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quarta-feira, 9 de março de 2011

Indignação de professor e blogueira

A pedido da blogueira e educadora Rosa Zamp, do blog Palavras de Um Novo Mundo, o ABC! abre espaço para reproduzir abaixo post-denúncia contendo Carta de Indignação de um professor do ensino público sobre um fato que envolve criminalidade e estudantes no município de Hortolândia, próximo a Campinas, São Paulo.

Esperamos manifestação das autoridades da região a respeito.


terça-feira, 8 de março de 2011

Amigos blogueiros: jornalistas, educadores, escritores, todos que lutam por um país justo e de livre expressão... preciso de ajuda!

Vocês que aprendi a respeitar, admirar e acompanhar peço-lhes ajuda para um momento que tornou-se inevitável. É com tristeza que abrirei publicamente aquilo que tenho evitado desde que inaugurei este blog. Uma luta...uma luta árdua, doída e de consequências sofridas diretamente na minha vida profissional e pessoal ( e de muitas outras pessoas) por não aceitar atos inescrupulosos, ardis, covardes, ditatoriais.

Os motivos são muitos e aos que se interessarem - espero que sejam os que se dizem contra tudo o que citei acima - terão muitas razões para acompanhar e principalmente, divulgar o que se inicia agora com uma Carta de Indignação elaborada por um servidor público (professor) de Hortolândia-SP, que assim como eu trabalha em prol de uma sociedade no mínino coerente e na mesma cidade. Leiam na íntegra e a divulguem por que isso é só o começo de um grande conto que tenho pra lhes contar.

"Adolescente “surta” e mata primo de 7 anos: o que temos a ver com isso?"

Nos últimos dias uma manchete sobre o assassinato de uma criança nos pegou de surpresa: Adolescente chega em casa, provavelmente sob efeito de alguma substância ilícita, tem alucinações, mata primo de sete anos e fere prima também adolescente... Muitos de nós ficamos chocados com a história, mas já estamos acostumados com tanta violência e sabemos que com o tempo esqueceremos.

Desta vez, comigo foi diferente.

Era uma noite de sábado, estava em casa e de repente o telefone toca. Já era dez e meia da noite. Minha chefe diz: “Ronaldo, lembra daquele nosso aluninho, Reinaldo? Esse ano ele está com a professora Denise, ano passado esteve com a Deicla...” Assim pelo nome não conseguia lembrar, e eis que ela continuou, “lembra que teve um garoto que caiu na rampa da escola e machucou o rosto? É ele...”. Neste momento me lembrei daquele rostinho levemente desfigurado por causa de um tombo, afinal as crianças adoram correr na escola, e perguntei a ela o motivo do telefonema...

“Então, o primo mais velho esfaqueou e matou ele...”

(...)
Desde aquele momento até agora estou perplexo. Além de sofrer com a perda de um aluno (pois em nossa escola um aluno não é apenas de um professor, mas de todos), fico pensando sobre o que este ato de violência está nos querendo dizer. Uma vida tão pequena não pode ter sido abruptamente interrompida e ser passada assim. Ela nos ensina algo.

Se este final de semana deveria ser festivo para todos nós, afinal é carnaval, tenho certeza que minha comunidade está em luto. Ainda não consegui conversar com todos de lá. Apenas sei que fiquei tão chocado que não tive forças para ir ao enterro. Jamais conseguiria me deparar com aquele rostinho, que outrora estava machucado por um tombo corriqueiro, agora desfigurado por golpes de facas que lhe custaram a vida. Como alguém que é apaixonado por crianças e seus barulhos, conseguiria ver o silêncio e a quietude de um corpinho num caixão?

O sentimento de ódio e indignação pulsava em mim. E é óbvio que meu primeiro alvo foi o adolescente-assassino. Mas foi apenas pensar em tudo o que ocorrera que mudei minha opinião. O hoje adolescente possui marcas de uma infância muito mais presentes em sua vida, do que a de um ser já adulto. Mas que marcas são essas?

Comecei a lembrar de minha adolescência. Estudei em uma escola pública de período integral com mestres intelectuais que até hoje são referência para mim. Durante esta fase da minha vida, estes profissionais trabalhavam conosco o desejo por um sonho, por um projeto de vida, e como faríamos para alcançar nossos objetivos.

Quais são os sonhos deste adolescente? Qual será sua utopia? Ou será ele mais uma vítima da sociedade em que vivemos? Em quais escolas ele passou? O que o poder público fez e fará dele daqui pra frente, principalmente quando este caso cair no ostracismo? Será que teremos profissionais da saúde mental dando todo o suporte necessário para este, também, menino?

O que mais me impressiona neste caso é o silêncio das autoridades competentes no município de Hortolândia: Onde está a deputada estadual, o prefeito, a vice-prefeita, os secretários e os vereadores? Qual é o vosso pronunciamento? Quais atitudes serão tomadas daqui pra frente para que não tenhamos outros Reinaldos esfaqueados em nossa cidade? (grifo meu)

Infelizmente, este caso apenas deflagra a carência de políticas públicas eficazes neste mundo em que vivemos. Afinal, crianças que crescem em contato com educação, cultura e lazer não deixam de sonhar. Possuem um projeto de vida. Não se tornam adolescentes que se contentam em viver seus dias lidando com medidas e punições judiciais.

Acho que esta foi a gota d’água que faltava em meu copo de indignação política. Precisamos de medidas urgentes e eficazes nesta cidade. Os responsáveis por esta cidade precisam assumir as rédeas de suas responsabilidades. Não dá pra esperar mais! (grifo meu)

Por hora, ainda não sei como será voltar para a escola depois do carnaval. Já soube que algumas crianças disseram que Reinaldo estará lá na quinta-feira. Ainda precisaremos ensinar as crianças a lidar com a perda, num mundo que está cada vez mais violento e sem perspectivas. Ainda não sei se aprendi a lidar esta perda, mas terei que fazê-lo: Ser professor não é tarefa fácil.

E ao nosso pequeno Reinaldo, a única coisa que posso dizer é que fique com Deus!

(Ronaldo Alexandrino)
Mestre em Educação e professor na mesma escola onde estudou Reinaldo.

Hortolândia...não lhes parece um nome que nos leva intuitivamente a pensar numa terra distante...de contos...da terra do nunca?

Ahh...antes fosse a terra dos contos de fadas, dos nobres bondosos contra as bruxas do mal onde o bem sempre vence. Infelizmente é exatamente o contrário. Uma legião de súditos de origem humilde, porém de brava gente são os meros servos desse nobre poder que administra essa cidade.

Porque a ironia? Aos muito bem informados, certamente saberão do que estou falando e que fique bem claro que o desabafo é independente de questões partidárias, até por que sabemos que partidos políticos não retratam mais uma ideologia irrevogável. Trata-se do Poder econômico (independente das fontes) que se sobrepõem aos ideais políticos e partidários, lamentavelmente.

Conto com vocês e aguardem o desenrolar do "conto"...

(Rosa Zamp)

9 comentários:

  1. Sonia muito obrigada mesmo, saiba que seu reconhecimento e ajuda não ficará no esquecimento. Conte comigo para o que precisar.
    Infelizmente, esse triste fato ocorrido em Hortolândia poderia ter sido apenas mais um dos tantos que ocorrem nesse Brasil afora. O problema é que não se trata apenas disso e este é o motivo pelo qual estamos solicitando ajuda por que alguém tem de tomar providências para socorrer esse município abandonado pelos seus administradores.
    Estarei postando no facebook seu blog.
    Obrigada querida. Bjs Rosa

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  2. Parabens ao professor pela carta corajosa e verdadeira!
    E o pior são duas vítimas ja que o garoto mais velho expressa suas emoções de forma muito doente, está muito doente, e esta doença provavelmente tem origem nas injustiças que sofre todos os dias devido a sua condição de "súdito". Temos que ser mais forte que os loucos que "mandam" nesta cidade, senão seremos vítimas hora mais , hora menos...Avante!

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  3. Parabens ao professor pela carta corajosa e verdadeira!
    E o pior são duas vítimas ja que o garoto mais velho expressa suas emoções de forma muito doente, está muito doente, e esta doença provavelmente tem origem nas injustiças que sofre todos os dias devido a sua condição de "súdito". Temos que ser mais forte que os loucos que "mandam" nesta cidade, senão seremos vítimas hora mais , hora menos...Avante!

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  4. Obrigada, Rosa. Sugiro que escreva um "post-resumo" da questão, que é complexa, no meu entendimento. Envolve, claro, responsabilidades do Poder Público, certamente. Mas também outras esferas. Seria interessante um post resumindo a questão e apontando eventuais responsáveis, sem nomeá-los, claro, para evitar processos por difamação, dano moral. A família, o círculo social mais próximo também não podem ser esquecidos, acho. Pense na possibilidade de acionar outras instâncias: Governo do Estado, Ministério Público, Secretarias/Ministérios do Governo Federal, ongs... Abraços!

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  5. Sonia, sua sugestão é exatamente o que eu gostaria de já ter feito até mesmo antes desse fato triste que apenas foi a gota d'agua para o desabafo desse professor. Ocorre que tenho motivos que me calam e me obrigam a me rodear de cuidados sobre tudo o que gostaria de tornar público. Infelizmente, não posso elencá-los aqui e se o fizesse tenho convicção de que seria a primeira a nos apoiar. Isso me angustia profundamente, mas vou ter que ir devagar, ao menos por enquanto. Acredito, tenho fé que em breve eu possa ter a liberdade para por para fora o "jacaré" que está entalado aqui dentro.
    Mais uma vez obrigada, sua atenção e preocupação me emocionam...por demais...bjs

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  6. Querida Sônia. Obrigado por postar a carta em vosso blog. Sobre os andamentos do movimento, estou surpreso com a velocidade que as coisas estão acontecendo, graças a Deus. A carta não tem mais fronteiras, outros estados e países estão entrando em contato comigo. Sobre as ações que estamos nos propondo a fazer na escola, eu e o grupo de professores com quem trabalho iremos: 1. oficializar o dia da luta contra a violência infantil em hortolândia, com projeto de lei q tenha o nome do menino Reinaldo; 2. criar um forum de discussão e acompanhamento das nossas politicas públicas municipais; 3. fazer reunião com o prefeito da cidade de secretarios de saude, educação e cultura e propor ações emergenciais, já esboçadas. Obrigado pelo espaço e divulgação.Colocarei seu blog no meu face tb. Prof. Ronaldo.
    ps. apenas gosto de tomar cuidado e não culpabilizar as famílias ao generalizar os casos, em linhas gerais, elas são o que são hoje por reflexo da sociedade injusta, complexa, desigual e ignorante em que a maioria da população vive... são vítimas também (e não estou simplificando a discussão, ok). As que merecerem carregar esse fardo, acredito eu, são casos pontuais, ok... vamos continuar pensando nissop juntos...

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  7. Rosa, no meu perfil aqui no blog há um endereço eletrônico que pode ser usado para mensagens particulares, que não serão publicadas. Eu também vivo uma espécie de "situação-limite", que vou administrando. Me encontro "refém" de violações gravíssimas de direito. E os "riscos" são altos. É preciso ter calma, equilíbrio, serenidade. Tudo tem seu tempo, o momento oportuno, diz o texto bíblico. Apreendamos a sabedoria sagrada. Abraços.

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  8. Professor Ronaldo, fico muito feliz ao saber que medidas concretas já estão em andamento, oficiais e por parte da sociedade organizada. Obrigada pelas notícias. Na maior parte dos casos, as famílias também são vítimas. Vocês que estão aí saberão avaliar isso. Conselho de amiga: utilizem o máximo possível as tecnologias da informação, as redes sociais, a blogosfera... Criem um blog sobre o tema. Vocês são professores. Podem revezar na escrita. Os professores de Português, História... podem ajudar a formar "pequenos jornalistas cidadãos", que começarão a escrever pequenos textos, ilustrados por fotos tiradas em celular, para contarem ao mundo inteiro o que acontece aí... Se as escolas não dispõem de equipamentos, peçam doação aos empresários locais. O momento é esse, quando os olhos de todos estão voltados pra vocês... Botem o Governo do Estado nisso. Entupam as caixas postais de ministérios, secretarias e outras instituições pedindo ajuda, recursos. Fiquei muito chateada quando tive, anos atrás, que frequentar um telecentro perto de casa, pois meu micro "deu pau"... Enquanto eu lia e escrevia emails , lia os portais de notícias... a criançada de 9, 10 anos em diante navegava no Orkut!... Isso é lamentável. E os professores têm uma enorme responsabilidade na mudança desse comportamento, já que as famílias em geral desconhecem essas tecnologias... Abraços, boa sorte em tudo, contem com o ABC!

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  9. sonia... obrigado pela força e apoio... vamos pensar nas suas dicas sim... adorei... abraço

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