Incidentes e ilícitos acontecem: ataques preconceituosos a homossexuais, negros, nordestinos. Como em outras capitais e cidades brasileiras.
Mas todos os dias milhões de cidadãos das mais variadas origens étnicas e regionais, das mais diversas culturas convivem pacificamente na cidade de São Paulo: nos abarrotados trens do metrô e da CPTU, em milhares de ônibus e lotações, nas ruas e avenidas, entupidas de gente e de automóveis, motocicletas e outros veículos.
Esta semana, duas manifestações ocorrem em São Paulo: a Marcha para Jesus, promovida pelos evangélicos, que aconteceu no feriado de Corpus Christi, e a Parada do Orgulho Gay, que terá lugar no próximo domingo.
Um olhar mais atento para estas duas movimentações gigantescas e pacíficas de milhões de pessoas nas principais avenidas da cidade de São Paulo mostra o quanto São Paulo convive bem com a diversidade e estimula algumas reflexões curiosas e interessantes sobre a cidade, como a que faz abaixo o jornalista Gilberto Dimenstein*.
São Paulo é mais gay ou evangélica?
Como considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São Paulo, gosto da ideia de termos, tão próximas, as paradas gay e evangélica tomando as ruas pacificamente. Tão próximas no tempo e no espaço, elas têm diferenças brutais.
Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays (o que, vamos reconhecer, é um direito deles). Ou seja, quer uma sociedade com menos direitos e menos diversidade.
Os gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a diversos segmentos da sociedade. Nesse ano, um dos seus focos foi o STF.
Por trás da parada gay, não há esquemas políticos nem partidários. Na parada evangélica há uma relação que mistura religião com eleições, basta ver o número de políticos no desfile em posição de liderança. Isso para não falar de muitos personagens que, se não têm contas a acertar com Deus, certamente têm com a Justiça dos mortais, acusados de fraudes financeiras.
Nada contra -- muito pelo contrário -- o direito dos evangélicos terem seu direito de se manifestarem. Mas prefiro a alegria dos gays que querem que todos sejam alegres. Inclusive os evangélicos.
Civilidade é a diversidade. São Paulo, portanto, é mais gay do que evangélica.
Gilberto Dimenstein é membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha.
Portal Folha
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