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terça-feira, 15 de maio de 2012

Torturador fala de Dilma: "Uma guerrilheira durona"



Depois de se esconder do "esculacho" que membros do Levante Popular da Juventude fizeram ontem (post anterior) diante do prédio em que mora no Guarujá, litoral sul de São Paulo, o tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima, acusado de ter sido torturador da presidenta Dilma Rousseff nos tempos da ditadura, deu entrevista ao jornal O Globo.


Negando que tenha seviciado a presidenta, o militar da reserva afirmou que a subversiva Dilma Vana Rousseff jamais pegou em armas, era uma "boa guerrilheira", durona, e "não é flor que se cheire (...) enfrentou o próprio Lamarca e o Lamarca era meio 'tantã' (...) Podia ter dado um tiro nela tranquilamente"...




                                                  


Militar da reserva acusado por Dilma de tortura nega crimes

Tatiana Farah


Ele não escondeu que pode mentir no processo que sofre do Ministério Público Federal

                    O tenete-coronel reformado, Maurício Lopes Lima, acusado de tortura
                    na ditadura militar, em seu apartamento no Guarujá
                    O GLOBO / MICHEL FILHO


GUARUJÁ (SP) - De bermuda e chinelos, com uma barriga que extrapola a barra da camiseta branca e puída, o tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima nem de longe lembra o homem da pomposa foto do Exército, o mesmo acusado pela presidente Dilma Rousseff e por dezenas de presos políticos de torturas e abusos durante o regime militar. Aos 76 anos e se dizendo "quase gagá", Lima ficou trancado em seu apartamento, sozinho, esperando que os manifestantes do Levante Popular da Juventude fizessem seu esculacho, na porta do prédio de classe média onde mora no Guarujá, litoral paulista.

Alguns vizinhos desceram dos apartamentos para ouvir os jovens gritando que, "sob a aparência de um senhor aposentado, se esconde um monstro que assassinou camaradas, trabalhadores e estudantes". Relutante, o militar da reserva acabou recebendo a reportagem em seu apartamento. Negou os crimes de tortura e não escondeu que pode mentir no processo que sofre do Ministério Público Federal, que o acusa de cometer crimes contra 20 pessoas, entre eles três assassinatos. Lima conta que esteve com Dilma em três ocasiões e que a então guerrilheira era "durona", mas não pegava em armas.

O GLOBO: O que o sr. acha da manifestação desses jovens?

MAURÍCIO LOPES LIMA: Acho um besteróide. O Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista Brasileiro em tempos passados tentaram revolucionar este país. Agora, pelo menos, eles estão levando a garotada para a bagunça. O PCdoB levou a garotada para a Guerrilha do Araguaia. Eles são os culpados, eles que fizeram a guerrilha. Nós cumprimos um papel de quem reage.

O sr. é processado pelo Ministério Público Federal pela morte de Virgílio Gomes da Silva (o “Jonas”, da Aliança Libertadora Nacional-ALN). Qual a sua defesa?

LIMA: Eu não estava lá. Foi no dia 29 de setembro e eu entrei na Oban (Operação Bandeirantes) em 5 de outubro de 1969.

Ele já estava desaparecido?

LIMA: Ele estava morto mesmo. Eu tive notícias, eu não sabia que era Virgílio, mas sabia que um terrorista tinha morrido ali.

O senhor é acusado de outros cinco desaparecimentos pelo MPF...

LIMA: Outros cinco? Vocês ainda acreditam no Ministério Público Federal? Ele mente.

E há denúncias de tortura (são 20 acusações) ...

LIMA: Existe uma coisa que é o livro do Frei Betto, o “Diário de Fernando”. Ele demonstra a força do coletivo: tinha o coletivo da cela, o coletivo da ala. E o que o coletivo assumia passava a ser verdade. Quando chegava a parte do advogado, ele já fazia de comum acordo com o que estava previsto no coletivo. Sobre a morte do Virgílio? Eu não estava lá. Sobre a tortura da filha do Virgílio, eu não estava lá.

O senhor tem uma cópía da ficha da Dilma no Dops, aquela que dizem que é falsa. Ela é falsa?

LIMA: Pode ser. O Dops era uma organização que tinha vida própria. O Dops era uma coisa, a OB (Oban) era uma coisa. Inclusive havia um conflito imenso entre o Dops e a Oban. Motivo: (delegado) Fleury. Porque o Fleury queria fazer certas coisas que nós não concordávamos. Fleury escondia informações. Fleury fazia o que queria.

E disseram que ele ganhava um dinheiro também?

LIMA: O problema de ganhar dinheiro depende da... eu não ganhei nenhum tostão. O delegado eu não sei. Eu posso até ter certeza de que ele era um homem que frequentava a noite, mas eu não tenho como acusar.

O sr. esteve em algum momento com a presidente Dilma?

LIMA: Eu tive três momentos. O primeiro quando ela foi presa. Nós tínhamos a suposição de que ela era a Dilma e não tínhamos certeza. Chegaram para mim e disseram “Maurício, você tem o dossiê da Dilma?”. E eu: “tenho.”

O que dizia esse dossiê?

LIMA: O nome, o nascimento, o nome do amante (risos), o que ela era na organização etc.

E o que ela era na organização?

LIMA: Ela era amante de um dos dirigentes (ele se refere a Carlos Araújo, o "Max", da VAR-Palmares). Mas ela tinha ação. Ela fazia uma ligação entre a cúpula e as regionais. Disso eu não tenho dúvida.

Ela pegou em armas?

LIMA: Não. Chegou aqui um jornalista, me tentou de todas as maneiras dizer que a Dilma tinha pego em armas. Mas eu digo: como é que eu vou dizer se eu tenho certeza que ela não pegou.

Mas aí ela já estava presa e o sr. precisava identificar se era ela mesmo?

LIMA: Eu cheguei e falei: dona Dilma Vana Rousseff Linhares, a senhora nasceu em tanto, na cidade de tal, seu pai era tal, o seu marido. Quando eu falei no amante dela, ela falou: “É, eu sou a Dilma mesmo, você sabe mais do que eu”. Dois dias depois, ela foi designada para percorrer os locais que ela denunciou. O primeiro que ela denunciou era uma fábrica de bombas que já tinha explodido. E eu: “ih, essa daí...” A segunda foi um pé-de-chinelo que Deus me livre e a terceira foi um terrorista que morava com a mãe em um aparelho.


Ela não entregou ninguém importante (para a organização)?

LIMA: Importante ela não entregou.

O sr. achou que ela era “jogo duro”?

LIMA: Eu já sabia. Ninguém galga uma certa posição numa organização sem ter coragem. Vocês estão vendo a Dilma aí, o que ela faz. O Lula, com todo o endeusamento, nem pensou em fazer e ela está fazendo. Então, calma que ela não é, como eu digo, não é flor que se cheire. Ela é durona. Ela enfrentou o próprio Lamarca e o Lamarca era meio “tantã”, certo? Podia ter dado um tiro nela tranquilamente. E ela enfrentou e conseguiu dinheiro, conseguiu armas quando teve a separação da VAR-Palmares (de Dilma) com a VPR (de Lamarca). As duas organizações se uniram por um pequeno prazo, acho que uns três meses.

E a separação maior foi pelo dinheiro do cofre do Adhemar de Barros?

LIMA: O dinheiro e o armamento. A Dilma exigiu a divisão do dinheiro e do armamento.

Brigar com os líderes do Congresso hoje é “fichinha” para ela?

LIMA: Sim. Eu não tenho nada contra ela. Acho que foi uma boa guerrilheira. Agora, dizer que era boazinha, não, não. Mas não pegou em arma. Isso eu garanto. Eu não encontrei a mais leve. Para mim, seria ótimo dizer que ela era terrorista. Não é. Ela pertencia a uma organização subversiva e acabou. Na auditoria, ela declara que não pode aceitar o capitão Maurício Lopes Lima como testemunha porque ele é um dos torturadores da Oban. Ela declarou isso e mais dois ou três declararam a mesma coisa. Por favor, foram depoimentos arrumados. Ela disse várias vezes (em entrevistas posteriores) que eu não a torturei. O direito de qualquer réu é não criar provas contra si. Isso quer dizer: pode mentir que não tem problema.

O sr. está dizendo que Dilma mentiu?

LIMA: Não. Ela exerceu um direito. É diferente de chamar apenas de mentirosa. Como agora no julgamento, se for necessário, eu posso exercer esse direito também. Isso é inerente à Justiça brasileira.

Por que a presidente disse, em entrevista, que o sr. não “batia bem da bola”?

LIMA: Porque eu entrava nos aparelhos, aquele negócio, eu não tinha medo. Se me dessem tiro, eu dava tiro também.

O sr. matou muita gente?

LIMA: Não, não matei ninguém.

Nem em confronto?

LIMA: Em confronto morreram dois comigo, que são justamente dois casos que estou sendo acusado pelo Ministério Público, que foram Antonio dos Três Reis e Alceni (Maria Gomes da Silva). Me disseram que em um aparelho, dentro de um alçapão, poderia ter um terrorista. Abri o alçapão, saiu um terrorista e me deu seis tiros. Eu saltei para trás, rolei e saí da linha de tiro.

O sr. tem as marcas de bala?

LIMA: Nenhuma. Não acertou nenhuma. Um blog comunista disse que era muito engraçado não ter acertado nenhuma. É que o "lá de cima" não é comunista. Se fosse, tinha acertado. Não tenho culpa. Tenho sorte. Virei quase uma lenda de “corpo fechado” por causa dessas porcarias. Ele descarregou a arma, deu uma paradinha de uns três segundos, deu mais um tiro e aí o acertaram.

O sr. estava com colete? Já se usava naquela época?

LIMA: Não se usava nem colete nem mulher. Se precisasse de uma mulher tinha uma peruca. Ficavam lindos, de peruca na campana.

O sr. imagina que vá ser convocado para a Comissão da Verdade?

LIMA: Que verdade? Tem um livro chamado Direito à Memória e à Verdade feito pela Presidência da República. Ali só contém mentira. Ali foram coletadas as declarações à auditora (militar).

E as declarações feitas sob tortura? Não são mentira?

LIMA: A defesa de todos é que tinham sido torturados.

E não foram?

LIMA: Tenho certeza que muitos não foram. Não vou dizer nomes.

A presidente Dilma não foi torturada?

LIMA: Não sei, não sei, não sei.

Não tinha a cadeira do dragão lá, o senhor nunca viu?

LIMA: Vi, opa! Mas a cadeira do dragão tem várias coisas. Ela tem por exemplo o intuito de deixar a pessoa... Uma das defesas da pessoa são os gestos. Estou me defendendo aqui, estou fazendo os gestos. Quando você prende mãos, a pessoa fica sem (defesa).

Ah, coronel, por favor, o senhor acha que era isso que faziam na cadeira do dragão? Amarrar a pessoa?

LIMA: Muitos nem se amarravam. Por exemplo, tinha os cubanos, os que fizeram curso em Cuba. Esses daí não precisava torturar em nada. Com a prisão eles contavam tudo. Motivo: o curso em Cuba colocava tal medo nas pessoas que, quando o "cubano" caía aqui, ele dizia: não precisa fazer nada comigo que eu conto tudo.

Mas existem laudos médicos que mostram que as pessoas foram torturadas.

LIMA: Sim, mas quantos? Em 30 mil, quantos?

O sr. acha admissível a tortura como método de investigação?

LIMA: Eu não, mas tem várias pessoas que aceitam. Existem várias correntes que dizem que a tortura para se conseguir as informações é melhor do que deixar de capturar o terrorista.

Mas mesmo assim o senhor nunca torturou?

LIMA: Não, eu não precisava.

O sr. é acusado também de ter torturado o Frei Tito.

LIMA: Absolutamente. Fui ver o Frei Tito ele já com os braços cortados e o levei ao Hospital das Clínicas. Ele havia tentado se suicidar.

O sr. se arrependeu de alguma coisa?

LIMA: Não. O que eu quero que você saiba é que eu não acuso ninguém de mentira. Esse combate todo é uma mentira.



O Globo Online


Destaques do ABC!
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Jovens cidadãos promovem mais uma "Rodada de Esculachos"



Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir...


Pela Memória, Verdade e Justiça, cidadãos do movimento Levante Popular da Juventude foram ontem às ruas, em vários estados, para abrir a boca em mais uma rodada de esculachos contra torturadores e agentes da repressão e em apoio aos trabalhos da Comissão da Verdade.


"Onde estão os desaparecidos?"


                                                      Levante Popular da Juventude/Divulgação


Vejam o vídeo, conheçam os esculachados de ontem e a repercussão das movimentações vinda do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, vítima da ditadura.


Atenção: o primeiro do vídeo é o torturador da presidenta Dilma, que vive tranquilamente no Guarujá, praia da elite paulistana.




Link do vídeo

valeu

Sensação estranha essa.

O que você faria se soubesse do endereço do militar responsável pela tortura e morte do seu pai?

E que ele circula pelo bairro livremente?


Soube hoje pelo vídeo postado no Youtube que um dos responsáveis pela morte do meu mora na Rua Marques de Abrantes, Botafogo, zona sul carioca, em que passo direto, sem nunca ter me dado conta de que no 218 mora a figura que mudou a vida da minha família e trouxe tanto sofrimento para nós e muitas outras famílias.

O que vou fazer a respeito?

Nada.

Vou esperar que a Comissão da Verdade faça.
Nem desviarei do meu caminho. Nunca desviei.
O vídeo foi postado pelo movimento Levante Popular da Juventude:


Que promove o esculacho a torturadores e agentes da repressão suspeitos em todo o país; os esculachos [ou escrachos] são ações similares às promovidas na Argentina e no Chile, em que jovens fazem atos de denúncias e revelações de torturadores da ditadura militar que não foram presos ou julgados.

No início de abril, um protesto semelhante foi realizado em São Paulo contra Harry Shibata, médico que teria atestado o suicídio do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
No manifesto do grupo:

“Os manifestantes apoiam a instalação da Comissão da Verdade, cobram a localização e identificação dos restos mortais de desaparecidos políticos e exigem que os torturadores sejam julgados e punidos.

Os jovens condenam a movimentação dos setores conservadores dentro e fora das Forças Armadas, que não aceitam a democracia e não admitem a memória, a verdade e a justiça, desrespeitando a autoridade da presidenta Dilma Rousseff e ministros de Estado, como no manifesto “Alerta à nação”.

Por isso, os jovens saem às ruas para denunciar a impunidade de torturadores e criminosos da ditadura com o objetivo de sensibilizar a sociedade e garantir que a Comissão tenha liberdade para fazer o seu trabalho e alcance seus objetivos.”

No dia 26 de março, o movimento fez protestos em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Belém e Curitiba contra agentes da ditadura suspeitos de torturarem, matarem, perseguirem militantes.
E segundo matéria no ESTADÃO de hoje [ontem], de João Coscelli:

Manifestantes fazem uma nova rodada de “esculachos” contra torturadores e agentes ligados à ditadura segunda-feira, 14, em cidades de 12 Estados do País. Os protestos ocorrem poucos dias depois de a presidente Dilma Rousseff nomear os membros da Comissão da Verdade, destinada a esclarecer casos de violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988.

No Guarujá, litoral de São Paulo, cerca de cem pessoas protestaram em frente ao prédio onde mora tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) como torturador. Membros do grupo Levante Popular da Juventude, que organiza os atos, afirmaram ter recebido informações de que o ex-militar, chamado de “torturador da presidente Dilma”, estaria em casa, mas ele não se manifestou. O protesto teve início às 10h e durou uma hora.

Em Belo Horizonte, o alvo do esculacho foi João Bosco Nacif da Silva, médico-legista da Polícia Civil da ditadura, que teria atestado um laudo médico de suicídio para um prisioneiro torturado em uma delegacia da capital mineira em 1969. Cerca de 50 pessoas compareceram em frente ao prédio do médico com cartazes denunciando sua participação na repressão. De acordo com um dos manifestantes, Nacif da Silva se exaltou e tentou agredi-los, o que motivou o encerramento precoce do ato. A Polícia Militar apenas acompanhou a ação.

O grupo também promoveu manifestação em frente à residência do general da reserva José Antônio Nogueira Belham, denunciado como torturador do militante Rubens Paiva. Belham, que atualmente mora na zona sul da capital fluminense, foi o chefe do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio durante a ditadura.

Na capital baiana, quem recebeu o esculacho foi Dalmar Caribé, cabo do Exército acusado de ser o responsável pelos assassinatos dos militantes Carlos Lamarca e Zequinha Barreto. Em Recife, o desembargador aposentado Aquino de Farias Reis, ex-delegado do Dops, também foi alvo de manifestação.

Houve protestos também em Teófilo Otoni (interior de Minas), João Pessoa (Paraíba), Belém (Pará), Aracaju (Sergipe), Fortaleza (Ceará) e em Natal (Rio Grande do Norte).

Bacana. Criativo. Justo.
Obrigado, garotada.