Policial confessou o crime e disse que efetuou mais disparos porque não tinha certeza de que Patrícia Acioli havia morrido
Um dos 11 PMs presos acusados da morte da juíza Patrícia Acioli, o cabo Sérgio Costa Júnior, foi interrogado nesta quinta-feira (17) pelo juiz Peterson Barroso Simão, titular da 3ª Vara Criminal de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e confessou ter atirado na vítima.
Ele contou que cometeu o crime por se sentir injustiçado pelo fato de Patrícia Acioli ter decretado sua prisão, mas disse estar arrependido. "Me senti injustiçado e resolvi executá-la", confessou.
O crime ocorreu no dia 11 de agosto, na entrada do condomínio onde a magistrada morava, em Piratininga, em Niterói.
Ele contou que ele e outros dois PMs seguiram a juíza quando ela saía do Fórum do vizinho município de São Gonçalo, ultrapassaram o carro dela e ficaram esperando Acioli chegar em casa.
De acordo com o PM, os disparos começaram a ser feitos quando a magistrada estava parando o carro em frente ao condomínio. Ele disse que a pistola que usava apresentou uma pane, sacou outra arma e continuou atirando.
"Como não tinha certeza se ela já tinha morrido, saquei a outra arma e efetuei mais disparos", confessou o cabo. Patrícia Acioli foi morta com 21 tiros. O depoimento foi prestado sob o benefício da delação premiada caso venha a ser condenado.
Ao ser perguntado pelo juiz sobre a razão de tantos disparos, o cabo afirmou que se sentiu injustiçado pela decisão da juíza de decretar a sua prisão naquele dia em razão de um auto de resistência (morte em confronto) supostamente forjado.
"Eu fiquei muito chateado e revoltado com a situação porque eu não respondia a nenhum auto de resistência antes", declarou, assumindo ainda que se arrependeu da atitude minutos depois.
Duas tentativas
Sérgio Costa Junior relatou como o crime foi planejado. Segundo ele, em meados de maio, o tenente Daniel Benitez, outro suspeito, trouxe a ideia de matar a juíza Patrícia Acioli para os componentes do GAT (Grupamento de Ações Táticas do batalhão de São Gonçalo - 7º BPM).
Inicialmente, segundo o cabo, o crime seria cometido com a ajuda de milicianos de uma favela da zona norte do Rio de Janeiro. No entanto, de acordo com Sérgio, dias depois o tenente Benitez teria dito que não conseguiu fazer contato com os milicianos e sugeriu que o assassinato fosse praticado por eles mesmos. O cabo destacou ainda que alguns policiais da equipe se negaram a participar da execução e não concordaram com a morte da magistrada.
Sérgio Costa lembrou ainda que, antes do dia 11 de agosto, foram feitas outras duas tentativas de matar a juíza, sendo a primeira duas semanas antes do crime e a última na véspera, no dia 10 de agosto, quando eles desistiram porque entenderam que a juíza não estava no Fórum.
O cabo contou que, no dia do assassinato, disse que saiu do serviço por volta das 7h e foi para sua casa, onde descansou até as 10h. Nesta data, segundo ele, já havia um comentário de que a juíza Patrícia Acioli prenderia toda a equipe do GAT em função de um processo de auto de resistência ocorrido no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em junho deste ano, que teria resultado na morte de Diego Belini.
"Através dessas informações, eu e o tenente Benitez, na parte da tarde, passamos em frente ao Fórum para saber se a juíza se encontrava lá", declarou. Para ter certeza, eles teriam ido a Piratininga, por volta das 15h ou 16h, verificar se a magistrada estava em casa ou não e, posteriormente, teriam retornado para as redondezas do 7º BPM.
Em seu depoimento, Sérgio Costa Junior mencionou que o tenente Benitez recebeu uma ligação de uma advogada contando que os rumores de que toda equipe seria presa aumentaram. Mesmo sem ter certeza de que a juíza estava no Fórum, o cabo, o tenente Benitez e Falcão se dirigiram para lá por volta das 21h e teriam desligado os celulares.
Depois de alguns minutos, eles teriam visto a advogada saindo do Fórum e falando no telefone celular. Então, o tenente Benitez teria imaginado que ela estava tentando ligar para ele e resolveu retornar. "Neste momento, a gente ficou sabendo que a juíza Patrícia teria decretado a nossa prisão preventiva e que ela estava no Fórum", contou Sérgio, lembrando que todos ficaram muito revoltados com a notícia e decidiram matá-la.
Entre os 11 PMs presos pelo assassinato, está o tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, apontado como o mandante do crime. Ele era comandante do batalhão de São Gonçalo na época em que a juíza foi morta.
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