Para oferecer subsídios ao debate e estimular a reflexão de todos nós sobre o papel da Blogosfera e de blogueiros independentes dentro da nova mídia e na sociedade da informação, o ABC! reproduz artigo do jornalista, professor e estudioso Carlos Castilho, publicado em maio último.
Depois do Quarto, surge agora o Quinto Poder
(http://carloscastilho.posterous.com/?page=4)
O batismo oficial no novo jargão aconteceu esta semana em São Petersburgo, na Florida, Estados Unidos durante uma conferência de dois dias entre blogueiros autônomos, especialistas universitários, gurus da internet, empreendedores virtuais e jornalistas profissionais. A imprensa tradicional, tida como um quarto poder por sua enorme influência na área nacional dominada pelos três outros poderes (executivo,legislativo,judiciário), tem agora ao seu lado um eclético e emergente quinto poder, formado pelos novos protagonistas da comunicação digital. Esta é a segunda versão da Sense Makers Conference (literalmente Conferência dos que Criam Sentido) [1], uma reunião destinada a debater as novas tendências na comunicação, a partir de contribuições tanto de especialistas como dos chamados practitioners [2]. O evento é patrocinado pelo Instituto Poynters e na sua versão 2010 contou com 26 participantes. Ao contrário dos outros quatro poderes, o novo “poder” não é uma instituição formal, e provavelmente nunca o será, mas um aglomerado cuja marca registrada parece ser o ecletismo dos participantes, a forma quase caótica com que eles se agrupam e a agenda pouco convencional, em termos jornalísticos. O que estamos assistindo é a emergência de um novo ator dentro da arena da comunicação pública e que pode vir a disputar espaços com a mídia convencional. Se o Quarto Poder era conformado basicamente pelas empresas e indústrias ligadas a produção jornalística, o Quinto Poder seria um aglomerado difuso dos novos produtores independentes de noticias e informações. Um dos temas mais discutidos em São Petersburgo foi a ausência de objetividade e o caráter militante de blogs, twits e sites comunitários que não ocultam suas opiniões e nem preferências políticas, contrariando as normas do jornalismo profissional. Consultando os blogs e twits dos participantes é possível verificar que eles colocam a questão da objetividade num contexto específico. Ela estaria na avaliação do conjunto de perspectivas expressas na diversidade de plataformas digitais de notícias e não compactadas num único veículo, como se propõe a imprensa. A objetividade não seria mais uma responsabilidade dos jornais mas uma tarefa do leitor. Só aí, já temos muito pano para manga porque se de um lado temos o Quarto Poder reivindicando uma posição privilegiada na definição do que é verdadeiro ou falso, do outro temos uma situação inédita em matéria de certificação de credibilidade, causada pela avalancha de informações produzidas pelos blogs, por exemplo. Tecnicamente seria muito difícil sintetizar milhões de percepções diferentes numa única. Até mesmo os jornais reconhecem esta dificuldade quando criaram o recurso de ouvir os dois lados de um problema. Só que hoje há muito mais do que dois lados e é praticamente impossível um veículo processar todas as versões que circulam na web. A realidade está mostrando que a alegada objetividade e isenção da imprensa é cada vez menos viável, mas em compensação também não fornece elementos mínimos para estimar o grau de dificuldade que o público terá para peneirar o conteúdo de tantos blogs, twitters, chats, fóruns, listas de discussão e páginas web. A certificação de credibilidade é um dos grandes desafios da comunicação na era digital. Em questões mais simples, como o comércio eletrônico, ela já está funcionando bem com base nos chamados sistemas de reputação. Mas para áreas mais complexas como a da informação jornalística, o sistema ainda é sujeito a falhas. A nova alternativa são os algoritmos de autoridade, microsoftwares apoiados em leis da estatística e probabilidade, que já servem de base para os sistemas de reputação. Ambos ainda são possibilidades, o que deixa muito espaço para a grande conversa entre o quarto e o quinto “poderes”. [1] Sense Makers é uma expressão inglesa para designar pessoas capazes de identificar e atribuir significados relevantes a fatos, processos ou dados. [2] Practitioner é uma pessoa dotada de uma grande experiência numa determinada área e que procura dar uma base teórica a sua prática. É a definição corrente na internet. No dicionário, practitioner é traduzido por praticante. |
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