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domingo, 12 de agosto de 2012

"O Judiciário deixou Patrícia sozinha", diz mãe da juíza assassinada





"Ela lutava por Justiça, quero que façam isto por ela também", pede filha de Patrícia Acioli


PALOMA SAVEDRA

Rio - Passou-se um ano desde que a juíza Patrícia Acioli foi assassinada com 21 tiros na porta de sua casa, em Piratininga, Niterói. Neste sábado, uma missa foi celebrada na Catedral Metropolitana, na Avenida Chile, no Centro da cidade, em memória à magistrada. O responsável pela cerimônia foi o bispo auxiliar do Rio, Dom Edson de Castro Homem.

Cerca de 50 pessoas compareceram à solenidade entre familiares e amigos. A filha mais velha de Patrícia, Ana Clara Acioli Chagas, de 13 anos, foi uma das pessoas que falaram durante a cerimônia. A menina disse que pensa em ser juíza para seguir o exemplo da mãe.



                    Ana Clara se emocionou ao falar sobre a mãe durante missa
                    Foto: Severino Silva / Agência O Dia

"Às vezes choro, mas é de saudade. Porque ela era uma mãe maravilhosa, me educava, brigava comigo, mas sempre muito carinhosa. Sinto muita falta dela, ela sempre me dava conselhos. Quero que ela seja lembrada como uma pessoa muito corajosa. Como ela lutava por Justiça, eu quero que façam isso por ela também", disse.

O bispo se referiu à magistrada como "uma brasileira extraordinária". "Um país como o nosso carece de figuras exemplares como Patrícia, que como profissional da Justiça teve muita coragem. Ela trabalhou pela Justiça, mas não obteve Justiça. O que nos parece uma fina ironia. Temos de nos perguntar, como brasileiros e cristãos, estamos construindo uma sociedade justa? Ela vai permanecer na nossa história, não é verdade que este país não tem memória", afirmou.

As irmãs da magistrada, Márcia e Simone Acioli, afirmaram que a família está confiante na condenação dos 11 suspeitos do crime. "Foi um ano muito difícil. Minha mãe acorda todos os dias sem vontade de viver, mas estamos lutando muito. A condenação será um exemplo de justiça para o país", contou Márcia.

Ato em Copacabana


O movimento Rio de Paz realizou um ato público, na manhã desta sexta-feira, na Praia de Copacabana, em memória da juíza assassinada no dia 11 de agosto de 2011. Foram colocadas na areia 21 fotografias de bala de revólver, relembrando os 21 tiros disparados contra a juíza. Um outro cartaz foi afixado em frente às fotos, com a frase: “21 tiros na justiça: um ano do assassinato da juíza Patrícia Acioli”.


                                                                                                                Foto: Divulgação

No sábado, às 18 horas, uma placa foi colocada na “Árvore da Patrícia”, na Praia de Icaraí, em Niterói. A manifestação exaltou a coragem da juíza. Ao fim da solenidade, uma caixa de som simulou o disparo dos 21 tiros que a mataram.

Mãe da juíza Patrícia Acioli pede condenação de PMs

"Saber que eles estão presos, é a única coisa que me faz levantar de manhã e pensar que estão piores do que ela", diz Marly Acioli, com a voz embargada. Mãe da juíza Patrícia Acioli, Marly, de 74 anos, pediu a condenação dos envolvidos no crime em depoimento ao SBT Rio.

Onze PMs foram responsabilizados pelo crime. Cinco vão a júri popular na 3ª Vara Criminal de Niterói, entre eles, Sérgio Costa Júnior, um dos executores, que colaborou com as investigações. Seis entraram com recursos para reverter a decisão da 3ª Câmara Criminal no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal.

"Levantar todo dia e saber que ela não vai voltar, é um fardo. Tem um ano que eu não saio de casa", afirmou Marly, que não pretende acompanhar o julgamento. Veja o vídeo do depoimento:


A contagem regressiva para o primeiro julgamento dos réus, da única juíza assassinada no Rio, coincide com o alerta vermelho acionado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) de que há 400 juízes ameaçados no País.

“O julgamento está perto, mas temos que pensar novos caminhos. O júri tem que atuar em crimes comuns e não contra autoridades e grupos de extermínio. Há pressões”, avaliou o presidente da AMB, Nélson Calandra, sobre a possibilidade de absolvições. Sete jurados vão dar o veredicto sobre os cinco que serão julgados por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha. As penas variam de dois a 30 anos de prisão.

O processo tem 7.500 páginas, e o julgamento deve durar dois dias, mas Marly não vai assistir. “Nada preenche o vazio da ausência dela. O judiciário deixou Patrícia sozinha”, lamentou. Sábado, a pedido do Tribunal de Justiça, foi celebrada missa em homenagem à juíza, às 11h, na Catedral Metropolitana. O Fórum de Alcântara, em São Gonçalo, vai ter o nome da magistrada. Seu primo, o jornalista Humberto Nascimento, está escrevendo livro sobre ela.

11 PMs acusados da morte em frente à casa de Patrícia

Patrícia foi morta na porta de casa em Niterói por dois PMs. Para chegar aos 11 acusados, entre eles, o tenente-coronel Cláudio Oliveira, e o tenente Daniel Benitez, a Divisão de Homicídios analisou sinais de celulares captados por antenas e imagens de câmeras do trajeto feito pela juíza do Fórum de São Gonçalo até em casa. Ela foi morta porque estava revendo ações de PMs do 7º BPM (São Gonçalo) registradas como autos de resistência — morte em confronto — forjados e o envolvimento deles com o tráfico.

Seis mulheres dos acusados contestam e farão manifestação sexta-feira, às 15h, na Alerj. “Há inocentes. O PM que colaborou com a polícia disse que ele não sabia”, defendeu Elaine, mulher de Júnior César de Medeiros. Em 20 anos de carreira, Patrícia recebeu três placas de homenagem da PM.


O Dia

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