Tradutor

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Planeta Terra: caos e esperança

É sempre animador ler o teólogo, filósofo e ambientalista Leonardo Boff. Num dia como o de hoje, quando celebramos o Dia Mundial da Terra, Mãe maltratada por filhos ignorantes e ingratos, o artigo abaixo é alento e reconforto, apontando mais uma vez para, diante do caos, a possibilidade da superação pela expansão da consciência. A essa mesma esperança nos remete a belíssima canção de Flávio Venturini.


Uma esperança: a Era do Ecozóico

Quem leu meu artigo anterior O antropoceno:uma nova era geológica deve ter ficado desolado. E com razão, pois, quis intencionalmente provocar tal sentimento. Com efeito, a visão de mundo imperante, mecanicista, utilitarista, antropocêntrica e sem respeito pela Mãe Terra e pelos limites de seus ecossistemas só pode levar a um impasse perigoso: liquidar com as condições ecológicas que nos permitem manter nossa civilização e a vida humana neste esplendoroso Planeta.

Mas como tudo tem dois lados, vejamos o lado promissor da atual crise: o alvorecer de uma nova era, a do Ecozóico. Esta expressão foi sugerida por um dos maiores astrofísicos atuais, diretor do Centro para a História do Universo, do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia: Brian Swimme.

Que significa a Era do Ecozóico? Significa colocar o ecológico como a realidade central a partir da qual se organizam as demais atividades humanas, principalmente a econômica, de sorte que se preserve o capital natural e se atenda as necessidades de toda a comunidade vida presente e futura. Disso resulta um equilíbrio em nossas relações para com a natureza e a sociedade no sentido da sinergia e da mútua pertença deixando aberto o caminho para frente.

Vivíamos sob o mito do progresso. Mas este foi entendido de forma distorcida como controle humano sobre o mundo não-humano para termos um PIB cada vez maior. A forma correta é entender o progresso em sintonia com a natureza e sendo medido pelo funcionamento integral da comunidade terrestre. O Produto Interno Bruto não pode ser feito à custa do Produto Terrestre Bruto. Aqui está o nosso pecado original.

Esquecemos que estamos dentro de um processo único e universal – a cosmogênese – diverso, complexo e ascendente. Das energias primordiais chegamos à matéria, da matéria à vida e da vida à consciência e da consciência à mundialização. O ser humano é a parte consciente e inteligente deste processo. É um evento acontecido no universo, em nossa galáxia, em nosso sistema solar, em nosso Planeta e nos nossos dias.

A premissa central do Ecozóico é entender o universo enquanto conjunto das redes de relações de todos com todos. Nós humanos, somos essencialmente, seres de intrincadíssimas relações. E entender a Terra com um superorganismo vivo que se autoregula e que continuamente se renova. Dada a investida produtivista e consumista dos humanos, este organismo está ficando doente e incapaz de “digerir” todos os elementos tóxicos que produzimos nos últimos séculos. Pelo fato de ser um organismo, não pode sobreviver em fragmentos mas na sua integralidade. Nosso desafio atual é manter a integridade e a vitalidade da Terra. O bem-estar da Terra é o nosso bem-estar.

Mas o objetivo imediato do Ecozóico não é simplesmente diminuir a devastação em curso, senão alterar o estado de consciência, responsável por esta devastação. Quando surgiu o cenozóico (a nossa era há 66 milhões de anos) o ser humano não teve influência nenhuma nele. Agora no Ecozóico, muita coisa passa por nossas decisões: se preservamos uma espécie ou um ecossistema ou os condenamos ao desaparecimento. Nós copilotamos o processo evolucionário.

Positivamente, o que a era ecozóica visa, no fim das contas, é alinhar as atividades humanas com as outras forças operantes em todo o Planeta e no Universo, para que um equilíbrio criativo seja alcançado e assim podermos garantir um futuro comum. Isso implica um outro modo de imaginar, de produzir, de consumir e de dar significado à nossa passagem por este mundo. Esse significado não nos vem da economia mas do sentimento do sagrado face ao mistério do universo e de nossa própria existência. Isto é a espiritualidade.

Mais e mais pessoas estão se incorporando à era ecozóica. Ela, como se depreende, está cheia de promessas. Abre-nos uma janela para um futuro de vida e de alegria. Precisamos fazer uma convocação geral para que ela seja generalizada em todos os âmbitos e plasme a nova consciência.





Link do video: http://www.youtube.com/watch?v=_-7vWjCrynQ&feature=fvwrel


*

4 comentários:

  1. Um outro lado desse poliedro...

    Será que somos nós, brasileiros, que estamos destruindo e poluindo tudo?

    Por que será que os neocolonialistas que tanto dilapidaram, destruiram e poluiram, e continuam a fazê-lo, se precocupam tanto em difundir e se travestir de protecionistas e de ecologistas?

    "Muito cuidado nessa hora."

    ResponderExcluir
  2. Primeira resposta: Claro que não são os brasileiros que destróem e poluem "tudo". A Europa, os EUA e o Japão já vêm fazendo isso, criminosamente, há séculos. De umas décadas pra cá começamos a fazer também, porque imitamos o modelo de "desenvolvimento" deles e o pouco caso com que trataram a natureza. Segunda resposta: o alerta que você faz é pertinente. É preciso estar atento para os interesses que estão por trás de governos e organizações que agora se arvoram em defensores do planeta. É preciso separar o joio do trigo. Eu acredito que o Brasil pode encontrar uma nova via de crescimento sem destruir, por exemplo, o Santuário Amazônico. E também o cerrado e o Pantanal. Não há apenas dois extremos: desenvolvimento catastrófico ou estagnação. O "Caminho do Meio" apontado por grandes sábios e avatares pode funcionar aqui também. Confio que encontraremos uma forma criativa de emancipação dos excluídos sem violentar a Mãe Terra. Se o Brasil não o fizer, nenhum outro fará...

    ResponderExcluir
  3. Com os argumentos e o seu ponto de vista o horizonte fica um pouco "mais doce", pena que não acredito existirem tantos "homens de boa vontade".

    O cara estava certo quando disse que haviam mais de 300 picaretas! Para o judiciário melhorar o legislativo precisa votar o Novo Código Penal e o Novo Código de Processo Penal, bem como o novo Código de Processo Civil.

    O preceito DURA LEX SED LEX deve ser para todos sem exceção e foros previlegiados, prisão especial, recursos sem fim e etc. e tal.

    ResponderExcluir
  4. Gilberto, a mídia quer que acreditemos que o Mal é maior, domina tudo... Ou seja, não temos chance alguma de virar o jogo... E aí não reagimos, nos acomodamos à barbárie. "Do jeito que o diabo gosta"... Mas lembre: na ditadura também foi assim. E se nos fiássemos na mídia, até hoje estaríamos sob as botas fétidas dos generais... O Legislativo e o Executivo vêm melhorando sensivelmente, porque passam por controle da sociedade. A própria mídia não os deixa em paz um só minuto, escarafunchando tudo... Mas "curiosamente" não faz o mesmo com o Judiciário... Acho equivocado condicionar melhora do Judiciário ao Legislativo. O Judiciário deita e rola, faz o que quer, como se fosse o Todo Poderoso... O Judiciário precisa ser democratizado, controlado socialmente... Seus membros não são, nunca foram e não podem ser tratados como intocáveis semideuses... Abraços.

    ResponderExcluir