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sábado, 26 de abril de 2014

Judiciário surrealista: juiz vai até o STF para ser chamado de "doutor"


Doutor é quem fez doutorado. Ponto.


E na "Botocúndia" há doutorados e doutorados, por óbvio.

Conheço advogado doutorado que escreve "letígio" (risos) e outras asneiras do gênero...


A estranha saga do juiz que processou um condomínio porque queria ser chamado de “doutor”


Kiko Nogueira*



O caso do juiz Antônio Marreiros da Silva Melo Neto é exemplo de muitas coisas — sobretudo, talvez, do surrealismo da justiça brasileira. Marreiros teve negado no STF, esses dias, um recurso em que exigia ser tratado por “doutor” em seu condomínio.

O ministro Ricardo Lewandowski não quis dar seguimento à demanda. Foi uma briga num prédio que levou dez anos para ser resolvida. Nesse tempo, movimentou tribunais, advogados, dinheiro etc.

O quiproquó começou em 2004. Marreiros, titular da 6ª Vara Cível de São Gonçalo, no Rio, pediu para um funcionário do edifício ajudá-lo com um vazamento em seu apartamento. Sem permissão da síndica, o homem se recusou. Houve uma discussão e Marreiros afirma que foi tratado por “cara” e “você”, ao passo que a síndica era “dona”. Marreiros cobrava um “senhor” ou “doutor”. O porteiro respondeu: “Fala sério”.

E aí começou uma palhaçada kafkiana. Marreiros entrou com uma ação um mês depois da querela. Amealhava indenização por danos morais no valor de 100 salários mínimos. [!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!]


A síndica teve de aumentar o valor do condomínio para pagar as custas do processo.
Estafetas da vara de Marreiros escreveram uma carta em seu apoio, segundo a qual ele era “muitíssimo educado”.

Por absurdo que pareça, um desembargador concedeu-lhe uma liminar, decidindo que se tratava de “magistrado, cuja preservação da dignidade e do decoro da função que exerce, e antes de ser direito do agravante, mas um dever” blablablá.

Em 2005, finalmente, Marreiros teve sua primeira derrota, desta vez na 9ª Vara Cível de Niterói. De acordo com o juiz, “embora a expressão ‘senhor’ confira a desejada formalidade às comunicações — não é pronome —, e possa até o autor aspirar distanciamento em relação a qualquer pessoa, afastando intimidades, não existe regra legal que imponha obrigação ao empregado do condomínio a ele assim se referir. O empregado que se refere ao autor por ‘você’, pode estar sendo cortês, posto que “você” não é pronome depreciativo. Tratamento cerimonioso é reservado a círculos fechados da diplomacia, clero, governo, judiciário e meio acadêmico”.

Ele não se deu por vencido. Em 2006, enviou um recurso extraordinário ao Supremo, afirmando que a causa era constitucional porque envolvia “os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade”. Envolvia, mas não como ele estava pensando. Apenas oito anos mais mais tarde a casa cairia definitivamente para Marreiros.


Sua obsessão com a própria pseudo superioridade é parente daquela exibida pelo desembargador que humilhou um garçom em Natal. É o país do “sabe com quem está falando?”, onde um sujeito que não sabe se portar num edifício quer enfiar seu déficit civilizatório goela abaixo de seres inferiores.


Marreiros terá agora de se acostumar com dois epítetos que arrumou desde a derrota no STF: “chefia” e “campeão”.


* Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.



Comentários selecionados ao artigo do Kiko no DCM:


anac

Metade pensa que é Deus, a outra metade tem certeza. Pior é que acrescentaram a esse rol dos sem noção os membros do MP.


El Cid 


Na minha opinião, Anac, é bem pior que isso: advogados pensam que são Deus... já os juízes pensam que eles é que criaram Deus...


Emir Ruivo

Surreal é a palavra certa.


Batista Neto Jose

Surreal é certo, mas, ao mesmo tempo real e preocupante. Porque é a prova da esquizofrenia que reina nas cabeças dos togados do judiciário brasileiro sobre cuja corte mais alta o Paulo Nogueira acaba de publicar um corajoso post nos revelando (o que poucos já haviam percebido) que o STF assumiu escancaradamente o comportamento de um partido politico. Eu diria mais, assumiu esse comportamento revelando ADESÃO a outro partido politico muito mais poderoso e nefasto para a sociedade que aspira evoluir e amadurecer: o Partido da Globo de Sonegações que abriga doleiros, banqueiros, investidores estrangeiros e um monte de gente sem mandato popular que controla e exerce muito mais poderes que os seus colegas eleitos.


Pepe

emir/kiko

Este episodio é tao somente um ponto fora da curva mas que, mesmo sendo fora da curva, deveria atiçar a curiosidade da midia pra ver o que se passa neste brasilzao e seu judiciario.

Por exemplo: SUAS EXCELENCIAS nao podem andar no mesmo elevador em que andam meros mortais. Sendo assim, ha elevadores exclusivos para eles. Pois bem, já vi fila imensa de pessoas esperando um elevador, inclusive idosos, enquanto do lado o "elevador de suas excelencias" estava vazio a espera dos deuses do judiciario.

No TJ RJ, a agencia do banco nele instalada nao atende ninguem que nao seja magistrado em dia de pagamento de suas excelencias. Uma conhecida, doente, teve que procurar uma agencia na rua em dia de chuva pois nao pode entrar naquele posto no tribunal.

Se formos pedir pras pessoas elencar exemplos, certamente esta caixa de comentarios batera recordes.


james

Caixas eletrônicos instalados na justiça federal de cidades do interior atendem única e exclusivamente funcionários da justiça. Como não há muitos funcionários nessas repartições, o investimento efetuado pelos bancos oficiais é desperdiçado. Em benefício de "doutores".


Alberto Antonio Porem Junior

Continuo batendo na tecla que o Brasil é um país de castas como a Índia. A única diferença entre Brasil e Índia é a hipocrisia reinante.


Lulu Chan

cafonice. pior que tem uns três loucos assim no meu prédio que se referem a si mesmos como dr. fulano. e sicrano. eu sempre os cumprimento pelo primeiro nome e sinto que querem me matar, mas o que podem fazer? estou sendo educada, desejando um bom dia e tal. é muito divertido. os porteiros amam. eles e a ala dos comunistas, sim, tem três senhores que padeceram na ditadura e são muito divertidos. a gente sempre ri muito da cara deles, porque, além da vontade de marcar lugar no latifúndio, eles têm ideias bem loucas, dá para imaginar, não? nós sempre conversamos com eles e, depois, ficamos rindo muito das tais ideias tortas. bem, é divertido, mas meio trágico tb.


Buque17

Idade Média seu nome é Brasil...

Andre_V


Uma vez uma madame deu um chilique no hospital que eu trabalhava. ela queria uma nota fiscal. mas queria que a menina do caixa pusesse DOUTORA na frente do nome dela. a menina do caixa retrucou que na identidade dela [ que ela havia pedido pra fazer a nota ] não tinha doutora nenhum antes do nome. A madame queria chamar a policia. Dai entrou a turma do deixa disso.

Elias Pacheco


Medonho...

Dee Nunes

Bom dia!! V. Ex. Führer Antônio Marreiros da Silva Melo Neto!! era o sol que me faltava! kkk


Marcio H Silva

Por que estes caras tem nome tão grande?

Amanda

"Você sabe com quem está falando?"

Cortella explica. http://www.youtube.com/watch?v...


Euclides Rodrigues Moraes 

Vocês não têm a menor ideia do que se passa no Judiciário. Essa arrogância prepotente é natural, esse é o ar que respiram, se acham acima dos demais, porque entendem que são eles que decidem os destinos dos demais seres humanos inferiores, só que aparentam tanta pureza, mas quando se começa a levantar um pouco da casca é que verificasse a podridão. Todos falam dos políticos, até porque esses estão expostos, mas façam uma investigação no Judiciário e Ministério Público, em qualquer das suas instâncias e verão o que de fato é corrupção. Quem já ouviu falar em CPF, não é o Cadastro de Pessoa Física da Receita Federal, mas, Comissão Por Fora, para fazer processo andar.


Weslei

E queria 100 salários mínimos?? absurdo!

sayuri

Deveria ser condenado a indenizar os condominos e o porteiro, ou melhor, ser condenado a trabalhar como porteiro durante algumas horas por dia durante o tempo que durou a ridicula acao por ele movida. Sujeitinho asqueroso esse cara de nome Marreiros.


Carlos N Mendes

Casa Grande e Senzala versão século XXI. Serviçal falando para dotô 'fala sério'? Onde foram parar o chicote e o pelourinho?


sithan

Num país em que Ministro do STF mantém preso ladrão de galinha e condena um réu, José Dirceu, porque ele não provou sua inocência o que vocês queriam que saísse do Judiciário?


jonios

A atitude do senhor Marreiros revela os fortes resquícios colonialistas que ainda permeiam o tecido social brasileiro. Uma bobagem infinita. O título de doutor é acadêmico, reservado àqueles que realizaram curso de doutoramento em instituição educacional de nível superior. Não sei se é o caso do senhor Marreiros. Mesmo assim, é uma cabal demonstração de preconceito exercida por quem se julga acima das outras pessoas. Um bobo, enfim.


Marcelo Melgaço Costa


O Judiciário brasileiro se acha. E que doutorado ele fez para esperar ser chamado de "doutor"?! Tenho ABSOLUTA certeza que nenhum.

É pior ainda nas "repartições públicas" da triste vida brasileira, em que semianalfabetos colocados nos famosos "cargos de confiança" são chamados de "dotô".



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