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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Quem protesta contra tudo protesta contra nada


CIDADANIA, SIM. VIOLÊNCIA, NÃO!


O prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin revogaram ontem o reajuste de 20 centavos. Tarifas de trem, metrô e ônibus permanecem R$ 3,00.

Manifestações que paralisam a cidade de São Paulo e promovem tumultos, pancadaria e danos a patrimônio público e particular vão parar?

Este blog é ativista. Está no ar desde outubro de 2010, defendendo e estimulando cidadãs e cidadãos a expor suas ideias e defender seus direitos. Ou o direito de terceiros, dos que não têm voz nem vez.

Esta blogueira não nasceu blogueira. A vida e as perseguições e violências que sofre, desferidas por "família-quadrilha" acumpliciada com particulares e agentes públicos, não permitem que esta cidadã - graduada em Letras, pela USP; licenciada em Língua Portuguesa, pela USP; pós-graduada (mestrado) em Comunicação (Jornalismo/Editoração), pela USP; ex-professora da ECA-USP; com livros publicados, 1 deles indicado ao Prêmio Jabuti - atue no mercado de trabalho e viva em paz e segurança, mesmo dentro de sua casa. (Sim, isto aqui também é um protesto e denúncia!)

A blogueira vive sob a vigilância de 6 câmeras de monitoramento (ver coluna à direita), tem suas movimentações bisbilhotadas o tempo todo, pelas câmeras e por quadrilheiros, e desde abril de 2011 passou a usar este veículo de comunicação no embate contra esta QUADRILHA.

A blogueira está no ativismo desde o final dos anos 70, quando era estudante da USP e Cásper Líbero, e participou de passeatas, atos públicos, assembleias e outras atividades, com o objetivo claro de derrubar a ditadura militar e promover a redemocratização do Brasil.

Como cidadã e estudante, a blogueira atuou em protestos pacíficos. Não instigávamos depredações, atentados, terrorismo. Jovens, como os que estão protestando nas ruas do Brasil por estes dias, nossas armas eram nossas vozes, nossas ideias, nossos sonhos.

Sem qualquer violência, conseguimos reinstalar no País a Democracia usurpada pelo arbítrio.

Éramos rebeldes.

Rebeldes com causa.


Praça da Sé, São Paulo, abril de 1984. Comício das Diretas-Já. 
Um milhão e meio de manifestantes. Eu estava lá...


Protestar contra tudo é o mesmo que protestar contra nada

Cynara Menezes*


(Yasmin Brunet no protesto: frases de efeito vazias de conteúdo)

Não há, em minha opinião, nada mais assustador acontecendo hoje no Brasil do que o avanço dos fundamentalistas no Congresso Nacional. Aprovar projetos contra o direito de cidadãos de viverem plenamente sua orientação sexual, de usarem o próprio corpo da maneira que desejarem e de serem felizes ao lado do ser amado é o maior atentado à liberdade individual que pode existir. No entanto, na última quarta-feira 18, havia TRÊS manifestantes no plenário da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara protestando contra a aprovação do projeto da “cura gay”. Enquanto isso, do lado de fora, por todo o país, milhares de pessoas protestavam contra… Contra o quê mesmo?

Ao contrário do que alguns pensam, defender os direitos dos homossexuais não é pouca coisa. São brasileiros com direitos e deveres como todos nós. Mas, prestem atenção, não são só os homossexuais que os fundamentalistas ameaçam: no início do mês, a bancada evangélica conseguiu aprovar, na Comissão de Finanças e Tributação, o Estatuto do Nascituro, que prevê o pagamento de um salário mínimo às mulheres que optarem por não abortar em caso de estupro, projeto apelidado pelas feministas de “bolsa-estupro”. Se aprovado no plenário, o estatuto inviabilizaria outra conquista da sociedade brasileira, a pesquisa com as células-tronco embrionárias, liberadas pelo Supremo Tribunal Federal em 2011. Os fundamentalistas se articulam ainda contra as religiões de matriz africana.

Há mais de dez dias, a palavra “liberdade” está sendo usada a toda hora nas manifestações que sacodem o País a pretexto de exigir a diminuição das tarifas de ônibus e outras questões menos claras. Vi incontáveis faixas com “liberdade de expressão” nas passeatas. Mas não vi nenhuma falando em “liberdade de culto”, “estado laico” ou “respeito à diversidade”, que são o mesmo que liberdade, não tem diferença. Acho absolutamente decepcionante que, num momento como este, temas tão urgentes sejam esquecidos ou trocados por “inflação” e “corrupção”, para citar dois exemplos de itens genéricos bradados pelos manifestantes – ou pela mídia que tenta explicar as razões de eles estarem nas ruas.

Eu sinceramente pensei que, com tanta gente mobilizada, as pautas progressistas, tão necessárias e tão ameaçadas, fossem vir à tona: o estado laico, a questão indígena, o meio ambiente, os direitos dos cidadãos LGBTs. Que nada. O que vejo nas ruas é um festival de generalizações. Artistas divulgam nas redes sociais frases de efeito vazias: “Ou o Brasil muda ou o Brasil para”, “Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”. Essas palavras podem soar bonitas, mas não significam nada na prática. São apenas slogans escritos em uma cartolina por pessoas despolitizadas que não parecem genuinamente comprometidas com o País. “O gigante acordou” é trecho de propaganda de uísque. “Vem Para a Rua” é jingle de automóvel. Trechos do hino nacional ou de canções do Legião Urbana são poéticos porém inúteis.


(Isso daqui chega a ser burrice: só se “tira” políticos do Congresso 
– ou da presidência – pelo voto. Acordem!)

Excluíram as bandeiras dos partidos de esquerda do movimento para que ele fosse “apartidário”. OK. Mas desde que elas saíram, o volume de pessoas nas ruas aumentou e as manifestações perderam em conteúdo. Vejo gente saltando diante das câmeras de TV que nem no carnaval e assisto a entrevistas onde os participantes não conseguem concatenar meia dúzia de ideias para justificar por que estão ali. Resumem-se a dizer que protestam “contra tudo”. Contra tudo o quê, cara-pálida? É mentira que o Brasil esteja totalmente ruim para que seja preciso protestar contra TUDO. É contra a Copa? Ótimo. Pelo menos é UMA razão. Quem protesta contra tudo, a meu ver, não está protestando contra coisa alguma. Afinal, o protesto é à vera ou é só para postar no Facebook?

Uma manifestação se distingue de uma turba pelas reivindicações e pelas causas que possui. Uma manifestação sem rumo e sem causa pode se transformar facilmente em terreno fértil para aproveitadores e arruaceiros, como vimos diante da prefeitura de São Paulo na terça-feira e, na noite anterior, diante do Palácio dos Bandeirantes. Sim, eles são minoria, mas uma minoria de gente perigosa que agora já parte para saques e destruição do patrimônio público e privado. Sou totalmente contra o uso da violência em manifestações. Numa democracia, é perfeitamente possível protestar sem partir para a ignorância.

Cabe à polícia investigar quem são estas pessoas e puni-las. Aliás, a Polícia Militar brasileira tem sido um caso à parte nos protestos das últimas semanas: como é possível que os policiais sejam capazes de bater em manifestantes inocentes e cruzar os braços diante de vândalos? Será que a PM não sabe decidir quando é ou não necessário intervir duramente? Não conseguem distinguir manifestantes de arruaceiros? Que tipo de treinamento recebem, então? Isso também é feito com dinheiro do contribuinte, sabem?

Sou e sempre serei a favor do povo nas ruas, batalhando por seus direitos, protestando e exigindo um futuro melhor. Isso é exercitar a cidadania. Mas eu aprendi que manifestações têm pautas. Qual é exatamente a pauta destes protestos? Se for pela tarifa, o pessoal do Movimento Passe Livre deve se sentar para negociar com o prefeito Fernando Haddad, que, a meu ver, errou em não fazer isto desde a primeira hora. Se for por algo mais além da tarifa, como sentimos, os manifestantes precisam encontrar um caminho, apresentar queixas concretas, reivindicações factíveis. Vivemos em um país democrático, não há governo tirano para derrubar. Se isso que estamos vivendo é uma “primavera”, é primavera do quê?

UPDATE: Os prefeitos das capitais concordaram em reduzir a tarifa. Vitória do Movimento Passe Livre, que conseguiu mobilizar as pessoas em torno de um objetivo. [E o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad revogaram o aumento de 20 centavos na tarifa - ABC!] Mas e agora, como ficam os protestos contra “tudo”?

* Socialista Morena/CartaCapital

Destaques do ABC!


3 comentários:

  1. Finalmente vejo alguém mostrar o outro lado dessa manifestação. Certo ou errado? Não sei, mas o outro lado. Penso da mesma forma. Será que ocupar as ruas causando transtornos consecutivos acabará, por exemplo, com a corrupção? A corrupção vai acabar quando os corruptos não forem mais eleitos ou quando, mesmo já eleitos, forem punidos de verdade. Penso que, protestar contra gastos com a Copa deveria ter sido quando o Brasil estava concorrendo a vaga, agora é tarde, o dinheiro já foi gasto. Condenam a violência policial e justificam a violência de manifestantes, mesmo que seja de uma MINORIA, porque se alguém colocar fogo no meu carro ou casa por causa da manifestação, não importa se foi uma minoria porque a maioria não vai arcar com os danos causados. Protestar contra tudo e contra nada dá no mesmo sim e, para mim, o protesto foi, na verdade, contra a Polícia. Todos se indignaram pela violência policial, mas não vi essa mesma solidariedade aos professores que também reclamaram da violência da policia neste mesmo ano, quando, segundo reportagens, um professor foi preso por ter tentado fazer uma fogueira na Av. Paulista. Valorizar o professor não é só exibir um cartaz agora na mesma avenida, seria também tê-lo apoiado nas diversas reivindicações. O que me faz pensar que, por mais que digam que não tem caráter político, eu acredito, que tem sim, porque no dia que fez o movimento crescer, a manifestação era por causa dos R$ 0,20 e o Movimento Passe Livre e outros que o apoiavam aproveitaram a adesão dos que foram se manifestar além de 0,20, mas a todo momento deixava claro que se voltasse o valor da tarifa a manifestação cessaria. Agora baixou, e aí, qual é o poder de parar com as aglomerações desorganizadas em todo o país, porque os objetivos são diversos, até vandalizar. Qual é o líder que cada manifestante vai ouvir? Gritar "sem partido" como se isso fosse bom, não entendo, ou por acaso é possível mudar qualquer coisa sem pertencer a algum. Eu nasci durante o regime militar e cresci acreditando na democracia, mas agora já estou em dúvida do que ela seja. Se eu fosse a essa manifestação no meu cartaz teria escrito (já que é para usar frases feitas): não é o político que vira ladrão, é o voto que faz o ladrão virar político. Também penso se é democracia você querer alcançar um objetivo por meio de ameaça. Da mesma forma que o prefeito errou em não cogitar a redução do preço, para mim, falar: ou baixa ou a gente não sai da rua é ameaça e agressão aos que, assim como eles, tem o direito de ocupar as ruas para o deslocamento na cidade de São Paulo, onde tudo começou e onde um professor foi preso por tentar obstruí-la O que estão achando bonito, eu estou achando perigoso. Eu não tenho títulos como a senhora e nem os argumentos de quem foi ativista durante o regime militar, mas discordar de um movimento unânime não me torna pior que ninguém, simplesmente porque acredito na democracia e por consequência, no voto e na manifestação que indica a vontade e o posicionamento do povo, mas não de forma desmedida. Agora se desmedida forem as medidas não adotadas pelo poder público, temo que estejam descontentes com o atual regime, porque é só o que se tem ouvido a qualquer crítica, como por exemplo: vandalismo é ônibus lotado. Eu, como cidadã, posso e devo reclamar do que acho errado, mas, ao contrário do que muitos disseram, o meu vereador, deputado, senador etc me representam sim, porque eu sei em quem eu votei e porque eu votei. Cansei de ler que voto não muda nada, como é isso. Duvido se algumas carinhas vistas na TV não vão reivindicar o seu voto. Se não tem partido, está na hora de criar um, ou será que só iremos descobri-los nas próximas eleições. Laura Lucano - SP

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  2. Concordo com você. Em muitos pontos, este movimento é contraditório. E é preocupante, alarmante, que tentem destruir o que temos, sem propor algo claro, consistente, no lugar. Política, num estado democrático, se faz por meio de partidos. Me parece ingenuidade achar que no momento atual civilizatório se possa fazer política sem agremiações partidárias. Esses jovens me parecem bastante despreparados e um tanto ignorantes da história recente do País. Hoje eles podem sair para as ruas e até paralisar cidades porque outros jovens e toda uma sociedade lutaram, também nas ruas, em passeatas e outras manifestações, para derrubar uma ditadura e implantar um Estado democrático. Eles hoje têm mais facilidade de mobilização por conta do Facebook, Twitter e novas tecnologias de comunicação em geral, mas o procedimento é o mesmo de sempre. Acho que há muita vaidade e necessidade de aparecer e contabilizar proezas no Facebook. Isso tudo pode acarretar até uma certa leviandade em seus propósitos. Não sei. Acho que todos nós temos que procurar ter um olhar atento e crítico, porque eles podem estar desestabilizando nossas vidas cotidianas e a vida política do País. Agradeço suas considerações. Fiquemos todos atentos.

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  3. finalmente um brasileiro com mais de dois neuronios, obrigado pela coragem de dizer sua opinião.
    Por muito tempo lutei por mudanças até que um dia cansei de lutar em vão. Onde estavam estes "jovens revoltados" de hoje nas ultimas eleições? ou quando o país foi escolhido como sede da copa do mundo ou da olimpíADA do Rio? Na hora que precisamos de mobilização todo mundo desaparece e está ocupado demais cuidando da vida ou feliz demais com a vida. Hoje pessoas saem as ruas (80% entre 15 e 20 anos, vai saber que problemas eles tem nessa idade). Hora de protestar é quando sua liberdade ou seus direitos são atacados, parabens ao grupo do passe livre e pela iniciativa de dizer basta aos aumentos, mas depois das passagens baixarem o que vai ser? será que existe um direcionamento? Eu não consigo evitar de pensar: e ano que vem? na eleição? na copa? na olimpiada? alguem esta pedindo ou exigindo algo que faça algum sentidoas eleiçõesmas hoje vejo um futuro incerto

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