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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
"O povo cubano tem a química da felicidade", diz Yoani
Passados os abraços, afagos e insultos que a polêmica blogueira Yoani Sánchez recebeu em seu tumultuado desembarque no Brasil, a ativista cubana concedeu entrevista ao portal G1, depois de algumas horas de descanso no hotel em Feira de Santana, Bahia.
Ela falou das reformas que estão acontecendo em Cuba e se mostrou otimista, acreditando que elas provocarão mudança social na ilha.
Protestos são bem-vindos. Mas vamos ouvir o que tem a dizer a blogueira, que parece ter um grande carinho pelo Brasil.
Helia Scheppa/Reuteurs
"Problema é entre governados e governantes", diz Yoani sobre Cuba
Blogueira cubana concedeu entrevista ao G1 na tarde desta segunda-feira. Ela inicia uma série de viagens após reforma que liberou saída do país.
Egi Santana
Yoani Sánchez em hall do hotel em Feira de Santana, interior da Bahia
(Foto: Egi Santana / G1)
Depois de chegar a Feira de Santana, 100 km de Salvador, na manhã desta segunda-feira (18), a blogueira cubana Yoani Sánchez (autora do blog Generación Y, em espanhol) pediu um tempo para descansar. Chegou a falar por pouco mais de 10 minutos com a imprensa, ainda no hall do hotel, mas insistiu que precisava dormir após 48 horas de viagens. Ela recebeu o G1 no mesmo hall, mais “descansada”, no fim da tarde desta segunda-feira (18). É o primeiro pouso dela e marca o início de uma série de viagens após a reforma migratória que liberou a saída do país sem autorização.
A blogueira considera a reforma migratória a ação mais "profunda" realizada pelo presidente Raúl Castro, disse haver "certo silêncio" entre o Brasil e toda a América Latina em relação ao que ela considera negativo em Cuba, como a violação da liberdade de expressão, e que o povo cubano tem a "química da felicidade". Yoani Sánchez avalia que as recentes ações dos últimos anos reorientam a mentalidade da população cubana e que esse processo gera mudança social.
G1 - Quais são os reais impactos das mudanças implementadas nos últimos anos em Cuba, como, por exemplo, a liberdade para poder sair do país; o relaxamento de algumas regras para vendas de produtos, como os agrícolas; e novas regras para venda de imóveis?
Yoani Sánchez - São as chamadas reformas raulistas, implementadas por Raúl Castro em 2008, depois que chegou ao poder. Na minha opinião, vão na direção correta, com melhoras econômicas. O problema é a velocidade e a profundidade. Não são suficientemente profundas para o que necessita a nação e a velocidade é desesperadora. Abriram o trabalho por conta própria, por exemplo, mas é para um número limitado de profissões. Abriram, mas não os mais qualificados, a mão-de-obra que poderia crescer mais rápido. Além disso, ainda sofremos com impostos altos, ausência de créditos bancários, e sanções desse tipo. Agora, veja bem, mesmo que não tenha sido muito, essa reforma traz mudança de mentalidade aos cubanos e empurra a mudança social. E daí nasce a reforma política.
G1 - Como você avalia a relação do governo brasileiro com Cuba? Como vê a posição brasileira sobre questões que critica, como liberdade de expressão e respeito aos direitos humanos?
Yoani Sánchez - Sou partidária da diplomacia popular. No plano geral, me parece, por exemplo, que fazem muitos projetos econômicos juntos, mas vimos em toda a América Latina certo silêncio, certa distância com os temas de direitos humanos em Cuba. Uma maneira de não incomodar Raul Castro, para integrá-lo. Não vamos falar disso porque sabemos como ele é. E, de todo modo, não me parece uma boa política.
G1 - Por que o Brasil foi seu primeiro destino quando ganhou seu passaporte?
Yoani Sánchez - Era um país que não conhecia e que me apaixonava. E porque aqui teve um grupo de pessoas que fez o possível e impossível para que eu viajasse. É uma forma de agradecimento, sobretudo.
G1 - Como está a questão da saúde do presidente Hugo Chávez? Há alguma informação que circula por Havana sobre seu estado?
Yoani Sánchez - Eu acabei de saber que ele voltou à Venezuela. Mais do que isso não tenho conhecimento.
Protesto em Salvador critica blogueira e diz que ela é
financiada pelos EUA (Foto: Egi Santana / G1)
G1 - Acha que pode haver repressão a alguma atitude sua no exterior quando voltar a Cuba?
Yoani Sánchez - Talvez, talvez. Eu vejo o governo cubano como um pai paternalista que castiga quando um filho se comporta mal. Mas eu estou disposta ao castigo. O que eu quero é passar minha verdade de Cuba ao mundo.
G1 - O que pensa sobre o embargo americano à ilha?
Yoani Sánchez - O embargo norte-americano se converteu no grande argumento para se justificar tudo. Se não temos liberdade de expressão, se explica pelo embargo, se não temos comidas, tomates na mesa, a culpa é do embargo. Temos que terminar com esse argumento. Por outro lado, um dos principais importadores de comida de Cuba são os Estados Unidos. Ou seja, temos sim que criticar o embargo, mas sabemos que esse não é o único problema de Cuba. O grande problema de Cuba é entre os governados e seus governantes.
G1 - O que você acha que os brasileiros e cubanos têm em comum?
Yoani Sánchez - Ainda é muito cedo para avaliar, as avaliações ainda são muito superficiais. Mas o que puder ver do gesto, do modo de andar, me parece que brasileiros e cubanos têm muito desse jeito em comum.
G1 - Para onde mais quer viajar?
Yoani Sánchez - Se minha energia permitir, e eu acredito que irá, iremos fazer entre 10 e 12 países em 80 dias. Do Brasil, eu vou para a República Tcheca. Será uma espécie de volta ao mundo em 80 dias.
G1 - Qual você julga que foi a mudança mais importante imposta pelo governo de Raúl Castro até agora?
Yoani Sánchez - A medida feita por Castro de maior profundidade é a reforma migratória, mas isso está longe de ser a reforma que sonhamos. Porque, por exemplo, nessa reforma atual não se reconhece a entrada e saída do país como um direito, ainda se necessita uma autorização. Não vejo isso como liberdade.
G1 - Pensa (ou já pensou) em um dia viver fora de Cuba? Por quê?
Yoani Sánchez - Não, de forma alguma. O meu sonho é viver, sim, em Cuba. Uma outra Cuba que acreditamos.
G1 - A sua ação política é feita basicamente na internet, como você própria disse. Como é o acesso à internet em um país onde você fala sobre censura e dificuldades no acesso. Qual a sua relação com o Twitter, com o seu blog, Generación Y, e com o Facebook?
Yoani Sánchez - As novas tecnologias têm mudado a vida de muitos cubanos. Apesar de vivermos em um país de muito difícil acesso às tecnologias, o ímpeto dos cubanos faz com que busquemos soluções. Meu blog começou em 2007 e a partir disso minha vida virou de cabeça para baixo para o bem e para o mal. Eu pude me expressar, pude sair do silêncio, mas tive a vigilância, a perseguição, os impedimentos de sair do país. Por último, me atraí pelo Twitter, principalmente por conta da rapidez, do imediato. Hoje, vemos que é a ferramenta mais potente por conta disso.
G1 - Na sua opinião, o povo cubano é feliz?
Yoani Sánchez - O povo cubano é um povo que tem a química da felicidade, mas lamentavelmente não vive um cenário de felicidade.
G1
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fora traidora do povo latinoamericano.
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