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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria: crime e castigo


OPINIÃO


As lágrimas e o dever


MAURO SANTAYANA


A cumplicidade criminosa do poder público com a ganância empresarial e a irresponsabilidade de jovens músicos provocou a tragédia

A grande tragédia de Santa Maria, como todas as semelhantes que a precederam, pode ser resumida em sua causa medíocre e repulsiva: a ânsia do lucro do empresário. E isso nos conduz a outras lancinantes indagações. Podemos começar pela superfície.

No mundo inteiro há estabelecimentos como a boate gaúcha. A palavra boate, vinda do francês boite, é expressiva para designar – mais do que no passado – essas casas noturnas. São caixas, fechadas, com uma só abertura. É preciso que os seus sons não saiam, para não incomodar os vizinhos, que o confinamento favoreça o convívio e amplie a estridência alucinadora dos sons.

O homem, sendo muitos, é, na definição de Huizinga, homo ludens, um ser que brinca. Essa atividade, a do jogo lúdico, não é atributo exclusivo destes primatas aprimorados que somos. Todos os animais brincam, e não só em sua própria espécie: os pesquisadores mostram relações afetivas de bichos diferentes, tanto entre os domesticados, quanto entre os selvagens.

É na vida dos homens que as atividades lúdicas chegam à excelência – na música, nas artes, nos encontros sociais, entre poucas pessoas, mas também nos grandes shows musicais e no baile que, em nossa civilização de massas, pode reunir centenas ou milhares de pessoas. Algumas vezes esses encontros só se fazem para a alegria, em outras, para ações claramente políticas, como ocorreu em Woodstock, em agosto de 1969 – na sequência do ano surpreendente de 1968.

Produzir sons e acompanhar o seu ritmo com o movimento do corpo é uma atividade que vem dos primeiros tempos da Humanidade, ainda no Paleolítico. Da madrugada da espécie, com a descoberta da beleza, que se expressava no som do soprar dos ventos sobre as árvores e arbustos, do choque das grandes ondas do mar contra os rochedos e do murmúrio sedutor das águas dos riachos. Isso sem falar no canto dos pássaros e dos insetos, todos saudando o milagre da vida, e chamando os parceiros para o amor.

A descoberta de uma flauta feita de osso de abutre, e datada de há 35 mil anos, mostra que, já naquele tempo, o homem era capaz de retirar das coisas naturais os sons e recriá-los, na doma das notas. E, deduzimos, acompanhá-los com seus movimentos corporais, na busca de harmonia e de cumplicidade com a natureza.

Em 1969, em Woodstock, os que se reuniram ao lado de Nova York tentavam retomar a estrada libertária aberta um ano antes, em Paris, em Berkeley, em Berlim, em Praga – e no Rio de Janeiro. Era o tempo de belo e antigo sonho, em que se pretendia que só fosse proibido proibir.

Em Santa Maria, os jovens só queriam ser felizes, nos momentos de ternura e no encontro com os amigos. De repente, no recinto fechado, o fogo irrompe. Como já ocorreu em outros casos, com mais vítimas e menos vítimas, o que era a celebração da vida passou a ser o festim da morte.

Não foi exatamente uma fatalidade. Não se tratou de ato de terrorismo. Tratou-se de cumplicidade criminosa entre o poder público, que não cumpre o seu dever de impor normas rígidas de segurança a tais casas de espetáculo e fiscalizar seu cumprimento; a ganância empresarial privada e a irresponsabilidade dos jovens músicos, que agiram sem a orientação de pessoas mais experientes.

Estamos perdendo a capacidade de associar uma ideia à outra, no planejamento de qualquer ato. E muito mais do que isso, estamos perdendo a noção de que pertencemos à Humanidade. Esquecemo-nos da advertência de John Donne em seus belos versos: nenhum homem é uma ilha. Quando os sinos de Santa Maria dobram nos sons de finados, eles dobram pela nossa agonia como seres humanos. Não estamos mais seguindo o mandamento cristão de doar o que temos, seja o pão, seja o afeto, mas obedecendo ao mandamento diabólico do egoísmo, do lucro fácil, do desrespeito às normas necessárias de convívio.

Quando passar o luto, se não agirmos como cidadãos, casas noturnas como a de Santa Maria continuarão a superlotar seus recintos e a manter fechada a porta, a fim de impedir que as pessoas saiam sem provar que pagaram a conta.

Os adolescentes e jovens começaram a ser sepultados ontem, com a terra salgada pelas lágrimas de seus pais e irmãos. E com as lágrimas da Nação, que a presidente da República deixou escorrer em sua visita aos mortos.

É preciso punir este crime hediondo.

Mas devemos pensar em como usufruir a graça da vida, em como repartir, com igualdade, os bens e a alegria do mundo, assim como quase todos nós – menos alguns poucos – estamos dividindo, com os que perderam os seus seres amados, as dores destas horas.

Todo o Brasil que se merece está em Santa Maria.


Brasil 247

Destaques do ABC!

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STF e Mídia Golpista: a "parceria" escancarada


RIR PRA NÃO CHORAR


Eles não têm um pingo de compostura, mesmo!...


Parceria, camaradagem, conúbio, conluio... que nome dar a isso, cidadão?




"Imortal", Merval lança livro sobre o Mensalão


Único integrante da Academia Brasileira de Letras que publicou apenas 
artigos de jornal antes de chegar ao Olimpo das letras, Merval Pereira, 
do Globo, lança seu segundo trabalho "literário"; é um livro sobre o mensalão, com prefácio de ninguém menos que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, e que revela como o jornalista pautou e até antecipou votos de ministros; quem anuncia a chegada da obra é Reinaldo Azevedo

247 - O livro sobre a Ação Penal 470, do jornalista Merval Pereira, que pautou o comportamento de vários ministros do Supremo Tribunal Federal, recriminou o comportamento de outros e, de certa forma, regeu a orquestra do "julgamento do século", está chegando às livrarias. O mais espantoso é que o prefácio tenha sido escrito por Carlos Ayres Britto, ex-presidente da corte, sinalizando uma espécie de conúbio entre O Globo e o STF. Merval é o único integrante da Academia Brasileira de Letras que escreveu apenas artigos de jornal e lança agora seu segundo livro, intitulado "Mensalão", que reúne artigos escritos durante o julgamento. Quem anuncia a "boa nova" é o também insuspeito Reinaldo Azevedo, que qualifica Merval como "um dos textos mais lúcidos e precisos da imprensa brasileira". Leia, abaixo, a apresentação feita pelo blogueiro neocon de Veja.com:

Leia “Mensalão”, o livro do jornalista Merval Pereira. Chegou a hora de interpretar ainda mais o mundo!

O maior e mais grave escândalo da história republicana — porque se tratou, além da roubalheira, de tentar golpear a democracia com a criação de um Congresso paralelo — ganhou há poucos dias outro livro: “Mensalão — O dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil”, do jornalista Merval Pereira, colunista do jornal “O Globo” (Editora Record) e comentarista da GloboNews e da CBN. Digo “outro” porque há a história lida e analisada pelo professor Marco Antonio Villa em “Mensalão” (Editora LeYa).

Com prefácio de Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo, que presidiu o julgamento, o livro traz os artigos escritos sobre o tema no Globo entre 2 de agosto e 11 de dezembro de 2012. Merval é um dos textos mais lúcidos e precisos da imprensa brasileira e tem um vício incurável: é dono das próprias ideias. Não integra as hostes crescentes dos que escrevem ou para agradar ou para não desagradar. Também não é do tipo que marcha no descompasso só para chamar a atenção. Aliás, esta é a acusação frequente que pesa contra os jornalistas independentes: porque eventualmente não seguem o ritmo da mediocridade influente, são, então, tachados de meros provocadores.

Merval sabe fazer a composição entre o detalhe e o conjunto, entre a parte e o todo. Ao longo dos textos, entendemos o fluxo da história, mas sem perder alguns detalhes saborosos que ilustram e iluminam a trajetória.

Leia-se este trecho de “Fugindo da cadeia”, texto publicado no dia 15 de novembro de 2012:


É meio vergonhoso para o PT, há dez anos no poder, que a situação desumana de nosso sistema penitenciário vire tema de debate só agora que líderes petistas estão sendo condenados a penas que implicam necessariamente regime fechado.


Chega a ser patético que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no final das contas responsável pelo monitoramento das condições em que as penas são cumpridas, diga em público que preferiria morrer caso fosse condenado a muitos anos de prisão. Dois anos no cargo, e o ministro só se mobiliza para pôr a situação das prisões brasileiras em discussão no momento em que companheiros seus de partido são condenados a sentir na própria pele as situações degradantes a que presos comuns estão expostos há muitos e muitos anos, os dez últimos sob o comando do PT.


Também o ministro revisor Ricardo Lewandowski apressou-se a anunciar que muito provavelmente o ex-presidente do PT José Genoino vai cumprir sua pena em prisão domiciliar porque não há vagas nos estabelecimentos penais apropriados para reclusões em regime semiaberto. Para culminar, vem Dias Toffoli defender que as condenações restritivas da liberdade sejam trocadas por penas alternativas e multas em dinheiro. Tudo parece compor um quadro conspiratório para tentar evitar que os condenados pelo mensalão acabem indo para a cadeia, última barreira a ser superada para que a impunidade que vigora para crimes cometidos por poderosos e ricos deixe de ser a regra.

(…)

Voltei
Os artigos, uma vez reunidos em livro, ganham uma vida nova. No curso da leitura, entendemos com mais clareza as estratégias dos advogados dentro e fora dos tribunais, recuperamos o embate das teses jurídicas, lembramo-nos de detalhes das chicanas e reavivamos os valores, os bons valores, que fizeram com que as instituições brasileiras dissessem “não” aos golpistas.

Que o mensalão produza muito mais livros. Marx, bom frasista mesmo quando dizia as maiores cretinices, afirmou na “11ª Tese sobre Feuerbach”: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras, trata-se, entretanto, de transformá-lo”. Não há como salvar essa tolice mesmo no ambiente do texto original. Parece inteligência, mas é obscurantismo.

O nosso papel, o de filósofos, jornalistas, historiadores — cada trabalho com seu acento peculiar —, é mesmo este: interpretar o mundo. É o modo que temos de transformá-lo. De resto, ansiamos para que todos, mesmo os homens especialmente talhados para a “transformação”, jamais abandonem a teoria e o pensamento. Leiam “Mensalão”, um livro que ousa interpretar a realidade tendo como norte os fatos.


Brasil 247

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Dilma compara Holocausto à Ditadura e Escravidão


CIDADANIA


"Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, 
porque, afinal, eu não era comunista. 
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, 
porque, afinal, eu não era social-democrata. 
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, 
porque, afinal, eu não era sindicalista. 
Quando levaram os judeus, eu não protestei, 
porque, afinal, eu não era judeu. 

Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".

             Martin Niemöller, poeta alemão, citado pela presidenta Dilma Rousseff


                                                                                      Foto: Roberto Stuckert Filho/PR



Dilma: o Holocausto também se repete quando é negado

Heloisa Cristaldo

Brasília – Na data que celebra o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, a presidenta Dilma Rousseff disse que "o Holocausto também se repete quando é negado. Por isso deve-se sempre lembrar, mas ter muita responsabilidade quanto à verdade dos fatos”.
Dilma Rousseff disse hoje (30) em seu discurso que o país também enfrentou momentos difíceis com os 300 anos de escravidão e os períodos de ditadura. A presidenta reiterou diversas vezes em seu discurso que o caminho para evitar esse tipo de tragédia é o conhecimento da verdade e da história da humanidade.
“Respeitando a diversidade, a liberdade de pensamento e a grande riqueza de sermos diferentes e tão iguais, tão humanos, isso não significa que podemos deixar de avaliar, de conhecer, de estudar as mais dolorosas lições do ser humano. (...) [Devemos] lembrar, sistematicamente, para evitar que isso se repita”, disse.
Para a presidenta, a ideologia que resultou no holocausto “não chegou abruptamente”. “Sem dúvida nenhuma os guetos são uma antecipação disso. A expulsão dos judeus de Portugal [durante o período de inquisição] foi outra manifestação histórica, uma longa preparação, secular, que desembocou naquele momento terrível da história da humanidade, que foi a perseguição aos diferentes, aos judeus. E se repete sempre que foi aos judeus, porque tinha uma sistemática tentativa de descaracterizar seres humanos como humanos”, disse.
A presidenta ressaltou a criação no governo da Comissão da Verdade, que tem a finalidade de apurar graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.
Dilma Rousseff encerrou o evento citando o poeta alemão Martin Niemöller. "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".
A cerimônia homenageou Aracy Guimarães Rosa, mulher do escritor João Guimarães Rosa, funcionária do consulado brasileiro em Hamburgo, na Alemanha, e Luis Martins de Souza Dantas, embaixador brasileiro na França. Os dois, nas décadas de 1930 e 1940, salvaram centenas de judeus, concedendo a eles vistos para o Brasil, contrariando ordens superiores.
Por questões de segurança, a cerimônia, que ocorreria no prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Brasília, foi transferida de local. A decisão foi do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, a partir de laudo do Corpo de Bombeiros.
A data lembrada hoje [ontem] marca a libertação do campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945. No local, mais de 1,5 milhão de pessoas foram exterminadas.

Edição: Fábio Massalli


Agência Brasil

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A tragédia em Santa Maria e o grotesco da mídia


MÍDIA

"A falta de originalidade e o amálgama geral do prazer pelo grotesco permeiam a imprensa brasileira. Quem em sã consciência acredita que mostrar os corpos de centenas de vítimas de uma tragédia é, de fato, fazer jornalismo? Quem acredita que assediar parentes de vítimas em seu momento de dor é fazer jornalismo investigativo? O jornalismo brasileiro despe-se de humanidade seja para noticiar chacinas contra jovens negros das periferias de São Paulo, seja para 'denunciar' massacres contra populações indígenas ou sem terras, ou para noticiar e cobrir tragédias de grandes proporções como o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que causou a morte de mais de 230 jovens."



TRAGÉDIA EM SANTA MARIA
Jornalismo ou a arte do grotesco?

Raphael Tsavkko Garcia*

O que há em comum entre tragédias como o deslizamento no morro do Bumba, o massacre na escola em Realengo e o incêndio em Santa Maria? A grotesca cobertura midiática. Sensacionalista, sedenta por sangue, louca pelo melodrama, desesperada pelo furo que normalmente consiste em imagens degradantes, cenas de humilhação, desespero e a miséria humana.

O jornalismo de verdade costuma ficar em segundo lugar. Isto quando sequer transparece nas páginas que oscilam entre pingar sangue ou verter torrentes de lágrimas colhidas a dedo para criar um quadro melodramático desnecessário e vergonhoso. A mídia busca respostas fáceis e quando não as encontra repete a história até ser possível encontrar uma brecha para fabricar suas próprias verdades. Não importa se a tragédia está acontecendo ou se é o aniversário dela – de 1, 10 ou mesmo 100 anos: o relevante é apenas espremer todo o sofrimento que puder.

Imagens de corpos carbonizados ou machucados, closes vergonhosos de pessoas sentindo a imensa dor da perda, vídeos com o momento exato de uma execução, a insistência nas perguntas-clichê nos momentos de maior dor de familiares ou mesmo vítimas: “Como você está se sentindo?”, “O que você pensa disso ou daquilo?”, “Qual a sensação?”


Direitos humanos

Sensação, sentimentos ou ideias que, infelizmente, a mídia não tem. A falta de originalidade e o amálgama geral do prazer pelo grotesco permeiam a imprensa brasileira. Quem em sã consciência acredita que mostrar os corpos de centenas de vítimas de uma tragédia é, de fato, fazer jornalismo? Quem acredita que assediar parentes de vítimas em seu momento de dor é fazer jornalismo investigativo? O jornalismo brasileiro despe-se de humanidade seja para noticiar chacinas contra jovens negros das periferias de São Paulo, seja para “denunciar” massacres contra populações indígenas ou sem terras, ou para noticiar e cobrir tragédias de grandes proporções como o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que causou a morte de mais de 230 jovens.

Em um primeiro momento apontaram os dedos midiáticos para os seguranças. Depois, para a “fatalidade” do ocorrido. Para a banda que usou material pirotécnico e começou o incêndio. Depois para teorias mil, comparações e para falhas na legislação, na fiscalização... Mas e os donos do local, estabelecimento que funcionava com permissão judicial provisória, sem estrutura alguma para garantir a segurança de milhares de frequentadores? E o prefeito da cidade, reeleito, responsável direto por fiscais e pela aplicação das leis no município? E o poder público que deveria zelar pela segurança dos cidadãos?

Mas não. Respostas fáceis são melhores. Apontar os dedos para os mortos, para o tempo, o espaço, o acaso, é muito mais fácil do que bater de frente e fazer jornalismo de verdade. O tom é sempre o mesmo. Sensacionalismo puro. A completa desumanização de familiares e vítimas que são mero produto para o entretenimento da massa. A cobertura de TVs e jornais em nada difere dos policialescos de péssima qualidade que diariamente demonstram que direitos humanos é algo a ser desrespeitado, que só serve para “bandido” e que bom mesmo é ver o sangue correr.


Show da vida

E o sangue corre. Sempre corre.

Em algum momento um jornalista questiona timidamente por que vemos tanta desgraça, por que há tanta violência? Mas em momento algum questiona a si e a seus colegas de profissão que, por vontade própria ou pressão dos diretores, vendem a morte, a dor e o sofrimento como itens típicos de mercado de esquina. Não é apenas a violência que aumenta, mas o espaço que ganha a cada dia na TV, nos jornais, nas revistas...

No caso de Santa Maria, convidam especialistas para falar de legislação, de tragédias, de fatos semelhantes... Tudo intercalado com rostos emocionados, vozes que tremem levemente frente às câmeras, um olhar de indignação semelhante ao usado em tragédias anteriores e muitas imagens chocantes, de desespero, de desalento.

É o show da vida, o show da realidade formatada para a audiência acostumada a reality shows e big brothers que não escondem nada, exceto a verdade.

* Raphael Tsavkko Garcia é blogueiro e jornalista, formado em Relações Internacionais pela PUC-SP e mestre em Comunicação.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Marcha silenciosa protesta em Santa Maria (RS)



Mesmo na dor, é preciso ter atitude.

Cidadãs  e cidadãos em Santa Maria, Rio Grande do Sul, familiares ou não dos mortos e feridos no incêndio na boate Kiss, que vitimou até o momento cerca de 231 pessoas, a maioria jovens estudantes universitários, se manifestam, exigindo apuração de responsabilidades, punição de culpados, medidas cabíveis.

Além de leniência de autoridades e agentes públicos, certamente houve muita corrupção para que se liberasse o espaço. Procurem e encontrarão agentes públicos e particulares, corruptos, por trás de mais esta tragédia.

Blogueira e blog se solidarizam com familiares e amigos das vítimas e com seus amigos e leitores em Santa Maria e no Rio Grande do Sul.


Boate obteve licença apesar de violar lei anti-incêndio

                                                                           Evelson de Freitas/Estadão



15 mil fazem marcha silenciosa nas ruas de Santa Maria

Vestida de branco, multidão andou 2 quilômetros entre o local da tragédia e o ginásio onde os corpos das vítimas foram velados

Diego Zanchetta, enviado especial de O Estado de S. Paulo

SANTA MARIA - Depois de chorar a morte de 231 jovens por quase 48 horas, a população de Santa Maria saiu às ruas em um protesto silencioso e comovente nesta segunda-feira, 28, à noite, quando já passavam das 22 horas. Vestida de branco, uma multidão estimada em cerca de 15 mil pessoas, ou 8% de toda a cidade, caminhou 2 quilômetros, do local da tragédia, na frente da boate Kiss, até o ginásio onde os corpos foram velados, na noite anterior.

A homenagem foi organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria  
Evelson de Freitas/Estadão

A marcha era interrompida a cada dois minutos por uma salva de palmas. A homenagem foi organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria - somente dos cursos de Agronomia (26 estudantes mortos) e Veterinária (15 mortos), foram 41 vítimas.

Moradores da cidade engrossaram o protesto. A indignação e a revolta estavam estampados em cartazes que pediam justiça e o fim da impunidade para os responsáveis pela tragédia.

De toda a região central gaúcha, famílias queriam prestar solidariedade aos jovens mortos de Santa Maria. Rostos inchados de choro e cansaço, pais que passaram o dia enterrando seus filhos e estudantes que perderam os melhores amigos eram amparados por quem queria de alguma forma prestar um consolo.

"Somos um povo conhecido pela alegria, até porque os jovens das faculdades sempre contagiaram essa cidade. É muito duro e dolorido", chorava a dona de casa Iara Epstein, de 58 anos. Jovens com violinos entoavam a canção Ave Maria. O hino do Rio Grande do Sul também foi cantado. Estudantes de Odontologia carregavam fotos de duas estudantes mortas na tragédia.

O clima em Santa Maria é de consternação. Lojas permaneceram fechadas ontem. As que abriram, exibiram algum sinal de pesar, como faixas pretas nas vitrines. Os clubes avisaram que não haverá bailes de carnaval. Diante da casa noturna, anônimos deixaram flores e até foto de Adolf Hitler. No fim da tarde, celebração ecumênica reuniu centenas de pessoas na Praça Maurício Cardoso, na região central da cidade. 

COLABOROU ELDER OGLIARI
Estadão Online

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Os canalhas de plantão


"A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom."

"Internet é um território livre? Livre, mas nem tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas opiniões e não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo que se chama educação. Caso nós, sociedade e 'postadores' não tenhamos noção disto estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação."

Na opinião desta blogueira, falta ao cidadão maturidade, educação e melhor compreensão do que vem a ser liberdade de expressão.


De tragédias, preconceito ou Os canalhas de plantão




A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, 
informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor 
o que o ser humano tem de melhor... e de pior. Basta ter uma opinião 
contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém 
é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um 
mínimo 
de respeito é de bom tom. 
Artigo de Paulo Emílio, editor do PE247

Paulo Emílio _ PE247 - A internet é algo fenomenal. Ao mesmo tempo em que encurta distâncias, informa, dissemina cultura e informação, também é capaz de expor o que o ser humano tem de melhor... e de pior. E o exemplo mais claro disto está nos comentários em torno de qualquer assunto. Basta ter uma opinião contrária à manada e pronto: a execração pública é regra. Ninguém é obrigado a concordar com o que o outro pensa, mas um mínimo de respeito é de bom tom. Os exemplos são inúmeros.

No mais recente, a recente tragédia que vitimou mais de 230 jovens em um incêndio em Santa Maria (RS) serviu para explicitar o que o ser humano tem de pior. Em meio às declarações de dor, apoio e solidariedade houve gente capaz de postar "Isso não pode ser verdade. O meu Rio Grande não merece isso. Se fosse no Amazonas, Piauí, na Bahia, no Ceará, onde não há vida inteligente, tudo bem. Mas no meu Rio Grande e logo na cidade do meu falecido pai é de cortar o coração. Estou de luto", postou Patricia Anible. Ou outra que postou no Twitter que “O povo do sul não ama churrasco? Está tendo um monte lá em Santa Maria”... e vai por aí.

Quer dizer que a vida de alguém que mora nas regiões Norte e Nordeste vale menos que alguém que mora no Sul ou Sudeste? Ou que alguém pode tripudiar sobre a tragédia que comoveu não apenas um país, mas o mundo – vide as mensagens de apoio e solidariedade emitidas por representantes dos mais diversos credos e países e por figuras públicas e anônimas – sem ao menos pensar naquilo que escreve? É fácil se esconder na Internet, ser um “ativista de sofá” ou um “cabeçóide” ou até mesmo dizer o que realmente se é – um preconceituoso sem escrúpulos ou algo semelhante – através do anonimato da grande rede.

Ah, detalhe, os nordestinos, os pernambucanos, diga-se de passagem, foram os primeiros a disponibilizar pele humana para ser utilizada em transplantes dos feridos na tragédia gaúcha. E isto feito justamente por um “povinho de segunda e que não merece nem viver”, segundo a opinião de muitos dos que acham que vivem em um mundo à parte, formado por uma elite que arvora para si a eugenia como um fator de diferenciação.

Nesta seara sobrou até para o ex-presidente Lula, que ao emitir uma nota de solidariedade e condolências foi taxado, tanto por anônimos que não gostam dele por alguma razão como por jornalistas que viram no fato um viés político, evidenciando que o mesmo “não tem limites”. E desde quando um cidadão – sim, ele é um cidadão quer se goste ou não – não pode manifestar suas condolências como qualquer outra pessoa? O que não pode e nem se deve é dizer que tudo o que ele espera desta situação é tirar proveito político. E vem mais, desta vez por parte dos cabeçóides e ativistas de sofá: “A culpa é do PT. Onde tem PT tem ladrão” e vai por aí.

O deputado federal Jean Wyllys (PSB-RJ) sabe no couro o que é ser alvo deste tipo de ataque. Ao se posicionar em favor do direito dos homossexuais, na defesa da separação entre Igreja e Estado, ao defender direitos trabalhistas para as prostitutas ou mesmo ao dizer que pretende adotar um filho, apanhou mais que cachorro amarrado em poste. Desde comentários explícitos contra sua orientação sexual e o seu posicionamento, boa parte do que se viu postado por trás do anonimato foram declarações carregadas de preconceito e ameaças. Sim, até mesmo ameaças de morte lhe foram feitas.

Ora, o seu papel como parlamentar é defender ideias de uma parcela da sociedade que também pensa assim. Da mesma forma o deputado de ultradireita Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem o mesmo direito de defender suas ideias contrárias ao aborto ou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Eles foram eleitos para isso. Pode-se discordar de suas opiniões e posições, mas nunca agredir de forma pessoal um ou outro e, da pior forma possível, de forma anônima e covarde.

O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, é outro alvo. Nordestino e potencial pré-candidato à Presidência da República, é alvo de radicalismos tanto de esquerda como de direita. E novamente os ataques não ficam no plano ideológico-partidário, mas descambam para o preconceito pura e simples: “É mais um nordestino como o Lula”, “rola-bosta”, nesta onda sobra até para quem se posiciona contra a “manada”. “vendido”, “corno”, “baba ovo”, são alguns dos adjetivos encontrados facilmente nos comentários postados na internet. Discordar é normal e saudável, agredir é dar vazão a uma carga de preconceito que mais do que mostrar a falta de argumentos denota o caráter do autor.

Internet é um território livre? Livre, mas nem tanto. É preciso regras mínimas, daquelas que se aprende em casa, na educação doméstica fornecida por pais, mães, famílias e que um dia repassaremos aos nossos filhos e netos. Educação vem de berço. Saber se posicionar, colocar suas opiniões e não estimular o preconceito ou a violência também faz parte daquilo que se chama educação. Caso nós, sociedade e “postadores” não tenhamos noção disto estaremos fazendo aquilo que, de forma explícita, condenamos e qualificamos como racismo, preconceito, falta de caráter ou simplesmente falta de educação.

Ameaças, piadas, tripudiar com a dor alheia, preconceito, racismo, como temos visto virar regra no limbo da internet e do anonimato que ela proporciona, é algo lamentável e que, infelizmente, parece estar virando a regra geral.


Destaques do ABC!

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O "jornalismo de esgoto" e a foto falsa de Chávez


OPINIÃO

"Na capa do 'El País' vi uma foto que, na verdade, não é uma foto. É uma canalhice". (...) "Imprensa canalha. Não há outro adjetivo. É igual em todos os lugares, o 'El País' em Madri, o 'The Sun' em Londres, envolvido em escândalos de corrupção e quem sabe outras coisas mais. Aqui [Argentina] é o 'Clarín'. Sobre isso não faltam adjetivos, sobram e são bastante conhecidos".

                                            Cristina Kirchner, presidenta da Argentina




O retrato de uma imprensa canalha

LULA MIRANDA


Cabe uma pergunta: se fosse Barack Obama o chefe de Estado na mesa de cirurgia, eles publicariam a foto? Se fosse Bush? E se fosse FHC, os jornais brasileiros publicariam? Se fosse Lula, provavelmente.

O jornal El País estampou, com destaque e espalhafato, em sua primeira página, a fotografia de um homem entubado numa mesa de cirurgia, que supostamente seria o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O homem da foto não era Chávez. O jornal cometeu uma das barrigas mais infames da história do jornalismo. Mas isso é de menor relevância. O essencial nessa questão é a grave violação da ética do jornalismo e o desrespeito aos direitos humanos perpetrados pelo jornal. Esse aspecto, curiosamente, ninguém aborda ou comenta.

O homem retratado na foto, em um momento íntimo e de máxima fragilidade, não era Chávez. E se fosse? Estaria assim justificada a publicação da foto? É justificável exibir um ser humano daquela maneira, estampado numa foto gigantesca na primeira página de um grande jornal? Só para se vender algumas centenas de milhares de jornais? Não, não é. E o editor do jornal e seus donos sabem disso, mas compram e publicam esse tipo de foto e manchete sensacionalista por motivos que não têm nada a ver com o bom jornalismo.

A presidenta Argentina, Cristina Kirchner, reagiu com indignação e mandou pelo Twitter: “Na capa do 'El País' vi uma foto que, na verdade, não é uma foto. É uma canalhice”. E disse mais: "Imprensa canalha. Não há outro adjetivo. É igual em todos os lugares, o 'El País' em Madri, o 'The Sun' em Londres, envolvido em escândalos de corrupção e quem sabe outras coisas mais. Aqui [Argentina] é o 'Clarín'. Sobre isso não faltam adjetivos, sobram e são bastante conhecidos".

A presidenta está correta: isso ocorre “em todos os lugares”. Mas não deveria. Ocorre aqui no Brasil também. Lembro-lhes o episódio da publicação de uma ficha falsa da presidenta Dilma Rousseff pelo jornal Folha de S. Paulo.

Por isso que se deve discutir uma Lei de Meios, uma legislação para a regulação da mídia, estabelecer um código mínimo de ética, e o que pode e o que não pode ser publicado (não confundir com censura), para assim proteger o cidadão comum do poder esmagador da mídia. Pois se fazem isso com um chefe de Estado, imagine o que não fariam com você, prezado leitor?

Cabe uma pergunta: se fosse Barack Obama o chefe de Estado na mesa de cirurgia, eles publicariam a foto? Se fosse Bush? E se fosse FHC, os jornais brasileiros publicariam? Se fosse Lula, provavelmente. Donde podemos depreender que uns são mais humanos que outros, uns merecem mais respeito do que outros. Não é exatamente esse modelo de sociedade que desejamos para “nosotros” – não é mesmo?

A presidenta da Argentina disse ainda mais: "Como será a pessoa que montou a foto? Será que ela anda pelas ruas de Madri junto com homens e mulheres normais? E será que o editor escreve editoriais sobre ética, moral e bons costumes e aponta com o dedo sua próxima vítima?". Kirchner na verdade queria, provavelmente, se referir ao editor que autorizou a publicação da foto e aos chamados “barões da mídia”. Mas esses, sabe-se, definitivamente não podem ser considerados “pessoas normais”. Não podem.


Brasil 247

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domingo, 27 de janeiro de 2013

RS: Dilma encontra familiares das vítimas da tragédia


NOTÍCIA

Dilma se encontra com famílias de vítimas de incêndio no RS



AGÊNCIA BRASIL
SÃO PAULO

A presidente Dilma Rousseff visitou na tarde desde domingo o ginásio de esportes de Santa Maria, onde se encontrou com parentes das vítimas do incêndio na boate Kiss, na madrugada de domingo. Pelo menos 231 pessoas morreram e outras 117 ficaram feridas.

Muito emocionada, Dilma deixou o local sem falar com a imprensa. Antes de chegar ao ginásio, ela também passou no Hospital da Caridade, onde parte dos feridos foram atendidos. A presidente segue para a Base Aérea de Santa Maria, acompanhada pelo prefeito da cidade, César Schimer.



Dilma abraça parente de vítima de incêndio na boate Kiss no Ginásio de Santa Maria, onde estão os corpos      Foto: Roberto Stuckert Filho/PR 

A mandatária foi acompanhada pelo ministro da educação, Aloizio Mercadante; ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-SP), que foi o único a conversar com a imprensa.

"É o tipo de tragédia que ninguém imagina que possa acontecer. Nossa preocupação agora é atender as famílias, e depois vemos outras coisas [apuração sobre as causas e responsáveis pelo acidente]", disse Marco Maia.

Dilma voltou ao Brasil nesta manhã, após sair de Santiago, onde participava de uma reunião da cúpula entre países da América Latina e da União Europeia. No início da manhã, ainda na capital chilena, a presidenta se emocionou ao comentar a tragédia.

"Gostaria de dizer à população de nosso país e de Santa Maria (RS) que estamos todos juntos nesse momento".

Dilma disse ainda que todos os ministros estão mobilizados para prestar toda ajuda possível às vítimas e aos familiares envolvidos na tragédia. Durante a entrevista, Dilma começou a chorar e terminou o depoimento.


Folha Online

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Dilma chora pela tragédia em Santa Maria (RS)


NOTÍCIA

A presidenta Dilma Rousseff, que estava no Chile, cancelou reuniões bilaterais e chega agora à tarde em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde 232 pessoas morreram nesta madrugada em incêndio na boate Kiss. Há muitos feridos sendo atendidos em diversos hospitais da região.

"É um momento de grande tristeza", disse a presidenta. "É uma tragédia para nós todos, eu não vou continuar na reunião por razões muito claras. Quem precisa de mim hoje é o povo brasileiro e é lá que eu tenho de estar", declarou, emocionada.


Vídeo



Dilma chora ao falar de mortos em Santa Maria

Presidente decidiu cancelar seus compromissos no Chile, onde teria 
encontros com chefes de Estado; ministro da Saúde, Alexandre Padilha, 
também está a caminho de Santa Maria para acompanhar os trabalhos 
de resgate numa das maiores tragédias da história do País. 
"Mobilizamos todos os recursos para o resgate dos corpos, 
que é o que temos para dar apoio às famílias", 
disse a presidente, em entrevista coletiva


Do Correio do Povo - No Chile, a presidente Dilma Rousseff chorou ao falar das 245 mortes confirmadas em um incêndio em Santa Maria, neste domingo. "Mobilizamos todos os recursos para o resgate dos corpos, que é o que temos para dar apoio às famílias", disse, em entrevista coletiva. Ela deve vir ao Estado, com previsão de chegada para o início da tarde. "Nós estamos juntos. Temos que superar, mas mantendo a tristeza", declarou.

Dilma ressaltou que serão empregados todos os esforços para o reconhecimento rápido e eficiente das vítimas. Ela declarou também que a Base Área de Santa Maria está à disposição.

Segundo o Corpo de Bombeiros do município, alguns extintores de incêndio da boate não estavam funcionando e havia apenas uma saída para os frequentadores – a porta principal. “Falharam os extintores. Os primeiros que eram para funcionar, falharam. Aí até buscarem os outros, já era tarde", lamentou o bombeiro Rodrigo Rosa, que trabalhou na tragédia.


Brasil 247

Destaque do ABC!

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Líder do MST é executado e Ministra critica a morosidade da "Justiça"


ASSASSINATO NO CAMPO

Ministra divulga nota lamentando morte de líder do MST em Campos

Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, diz que disputa fundiária na região é resultado da morosidade da justiça


EVANDRO ÉBOLI 

BRASÍLIA - A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, divulgou nota na noite deste sábado, na qual lamenta a morte do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Campos, no interior do Rio, Cícero Guedes dos Santos. Ele foi assassinado com vários tiros na cabeça e nas costas.

Rosário conversou por telefone com a viúva de Cícero, Maria Luciene, solidarizou-se com ela em nome do governo, e externou seus sentimentos pela morte de seu marido.

Cícero vivia no assentamento Zumbi dos Palmares, desde 2002, e deixou cinco filhos. Na nota, a ministra critica a morosidade da Justiça, que, segundo ela, agravou a situação fundiária na região de Campos dos Goytacazes.

"A situação de disputa fundiária na região entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra tem sido agravada pela morosidade na tramitação de processos judiciais que envolvem imóveis considerados improdutivos e, portanto, passíveis de desapropriação para a reforma agrária. O caso específico da ocupação liderada por Cícero é bastante ilustrativo: o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) havia determinado, há 14 anos, a desapropriação das fazendas que compõem a Usina Cambahyba. Mas só em agosto de 2012 a Justiça autorizou que a autarquia federal desse prosseguimento à desapropriação dos imóveis", afirmou a ministra, na nota.

Maria do Rosário indicou Wadih Damous, da OAB do Rio, a acompanhar, em nome do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, ligado à SDH, as investigações in loco.

Cícero Guedes dos Santos, de 54 anos, foi assassinado a tiros na madrugada deste sábado, na Estrada da Flora, via perpendicular à BR-356, que liga Campos dos Goytacazes a São João da Barra.

A Polícia Civil do município realizou a perícia no local na manhã de sábado, mas ainda não informou quantas balas atingiram o líder. O laudo preliminar da Polícia Militar citava de 10 a 12 balas, a maioria na cabeça. O corpo permanece no IML de Campos e o caso foi registrado na 134ª DP.

Cícero foi assassinado quando retornava para casa, após uma reunião na noite de sexta na usina Cambahyba, recentemente ocupada pelo movimento.

A coordenadora do MST no Rio de Janeiro, Marina Santos, suspeita de execução e informa que neste domingo, ao meio-dia, antes do enterro no Cemitério Campo da Paz, haverá um ato de protesto.

— É óbvio que foi mais um crime de latifúndio na região de Campos, onde sempre aconteceu esse tipo de atrocidade e ninguém nunca é punido. Desta vez, as autoridades têm que investigar — afirma ela.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) publicou mensagem em sua página do Facebook:

"Cícero era uma das mais importantes lideranças do MST. (...) Já falei com a chefe da Polícia Civil, Dr. Marta Rocha, que imediatamente acionou o delegado da região. O delegado, Dr. Geraldo, já me ligou e garantiu a investigação. Vamos acompanhar. A equipe da Comissão de Direitos Humanos da Alerj já está na estrada".

Freixo lembra ainda que, em 2009, Campos foi a cidade com maior número de casos de escravidão encontrados no Brasil.

Em comunicado, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro afirma que está, desde o primeiro momento, empenhada na investigação da morte do líder MST. O órgão afirma ainda que medidas cautelares estão sendo adotadas para esclarecer a autoria e a motivação do crime.

O Globo Online

Destaques do ABC!


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sábado, 26 de janeiro de 2013

Repórteres Sem Fronteiras alertam sobre Coronelismo Midiático


A importante organização internacional Repórteres Sem Fronteiras faz alerta sobre a "ligação carnal" entre veículos da grande imprensa brasileira e partidos políticos e esferas de poder.


Mídia brasileira mantém "relação quase incestuosa" com centros de poder e precisa aprovar Marco Civil, alerta relatório da RSF

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A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) lançou nesta quinta-feira, 24 de janeiro, um relatório sobre a situação da mídia e do jornalismo brasileiros, com base em visitas feitas ao país em novembro de 2012. Com o nome "O país dos trinta Berlusconi", o título do documento faz alusão ao ex-primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, também proprietário da maior empresa de mídia na Itália -- Mediaset -- e sobre a relação danosa entre meios de comunicação e poderes políticos que, segundo a RSF, é um dos principais entraves à diversidade dos meios de comunicação no Brasil.

O relatório inaugura sua análise no chamado coronelismo brasileiro e em sua relação com os meios de comunicação, que gera concentração de propriedades, assédio e censura tanto em nível nacional quanto regional ou local. "[Essas] são as características mais marcantes de um sistema que não chegou a ser questionado de fato desde o final da ditadura militar (1964-1985) [...]. Os generais saíram de cena, mas os 'coronéis' continuaram", alfineta a RSF no texto, que pode ser lido em PDF.

Vale lembrar que os chamados coroneis são grandes proprietários de terra ou de indústrias que ocupam também posições políticas em determinadas regiões do país e, assim, têm grande influência -- quando não controle de fato -- sobre a mídia e a opinião pública.

Não é apenas a concentração de meios de comunicação na mão de poucas empresas (dez delas controlam quase todo o mercado de comunicação do país) que chamou a atenção da equipe da organização. O governo investe fortemente em publicidade, e essa relação de dependência configura um cenário menos polarizado que a mídia nos países sul-americanos vizinhos (como a Venezuela), mas no qual os meios de comunicação mantêm uma relação "quase incestuosa com os centros de poder político e econômico".

Censura judicial e internet

Como já alertamos no Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, a censura judicial tem se tornado um dos problemas mais graves -- e menos questionados -- da mídia brasileira. A RSF concorda. Um dos casos mais conhecidos mencionados pelo relatório foi o processo do político maranhense José Sarney contra o jornal paulista O Estado de S. Paulo, que desde 2009 proíbe o jornal de fazer referência a negócios do filho do político, Fernando Sarney.

A chamada censura togada tem atingido principalmente a internet e seus elos mais fracos, como blogs e sites. Mas os grandes da internet não ficam de fora: durante as eleições municipais de 2012, lembra o relatório da RSF, o Google Brasil teve de retirar do ar ou modificar cerca de 300 itens relacionados às eleições. E, entre janeiro e junho de 2012, houve mais de 2.300 pedidos para remoção de conteúdo ao braço brasileiro da empresa. Um relatório da organização Artigo 19, publicado em 2012, já alertava para os perigos da censura online, no qual lembrava que o medo de sofrer represálias judiciais levava muitos jornalistas e blogueiros a se autocensurarem.

"É difícil pensar que a censura preventiva poderia ser capaz de conter o fluxo de notícias e informação na internet. Ainda assim, os tribunais brasileiros têm mirado em informação online", alerta o relatório. Para garantir a liberdade de expressão e do usuário na internet, a Repórteres sem Fronteiras considera fundamental a aprovação do Marco Civil da internet, proposta que define direitos e deveres dos usuários e das empresas que navegam na rede. Para a organização, a adoção sem demora do Marco Civil (cuja votação já foi adiada cinco vezes) garantiria a neutralidade na rede, protegeria as informações individuais de usuários e limitaria radicalmente a censura no meio.
Violência
Inaugurando o mês de janeiro com o primeiro jornalista do mundo assassinado em 2013, o Brasil não recebeu muitos elogios em relação à proteção de profissionais da imprensa no relatório da RSF. No entanto, além da óbvia crítica à impunidade desses crimes e à posição do país como o quinto mais perigoso para jornalistas, a organização relativizou a importância da federalização dos crimes contra profissionais da imprensa. "Embora jornalistas precisem ser mais bem protegidos, experiências anteriores mostraram que mecanismos focados apenas na segurança não necessariamente cumprem o papel de oferecer notícias e informação", comenta o relatório.
Veja o relatório completo clicando em Open publication - Free publishing

Jornalismo nas Américas

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