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sábado, 2 de março de 2013

Yoani chama de "escândalo político" o boicote que sofreu no Brasil



A repressão cubana contra a ativista e blogueira Yoani Sánchez atravessou terra-mar-e-ar e chegou ao Brasil, em forma de "badernaço" que impediu exibição de documentário, debates e sessão de autógrafos.

Yoani considera que houve um "escândalo político".

Sem dúvida, foi algo grave, orquestrado, planejado, com participação inclusive de servidor da Secretaria Geral da Presidência da República e setores da blogosfera brasileira.


Em Praga, Yoani Sánchez critica boicote sofrido 
no Brasil

Yoani Sánchez, durante conversa com pessoas presentes ao 
bate-papo com a blogueira na Livraria Cultura, em São Paulo
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

A dissidente cubana Yoani Sánchez, uma das vozes mais midiáticas de seu país através do blog "Geração Y" e do Twitter, denunciou nesta sexta-feira em Praga, na República Tcheca, o boicote que sofreu em sua recente visita ao Brasil e que considerou de responsabilidade do governo de Havana.

Em entrevista concedida à Agência Efe na capital tcheca, a ativista política explicou que, poucos dias antes de sua chegada ao Brasil, o embaixador cubano em Brasília distribuiu um dossiê contra ela, inclusive entre funcionários do PT.

Segundo a blogueira, de 37 anos, "isso aqueceu os ânimos, porque muitos brasileiros sentiram que era uma intromissão nos assuntos internos" de seu país.

O que Yoani classifica como "escândalo político" ficou manifestado, na sua opinião, pelo fato de que semanas antes de sair de Cuba, vários blogs governistas tinham dito que lhe dariam uma "resposta contundente" no exterior.

No momento em que chegou a Recife, Yoani foi recebida por um grupo de críticos com cartazes contra ela, que voltaram a aparecer posteriormente nas apresentações do documentário "Conexão Cuba-Honduras", dirigido pelo brasileiro Claudio Galvão e que era o motivo principal de sua viagem ao Brasil.

O mesmo grupo boicotou depois em São Paulo uma leitura e sessão de autógrafos de seu livro "De Cuba, com carinho", apresentado no Brasil já em 2009, embora sem sua presença, já que na época o regime não a deixava sair de Cuba.

Mas Yoani ponderou que "a grande maioria" das pessoas com as quais se encontrou no Brasil foi solidária a ela.

Em todo caso, a dissidente não mordeu a língua ao qualificar esses atos de protesto contra ela como "violação" de seu direito de expressão, "porque restringir a apresentação de um documentário e assinatura de um livro, é um ato, quando menos, de um fanatismo repressivo".

A mensagem de sua viagem de 80 dias por vários países é "de esperança", segundo a ativista, mas não pelas reformas que o governo cubano possa implementar, "mas pelo crescimento e desenvolvimento" que ela nota na sociedade civil cubana.

A República Tcheca é a segunda escala desta viagem, que incluirá além disso México, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Suécia, Itália, Espanha, Peru e talvez a Argentina.

Quanto à República Tcheca, Yoani reservou palavras de agradecimento pela "postura consequente" do governo de Praga por sua posição a favor dos direitos humanos em Cuba.

A blogueira anunciou que "muito provavelmente" terá reuniões com membros do governo tcheco, de centro-direita, cujo ministro das Relações Exteriores, Karel Schwarzenberg, continuou a política de aproximação com a oposição cubana, o que foi iniciado pelo falecido ex-presidente e dramaturgo Vaclav Havel.

Durante seus meses fora de Cuba, Yoani disse querer ficar em dia com o jornalismo no mundo livre, já que os cubanos estão "praticamente no zero quanto a ter uma imprensa minimamente próxima da realidade". A ativista reconheceu que "a imprensa totalmente livre não existe em nenhum lugar", mas destacou que ela vem de um país no qual a imprensa é "propriedade privada de um só partido".

"Aqui noto que, sendo propriedade privada de outros, pelo menos há uma pluralidade desses outros", acrescentou.


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