através do anonimato da grande rede.

Ah, detalhe, os nordestinos, os pernambucanos, diga-se de passagem, foram os primeiros a disponibilizar pele humana para ser utilizada em transplantes dos feridos na tragédia gaúcha. E isto feito justamente por um “povinho de segunda e que não merece nem viver”, segundo a opinião de muitos dos que acham que vivem em um mundo à parte, formado por uma elite que arvora para si a eugenia como um fator de diferenciação.

Nesta seara sobrou até para o ex-presidente Lula, que ao emitir uma nota de solidariedade e condolências foi taxado, tanto por anônimos que não gostam dele por alguma razão como por jornalistas que viram no fato um viés político, evidenciando que o mesmo “não tem limites”. E desde quando um cidadão – sim, ele é um cidadão quer se goste ou não – não pode manifestar suas condolências como qualquer outra pessoa? O que não pode e nem se deve é dizer que tudo o que ele espera desta situação é tirar proveito político. E vem mais, desta vez por parte dos cabeçóides e ativistas de sofá: “A culpa é do PT. Onde tem PT tem ladrão” e vai por aí.

O deputado federal Jean Wyllys (PSB-RJ) sabe no couro o que é ser alvo deste tipo de ataque. Ao se posicionar em favor do direito dos homossexuais, na defesa da separação entre Igreja e Estado, ao defender direitos trabalhistas para as prostitutas ou mesmo ao dizer que pretende adotar um filho, apanhou mais que cachorro amarrado em poste. Desde comentários explícitos contra sua orientação sexual e o seu posicionamento, boa parte do que se viu postado por trás do anonimato foram declarações carregadas de preconceito e ameaças. Sim, até mesmo ameaças de morte lhe foram feitas.

Ora, o seu papel como parlamentar é defender ideias de uma parcela da sociedade que também pensa assim. Da mesma forma o deputado de ultradireita Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem o mesmo direito de defender suas ideias contrárias ao aborto ou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Eles foram eleitos para isso. Pode-se discordar de suas opiniões e posições, mas nunca agredir de forma pessoal um ou outro e, da pior forma possível, de forma anônima e covarde.

O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, é outro alvo. Nordestino e potencial pré-candidato à Presidência da República, é alvo de radicalismos tanto de esquerda como de direita. E novamente os ataques não ficam no plano ideológico-partidário, mas descambam para o preconceito pura e simples: “É mais um nordestino como o Lula”, “rola-bosta”, nesta onda sobra até para quem se posiciona contra a “manada”. “vendido”, “corno”, “baba ovo”, são alguns dos adjetivos encontrados facilmente nos comentários postados na internet. Discordar é normal e saudável, agredir é dar vazão a uma carga de preconceito que mais do que mostrar a falta de argumentos denota o caráter do autor.

Internet é um território livre? Livre, mas nem tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas opiniões e não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo que se chama educação. Caso nós, sociedade e “postadores” não tenhamos noção disto estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação.

Ameaças, piadas, tripudiar com a dor alheia, preconceito, racismo, como temos visto virar regra no limbo da internet e do anonimato que ela proporciona, é algo lamentável e que, infelizmente, parece estar virando a regra geral.


Destaques do ABC!

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O "jornalismo de esgoto" e a foto falsa de Chávez


OPINIÃO

"Na capa do 'El País' vi uma foto que, na verdade, não é uma foto. É uma canalhice". (...) "Imprensa canalha. Não há outro adjetivo. É igual em todos os lugares, o 'El País' em Madri, o 'The Sun' em Londres, envolvido em escândalos de corrupção e quem sabe outras coisas mais. Aqui [Argentina] é o 'Clarín'. Sobre isso não faltam adjetivos, sobram e são bastante conhecidos".

                                            Cristina Kirchner, presidenta da Argentina




O retrato de uma imprensa canalha

LULA MIRANDA


Cabe uma pergunta: se fosse Barack Obama o chefe de Estado na mesa de cirurgia, eles publicariam a foto? Se fosse Bush? E se fosse FHC, os jornais brasileiros publicariam? Se fosse Lula, provavelmente.

O jornal El País estampou, com destaque e espalhafato, em sua primeira página, a fotografia de um homem entubado numa mesa de cirurgia, que supostamente seria o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O homem da foto não era Chávez. O jornal cometeu uma das barrigas mais infames da história do jornalismo. Mas isso é de menor relevância. O essencial nessa questão é a grave violação da ética do jornalismo e o desrespeito aos direitos humanos perpetrados pelo jornal. Esse aspecto, curiosamente, ninguém aborda ou comenta.

O homem retratado na foto, em um momento íntimo e de máxima fragilidade, não era Chávez. E se fosse? Estaria assim justificada a publicação da foto? É justificável exibir um ser humano daquela maneira, estampado numa foto gigantesca na primeira página de um grande jornal? Só para se vender algumas centenas de milhares de jornais? Não, não é. E o editor do jornal e seus donos sabem disso, mas compram e publicam esse tipo de foto e manchete sensacionalista por motivos que não têm nada a ver com o bom jornalismo.

A presidenta Argentina, Cristina Kirchner, reagiu com indignação e mandou pelo Twitter: “Na capa do 'El País' vi uma foto que, na verdade, não é uma foto. É uma canalhice”. E disse mais: "Imprensa canalha. Não há outro adjetivo. É igual em todos os lugares, o 'El País' em Madri, o 'The Sun' em Londres, envolvido em escândalos de corrupção e quem sabe outras coisas mais. Aqui [Argentina] é o 'Clarín'. Sobre isso não faltam adjetivos, sobram e são bastante conhecidos".

A presidenta está correta: isso ocorre “em todos os lugares”. Mas não deveria. Ocorre aqui no Brasil também. Lembro-lhes o episódio da publicação de uma ficha falsa da presidenta Dilma Rousseff pelo jornal Folha de S. Paulo.

Por isso que se deve discutir uma Lei de Meios, uma legislação para a regulação da mídia, estabelecer um código mínimo de ética, e o que pode e o que não pode ser publicado (não confundir com censura), para assim proteger o cidadão comum do poder esmagador da mídia. Pois se fazem isso com um chefe de Estado, imagine o que não fariam com você, prezado leitor?

Cabe uma pergunta: se fosse Barack Obama o chefe de Estado na mesa de cirurgia, eles publicariam a foto? Se fosse Bush? E se fosse FHC, os jornais brasileiros publicariam? Se fosse Lula, provavelmente. Donde podemos depreender que uns são mais humanos que outros, uns merecem mais respeito do que outros. Não é exatamente esse modelo de sociedade que desejamos para “nosotros” – não é mesmo?

A presidenta da Argentina disse ainda mais: "Como será a pessoa que montou a foto? Será que ela anda pelas ruas de Madri junto com homens e mulheres normais? E será que o editor escreve editoriais sobre ética, moral e bons costumes e aponta com o dedo sua próxima vítima?". Kirchner na verdade queria, provavelmente, se referir ao editor que autorizou a publicação da foto e aos chamados “barões da mídia”. Mas esses, sabe-se, definitivamente não podem ser considerados “pessoas normais”. Não podem.


Brasil 247

Destaques do ABC!

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