Há meses vimos falando aqui no ABC! de "revolução virtual", "guerrilha eletrônica", e do papel das novas mídias para mudanças significativas no compartilhamento de poder e na implementação de uma cidadania planetária.
Caminho sem volta.
Gostem ou não os mubaraks e demais ditadores de plantão.
O monstro
Luís Fernando Veríssimo
Marx não chegou a pedir que esquecessem tudo que ele tinha escrito, mas confessou que a invenção do trem e do navio a vapor o forçavam a repensar algumas das suas teorias sobre o futuro do capitalismo. Os seguidores de Ned Ludd, chamados luditas, trabalhadores na indústria têxtil inglesa, se revoltaram contra a invenção de teares automatizados que ameaçavam seus empregos no começo do século 19 e pregavam a destruição de todas as máquinas que substituíssem o trabalho humano. A história social e econômica dos Estados Unidos se divide em antes e depois da massificação, pela Ford, da produção dos seus carros, que empestavam o ambiente, além de assustar os cavalos, e foram duramente combatidos.
Reações a novidades tecnológicas se repetem ao longo da história, movidas pelo medo à obsolescência, como no caso dos luditas, incompreensão ou apego ao passado. O capítulo mais recente e mais curioso dessa briga é a decisão do governo inglês de restringir o uso no país das redes sociais, que todo o mundo achava maravilhosas até revelarem um potencial subversivo que ninguém previra. Enquanto os tuiters e os facebooks animaram as revoltas contra os déspotas e por aberturas democráticas nas ruas árabes, tudo bem. Eram as redes sociais, o produto mais moderno da engenhosidade humana, usadas para modernizar sociedades atrasadas. Mas descobriram que os quebra-quebras e queima-queimas nas ruas inglesas estavam sendo, em grande parte, também tramados na internet. Epa, disseram os ingleses, ou o equivalente em inglês. Aqui não.
Conservadores e trabalhistas se uniram para condenar a violência e o vandalismo e negar qualquer outra motivação, além de banditismo nato, para a rebelião. E todos, presumivelmente, concordaram com as medidas do governo para evitar novos distúrbios, incluindo o controle das redes sociais. Resta saber se o controle ainda é possível. O monstro talvez não seja mais domável. Já acabou com qualquer pretensão a se manter segredos oficiais secretos, já invadiu a privacidade de meio mundo e tornou a pornografia acessível a todas as idades e já sentiu o gosto do sucesso como instigador de revoltas - sem falar que ninguém mais consegue viver sem ele.
Agora pode não haver mais o que fazer. Se tivessem parado na invenção do trem...
Sônia:
ResponderExcluirPara "muitos" é assim: Festa e Luta por Democracia só se for na casa dos outros! E olhe que os "outros" não são todos não! Arábia Saudita e Bahrein nem pensar!
Na Alemanha também ocorreram "distúrbios e vandalismos" e nada se divulgou.
No oriente médio e norte da Africa "eles" querem implantar a "democracia" para controlar o petróleo e o gás.
Corte internacional e crimes de guerra só para os que não fazem parte da comunidade imperial e dos seus vassalos.
Note como o "estado de israel" respeita a ONU e como trata os palestinos.
Julgar os xerifes do mundo por centenas de milhares de mortes de civis então nem se fala.
Não sei como o mundo consegue conviver no século XXI com tanta hipocrisia, ou melhor dizendo: NÓS SABEMOS COMO E PORQUE...
É, Giba, são séculos e séculos de dominação. O que muda são as mãos que seguram o "chicote", como se diz. Mas a espoliação, o esbulho são os mesmos, em toda parte. É natural que nos indignemos e que tenhamos pressa. Mas... sou otimista. Pra mim, a internet já é muito revolucionária. É um instrumento de unificação de sonhos, projetos, planos... um instrumento de estímulo à aceitação da diversidade cultural... um instrumento de mobilização e canalização de protestos. "Tudo tem seu tempo, o momento oportuno", como diz o texto bíblico. O momento que vivemos é o do início da libertação. Que não é instantânea, como gostaríamos, mas que já começou. Ninguém segura mais esse "trem"... Abraços.
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