Ontem, primeiro dia útil do ano, a Presidenta também encarou outra série de encontros: com os Presidentes da Câmara e do Senado, com o Presidente do STF, com ministros do seu governo. E no final da tarde, sorridente mas com um olhar visivelmente cansado, comandou a primeira reunião de coordenação, com oito ministros e mais o vice-presidente, quando foi agendada a primeira reunião ministerial, para o próximo dia 14, para se analisar o cenário da economia mundial.
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
Tantas solenidades e formalidades, inúmeros compromissos, beijos, abraços, apertos de mão, sobe-escadas-desce-escadas, sobe-rampa-desce-rampa, sob os cliques implacáveis de máquinas sofisticadas de um batalhão de repórteres, pedidos descabidos de jornalistas profissionais (?) por declarações e entrevistas, assédios despropositados dos inevitáveis "papagaios de pirata" e outros "ilustres desconhecidos" e "oportunistas de plantão", buscando uma foto e seus "cinco minutos de fama", claro...
Depois de "sobreviver" heroicamente a toda esta maratona político-midiática, a Presidenta Dilma em algum momento nestes primeiros dias de governo terá um "encontro consigo mesma", experimentará provavelmente alguns minutos de solidão, em que constatará ao mesmo tempo o Poder depositado em suas mãos e todos os interesses, muitos descaradamente mesquinhos, que a rodeiam...
E buscará talvez refúgio e acolhimento em algumas leituras e livros, esses eternos amigos, procurará, quem sabe, luzes, apoio, aconselhamento, para tomar as decisões mais acertadas que deverá enfrentar no turbilhão do Poder.
Conselheira fiel do Presidente Lula, de quem Dilma se aproximará para estabelecer uma interlocução confiável, luminosa, esclarecedora?
Publico abaixo artigo em forma de carta, do professor e conferencista Stephen Kanitz [aqui], sobre esse momento complexo que certamente será vivido em algum instante pela Presidenta.
Dilma e a Solidão do Poder
Presidente do Brasil
Um dos grandes problemas de todo presidente de empresa, empresário, governador e Presidente da República é a síndrome da solidão do poder.
Ela surge logo depois da posse, depois da euforia da conquista, quando cai a ficha que você é o chefe supremo da organização.
Harry Truman, Presidente dos EEUU em 1930, colocava na sua mesa a placa "Os pontapés terminam aqui".
Ou seja, o Presidente não pode mais culpar os outros pelos seus fracassos. Ele ou ela são os únicos culpados.
A culpa pelas decisões equivocadas da sua empresa ou governo será sempre sua, o que gera imensa solidão.
E esta solidão, Exma Sra. Dilma, poderá lhe tornar presa de dois grupos de subordinados.
O primeiro é a turma dos puxa-sacos.
Eles percebem que o presidente da empresa está inseguro e mentem descaradamente dizendo que tudo está bem, que o presidente é o máximo, que as decisões foram brilhantes. É o que está acontecendo com Hugo Chávez.
Aí, o presidente tende a procurar cada vez mais os puxa-sacos, e eles ganham cada vez mais poder.
O segundo grupo é a turma do "deixa comigo" e dos "eu resolvo este problema para o senhor/a".
Inseguro, o presidente começa a delegar cada vez mais decisões que ele deveria tomar e os "deixa comigo" ganham cada vez mais poder.
Aí, a solidão do poder entra na sua fase aguda.
É quando o presidente percebe que seus "melhores" auxiliares não são auxiliares, mas pessoas que estão lutando para substitui-lo, mais dia menos dia.
Nesta fase, o presidente começa a não confiar mais em ninguém, não discute mais com ninguém e começa a tomar todas as decisões sozinho.
É o aconteceu com Stalin, na sua fase "Stalinista".
Outros sucumbem à solidão do poder entrando em depressão, tomando calmantes, procurando sexo como Bill Clinton.
A solução para a "Solidão do Poder" é a criação de um pequeno grupo de "consiglieris", um nome muito infeliz, mas eu explico.
O consiglieri ficou famoso no filme O Poderoso Chefão, onde Don Corleone tinha um conselheiro irlandês, brilhantemente interpretado por Robert Duvall.
Por que um irlandês? Porque um irlandês jamais teria ambições políticas de ser líder da máfia italiana.
Pedir conselhos para os subordinados que querem seu cargo é querer ser traído ou ver tudo sendo vazado para a imprensa.
Foi o erro de Lula quando escolheu você sabe quem.
Presidentes de empresas criam Conselhos Consultivos ou de Administração, que são compostos de outros presidentes ou consultores aposentados, e portanto não são ameaça.
Bons consiglieris jamais tomarão por você as decisões que precisam ser tomadas nem lhe puxarão o saco.
Consiglieris sempre lhe dirão a verdade. Darão as informações que o presidente precisa para tomar suas decisões.
Consiglieris têm a função primordial de auxiliar outras pessoas a tomar a decisão certa, nunca insinuarão a decisão a ser tomada, uma sutil diferença.
Um consiglieri jamais dirá, acho que Ministro Y deve ser substituído ou que o Programa Z deve ser descontinuado.
Ele faria as perguntas apropriadas para aprimorar a sua capacidade de tomar decisões, e não substituí-la. "Por que a V. Exma. não consulta o fulano e sicrano, ou analisa este dado?" Apontaria consequências não abordadas, aspectos ainda não analisados, sugeriria outras pessoas a serem consultadas, mas a decisão seria sempre sua.
Um consiglieri faz você crescer como pessoa.
Todos nós deveríamos desenvolver um ou dois consiglieris pessoais.
Eu sugiro que a V. Exma. converse com meu amigo, Claudio Galeazzi, um dos melhores turn-around managers do Brasil.
Ele faz o que a V. Exma. pretende fazer no primeiro ano de mandato. Ele melhor do que ninguém, poderá alertar os erros a serem evitados. Será um excelente consiglieri.
Pelo que me consta, Lula a escolheu porque você era uma excelente Consiglieri.
Lula confidenciou a um amigo meu que você era uma entre poucos Ministros que o ajudavam a tomar a decisão certa, que colocava todos os ângulos da questão, que não insinuava que decisão deveria ser tomada, pelo menos não no primeiro momento.
Ou seja, que você era intelectualmente honesta, algo que a imprensa nunca comentou. Foi por isto que Lula escolheu você quando tinha várias outras opções, algo que tenho certeza ele ainda não lhe contou, porque ficaria mal com os demais Ministros.
Os consiglieris nas empresas servem ao cargo, não cobiçam o cargo.
O peso do cargo de Presidente da República continuará insuportável, mas se você constituir um pequeno grupo fora do poder, que não cobiça o poder, que somente tem como objetivo aguçar o seu pensamento e capacidade de decidir, você não ficará tão sozinha nem vulnerável.
Pense nisso.
Atenciosamente, seu eterno contribuinte de impostos cada vez mais insuportáveis,
Ola Sonia,
ResponderExcluirInteressantíssima esta abordagem, trouxe uma visão sobre como um governante pode vir a tomar decisões tão complexas inerentes a seu cargo.
Acredito que Dilma poderá contar com um grande conselheiro de sua confiança, nosso ex-presidente Lula.
Segundo notícias ontem veiculadas pelo portal Ig, a Dilma está imprimindo sua personalidade forte logo nos primeiros dias de seu governo.
Confesso que me surpreendeu a autoria do texto acima favorável à Dilma. O autor não é colunista da veja?
Abraços!!
Eu gostei muito e também me surpreendi com este artigo do Kanitz. Ele não é político nem jornalista. Foi professor universitário, é palestrante, muito ligado ao setor empresarial. Mas me parece de centro, de pensamento equilibrado, moderno. A própria Dilma no seu pronunciamento da vitória no dia 31 de outubro disse textualmente que quando precisar irá bater na porta do Lula... Isso é ótimo. Tenho certeza que ele "desencarnará" da presidência, mas continuará sendo um grande apoio para a Presidenta e para o País. Mas lendo o texto do Kanitz, fiquei pensando que a Dilma precisa encontrar alguém mais próximo, talvez de dentro do governo, que esteja sempre ali no Palácio... talvez alguma das ministras... mas quem terá o perfil pra isso? Palocci, nem pensar!!! A Dilma precisa encontrar uma outra Dilma... que ajude-a como ela, confiável e competentíssima, ajudou o ex-presidente Lula... Abraços.
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